Brasileiros no calcio

Toninho Cerezo viveu o auge com título na Sampdoria

Um lance, apenas um lance quase manchou toda uma carreira marcada por vitórias que durou expressivos 23 anos. A cultura brasileira praticamente obriga que exista um culpado em cada eliminação da seleção canarinho em Copas do Mundo e, em 1982, no Sarriá, o escolhido foi Toninho Cerezo. Mas, assim como Zico (que herdaria seu cargo de vilão quatro anos mais tarde), Cerezo será lembrado não por um erro, mas sim pelas inúmeras vezes em que presenteou a nós, admiradores do bom futebol, com jogadas de rara classe.

Assim como grande parte dos astros magnos brasileiros, Cerezo tem origem humilde. Para poder fazer o seu primeiro teste, no Atlético-MG, o menino trocou sua bicicleta por um par de chuteiras. Foram necessários apenas 20 minutos de atividade para que o treinador, Zé das Camisas, se convencesse de que estava presenciando o nascimento de uma jóia.

Ainda nas categorias de base do Galo, Cerezo foi emprestado ao Nacional-AM e, apenas em 1974 estreou pelos profissionais do clube mineiro, no qual jogou até 1983. Nesta passagem pela sua equipe de coração, o craque conquistou sete campeonatos estaduais. Ainda pelo Galo, Toninho Cerezo começou sua carreira na seleção brasileira, para a qual recebeu a primeira convocação em 1977 e, um ano depois, fez parte do grupo que atingiu a terceira posição na Copa de 1978, na Argentina.

Após nove anos mantendo-se em altíssimo nível, e já tendo disputado duas Copas do Mundo, atraiu a atenção da Roma e rumou para a capital italiana. Na Europa, Cerezo teve dificuldade para se adaptar, principalmente ao frio, mas ainda assim, conquistou duas Coppa Italia.

Primeiro clube de Toninho na Itália foi a Roma (Popperfoto/ Getty)

Pela equipe capitolina, foi titular por causa das lesões de Carlo Ancelotti. O brasileiro foi um dos destaques do time em seu primeiro ano, quando atuou nas 50 partidas da equipe, muitas delas no sacrifício por causa das dificuldades físicas de alguém que já vinha de meia temporada no Atlético-MG antes de ser contratado. Também é lembrado por ter marcado o gol do título na Coppa Italia de 1986. O brasileiro havia ido ao México, onde jogaria a Copa do Mundo, mas foi cortado por uma lesão. Mesmo assim, voltou à Itália e jogou a final da competição. Cerezo trocou a Roma pela Sampdoria, sobre a qual havia convertido o tento, e aí sim fez história.

Na equipe blucerchiata, Cerezo reencontrou a essência de seu futebol e voltou a encantar a todos com belíssimas atuações. Em 1988 e 1989 conquistou o bicampeonato da Coppa Italia pela equipe doriana, e, no começo da década de 90 alcançou juntamente com o clube o seu ápice no futebol europeu.

No dia 15 de maio de 1991, Pluto (apelido recebido devido a suas passadas largas) gravou seu nome na história do clube genovês ao marcar um dos gols na vitória sobre o Lecce por 3 a 0, que garantiu o único título da equipe na história da Serie A. Também na temporada 91, o mineiro teve destaque na conquista da Supercopa Italiana, quando na final derrotou justamente sua ex-equipe, a Roma, por 1 a 0. O título lavou a alma da equipe, que havia batido na trave em 1988 e 1989, quando perdeu para Milan e Inter, respectivamente.

Depois de disputar final europeia com a Roma, Cerezo também foi vice continental com a Samp (imago/Stockhoff)

Na Copa dos Campeões de 1992, a equipe treinada pelo iugoslavo Vujadin Boskov, que tinha um inspiradíssimo Gianluca Vialli no comando do ataque e contava com astros como Pagliuca, Lombardo e Mancini, atropelou seus adversários e chegou a final da competição. Porém, em um Wembley com mais de 70 mil espectadores, sucumbiu a um estrelado Barcelona, que, com um gol de falta do holandês Koeman, no segundo tempo da prorrogação, venceu por 1 a 0.

Após participação ativa nessa brilhante temporada, Cerezo se despediu da Sampdoria após disputar 166 partidas pelo clube e voltou ao Brasil para jogar pelo São Paulo. Foi um dos comandantes da equipe paulista nos diversos títulos internacionais conquistados no início dos anos 90, entre eles, o bicampeonato do Mundial Interclubes. Depois disso, teve uma breve passagem pelo Cruzeiro, voltou ao São Paulo e, já aos quarenta anos, jogou por América-MG e encerrou sua carreira no clube em que começara sua vida no futebol, o Atlético-MG.

Como treinador, conquistou títulos no Kashima Antlers, do Japão, e no Al-Shabab, dos Emirados Árabes, mas em times brasileiros não obteve muito sucesso. Teve campanhas apagadas no Guarani, Atlético-MG, Vitória e Sport, que em nada lembram seus dias dentro dos gramados.

Antônio Carlos Cerezo
Nascimento: 21 de abril de 1955, em Belo Horizonte.
Posição: Meio-campista
Clubes como jogador: Atlético-MG (1972-73), Nacional-AM (1973-74), Atlético-MG (1974-83), Roma (1983-86), Sampdoria (1986-92), São Paulo (1992-93), Cruzeiro (1994), Lousano Paulista (1995), São Paulo (1995-96), América-MG (1996) e Atlético-MG (1997).
Títulos: 4 Coppa Italia (1983-84, 1985-86, 1987-88 e 1988-1989), 2 Mundiais Interclubes (1992 e 1993), 2 Recopas Sulamericanas (1993 e 1994), 1 Serie A (1990-91), 1 Recopa Europeia (1989-90), 1 Copa Libertadores da América (1993) e 1 Supercopa Sulamericana (1993).
Observação: Contabilizamos apenas competições nacionais e internacionais.
Seleção brasileira: 74 jogos e 7 gols.

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4 comentários

  • Muito bom…
    Toninho Cerezo foi um grande jogador e na minha opinião nunca foi culpado pelo fiasco de 82, pois estava enfrentando uma Azzurra tão boa quanto os canarinhos.

  • Que nada, com todo respeito, é um entregador nato. Deu de bandeja. Rapaz é primeira lição de qualquer escolinha de futebol "ñ fazer inversão na defesa"…. ENTREGÃO!!! Contudo, boa matéria. Esse novo colunista, Anderson Moura, tem nos deliciado com suas excelentes matérias.

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