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O drama de Jiménez

Recontratado às escuras pela Ternana, Jiménez é “prisioneiro” de seu contrato (Getty Images)

Verão de 2002: a Ternana, equipe que militava na Serie B do campeonato italiano, havia vendido seu prodígio Fabrizio Miccoli para a Juventus e contratava junto aos chilenos do Palestino, um jovem meio-campista de apenas 18 anos chamado Luis Jiménez, que uniria-se a um elenco que já tinha Houssine Kharja, Mario Frick e era treinado por Mario Beretta. O meia de Santiago não explodiria instantaneamente, mas em três temporadas e meia pelo clube umbro, foi o principal destaque de um grupo que quase subiu para a elite por duas vezes consecutivas.

Com o sucesso, renovou com o clube em 2006, para poder se transferir em copropriedade para a Fiorentina, clube pelo qual estrearia na elite. De volta ao clube rossoverdi, que havia sido rebaixado para a antiga Serie C1 e, brigou com o presidente Edoardo Longarini e denunciou o clube por mobbing, pois não jogava. Assim, foi emprestado para a Lazio, onde fez ótima meia temporada e cavou uma transferência, novamente em copropriedade, para a campeã Inter, que precisava de um meia ofensivo para auxiliar Stankovic. Após uma boa temporada de estreia, sofreu com uma lesão séria e passou por West Ham e Parma, emprestado pelos nerazzurri. Mesmo ainda ligado contratualmente a Ternana, seu futuro parecia longe da Umbria: Parma e Udinese demonstravam interesse em seu futebol. Ledo engano.

Oito anos após ser contratado pelo clube de Terni, Jiménez está de volta ao clube que milita na Lega Pro Prima Divisione. Um retorno a contragosto que mereceu atenção da Gazzetta dello Sport, que publicou uma matéria sobre o caso na edição de ontem. O caso Jiménez começou durante a Copa do Mundo: Inter e Ternana dividiam os direitos sobre seu contrato, o que obrigava os clubes a chegarem a um acordo sobre seu destino. Como as partes não se entenderam, o futuro do chileno seria decidido através de propostas feitas às escuras, em envelopes lacrados.

Assim começou o drama do “prisioneiro” Jiménez: a Inter ofereceu 1,9 milhão de euros, enquanto a Ternana propôs 3,2 milhões e ficou com o jogador, que diz não ter sido informado do resultado da negociação. Na matéria da Gazzetta, Jiménez afirma que o presidente Massimo Moratti teria prometido contratá-lo em definitivo para negociá-lo com outra equipe, mas, após o resultado desfavorável para Jiménez, não teria nem mesmo ligado para consolar o jogador. Dias depois, jogador e presidente teriam discutido por telefone, após uma ligação feita por Jiménez.

Porém, não apenas o suposto desprezo da sociedade nerazzurra faz parte do drama do meio-campista chileno. O meia acaba de ser pai de trigêmeos, que moram com sua esposa, Maria José López, em Parma, a 413 km de Terni. Seus pais vieram do Chile para ajudar o casal neste momento complicado, um pouco mais dificultado pela estratosférica diminuição de seu salário: ganhava 1,1 milhão de euros na Inter e agora ganha 110 mil em Terni. Um salário alto, mas que possivelmente está sendo insuficiente para o estilo de vida construído por ele nos últimos anos e que, de repente, terá que ser mudado.

No interior do clube, também é vítima de situações constrangedoras: enquanto ele chega no centro de treinamentos da equipe a bordo de seu Porsche preto, alguns colegas pedem-lhe carona para irem para casa. Jiménez promete presenteá-los com chuteiras. Participa das palestras do treinador Renzo Gobbo, mas treina separadamente dos outros atletas. O chileno também já está se recusando a jogar pela Coppa Italia contra o Spezia, para evitar o risco de qualquer lesão. Precaução em dobro porque acredita que, em 2008, uma lesão tirou suas chances de seguir na Inter. “Mourinho me disse que eu não seria negociado e faria parte do grupo de 24 jogadores para aquele ano, mas me lesionei e ganhei uma cicatriz de 19 centímetros um mês depois. Azar”, lamentou-se, em entrevista a Davide Stoppini.

Jiménez chegou a pensar, assim que seu retorno à Ternana foi definido, que havia um clube financiando sua contratação em definitivo pelo time umbro para, depois, resgatá-lo para a elite do futebol nacional. Porém, já estamos em agosto e nada aconteceu. Segundo ele, o Parma chegou a fazer uma proposta de 3,5 milhões de euros por metade do seu passe, mas o presidente Longarini, estranhamente, recusou. Uma postura estranha, já que Jiménez pode ficar livre do seu contrato com o clube na próxima temporada.

A janela de transferências ainda está aberta e é possível que El Mago consiga a tão sonhada desvinculação da sociedade da Umbria. Porém, o que se pode perceber é que parte do que o jogador está passando é preço de alguns problemas do atraso do futebol italiano. Contratos de copropriedade existem apenas no futebol da Velha Bota, são de complicada gestão e fazem parte da cultura de clubes em crise, que não estão dispostos a fazer grandes investimentos.

Para piorar, a possibilidade de que as sociedades não cheguem a um consenso sobre o passe de algum jogador e tenham que decidi-los por meio de envelopes lacrados fragiliza os direitos do atleta, que pode ser obrigado a jogar onde não deseja. No caso de Jiménez, terá de jogar a Lega Pro Prima Divisione no mesmo clube que deixou em 2006 lutando para subir para a Serie A, com um salário que era compatível para si naquela época, mas que deixou de ser, há pelo menos três temporadas.

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7 comentários

  • Nossa muito complicado isso.
    Copropriedade é bem complicado, eu tb acho que nao deveria existir, ou se existir que seja de forma mas respeitosa com a historia do jogador.
    Espero que algum time da elite o contrate, quando estava sem sofrer com lesões ja fez otimas partidas.

  • Sempre achei ridícula essa questão da copropriedade, tipo de transferência que só existe na Itália. Queria até entender qual foi a primeira negociação deste tipo na história do futebol italiano.

  • Por isso que eu sempre evito jogar com times italianos no FM, esse negócio de co-propriedade é um saco…

    Brincadeiras a parte, parabéns pela matéria.

  • A província não pode servir de "reserva" dos clubes maiores. Se a Ternana fosse derrotada na "busta", também seria lesada, pois perderia o vínculo (sob contrato) de um jogador em que investiu por 3 anos na Serie B – que é um campeonato muito caro.

    Fico satisfeito com a postura da Ternana.

  • Jogador insatisfeito: A Lazio sabe que isso nao é legal, teve exemplos recentes, e por esses jogadores insatisfeitos acabaram brigando contra o rebaixamento.

    Acho que devemos ver este caso pelo lado pessoal do jogador, é uma mudança drastica, e pelo lado profissional tambem é um grande atraso para sua carreira (apenas 26 anos).

  • Luis Jimenez é uma enganação, e a Ternana está de ótimo tamanho para o futebolzinho de pseudo craque que ele tem. E é incrível como qualquer armador chileno que desponta é chamado de "El mago", não? Depois de ver o Chile apanhar dos pernetas do Dunga na Copa, é fácil perceber que esse é um apelido facinho por lá. Valdívia, Fernandez, até mesmo o Beuasejour, todos são "El mago". Muita mágica e pouco futebol.

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