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Claudio Caniggia foi ídolo da Atalanta e o melhor parceiro de Evair

Em todas as Copas não vencidas pelo Brasil, a torcida verde e amarelo tem a necessidade de colocar a culpa em alguém. Barbosa e Paolo Rossi provavelmente são os maiores vilões da seleção canarinho, mas um argentino também já fez muita gente chorar por nossas terras. Claudio Caniggia marcou o gol que sacramentou a eliminação da Copa de 1990, na Itália. E esse com certeza não foi o único bom momento de Cani no Belpaese.

Revelado nas categorias de base do River Plate, Claudio Caniggia jogou por três anos nos Milionários como profissional, deixando a Argentina para jogar no Verona, em 1988, por 3 bilhões de liras. No clube gialloblù, o cabeludo até teve bons momentos, mas marcou apenas três gols e uma fratura na perna tirou o atacante de ação por quatro meses. O Hellas, que havia vencido seu único scudetto há três temporadas, já começava a mostrar sinais de queda e Caniggia abandonou o barco antes do naufrágio, que seria o rebaixamento na temporada seguinte. E parece que o atacante gostou do norte italiano, porque quando ele deixou Verona, andou apenas cerca de 100 km, rumo a vizinha Bérgamo, onde atuaria por um time rival.

Antes de chegar à Lombardia, Caniggia jogou a Copa América no Brasil e viu a Argentina ficar com o terceiro lugar. Jogando pela Atalanta, Caniggia enfim começou a embalar. É verdade que ele não foi de grande serventia na primeira Copa Uefa disputada pela equipe na história, mas formando boa parceria com o sueco Glenn Strömberg e com o brasileiro Evair, Cani fez uma ótima Serie A. O argentino começou a cair nas graças do povo quando marcou o gol que garantiu uma vitória sobre a Juventus, mas o pavio curto do jogador ainda deixava a torcida com um pé atrás. Só na primeira temporada foram oito cartões amarelos.

O Verona foi o primeiro clube de Cani no futebol italiano (Getty)

A Copa de 1990 chegou e Caniggia não estava garantido na convocatória argentina, mas como diz o ditado: ‘quem tem amigos não morre pagão’. E esse amigo que garantiu Claudio no Mundial foi ninguém menos que Diego Maradona. Dieguito confessou posteriormente que ameaçou o técnico Carlos Bilardo ao dizer que só iria para a Copa se Caniggia também fosse. Santa chantagem.

Após uma primeira fase modorrenta, a Argentina passou apenas como uma das melhores terceiras colocadas, enfrentando então o Brasil. Já no fim do jogo – que foi dominado pelo Brasil -, toda a marcação do time treinado por Sebastião Lazaroni partiu para cima de Maradona e deixou Caniggia livre. O atacante partiu em contra-ataque, driblou Taffarel e bateu para o gol vazio com a perna esquerda. Na semifinal, contra a forte Itália, dona da casa, Caniggia tirou o recorde de invencibilidade do goleiro Zenga, marcou mais um tento decisivo, e a Argentina acabaria por passar na disputa de pênaltis. A participação de Caniggia no Mundial só não foi perfeita porque em um lance infantil o cabeludo colocou a mão na bola, recebeu um cartão amarelo e ficou fora da final, jogo que a Argentina perdeu para a Alemanha.

De volta à Atalanta, Cani disputou a Copa Uefa mais uma vez e dessa vez o time avançou até as quartas de final, quando caiu diante da Internazionale, que ficaria com o caneco. Novamente o atacante não foi bem na competição continental, mas a exemplo do ano anterior, fez um ótimo campeonato nacional, marcando dez gols. Um número para lá de relevante principalmente porque Caniggia não tinha a função de ser o matador da equipe. O forte do atacante era a velocidade e nisso ele nunca decepcionou, chegando a correr 100 metros em pouco mais de 11 segundos. Graças a isso, Caniggia recebeu o apelido de “filho do vento” (pois é, Euller…).

Em 1991, o atacante sagrou-se campeão da Copa América, disputada no Chile, que deu à Argentina o direito de disputar a Copa do Rei Fahd, depois reconhecida pela Fifa como a primeira Copa das Confederações – a Argentina também foi campeã. Antes, na temporada 1991-92, o argentino já era ídolo e manteve sua média de gols, mas o meio-campo perdeu Fortunato e Bonacina, e a Atalanta acabou apenas na 11ª colocação. Na reta final, Caniggia ainda marcou em três jogos seguidos, contra Bari, Verona e Torino, mas isso só serviu para que sua saída fosse ainda mais sentida: o atacante estava de malas prontas para defender a Roma.

Com estilo rebelde, Caniggia fez sucesso na Atalanta (Guerin Sportivo)

O atacante chegou à capital por 13 bilhões de liras e tinha como companheiros de setor Muzzi, Rizzitelli, Carnevale e um garoto recém-promovido das categorias de base chamado Francesco Totti. Caniggia foi titular na maior parte da temporada, mas na 24ª rodada da Serie A, no jogo contra o Napoli, o “Pássaro” foi pego no exame antidoping por uso de cocaína e recebeu uma pena de 13 meses fora dos gramados. O episódio deixou a imagem do argentino mais do que manchada e uma mudança de ares era necessária.

Pouco antes do final da suspensão, Caniggia foi para o Benfica, mas antes de chegar em Lisboa o atacante passou pelos Estados Unidos para disputar a Copa do Mundo de 1994. Contra a Grécia, o camisa 7 apenas assistiu o show de Batistuta, autor de uma tripletta, mas contra a Nigéria foi Cani quem deu as cartas, marcando os dois gols na vitória por 2 a 1. Após ser substituído no jogo diante da Bulgária, por lesão, Caniggia não esteve em campo na eliminação albiceleste para a Romênia.

Saindo do Benfica, o argentino voltou para casa para defender o Boca Juniors, onde ficou até 1998. Enquanto defendia o clube argentino, o loiro sofreu um duro golpe que quase colocou um ponto final em sua carreira: sua mãe cometeu suicídio se jogando do quinto andar de um prédio. Esse episódio fez com que Cani ficasse um ano sem jogar, entre 1996 e 1997, e foi decisivo para que o jogador ficasse fora da Copa de 1998. Também foi decisivo o fato de o jogador não querer cortar as suas longas e características madeixas, algo exigido pelo técnico Daniel Passarella.

Em 1999, a Atalanta amargou uma temporada na Serie B sem conseguir o acesso e depois disso não mediu esforços para subir à Serie A na temporada 1999-2000. Um ótimo time foi montado com Fontana, Siviglia, Cristian Zenoni, Bellini, Donati, Zauri, Damiano Zenoni, Cristiano Doni, Fausto Rossini e ele: Caniggia. O atacante topou voltar ao clube onde vivera seus melhores dias na Itália e a ótima campanha levou o time nerazzurro à vice-liderança e de volta à elite. Foi apenas uma temporada, com dois míseros gols marcados, mas sua disposição em voltar ao clube em um momento de dificuldades reforçou ainda mais o seu status de ídolo em Bérgamo. Mesmo que sua saída tenha sido ocasionada por uma briga com o técnico Giovanni Vavassori.

Cani passou dois anos no Olímpico, ajudando os giallorossi (imago)

Caniggia foi então para a Escócia, onde defendeu o Dundee por uma temporada e o Rangers por dois anos. Chegou a ser convocado por Marcelo Bielsa para a Copa de 2002, aos 35 anos, mas além de não atuar em jogo nenhum, chegou a ser expulso estando no banco, na vexatória campanha argentina, com direito a eliminação na primeira fase, no grupo da morte, no qual se classificaram Suécia e Inglaterra. E depois disso partiu rumo ao Catar, onde jogou até encerrar sua carreira em 2004. Quer dizer… Mais ou menos…

Em 2012, aos 45 anos, Caniggia aceitou jogar pelo Wembley FC na Copa da Inglaterra. O argentino entrou em campo contra o Langford e abriu o placar na vitória por 3 a 2.

Claudio Paul Caniggia
Nascimento: 9 de janeiro de 1967, em Henderson, Argentina
Posição: atacante
Clubes: River Plate (1985-88), Verona (1988-89), Atalanta (1989-92 e 1999-2000), Roma (1992-94), Benfica (1994-95), Boca Juniors (1995-98), Dundee (2000-01), Rangers (2001-03), Qatar SC (2003-04) e Wembley FC (2012)
Títulos: Campeonato Argentino (1986), Copa Libertadores (1986), Copa Intercontinental (1986), Copa Interamericana (1986), Campeonato Escocês (2003), Copa da Liga Escocesa (2002 e 2003), Copa da Escócia (2002) e Copa do Príncipe (2004)
Seleção argentina: 50 jogos e 16 gols

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1 Comentário

  • Caro Anderson:
    Apenas uma correção: o atacante argentino Claudio Paul Caniggia nasceu em 09/01/1967, estando hoje com 47 anos de idade.
    Parabéns pelo fantástico trabalho à frente do Quattro Tratti, o melhor site sobre futebol italiano da internet.
    Grande abraço!

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