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A nova onda do imperador

Mais de 1.500 anos depois da deposição de Rômulo Augusto pelos reis bárbaros, Roma
volta a ter um imperador para chamar de seu. Por bem ou por mal. (AP Photo)

Para alguns, o novo atacante da Roma foi o melhor atacante do planeta entre as Copas do Mundo de 2002 e 2006. Já na Itália, Adriano Leite Ribeiro foi vendido ao Parma em co-propriedade logo após o Mundial da Ásia para ganhar experiência na Serie A. Ganhou. Em um ano e meio, foram 26 gols em 44 partidas, o que o levou de volta à Inter. Daquele janeiro de 2004 até o fracasso na Copa da Alemanha, fez 108 jogos e 57 gols com a camisa nerazzurra, além de outros 20 gols em 25 partidas com a seleção brasileira. Depois da queda para a França de Zidane, só por São Paulo e Flamengo é que Adriano conseguiu jogar bem. Entre as Copas de 2006 e 2010, pode ter sido o jogador mais problemático do mundo.

O novo Imperador de Roma…
Os 15 jogos de Luca Toni no primeiro semestre deste ano quebraram a lenda urbana de uma Roma sem centroavante desde a saída de Batistuta, em 2003. Na verdade, Carew e Nonda passaram por Trigória nestes anos, mas não se firmaram e a posição perdeu espaço no 4-2-3-1 que Spalletti escolheu para o time. Já Claudio Ranieri prefere trabalhar com alguma referência ofensiva e, finalmente, conseguiu contratar Adriano, velho sonho do treinador e da própria equipe. Terá em suas mãos um atacante alto e forte, bom de dribles na velocidade e dono de bombas na perna esquerda.

No ambiente mais quente e liberal da Cidade Eterna, a maior dúvida será o aproveitamento de Adriano em campo. Ele terá de buscar seu espaço ao lado de Vucinic e Totti, um possível problema de egos relativamente fácil de ser gerido no decorrer de um calendário apertado. Outro aspecto favorável ao novo camisa 8 romanista é o elenco no qual vai se inserir. Hoje, são outros sete brasileiros no elenco, todos com um extracampo pacato e sem histórico de baladas e envolvimento com graves polêmicas. A ida do núcleo da família do jogador para Roma também pode ser decisiva para um comportamento melhor.

O aspecto físico também é promissor. Adriano teria feito os exames em Roma com 102kg, oito acima de seu peso ideal, mas há fontes que garantam dois quilos a mais no peso do Imperador. Ainda assim, na próxima semana o artilheiro começará um plano para voltar aos 94kg que lhe consagraram na Inter. Quando voltar à Trigória, em 1º de julho, encontrará uma tabela nutricional personalizada, baseada em massa muscular e consumo energético, para evitar perda de força. Nela, estão vetadas frituras, doces, cerveja e a tão querida carne vermelha.

Adriano chega motivado. Claramente feliz em sua coletiva de apresentação, garantiu que fez a escolha justa, por um time que joga um futebol divertido: “Será um ano mágico”. Totti foi o primeiro a dar boas-vindas àquele que “estava destinado a jogar por aqui, algum dia”. O contrato cheio de artimanhas, muito bem preparado pelo diretor esportivo Daniele Pradè, servirá para mantê-lo na linha. Há cláusulas que preveem multas até em fotos de paparazzi e aumento repentino de peso, além de uma possível rescisão sem ônus ao clube em casos extremos. Concentrado e bem fisicamente, há poucos centroavantes no mundo ao nível de Adriano, o novo Imperador de Roma. Que parece pronto a formar com Dino da Costa e Paulo Sérgio a tríade dos grandes atacantes brasileiros da história do clube.

…ou o sucessor de Renato Gaúcho?
Mesmo em sua grande fase, Adriano passou dos limites ao dar um soco duplo em Caneira, então no Valencia. Numa de suas últimas partidas pela Inter, veio outro soco, agora no blucerchiato Gastaldello. Pouco depois da suspensão de três jogos que este último lance lhe rendeu, o atacante viajou para responder a uma convocação da seleção brasileira, mas não voltou para Milão. Sumido, houve até quem falasse em sua morte. Passaram-se alguns dias para que Adriano voltasse à casa de sua mãe avisando que havia perdido a felicidade e pararia de jogar. Conseguiu rescindir seu contrato e voltar para o Flamengo, onde ficou por 13 meses até, digamos, recuperar sua felicidade de um contrato de 3,5 milhões de euros por ano com os giallorrossi.

Apesar de ter potencial para se tornar um dos maiores ídolos da história recente da Roma, Adriano também terá (várias) chances de ver sua carreira minguar até uma nova busca de felicidade no Rio de Janeiro. De temperamento instável, sempre é possível aguardar uma onda de depressão para abater o Imperador quando este estiver longe do Morro da Chatuba. As investigações do Ministério Público sobre um possível envolvimento do jogador com traficantes cariocas também têm grande potencial destrutivo, se o caso não for rapidamente resolvido.

Por mais que o ambiente da cidade seja mais livre para satisfazer as vontades de seu novo Imperador, a mídia local será sempre motivo de preocupação. Imprensa quente, tem alta influência sobre as passionais torcidas da cidade e consegue queimar jogadores com relativa facilidade, quando é de seu interesse. Adriano terá de pisar em ovos nos seus primeiros meses em Roma. E fazer social. E jogar bem. E marcar gols. Caso contrário, irá manter a escrita dos dispendiosos atacantes brasileiros que fracassaram na capital, lista que começou com Amarildo e conta com Fábio Júnior, Júlio Baptista e, claro, o mentor Renato Gaúcho.

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