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Strike 3

Robinho: agora vai? (Getty Images)

Três times; três países; três chances. Robinho vai para seu terceiro grande desafio na Europa, embarcando num divisor de águas definitivo para sua carreira. Depois de muita expectativa no Real Madrid, o atacante natural de São Vicente, apesar de bons momentos, não engrenou, e a história acabou se repetindo em Manchester. Obcecado pela conquista pessoal de ser eleito o melhor jogador do mundo, ele não só passou longe de mostrar futebol para isso, como também revelou um lado egoísta e impaciente, que lhe tornou protagonista de desagradáveis choradeiras de mercado ao longo de sua passagem pela Europa. Como de costume, suas declarações iniciais seguem animadoras: um confiante “vou fazer história” deu início às promessas que o ex-jogador do Santos ainda deve fazer na Itália.

Habilidoso, Robinho chamou muita atenção no seu primeiro ano como profissional, ainda em 2002. Embora apontasse clara dificuldade em finalizar, o atacante compensava com agilidade e técnica, notabilizando-se por suas pedaladas – as mais ilustres na final do Brasileiro daquele ano, contra o corintiano Rogério. Bicampeão nacional, tornou-se um dos maiores ídolos recentes do Santos. Em 2005, não resistindo às ofertas de fora do país, deixou claro que queria sair. Até tal momento, ao contrário da imagem que dele se tem hoje, Robinho parecia um garoto com cabeça tranquila e pés no chão, e não dava a entender que passaria por polêmicas comportamentais. Coincidência ou não, seu agente era o sórdido Wágner Ribeiro, com quem só rompeu contrato em 2008.

As esperanças eram altas em Madri: com a camisa 10, Robinho logo caía numa equipe enorme, cuja pressão não poderia deixar de ser equivalente. Levado por Vanderlei Luxemburgo, parecia se adaptar rapidamente à nova vida: em sua primeira temporada, só não jogou uma partida da Liga. Na época seguinte, Fabio Capello chegou e, com ele, os primeiros problemas. Robinho iniciou a gestão de Don Fabio (e do presidente Ramón Calderón) no banco, numa política de dificultar a vida dos jogadores mais custosos, em contraposição à fama madridista de dinheiro, luxo e pouco futebol adquirida (ou reforçada) no mandato de Florentino Pérez. O brasileiro, contudo, superou a reserva e se tornou importante à equipe, ajudando a conquistar a acirrada Liga 2006-07.

Robinho passou mais uma temporada na Espanha e faturou outro campeonato nacional, dessa vez sob o comando de Bernd Schüster. Ele, porém, se enfezou diante da tentativa de seu clube contratar Cristiano Ronaldo usando-o como moeda de troca. Afirmando ter o orgulho ferido, fez de tudo para sair – visando abertamente ao Chelsea, então treinado por Luiz Felipe Scolari. Com o negócio praticamente concluído, os blues até chegaram a vender, em seu site, camisas do brasileiro. Um desencontro de valores, contudo, fez com que somente a proposta do Manchester City satisfizesse as demandas do Real Madrid, e então Robinho se mandou para Manchester nos últimos momentos do mercado, numa clara movimentação de desespero.

Considerado pelo L’Équipe o maior mercenário do futebol e chamado de “jogador de circo” por Franz Beckenbauer: essas foram algumas das impressões deixadas por Robinho em sua passagem pela Inglaterra. Refém das próprias pedaladas – em alguns momentos, o atacante parece se sentir obrigado a passar o pé por cima da bola, mesmo que inutilmente – ele pouco durou na Grã-Bretanha. Embora não tenha começado mal, o insucesso em levar um time mediano nas costas e a posterior dificuldade  em se firmar no ataque desmotivaram o brasileiro, que logo se viu tentado a retornar ao seu país. A justificativa vergonhosa de que seria mais fácil ser melhor do mundo no Manchester City do que no Real Madrid ainda foi usada outra vez: sabendo de um possível interesse do Barcelona, Robinho não hesitou em exumar seu objetivo número um.

Emprestado ao Santos, jogou com qualidade e frequência, guiando a nova geração de talentos do clube. Foi o capitão e ajudou a conquistar o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. Frente a um possível retorno ao City, não quis saber de ser reserva e teve seu nome fortemente especulado ao Fenerbahçe, da Turquia, mas recusou a oferta. Seu futuro permaneceu incerto até o último dia da janela de transferências, quando o Milan confirmou sua contratação. Negociado por praticamente metade do preço que o tirou de Madri (de 32.5 para 14.9 milhões de libras), teve seu período mancuniano massacrado pela mídia britânica.

Robinho ainda é jovem (26 anos) e pode evoluir bastante. Fato é que sua trajetória fora do Brasil ficou, até o momento, mais caracterizada por polêmicas e reclamações do que por futebol. Em Milão, ao lado de vários brasileiros e um clima animador, não há desculpas ou escapatórias para ele. Todo o hype que cerca o ambiente milanista só se compara, na história recente dos rossoneri, àquele de dois anos atrás, quando o clube juntou Kaká, Pato e Ronaldo na tentativa de montar um trio ofensivo. O Ka-Pa-Ro, porém, mal saiu do papel. Hoje, a pressão criada não pode afetar um jogador do calibre e história de Ronaldinho, muito menos Ibrahimovic e o ex-santista, dois atletas de prepotência escancarada. Pato já mostrou que não se intimida facilmente, e o Milan ainda conta, na reserva, com o experiente Inzaghi.

Enfrentando esse desafio, Robinho terá imensas chances de finalmente se dar bem, caso tenha um mínimo de paciência  e humildade. É sua terceira grande chance, e já passou da hora de justificar as esperanças nele depositadas ao longo de sua carreira; principalmente sua ambição corrosiva de ser o melhor jogador do mundo. Do contrário, outro fiasco deve acabar de vez com o que resta de interesse no atleta – visto que sua credibilidade foi perdida há tempos. Se o futuro levar à segunda hipótese, podemos antecipar os motivos: o Milan não dá espaço; não dá pra ser melhor do mundo no Milan; o técnico do Milan não gosta de brasileiros… É agora ou nunca.

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