Serie A

A Itália contra a Inter

É interessante acompanhar o fluxo da opinião pública através dos anos. E talvez seja no futebol que ela encontre sua maior instabilidade: a Juventus do século XXI atende pelo nome de Internazionale. Fabio Cannavaro, capitão do tetracampeonato italiano, foi sucinto: “quem vence é antipático, agora é a vez deles”. Antipatia, esta, que se confirma em várias enquetes pela internet.

Cinco dos principais sites italianos com boa cobertura esportiva pediram a opinião do público e em todos eles a maioria dos votantes aposta no quarto scudetto romanista: nos romanos Repubblica e Corriere dello Sport, a Roma bateu a Inter por 51 e 53,8%, respectivamente. No milanês Corriere della Sera, 54,5% de preferência pelos giallorossi. A Roma chegou a alcançar os 60% no piemontês La Stampa e, na Gazzetta dello Sport, a maior vantagem: 63,9% dos votantes apostam num título romanista.

Quando Roberto Mancini cunhou a definição do “scudetto dos honestos”, logo se tornou ainda mais antipático para o lado anti-Inter da Itália. O que logo fez com que boa parte do universo do futebol se esquecesse de que Mancio foi o primeiro a confrontar o sistema Moggi de forma pública, antes mesmo do engajamento de Sensi, Cellino, Capello e Zeman. Os erros de arbitragem, que teriam favorecido a Inter nesta temporada, entraram na mira da imprensa italiana. E a rota da antipatia esportiva foi alterada, deixando Turim, pelo menos por enquanto.

A relação entre opinião pública e Massimo Moratti, presidente interista, também traçou um caminho curioso. De símbolo da honestidade e da simpatia, tudo passou a ser motivo para criticar o capo – da sua estima por sua coleção de estrangeiros à infindável confiança em Mancini e Materazzi. O zagueiro também se transformou. Deixou a condição de herói de Berlim para se tornar um alvo no Meazza.

Mesmo com Totti, Panucci e Zeman liderando o coro pró-Inter, não são poucas as figuras públicas que colocaram suas fichas na Roma. John Elkann, presidente da IFIL, holding da família Agnelli: “nesta temporada, ficarei contente se o título for para a Roma”. Arrigo Sacchi, ex-técnico do Milan e da seleção italiana: “a Inter sofre da síndrome do insucesso”. Luciano Ligabue, cantor, torcedor da Inter: “estou muito pouco otimista, agora entra muito da psicologia que está contra nós. A Inter está fazendo pouco, tem medo de vencer.”

A Inter lidera a Serie A de forma isolada desde a 6ª rodada, possui um ponto de vantagem e, em caso de empate por número de pontos, fica na frente graças ao poker imposto no Olimpico sobre a rival direta. Na última rodada, irá encarar um Parma em frangalhos. Sem Héctor Cúper, demitido nesta terça-feira, o técnico das categorias de base Andrea Manzo comandará os crociati. Sem Dessena, Rossi e Mariga, suspensos, e Falcone, lesionado, tudo conspira a favor da Inter. Apenas a escolha do árbitro pode causar calafrios. Gianluca Rocchi apitou quatro jogos da Inter nesta temporada e todos terminaram empatados.

Uma das semanas mais longas do futebol italiano chega ao fim neste domingo, mas a tensão entre Roma e Milão durará até a final da Coppa Italia, a se disputar no fim de semana a seguir. Qualquer das equipes que se sagre campeã deverá olhar para trás com uma atenção especial. Afinal, há algo bastante errado quando a capolista abre 11 pontos de vantagem, há exatamente três meses atrás, mas não consegue decidir o campeonato antes da última rodada, após dois match-games.

Independentemente do resultado final do campeonato, a questão para a torcida anti-Inter é simples: era melhor com Luciano Moggi?

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