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A regularidade de Roberto Boninsegna o consolidou como grande goleador

Os lances da final da Copa do Mundo de 1970 estão entre os mais reprisados da história do futebol mundial, sempre em reverência aos brasileiros e relegando os italianos a um esquecimento, às vezes, injusto. A jogada do gol de Carlos Alberto Torres é sempre exaltada como uma das mas belas da história dos Mundiais, e, mesmo quando é feita uma referência ao gol italiano, costuma-se falar da falha de Clodoaldo, que errou a saída de bola no fim do primeiro tempo.

Poucos se lembram de Roberto Boninsegna, que empurrou a bola para as redes e empatou a partida naquele momento. Atacante raçudo e oportunista, ele raramente é citado entre os destaques daquele time, mas costumava incomodar muito as defesas adversárias e foi grande ídolo de três torcidas italianas.

Desprezado por Helenio Herrera

Boninsegna vivia, na época do Mundial, o auge da forma. Aos 17 anos, atuava na Internazionale, clube no qual começou a carreira como juvenil, ainda na ponta-esquerda, mas foi desprezado. O então técnico do clube, Helenio Herrera, o achava inexperiente e e acabou não dando chances para que atuasse na equipe profissional, que vivia um excelente momento e acabaria vencendo a Copa dos Campeões em 1964 e 1965.

O jovem Bonimba em Cagliari (Getty)

Sem chance nos profissionais, ele teve de tentar a sorte em clubes modestos, como o Prato, que na ocasião disputava a Serie C, e o Potenza, à época na Serie B. A chance na primeira divisão veio com o Varese, na temporada 1965-66. O clube foi rebaixado, mas Bonimba, como era chamado, conseguiu se destacar com nove gols marcados. Ainda assim, não parecia ser um jogador muito promissor.

Na temporada seguinte, o atacante se transferiu para o Cagliari, que havia subido para a primeira divisão dois anos antes. Como o ponta-esquerda da equipe era Luigi Riva, Boninsegna migrou para o centro de ataque e não imaginava que a mudança teria tanto impacto em sua carreira.

Rapidamente, tornou-se peça fundamental da equipe comandada pelo técnico Manlio Scopigno e, nos três anos em que atuou pelos isolani, marcou 23 gols em 83 partidas. Além disso, foi vice-campeão nacional em 1969 e artilheiro da Liga Norte-Americana em 1967, quando o time italiano representou o Chicago Mustangs no torneio, balançando as redes adversárias dez vezes. Na época, dizia-se que ele e Riva não se davam muito bem, algo que desmentido pelo próprio Boninsegna: “Éramos como irmãos. Jogamos por três anos juntos, voltávamos juntos do treino, dividíamos o mesmo quarto nos hotéis. Sempre negamos tudo, até ficarmos cansados e não falarmos mais sobre o assunto”.

Apesar do enorme sucesso individual vestindo nerazzurro, Boninsegna ganhou apenas um título em Milão (Arquivo/Inter)

De volta a Milão

Ainda em 1969, Boninsegna deixou a Sardenha a contragosto. O Cagliari passava por momento financeiro delicado, e o próprio Scopigno o informou sobre isso: “O clube precisa de dinheiro, e só quem tem mercado aqui são você e Riva. Ele não quer ir embora”. Foi a senha para o atacante mudar-se para a Internazionale. Além de lucrar com a venda, os rossoblù ficaram com o competente Angelo Domenghini, que ajudou na inédita conquista do scudetto de 1970 e também foi titular na Copa do Mundo.

O primeiro título nacional de Bonimba viria na temporada seguinte, já com os nerazzurri, onde Boninsegna viveu o melhor momento da carreira. No total, foram 113 gols marcados em 197 partidas, além da artilharia da Serie A em 1971 (24 gols) e 1972 (22). Pela seleção italiana, ele ainda disputou a Copa do Mundo de 1974, quando a equipe foi eliminada na primeira fase. No total, foram 22 partidas pela Squadra Azzurra, com nove gols marcados.

Passagem vitoriosa em Turim

Em 1976, quando tinha 33 anos e se encaminhava para a fase final da carreira, Boninsegna se transferiu para a Juventus, trocado pelo também atacante Pietro Anastasi, que na época tinha 28 anos e havia sido convocado recentemente para a seleção italiana. Em tese, o negócio parecia ser bom para a Internazionalie mas Anastasi jamais conseguiu se firmar em Milão – e acabou encerrando a carreira em 1982, no Lugano, da Suíça

Boninsegna, por sua vez, mostrou-se muito útil para a Juve. Nos três anos em que atuou por lá, marcou 34 gols em 95 partidas e ajudou a equipe a conquistar dois campeonatos italianos, uma Coppa Italia e uma Copa Uefa, primeiro troféu internacional da Velha Senhora. Após sair, em 1979, ainda jogou profissionalmente por mais um ano no Hellas Verona, para encerrar a carreira aos 37 anos.

A verve artilheira do atacante se manteve em Turim (Arquivo/Juventus FC)

Após a aposentadoria, Boninsegna investiu na carreira de treinador, mas não teve o mesmo êxito. Entre 1989 e 2001, comandou, com Ettore Recagni, as seleções de base italianas, com passagens pelas equipes sub-19, sub-20 e sub-21. Posteriormente, dirigiu por dois anos o Mantova na Serie C1, tentou, sem sucesso, se eleger para o Conselho Municipal de Mântua e, em 2005, e chegou a participar de alguns filmes. Atualmente, exerce a função de observador técnico da Internazionale.

Os números que ele deixou, porém, ainda impressionam: em 17 anos de carreira profissional, marcou 163 gols em 366 jogos pela Serie A italiana e é o 15º maior artilheiro da competição em todos os tempos. Ainda brilhou nos dois clubes de maior torcida do país e disputou uma final de Copa do Mundo. Lucro imenso para quem iniciou a carreira como um obscuro ponta-esquerda.

Texto por Pedro Venancio.

Roberto Boninsegna
Nascimento: 13 de novembro de 1943, em Mântua
Posição: atacante
Clubes: Prato (1963-64), Potenza (1964-65), Varese (1965-66), Cagliari (1966-69), Inter (1969-76), Juventus (1976-79) e Verona (1979-80)
Títulos: Serie A (1971, 1977 e 1978), Copa Uefa (1977) e Coppa Italia (1979)
Seleção italiana: 22 jogos e 9 gols

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