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Quem será o herdeiro de Buffon?

Viviano estreia na Serie A e pode ser o herdeiro de Buffon (Getty Images)

O futuro próximo da seleção italiana começou a ser colocado em xeque a partir do envelhecimento da geração que conseguiu o tetracampeonato mundial em 2006, com maior ênfase a partir da má gestão de Roberto Donadoni. O retorno de Marcello Lippi não trouxe de volta o bom futebol e nem fez evanescerem as críticas: pelo contrário, elas aumentaram sobretudo no que diz respeito à qualidade do futebol mostrado em campo.

Durante todo este período, a imprensa italiana questionou também se haveria substitutos de nível para jogadores das posições defensivas. Se a nova geração de atacantes é bastante promissora e não foi alvo de grandes dúvidas, temia-se que não haveria pessoal com a qualidade necessária para substituir jogadores de nível mundial como Nesta, Cannavaro e, principalmente, Buffon. Porém, desde a última edição da Serie A, é possível vislumbrar um cenário mais positivo para a meta da Azzurra. Nesta temporada, então, a afirmação dos jovens goleiros é ainda maior. Porém, a maior parte destes jogadores só terá chances de concorrer a uma vaga para 2014.

Classi 82 e 83
Os primeiros nomes da renovação não são nem tão novos assim: estão na faixa dos 26-28 anos. Federico Marchetti, do Cagliari, já tem quase 27 anos e, salvo algum imprevisto, deve fazer parte do grupo que Marcello Lippi levará a África do Sul como reserva imediato de Buffon. Titularíssimo e um dos destaques do empolgante Cagliari montado por Massimiliano Allegri desde 2008, o rossoblù, conhecido por seu estilo discreto, foi eleito o melhor goleiro da última temporada. Depois de rodar por vários clubes pequenos sem conseguir jogar com frequência, sua carreira deu um salto após ser titular no Albinoleffe e logo depois passar ao Cagliari.

Marchetti acabava de fazer sua primeira temporada enquanto titular, na Biellese, quando Marco Amelia, que tem quase sua mesma idade, fazia a festa como tetracampeão mundial. No entanto, o goleiro do Cagliari leva ampla vantagem sobre seu colega do Genoa, na disputa por uma vaga para a Copa. Se nunca demonstrou ser o goleiro mais seguro do mundo, Amelia vem de uma fase ruim, iniciada no Palermo e que segue em Gênova. Desde então, ele foi vazado por Mascara, do Catania, em um inexplicável gol do meio-campo, e agora comanda a segunda pior defesa da Serie A – 35 gols sofridos. Outro goleiro da mesma faixa etária é Antonio Mirante, do Parma. Titular de um Siena que quase foi rebaixado em 2005-06, Mirante foi reserva na Juventus, equipe que o revelou, e também na Sampdoria, até ser emprestado ao Parma. Atuando atrás de uma zaga rígida e bastante sólida, o gialloblù tem acompanhado as exibições de seus colegas e faz uma temporada muito boa. Para 2010 sua convocação é utopia, mas caso amadureça ainda mais, pode ser um nome forte para 2014.

Classi 85 e 87
Entre 23 e 24 anos, os nomes são ainda mais animadores. As duas últimas gerações azzurrini são pródigas em bons goleiros. Além disso, todos os que passaram pela sub-21 italiana nos últimos anos já são titulares de seus clubes. O mais experiente deles é Emiliano Viviano, que – antes de jogar no Bologna – foi ídolo no Brescia por quatro anos e um dos principais jogadores rondinelli na Serie B. Na sub-21, o goleiro felsinei era reserva de Gianluca Curci, mas assumiu a titularidade na fase final do Europeu da categoria, em 2007, e jogou também nas Olimpíadas. No meio da última temporada, Viviano foi comprado pela Inter, que negociou metade do passe do jogador com o Bologna, já na atual temporada. Com a responsabilidade de substituir o experiente Francesco Antonioli, Viviano impressiona pela frieza, pela agilidade e pela segurança. É um dos poucos pontos fortes da equipe que luta pela salvezza, que, se conseguida, terá muito de sua responsabilidade. Além da ótima prestação nesta semana, que valeram os três pontos contra a Fiorentina (seu time do coração), foram defesas importantes contra Juventus, Napoli, Inter, Catania, Udinese e Palermo.

Entre os goleiros titulares da Serie A, poucos têm a chance de ouro que teve Salvatore Sirigu, do Palermo. Esta sorte começa ainda antes desta temporada, já que seu desempenho no Ancona fez com que Walter Zenga apostasse nele para reserva do brasileiro Rubinho. No entanto, à medida que o brasileiro decepcionava em rosanero, Sirigu foi lançado à fogueira para substitui-lo contra a Lazio e nunca mais saiu do time. Nesta ocasião, o sardo fez grandes defesas e foi eleito homem do jogo. Sirigu, assim como Viviano, tem passagens pelas seleções de base italianas (no seu caso, desde a sub-17) e, destacando-se pelos reflexos rápidos e liderança, é um dos mais interessantes nomes para substituir Buffon como titular da Azzurra. Apostando nisso, o Palermo já renovou seu contrato até 2014.

Mais atrás em termos de potencial, Andrea Consigli, da Atalanta, é mais um goleiro com passagens por várias categorias de seleções de base. Sua ótima temporada no Rimini que quase subiu para a Serie A na temporada 2007-08 lhe valeu o retorno para o clube de Bérgamo, o qual tinha defendido apenas na equipe Primavera. Só que Consigli ainda peca pela inexperiência: apesar de possuir ótimos reflexos e de ser capaz de fazer algumas defesas acrobáticas, o milanês ainda é bastante afobado e já deixou escapar pontos preciosos para os nerazzurri. Ainda mais atrás, Gianluca Curci, ex-titular azzurrini, corre por fora. Um tanto experiente apesar dos 24 anos, ele chegou a ser convocado uma vez para a seleção principal quando atuava na Roma, clube em que jogou mais de 60 partidas (sem deixar saudades, diga-se de passagem). No Siena há duas temporadas, onde é titular absoluto, Curci ainda tem um longo caminho pela frente. No momento, além de não ser um goleiro de grandes defesas, peca pela irregularidade – vide o frango no terceiro gol da Fiorentina, há duas semanas.

Classi 88 e 90
Para concluir, o futebol italiano parece contar também com joias raras que ainda nem chegaram a ser lapidadas de verdade. Os atuais goleiros da seleção sub-21 são Vincenzo Fiorillo (Reggina, emprestado pela Sampdoria), Vito Mannone (Arsenal) e Andrea Seculin (Fiorentina). O último mal é selecionado para o banco das partidas da viola e ainda frequenta a equipe Primavera. Mannone, por sua vez, é o terceiro goleiro do Arsenal e só recebeu chances para atuar quando Almunía e Fabianski estavam sem condições de jogo. No entanto, é de se imaginar que, treinado por Arsène Wenger, o ex-goleiro da Atalanta cresça ainda mais.

Dos três, o mais experiente é Fiorillo. Destaque da ótima equipe Primavera da Sampdoria, treinada por Fulvio Pea nas duas últimas temporadas, Fiorillo sempre foi muito elogiado – e reconhecido. Membro das seleções italianas desde o sub-17, o ponto alto de sua carreira se deu na última temporada, quando foi vice-campeão (e um dos destaques) do Torneio de Viareggio, e campeão da Serie A Primavera. Na equipe principal da Sampdoria, Fiorillo teve algumas chances e não decepcionou, apesar do erro contra o Napoli há duas semanas, que custou a derrota de sua equipe.

Devido à recente contusão do titular Luca Castellazzi, a diretoria blucerchiata não quis arriscar apostando na titularidade de um jovem de 20 anos, já que esta temporada está quase indo para o brejo. As contratações de Marco Storari e Mario Cassano relegaram-no ao terceiro posto, mas a diretoria da Samp, que tem um dos melhores setores juvenis da Itália, não quis barrar o crescimento de seu provável futuro camisa 1 e o emprestou para a Reggina, onde será titular. O time não ajuda muito (luta para não cair para a Lega Pro) e Fiorillo levou três gols logo em sua estreia, mas a experiência na Calábria deve agregar ainda mais para seu futuro promissor.

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