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Quanto dói uma separação?

No limite entre craque e problemático, Balotelli é a aposta de Mancini e do Manchester City (mcfc.co.uk)

Se você fosse fosse presidente de um clube rico, você venderia o principal jogador jovem do seu time por uma cifra de quase 30 milhões de euros? Massimo Moratti, presidente da Inter, optou pelo “sim” e deu aval para a transferência do atacante Mario Balotelli para o Manchester City.

Dá para entender porque a sociedade nerazzurra optou por negociar Supermario, 20 anos recém-completados nesta semana, na qual estreou na seleção italiana. Hoje, negociar com o Manchester City é ter a certeza de que se receberá mais dinheiro do que o esperado por um jogador, devido a política de mercado inflacionária e megalomaníaca do presidente do clube, o xeique Mansour bin Zayed Al Nahyan. Algum outro clube tornaria Balotelli, um jogador muito talentoso, mas que ainda não explodiu de fato e que tem um temperamento difícil, a contratação mais cara do clube nesta janela de transferências ao pagar cerca de 28 milhões de euros mais bônus por desempenho? Difícil de acreditar.

A estratégia de Massimo Moratti e do diretor esportivo Marco Branca é clara: o objetivo, livrar-se de confusão. Balotelli nem sempre se dedicava aos treinos e às funções que lhe eram delegadas por José Mourinho. Com Rafa Benítez, um técnico que preza muito pela aplicação tática e que é muito afeito a turnovers, Balotelli se adaptaria a exercer responsabilidades que nunca gostou de assumir.

Além disso, a entourage de Balotelli sempre alimentou o ambiente do clube com polêmicas desnecessárias. Mino Raiola, agente do jogador, é acostumado a dar declarações polêmicas e sempre forçou a saída do jogador. Ele, que também é agente de Ibrahimovic, Maxwell e Kerlon, não tem desenvolvido boas relações com o clube e tem perdido espaço. O atacante também não tinha uma relação muito boa com parte do grupo interista. Apesar de ter presenteado Materazzi com um iPad pouco antes de sua saída, uma cena comum no ambiente nerazzurro era ver o atacante isolado, longe do grupo.

Deixando de lado todo os aspectos polêmicos da carreira de “Balo”, a negociação do atacante com o Manchester City leva em conta o Fair Play Financeiro, um conjunto de regras colocadas pela Uefa para o futebol europeu. Com as regras, a entidade visa combater os gastos excessivos em transferências e exige um comportamento mais responsável dos clubes. Se os Citizens, que já gastaram 167 milhões de euros em reforços, almejam jogar a Liga dos Campeões e não pensam nas regras da Uefa, Moratti já começa a adequar a sociedade a nova legislação, vendendo caro e contratando por pouco. Sculli, do Genoa, deve assinar com a Beneamata por cinco milhões de euros, enquanto uma parte do montante recebido pela venda de Balotelli deve ser usado para reforçar outros setores.

Embora Balotelli tenha causado muitos problemas, a Inter reconhece sua qualidade: ter marcado 27 gols em 84 jogos como profissional – mais do que Totti e Del Piero quando tinham sua idade – não é para qualquer um. Assim, o clube inseriu uma cláusula no contrato de venda, que lhe dá a preferência de recompra, em caso de oferta de outro clube italiano. No entanto, é difícil imaginar Balotelli vestindo outra camisa no futebol italiano que não seja as da própria Inter e do Milan, seu clube do coração. Odiado por um número alto de torcidas da Itália, Supermario só poderia mesmo se transferir para um clube do exterior. Na sua chegada a Manchester, o atacante de Palermo declarou que gostaria de permanecer na Itália, mas também comemorou o fato de que, na Inglaterra, estará livre de ofensas racistas, num futebol que é mais jogado e menos político, segundo ele.

No Manchester City, Balotelli reencontrará Roberto Mancini, técnico que o lançou profissionalmente com apenas 17 anos, quando estava na Inter. Balotelli, assim como Kolarov, o outro reforço citizen vindo da Itália, foi pedido expresso do treinador e deverá ter espaço no time titular. Mancini, é bom lembrar, sempre foi reconhecido por ter sido um jogador polêmico, sobretudo em sua juventude, e muitas vezes se vê comparado a seu pupilo. A dupla não teve tempo de mostrar na Inter que pode funcionar sem problemas de vestiário e, agora, num Manchester City que jogará sob a pressão de classificar-se para a Liga dos Campeões, está sob prova. Para Balotelli, a grande concorrência no setor de ataque é o primeiro obstáculo a ser superado.

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