Brasileiros no calcio

Falcão, o oitavo Rei de Roma, negou a Inter por causa do papa

Em entrevista que sai amanhã no diário Il Romanista, que cobre diariamente a Roma, Paulo Roberto Falcão foi pontual: “Este time me recorda aquele de 1983, no qual venci o scudetto. Hoje, a Roma já sabe como vencer e quanto isso é bom, porque já o fez em 2001”. Ele sabe o que diz, afinal é com autoridade que se consagrou como o oitavo Rei de Roma.

Falcão foi um volante inovador para o padrão brasileiro de camisas 5 e depois mostrou-se à frente de seu tempo também para o futebol internacional. Só foi para a Roma porque queria tornar-se o melhor jogador do mundo e, para isto, teria de jogar em campos europeus. Na capital, ganharia apenas 40% a mais do que recebia em Porto Alegre, jogando pelo Internacional. Mas era onde seu sonho podia se tornar realidade – e, para isso, contou o incentivo da mãe: “Vá conquistar o mundo”.

Nascido na pequena Abelardo Luz em 1953, Falcão mudou-se para Canoas aos dois anos. Filho de uma costureira e um motorista, sempre gostou de futebol, uma das poucas diversões possíveis para a família tão pobre. Pelo sonho de se tornar jogador, vendia garrafas para comprar o dinheiro da passagem que o levava aos treinamentos do Internacional de Porto Alegre, no qual chegou aos 11 anos. Depois do desastre olímpico em Munique ’72, o primeiro grande sucesso do jovem foi em 1974, quando guiou os juniores do Colorado ao título da Copa São Paulo, batendo a Ponte Preta na final.

Na primeira metade dos anos 1980, o brasileiro foi inquestionável na melhor fase da história da Roma (imago)

Antes mesmo disso, já era conhecido pela torcida, graças ao bom futebol demonstrado na equipe “de cima”. Não demorou para que chegasse ao time principal, muito menos para assumir uma vaga no time titular: profissionalizado por Dino Sani, estreou ganhando o Gauchão de 1973 e foi fundamental no tetracampeonato que marcou a superioridade do Inter em solo rio-grandense naquela época.

Um jogador inteligente, que jogava de cabeça erguida, tinha um bom passe, acertava ótimos cruzamentos, marcava bem e antecipava-se com facilidade a várias jogadas. Se não era o mais rápido de seus companheiros, pelo menos se mostrava em campo um dos mais velozes.

Por 1 milhão e meio de dólares, em 1980 a Roma de Dino Viola levou Paulo Roberto Falcão para tentar materializar o sonho do segundo scudetto da história de um clube de torcida apaixonada que não vencia a Serie A desde 1942. Quando partiu, já era o melhor jogador no país, com três Campeonatos Brasileiros no currículo e as últimas duas Bolas de Ouro, premiação da revista Placar para o melhor jogador do campeonato.

Falcão foi o coordenador no meio-campo de uma Roma campeã (imago/Buzzi)

Mesmo assim, não chegou com tanta pompa em Fiumicino, o aeroporto da capital. A torcida esperava nomes mais “quentes”, já que nos meses anteriores havia se especulado as contratações de Zico e Rivellino. Mas Falcão não demorou a se tornar o maior estrangeiro da história do clube, o que é até hoje.

Estreou num amistoso contra seu Internacional e contribuiu para o empate em 2 a 2. A partir daí, foram 22 gols em 107 partidas. Em sua primeira temporada, venceu uma Coppa Italia. Em 1983, conquistou o scudetto que o colocaria para sempre no coração dos torcedores romanistas, apesar das polêmicas no ano seguinte, com a final da Liga dos Campeões perdida em casa. Na ocasião, Falcão recusou-se a cobrar um dos pênaltis e o Liverpool sagrou-se campeão após um erro de Graziani.

Uma lesão crônica no joelho esquerdo atrapalhou as duas últimas temporadas e Falcão acabou deixando o clube em 1985. Pesou contra sua renovação os problemas com o presidente Viola, que pensava que seu salário já não mais representava a qualidade de um futebol cada vez mais sacrificado em suas últimas partidas com a camisa giallorossa.

O Oitavo Rei de Roma foi vice-campeão europeu na capital (imago)

Dois anos antes, o jogador havia recusado uma proposta da Internazionale para continuar na capital. Para isso, reza a lenda ter sido fundamental a intercessão do então Papa João Paulo II, apaixonado torcedor romanista. Acabou no São Paulo, no qual ficou pouco tempo e se aposentou aos 33 anos, dez jogos e um título paulista depois.

Pela seleção brasileira, foram apenas 29 jogos, mas quatro grandes decepções. Primeiro, ao ficar de fora do Mundial de 1978, ao ser preterido pelo treinador Cláudio Coutinho de última hora. Depois, na Copa de 1982, como titular absoluto e jogando bem na já decantada tragédia de Sarriá, estádio que viu os três gols de Paolo Rossi mandarem para casa o mais talentoso time nacional até então, comandado por Telê Santana.

A terceira decepção ocorreu no Mundial de 1986, no qual fez dois jogos sem brilho numa campanha triste, jogando longe de suas melhores condições físicas. E, por último, como técnico canarinho, função que exerceu por pouco mais de um ano após a saída de Sebastião Lazaroni, em 1990.

Hoje, é comentarista televisivo na RBS e na Rede Globo, além de ter um programa de entrevistas na Rádio Gaúcha.

Paulo Roberto Falcão
Nascimento: 16 de outubro de 1953, em Abelardo Luz-SC
Posição: meio-campista
Clubes: Internacional (1973-1980), Roma (1980-85) e São Paulo (1985-86)
Seleção brasileira: 29 jogos, 9 gols
Títulos como jogador: Serie A (1983), Coppa Italia (1981, 84); Campeonato Brasileiro (1975, 76, 79), Campeonato Gaúcho (1973, 74, 75, 76, 78), Campeonato Paulista (1985)
Clubes como treinador: Seleção brasileira (1990-91), América do México (1991-93), Seleção japonesa (1994-95)

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3 comentários

  • Braitner,
    Parabéns pelo 'post', ficou ótimo e muito bem retrata a carreira de um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.
    Aliás, caso tenha curiosidade, muito mais modesto ficou o meu http://calcioseriea.blogspot.com/2006/11/memorabilia-falco.html.
    Por fim, se me permite uma consideração, acho que não foi o Rizzitelli que perdeu o fatídico pênalti contra o Liverpool em 1984, afinal, o jogador, nascido em 1967, só chegou a Roma em 1988, mas sim Conti e Graziani que desperdiçaram as cobranças de penalidades no Olimpico.
    Abraços,

  • Poderia ter se aposentado mais velho se voltasse ao Brasil pelo clube que o projetou, como havia prometido em 1980, e não pelo São Paulo. Aquela reserva no time de Cilinho – humilhante para um jogador até então tratado como rei por onde passava – contribiuiu para desgastar sua imagem.

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