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Review: Copa Viareggio 2012

Juventus chega ao sexto título em dez anos na Copa Viareggio e confirma-se, mais uma vez, como um dos grandes centros formadores da Itália. E, como se vê na imagem, com participação brasileira (Reprodução)

Por Nelson Oliveira e Rodrigo Antonelli

Na 64ª edição da Copa Viareggio, venceu a juventude. A afirmação parece óbvia, mas não é: Roma e Juventus, que fizeram a final, tinham os times mais jovens da competição, recheados de jogadores de 18 e 19 anos em um torneio da categoria sub-20. Na campeã Juve, apenas o atacante Libertazzi era /92. Na Roma, apenas Viviani e Tallo, além de Négo, /91 – o único inscrito a superar os 20 anos, já que o torneio permite dois por equipe. Os giallorossi apostaram tanto na juventude que inscreveram até mesmo o atacante Ferrante, um /95 recém-contratado junto ao Piacenza. 

Os brasileiros, por sua vez, não tiveram vida longa no torneio. Juventude, Olé Brasil e Grêmio Osasco foram eliminados ainda na primeira fase, tendo cada um conseguido apenas uma vitória em seus grupos. O melhor desempenho foi do Juventude, que mesmo tendo conseguido ir a Viareggio apenas pela ajuda de um grupo de empresários, ficou próximo de garantir a classificação para a segunda fase como na cota das melhores segundas colocadas. Com 4 pontos, o Ju não conseguiu ir em frente, mas o atacante Hiago foi um dos destaques da primeira fase, tendo marcado três gols. Da primeira fase, aliás, saiu o artilheiro da competição: Improta, do Genoa, substituiu o brasileiro Willian Lacerda, ex-Corinthians, e marcou seis na competição – cinco em um mesmo jogo, na goleada por 9 a 0 sobre o LIAC New York. O Genoa, porém, caiu nas oitavas frente ao Torino e Improta não foi mais colocado à prova. Acompanhe, a seguir, nossa análise do que mais importante aconteceu no torneio.

Eleito melhor jogador da competição, o meia-atacante Spinazzola chegou à Juventus nesta temporada (Reprodução)

A campeã

Depois de uma campanha abaixo das expectativas na edição de 2011 (foi eliminada nas quartas-de-final), a Juventus voltou a mostrar sua força no torneio de base mais importante da Itália e ficou com o título pela sexta vez nos últimos dez anos. Agora, o time de Turim tem oito taças de Viareggio e está empatado com Milan e Fiorentina como time que mais venceu a competição. Para isso, superou Vicenza, Club Guaraní, Parma e Roma na fase final da competição, após liderar a fase de grupos. Desta vez, porém, não foi o ataque que se destacou, como naquela edição em que o artilheiro Ciro Immobile foi a grande estrela. O ponto alto do time montado por Marco Baroni foi o setor defensivo, que sofreu apenas quatro gols durante o torneio.

Formada por Branescu (goleiro), Untersee, Gouano, Rubin e um entre Liviero ou Belfasti, a defesa bianconera mostrou segurança e maturidade para uma equipe de jovens. Em nenhum jogo o time sofreu mais de um gol. Não à toa, a equipe é líder do seu grupo no Campeonato Primavera e finalista da Coppa Italia da categoria. Destaque também para as atuações do holandês Ouasim Bouy, meio-campista contratado junto ao Ajax no último dia da janela de transferências e autor de três gols e também às do brasileiro Gabriel Appelt, à frente da zaga. Apesar de não ter jogado todas as partidas, por opção do treinador, o ex-jogador do Resende (RJ) foi bem enquanto esteve em campo e chamou a atenção da imprensa local, que chegou a compará-lo ao romanista De Rossi. Com bom posicionamento, noção de marcação e toque de bola acima da média, Appelt ainda pode estourar em times principais da Itália.

Mas o grande nome do time (e da competição) foi mesmo Leonardo Spinazzola. O meio-campista de 18 anos foi o dono da bola e comandou a equipe na caminhada até o título, com muita classe, velocidade e visão de jogo. Revelado no Siena e adquirido pela Juve como peça de troca na transferência de Immobile e Marrone para Siena, Spinazzola se consagrou com grande atuação na final, contra a Roma, e foi eleito o melhor jogador da competição. Mais à frente, Padovan não repetiu os muitos gols de Immobile em outras edições, mas não deixou a desejar, balançando a rede três vezes. Importante ressaltar também como o clube está investindo na base (foram €6,5 milhões gastos no último mercado) e tentando aproximá-la do time principal. No discurso, a ideia é subir três ou quatro jogadores para o time principal a cada ano. Na prática, sabemos que não é bem assim, mas só o fato de investir mais já é um bom sinal. Tanto para a Juve, quanto para o futebol italiano.

As semifinalistas

Pigliacelli, de 18 anos, foi o melhor da Roma em Viareggio. Se a defesa não era o forte do time, ele tinha de aparecer bem para evitar que a equipe sofresse mais gols (Reprodução)

Roma (vice-campeã)

Outro time bastante jovem na disputa, a Roma teve uma fase de grupos irregular. A equipe treinada por Alberto De Rossi sofreu contra os estrangeiros do Club Nacional e do Santos Laguna (até perdeu para os mexicanos) e garantiu-se no mata-mata graças apenas a um 7 a 2 sobre o fraquíssimo Virtus Entella. Para a fase seguinte, em que passou por Atalanta, Combinado da Serie D e Fiorentina, a equipe ganhou o reforço de Piscitella, que já estreou pelos profissionais, e cresceu de produção. O meia-atacante, que cai pelos lados do campo, fez boas partidas e marcou dois gols, além de municiar o atacante marfinense Tallo, autor de outros dois tentos.

No meio-campo, Verrè – artilheiro do time graças a três gols marcados contra o Virtus Entella – foi destaque de uma equipe que sentiu falta de Viviani, um dos mais experientes do grupo, poupado de boa parte dos jogos do torneio por estar treinando com o time profissional. Ciciretti, outro possível destaque, foi expulso nas quartas de final e, suspenso pela própria Roma do restante do torneio, fez falta na final perdida contra a Juventus. A defesa, que não foi das melhores do torneio, acabou dando chance para que o goleiro Pigliacelli aparecesse bem. Ele teve boas atuações em todos os jogos da campanha giallorossa e foi o melhor da equipe na competição, por sua regularidade.

Parma

Grande surpresa do torneio carnavalesco, o Parma não conta com grande tradição na revelação de jogadores – apesar de já ter revelado os irmãos Cannavaro e Giuseppe Rossi. A equipe emiliana, que também tem baixa média de idade e é treinada por Fausto Pizzi, começou a aprontar já na fase de grupos, quando venceu o Milan com um sonoro 4 a 0 e dois gols do atacante Monachello. O ataque, aliás, produziu bastante: foram 11 gols, distribuídos não só entre os avantes, mas também entre jogadores de outros setores. Jogando pelos lados do ataque no 4-2-3-1 reversível para 4-3-3 de Pizzi, Sprocati e Pedrinelli revezaram bem, dando uma canseira nos seus marcadores ao longo de todo o torneio. Outros reservas que, sempre quando acionados, apareceram bem foram o meio-campista Malivojevic, com ótima chegada ao ataque, e o atacante português Fábio Nunes.

A defesa, por sua vez, também foi muito bem, tendo sofrido apenas três gols. Foi a partir da defesa que a equipe passou pela Inter, nos pênaltis, após 1-1 no tempo normal e na prorrogação. O goleiro Gallinetta, cedido pelos nerazzurri, foi o principal responsável pela classificação, já que fez grandes defesas com a bola rolando e pegou um pênalti. Mais à frente, outro ex-intersta, o zagueiro Galimberti, também teve ótimas atuações. Porém, o diferencial da equipe foi o meio-campo muito forte fisicamente e bastante versátil, com o capitão Battiono – nome da vitória por 3 a 0 nas quartas sobre o Torino – e o ganês Addae, já comparado a Desailly por sua força física e técnica. Addae, por sinal, já tem convocação para os Estrelas Negras. Com tantas boas prestações em Viareggio, paradas apenas pela Juventus, com gol de Spinazzola nos últimos minutos, é difícil explicar porque o Parma se encontra na parte baixa da tabela no campeonato Primavera. Ao menos, ao que parece, essa geração dará o que falar – e seu técnico também.

Svedkauskas, em ação pela Coppa Italia Primavera na imagem, foi eleito melhor goleiro do torneio (Reprodução)

Fiorentina

A campanha da Fiorentina teve forte participação brasileira: com três brasileiros no elenco – Alan Empereur, Gustavo Campanharo e Ryder Matos -, a equipe fez uma boa campanha, como se esperava, e só caiu nos pênaltis, em semifinal muito disputada contra a Roma. Os viola tinham um elenco. Um dos principais destaques da campanha viola foram justamente Campanharo, que tem jogado mais adiantado do que quando atuava pelo Juventude. Ele estreou com o pé direito e fez logo o primeiro de seus três na competição com apenas um minuto do primeiro jogo, contra o Stabaek – única partida na qual a Fiorentina teve facilidade na competição.

Outro bom valor que apareceu no torneio foi o goleiro Svedkauskas, que foi eleito o melhor goleiro do torneio. No meio-campo, destaque para o meio-campista Panatti, autor de dois gols e visto como possível substituto de Montolivo no time de cima em médio prazo. Além dos dois, também teve destaque o atacante Zohoré, contratado para substituir Babacar – e integrado ao time principal -, que fez dois gols, incluindo um nos acréscimos do segundo tempo nas quartas de final contra a Lazio, que levou o jogo para a prorrogação e deu início à virada florentina. Em uma campanha cheia de dificuldades, fez diferença a “experiência” de Camporese (9 jogos na Serie A) e Agyei, que também já estreou na elite e treina com os profissionais. Por outro lado, a presença de jovens que já atuaram em alto nível e se mostraram preparados para os profissionais em um torneio juvenil só ressalta o atraso italiano em lançar, sem medo, suas revelações.

As decepções

Nesta edição, algumas equipes importantes, como Genoa, Torino e Atalanta caíram mais cedo, mas não podem ser chamadas de decepções porque tiveram cruzamentos complicados. De fato, o posto de maior decepção é disputado pela dupla de Milão. A Inter entrou na competição para defender o título conquistado no ano passado e com credenciais de favorita, mas foi eliminada precocemente, logo nas oitavas-de-final. Após campanha apenas regular na fase de grupos, o time não resistiu ao ofensivo Parma e caiu nas cobranças de pênaltis, após empatar por 1 a 1. O curioso é que o time do técnico Andrea Stramaccioni foi eliminado sem perder nenhum jogo no tempo regulamentar. Foram duas vitórias (Siena e Reggina) e um empate (Anderlecht) na fase de grupos e um empate nas oitavas-de-final. Nem mesmos os destaques Samuele Longo e Daniel Bessa tiveram atuações tão positivas assim.

O Parma foi o responsável pela eliminação do Milan também. Ainda na fase de grupos, o time de Fausto Pizzi (que só caiu nas semifinais) goleou os jovens de Milanello por 4 a 0 e praticamente eliminou as chances de o time se classificar para as fases finais. Mesmo com duas vitórias nos outros jogos (Grêmio Osasco e Modena), a equipe não conseguiu ficar entre os quatro melhores segundos colocados que se classificavam e deu adeus ao torneio de carnaval antes do esperado pelo segundo ano consecutivo. O destaque positivo foi o atacante Gianmario Comi, que comprovou sua fama de artilheiro e marcou quatro gols em três jogos. Comi é o artilheiro do Campeonato Primavera também, com 12 gols. O time foi o único italiano que não passou para as oitavas-de-final.

Outra decepção foi a Sampdoria. Considerado um dos times com melhor estrutura de base no país, o clube não conseguiu passar das oitavas-de-final e decepcionou pelo terceiro ano seguido em Viareggio. Em 2010, a eliminação veio ainda na fase de grupos. No ano seguinte, nem a contratação do técnico campeão com a Juve em 2010, Luciano Bruni, salvou a equipe de mais uma decepção: o time caiu nas quartas-de-final para o surpreendente Varese. Neste ano, o time até fez boa campanha na primeira fase, conduzido pelo atacante argentino Mauro Icardi – autor de três gols – e conquistou sete pontos (2 vitórias, 1 empate, 7 gols marcador e apenas 2 sofridos) no grupo mais difícil da competição. Porém, o sonho blucerchiato acabou nos pênaltis, contra o Club Guaraní. Após empatar por 0 a 0 no tempo regulamentar, a equipe comandada por Felice Tufano errou todas as cobranças e caiu fora de forma melancólica.

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