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Fabrizio Ravanelli, a raposa prateada que brilhou na Europa

Os cabelos brancos quase sempre eram cobertos pela camisa que vestia. Ora Juventus, ora Middlesbrough e até Olympique Marseille. Aquele corpanzil de 1,88m honrou todas as camisas que usou durante seus 19 anos como profissional, em pouco mais de 520 jogos. Fabrizio Ravanelli começou a carreira na Úmbria, rodou até a terceira divisão da Itália e viveu seus melhores momentos no futebol na Juventus campeã européia de 1996.

Quando pequeno, Fabrizio “obrigava” seu pai a acompanhá-lo ao estádio para assistir jogos do seu clube de coração, a Juventus, quando a equipe jogava na Umbria. Em 1983, deu seus primeiros chutes. A oportunidade no profissional chegou na temporada 1986-87. Em três anos no Perugia, Ravanelli se notabilizou pela forte presença dentro da área, chegando a marcar 23 gols em uma só temporada – a do acesso do time à Serie B. O atacante foi contratado pelo Avellino, mas fez sete jogos antes de ser repassado ao Casertana, da terceira divisão. O período de experiência foi válido, pois a Reggiana sinalizou com a contratação da promessa.

Deu certo: Ravanelli já atraía olhares de clubes grandes após boas épocas pelo clube granata. Ele estava pronto para ingressar na primeira divisão do futebol italiano. Era forte fisicamente, resistente e tinha caráter. Tecnicamente, era bom no jogo aéreo e nos tiros de curta distância, o que o ajudou a marcar 24 gols em duas temporadas. Em 1992, o atacante acertou sua transferência para a Juve. A queda de desempenho da equipe na Serie B fez com que os torcedores culpassem o jogador e chamassem o, até então, ídolo de “vendido!”. “Eu sempre dei o meu melhor. O fato é que quando as coisas começaram a ficar ruins, algumas pessoas colocaram a culpa em mim”, disse, à época.

A influência de Giovanni Trapattoni foi decisiva para o acerto com Ravanelli. Comparado a Roberto Bettega por conta dos cabelos grisalhos, ele chegou à Serie A aos 24 anos. Entretanto, também foram adquiridos Gianluca Vialli e Andreas Möller, enquanto o clube já contava também com Pierluigi Casiraghi e Roberto Baggio. O técnico mal aproveitou Ravanelli em 1992-93, mas tinha explicação: Trapattoni não queria colocá-lo em enrascadas. Ele ainda achava que o jogador era um pouco desajeitado e que precisava melhorar em alguns fundamentos. Ao fim da época, a torcida viu o atacante marcar cinco gols.

Ravanelli celebra um de seus mais importantes gols com a camisa da Juve (imago/Colorsport)

O jogador ficou na reserva até o primeiro semestre do ano seguinte e começou a ganhar mais chances por conta da transferência de Casiraghi para a Lazio, quando virou reserva imediato do ataque. Mas foi com Marcello Lippi que teve seu melhor momento na carreira. Em 1994-95, sob comando do treinador toscano, Ravanelli se firmou titular. O técnico lançou o time com a formação 4-3-3 com Vialli ao lado de la Penna Bianca, enquanto Del Piero dava o suporte necessário pelo flanco esquerdo. Um de seus melhores jogos pela equipe foi contra o CSKA Sofia, na Copa Uefa. Ele foi à rede em cinco oportunidades no jogo encerrado em 5 a 1. A Juve acabou com o título do torneio naquela temporada.

Em 8 de janeiro de 1995, um dia simbólico: em uma partida da Serie A, Dino Baggio colocou o Parma na frente, mas Ravanelli virou para 2 a 1 com um mergulho à “Bobby Goal” Bettega. Nas tribunas, o ex-jogador disse: “essas coisas acontecem apenas para aqueles que têm cabelos brancos”. Foi apenas o prenúncio do “mascarado”, sua famosa comemoração, que aconteceu pela primeira vez contra o Napoli: Lippi cobrou o time no vestiário após empate sem gols no primeiro tempo. Ravanelli marcou o gol da vitória e fez a festa. O gol em Turim foi apenas um dos 15 tentos feitos na Serie A de 1994-95, que terminou com o 22º scudetto da Juve. Os outros dois títulos da temporada foram conquistados em cima do Parma: Coppa Italia e Supercoppa.

A vida profissional de Ravanelli ia tão bem que conseguiu sua primeira convocação para a Squadra Azzurra. E, claro, marcou o primeiro gol na estreia, contra a Estônia, apesar de iniciar o jogo como reserva. Ele foi chamado para integrar a seleção da Eurocopa de 96, mas pouco atuou. Para a Copa de 1998, Ravanelli teve azar: foi convocado por Cesare Maldini para o torneio, mas pegou rubéola e acabou substituído por Enrico Chiesa. No total, Ravanelli fez 22 partidas com a camisa azul.

Se a época anterior foi boa, a de 1995-96 foi melhor ainda. O atacante foi um dos protagonistas do campeonato europeu – o segundo na história bianconera. Ele detonou na primeira fase da competição e ficou meio sumido contra Real Madrid e Nantes, no mata-mata. Reapareceu novamente na final, contra o Ajax do técnico Louis van Gaal e tantos craques, quando marcou o gol mais importante da sua carreira: driblou van der Sar e, quase sem ângulo, abriu o marcador no Olímpico de Roma. A decisão, posteriormente, foi decidida e vencida nos pênaltis pela Juventus.

Na Inglaterra, Ravanelli fez dupla de sucesso com Juninho (Allsport)

A relação com o clube, porém, se desgastou e ele foi vendido por 7 milhões de libras para o futebol inglês, onde, ao lado de Gianfranco Zola, Gianluca Festa, Roberto Di Matteo e Gianluca Vialli, formou uma espécie de invasão italiana no fim dos anos 90. Ele deixou na memória da torcida os seus 68 gols feitos em 160 partidas. Ravanelli nunca escondeu que ficou decepcionado com a ação do clube nem que sua carreira poderia ter tomado outro caminho se permanecesse na Juventus. Ele sempre demonstrou seu amor à equipe e achou que o time não devolveu todo o carinho. A contratação do bomber pelo Middlesbrough foi um impacto.

A estreia de Ravanelli, já apelidado de Silver Fox (Raposa Prateada, em tradução literal) não podia ser melhor: marcou uma tripletta sobre o Liverpool, que, no ano anterior, lutou pelo título com Manchester United e Newcastle até o fim do campeonato inglês. Apesar de ser um dos artilheiros da temporada, o Boro foi rebaixado. O time ainda conseguiu chegar às finais da FA Cup e da Carling Cup, mas foi derrotado em ambas por Chelsea e Leicester, respectivamente. Com o rebaixamento, o jogador passou pelo Olympique Marseille, onde fez duas boas temporadas, antes de retornar ao país natal.

Ravanelli estava na lista dos jogadores bancados pela Cirio para atuarem pela Lazio em 1999. Com ele, chegaram Verón, Nedved, Vieri, Mihajlovic, Mancini e Fernando Couto. O clube da capital foi campeão italiano e da Coppa Italia, mas o atacante viu as duas conquistas do banco de reservas. Ele saiu em 2001 para o Derby County, que acabou rebaixado na Premier League, e transferiu-se para o Coventry, também da Inglaterra, que disputava a segundona. Depois, atuou em seis jogos pelo Dundee United. Na estreia pelo clube escocês, marcou seus únicos gols: realizou uma tripletta sobre o Clyde depois de entrar no jogo substituindo um companheiro.

Ravanelli se destacou em clubes do exterior, como o Marseille (Allsport)

Após rodar meia Europa, sentiu que era hora de retornar ao Perugia, clube pelo qual encerrou a carreira, em 2005, depois de jogar meia temporada como titular na última passagem do clube pela Serie A – os umbros foram rebaixados após perderem play-out para a Fiorentina. Na temporada seguinte, ainda como titular, Ravanelli ajudou o time a chegar aos play-offs de acesso à elite, mas amargou novo insucesso, desta vez frente ao Torino.

Depois de se aposentar, o Penna Bianca teve uma rápida passagem como supervisor técnco da base dos grifoni e aceitou a proposta de Claudio Lotito para assumir as categorias juvenis da Lazio. Hoje, o ex-atacante trabalha como comentarista da Mediaset e, todos os anos, participa de uma importante competição amadora de ciclismo no Belpaese.

Fabrizio Ravanelli
Nascimento: 11 de dezembro de 1968, em Perugia
Posição: atacante
Clubes: Perugia (1986-89 e 2004-05), Avellino (1989), Casertana (1989-90), Reggiana (1990-92), Juventus (1992-96), Middlesbrough (1996-97), Olympique Marseille (1997-99), Lazio (1999-01), Derby County (2001-02), Coventry City (2002-03), Dundee United (2003-04)
Seleção italiana: 22 jogos e 8 gols
Títulos: 2 Serie A (1994-95 e 1999-00), 2 Coppa Italia (1994-95 e 1999-00), 2 Supercoppa Italia (1995 e 2000), Copa Uefa (1992-93), Liga dos Campeões (1995-96)

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