Serie A

16ª rodada: A primeira fuga

Em campeonatos nacionais na Itália, Ibra não decepciona: sempre campeão e solista (Reuters)

Com a derrota da Lazio para a Juventus, o Milan ensaia sua primeira fuga nesta Serie A, abrindo seis pontos de vantagem para os times que ocupam a segunda posição (Lazio, Juventus e Napoli). Desde quando foi campeão pela última vez, na temporada 2003-04, o Milan não domina tão amplamente o campeonato. Naquela ocasião, o Diavolo tinha um conjunto mais tarimbado e um técnico mais experiente, porém apenas um solista. Antes, Kaká carregava o time, enquanto hoje, esta função cabe a Ibrahimovic, que retornou a Itália para voltar a ser o jogador mais decisivo a atuar no futebol nacional. E, assim, Ibra conduz o Milan à sua primeira fuga na temporada. Confira o resumo dos jogos da rodada.

Bologna 0-3 Milan
A facilidade que o Milan teve para bater o Bologna em pleno Renato Dall’Ara é diretamente proporcional a crise que atravessa o clube rossoblù. O meio-campo teve Pirlo no lado esquerdo de uma linha de três e, novamente, Boateng mais avançado, apoiando a dupla de atacantes. Os marcadores foram os mesmos da partida contra o Brescia: o tridente formado por Boateng, Robinho e Ibrahimovic, já chamado pela imprensa italiana de Boatinhovic. Impressiona como Allegri e Ibra deram um novo rumo aos rossoneri: o primeiro, ao propor um esquema mais racional e equilibrado, com apenas dois atacantes e um meio-campo balanceado. Ibra, por sua vez, é o jogador decisivo que faltava ao Milan. Tira passes, gols e vitórias da cartola com facilidade. Aliando atributos físicos e técnicos semelhantes ao de van Basten, faz o Milan renascer após o Calciopoli assim como van Basten fez o clube renascer após o Totonero. E, por isso gente como Arrigo Sacchi começa a compará-lo ao holandês.

Importante destacar também que os jogadores do Bologna não fazem corpo mole, mesmo sem receber salários a cinco meses. Através do capitão Di Vaio, o grupo já cobrou legalmente o pagamento e os contratos podem ser rescindidos. Além disso, o Peñarol já entrou com uma reclamação formal junto à Fifa, pedindo pelo pagamento ao clube pela transferência de Ramírez, que pode ser cancelada. O clube corre o risco de ser rebaixado em campo, mas a situação pode piorar: caso um novo comprador não apareça e pague os salários dos jogadores, o clube pode até mesmo ser punido com outro rebaixamento ou até mesmo ter a falência decretada.

Juventus 2-1 Lazio
A Juventus segue em plena recuperação logo após ser eliminada da Liga Europa, duas semanas atrás. Se a ideia de Del Neri era priorizar a Serie A, fica cada vez mais possível acreditar que a Velha Senhora tem condições de disputar o título. Os dois gols no início do jogo, após cobranças de escanteio (Chiellini, em falha de André Dias, e Zárate) só deram o tom do jogo intenso que estava por vir. Porém, foi a Juve que deu as cartas, sobretudo com Krasic, que simplesmente não tomou conhecimento do jovem lateral esquerdo angolano Cavanda, escalado por Reja para substituir Radu, lesionado.

O lance do gol da Juve, nos últimos segundos da partida surgiu quando Sissoko fez belo lançamento e, claro, pelo setor de Cavanda, Krasic avançou e contou com erro grotesco de Muslera, que se posicionou mal e acabou desviando o cruzamento do sérvio contra suas próprias redes. Na Juve, destaque ainda para o dinamarquês Sorensen, de 18 anos, que vai conquistando seu espaço. Zagueiro de origem, mas escalado por Delneri como alternativa a Motta e Grygera na lateral direita, tem se saído bem e deve ter sua contratação definitiva formalizada junto ao Lyngby, de seu país natal.

Genoa 0-1 Napoli
Ótimo resultado dos partenopei num dos campos mais difíceis de toda a Itália, bastante conhecido de Walter Mazzarri, que treinou a Sampdoria por duas temporadas. O resultado, porém, foi mais interessante do que a partida, que, apesar de corrida, não foi tão agradável de se ver. O gol de Hamsík, numa bela cabeçada ainda no primeiro tempo, e uma tímida resposta dos grifoni até o apito que mandou as equipes para o intervalo foi providencial para o Napoli, que terá jogo decisivo na Liga Europa contra o Steaua Bucareste, nesta quarta.

No segundo tempo, com as entradas de Rudolf e Destro, o Genoa pressionou bastante, mas não conseguiu a segunda derrota em casa desde que Ballardini assumiu o time, um mês atrás. Curiosamente, os rossoblù tem se saído melhor fora de casa do que no Marassi, geralmente utilizado pelos times da cidade como ponto a favor. Fato é que Mazzarri organizou bem seu time para resistir e tem merecido elogios por seu ótimo e arrojado trabalho tático, com um esquema pouco convencional, o 3-4-2-1. Ponto negativo para o Napoli foi o número de cartões (quatro amarelos e um vermelho), que tiram toda a defesa titular (Campagnaro, Aronica e Cannavaro) e o volante Pazienza do próximo jogo, contra o Lecce, no San Paolo.

Palermo 3-1 Parma
Após a derrota na visita a Napoli, na segunda, o Palermo ensaiou mais um tropeço, mas acabou reagindo bem no segundo tempo. O Parma (sem o técnico Marino, de licença pela morte de sua mãe), logo assustou, com o gol de Lucarelli e com boas chances criadas pela dupla Crespo e Ângelo (escalado não como lateral, mas como meia aberto pela direita), confirmando a boa fase. O Palermo, por sua vez, foi vítima mais uma vez do cansaço e dispersão de Pastore, que jogou mal novamente e foi substituído no intervalo por Pinilla.

O chileno logo mudou o jogo: após jogada atabalhoada de Nocerino, Pinilla empurrou para o gol e empatou o jogo. Ilicic começou a realizar as funções de Pastore e a virada, com o capitão Miccoli, não demorou a acontecer. Depois disto, o jogo só ficou mais aberto: o Parma não desistiu e Sirigu, mais uma vez, foi fundamental para segurar o resultado, com duas boas defesas. Se o Palermo continua com dificuldades de manter a vantagem em jogos que poderia controlar com mais tranquilidade, ao menos desta vez um ex garantiu a vitória: Zaccardo, tentando evitar gol de Kasami, desviou contra as próprias redes e fechou o placar.

Roma 1-0 Bari
Ataque contra defesa. Embalada por um inspirado Ménez, a Roma viu Totti perder pênalti ainda no início da partida. O capitão, porém, acertou cruzamento para Juan, impedido, abrir o placar. Se o desfalcado Bari não ameaçava, também não deixou de oferecer resistência: seguiu-se uma partida inteira de pressão romanista, sem sucesso na tentativa de ampliar o marcador – Borriello até fez, mas havia dominado com o braço e teve o gol anulado. Destaque para Gillet, que não só segurou a penalidade como fechou o gol durante o jogo inteiro, mesmo diante das inúmeras tentativas de Ménez. O francês foi o nome da partida, sendo outra vez importantíssimo à equipe, ao criar todas as jogadas de perigo.

Quem estreou no campeonato foi Doni, ao substituir o lesionado Lobont, que, por sua vez, substituía o lesionado Júlio Sérgio. Ainda deu tempo do brasileiro levar um susto: em contra-ataque puxado por D’Alessandro (emprestado pela Roma), Crimi finalizou já dentro da área e viu Cassetti bloquear o chute, no que provavelmente seria mais um apagão da Roma nos minutos finais. E, definitivamente, empatar em casa com um time tão desfalcado e desesperado por reforços – para a defesa, fala-se em Legrottaglie e Onyewu – seria um tropeço imperdoável.

Udinese 2-1 Fiorentina
Pouco a pouco, a Udinese vai encostando na parte mais alta da tabela. E vai conquistando o feito por merecimento: os friulanos tem jogado bem, contando com a evolução do futebol de Sánchez, que tem se consolidado com um dos principais talentos da Serie A; com o reencontro de Di Natale com os gols e com a ajuda dos demais, que, se não formam um grande conjunto em termos técnicos, dedicam-se em campo.

Na partida deste sábado, os bianconeri dominaram e só saíram atrás graças a um frango de Handanovic, inexplicavelmente inseguro durante todo o jogo. Apesar dos erros do goleiro esloveno, a Udinese mostrou-se muito organizada em campo, um mérito do ótimo trabalho de Guidolin à frente do time. Um golaço de Armero, no início do segundo tempo, ampliou a pressão, que acabou numa virada próxima ao final, com um improvável toque de classe de Denis e o décimo gol de Di Natale no campeonato. Caso não perca Sánchez no mercado de inverno e feche com alguns reforços pontuais, pode sonhar com uma vaga na Liga Europa. Já a Fiorentina deve se contentar com um campeonato de transição, em que o meio da tabela deve ser o objetivo a ser alcançado.

Cagliari 3-0 Catania
Quem diria que Donadoni iria renascer das cinzas após trabalhos ruins na seleção italiana e no Napoli? Pois bem, até agora, o treinador tem desempenho exemplar no comando do Cagliari: são 9 pontos em quatro partidas, um aproveitamento de 75%. Na partida deste domingo, o dedo do treinador se viu na disposição tática que mandou a campo: a escolha de escalar Cossu aberto pela esquerda, somada às subidas constantes de Agostini, deu trabalho a Potenza e foi um dos principais fatores que levaram os sardos a dominarem tão facilmente a partida e possibilitarem a Nenê que marcasse sua primeira tripletta na Serie A. Poderia ter sido mais, caso Matri não estivesse em um dia muito ruim.

Os etnei tiveram uma semana (e, em especial, uma partida) para esquecer. Seis gols sofridos em apenas uma semana são demais para uma defesa que vinha se comportando tão bem desde o início da competição. Distante, o time se perdeu ainda em duas expulsões no segundo tempo (Raphael Martinho e Morimoto), mas não influenciaram diretamente em uma derrota que já estava consumada. O verdadeiro caso é Maxi López, que passou o jogo inteiro isolado e está distante do matador da última temporada. Até agora, são apenas dois gols na Serie A e surpreende que a Juventus tenha sondado um jogador em tal má fase para adicionar qualidade a seu ataque.

Lecce 3-2 Chievo
Nada melhor que uma grande exibição para afastar uma crise que durava tanto tempo. Sem vitórias há nove jogos e comandado por um Piatti inspirado, os salentini foram superiores ao Chievo durante toda a partida e logo abriram o placar com Ofere – boa opção a Corvia, que foi afastado por De Canio e deve ser negociado em janeiro. Mais uma vez, o Lecce demonstrou um futebol muito agradável de se ver do meio-campo para a frente, com bom toque de bola e movimentação, além de lances individuais de grande habilidade, sobretudo com Di Michele.

Incrível é ver que a organização ofensiva do time não se repete na defesa, frequentemente em vulnerabilidade, ainda que, desta vez, Donati e Munari tenham feito boas coberturas pelo lado direito. E, se, desta vez, uma cobrança de falta perfeita de Bogliacino e uma falha individual do goleiro Rosati foram as causas dos gols sofridos pela equipe, correr atrás de zagueiros no mercado de inverno pode ser a chance de obter a salvezza. No Chievo, a derrota não deve repercutir muito e a tentativa de reação, nos minutos finais, pode ser vista como um ponto positivo.

Brescia 1-0 Sampdoria
A estreia de Beretta (que substituiu, nesta semana, Iachini) no clube lombardo interrompeu a maior série de resultados negativos deste campeonato. Após 11 partidas sem vencer, o Brescia reencontra-se com os três pontos em uma partida fraca, mas que valeu pela boa postura defensiva da equipe. Jogando com a vantagem no placar desde os 13 do primeiro tempo, quando Córdova cobrou falta no meio do gol e contou com um frango de Curci, os brescianos já mostraram que, com a chegada do novo treinador, parecem ter ganhado ao menos em vontade de resistir.

A pressão da Samp, que vinha de sete pontos em três jogos, durou toda a partida, mas esbarrou em uma boa atuação coletiva da linha de defesa dos donos da casa. Pelo lado doriano, a se destacar a temporada opaca que faz o capitão Palombo, outrora um dos grandes matchwinners do time que se classificou para a Liga dos Campeões na última temporada.

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Seleção da 16ª rodada
Gillet (Bari); Zebina (Brescia), Cannavaro (Napoli), Chiellini (Juventus), Armero (Udinese); Krasic (Juventus), Gargano (Napoli), Boateng (Milan), Piatti (Lecce); Ibrahimovic (Milan), Nenê (Cagliari). Técnico: Roberto Donadoni (Cagliari).

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