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Dossiê: Falências à italiana, parte 2

Ontem, começamos o nosso longo dossiê sobre as falências no futebol italiano sem cerimônias. Para informar o nosso leitor sobre o quão comuns são as bancarrotas em todas as divisões do esporte itálico, fizemos um levantamento que chegou a um resultado assustador. Quase dois terços dos times que disputaram ao menos uma edição da Serie A faliram pelo menos uma vez nos últimos 30 anos.

Neste primeiro texto, tentamos explicar os motivos que levaram tantas torcidas a sofrerem e também explicamos trâmites burocráticos dos bastidores e o que a Federação Italiana de Futebol – FIGC não fez para evitar o pior.

Agora, na segunda parte do especial, contamos um pouco da história das falências de times tradicionais da Velha Bota. Fiorentina, Napoli, Torino e o próprio Parma, que está em processo de bancarrota neste momento, tem histórias interessantes que circundam sua decadência e passagens pelas divisões inferiores. Também relembramos como Milan, Lazio e Roma quase chegaram a fechar as portas nos últimos anos. Pois é. Confira no dossiê.

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Saiba mais: Falências à italiana, parte 1

Fraude e virada de mesa marcaram falência da Fiorentina

A família Cecchi Gori (primeiro com o pai, Mario, e a partir de 1993, depois de sua morte, com o filho, Vittorio) foram do céu ao inferno em Florença. Nem mesmo os ex-presidentes Enrico Befani e Nello Baglini, que venceram o scudetto (veja mais), levaram tantos craques a vestir o violeta da Fiorentina. Baggio, Batistuta, Rui Costa, Toldo, Edmundo, Márcio Santos… o time brigava na parte alta da tabela, jogou Liga dos Campeões e chegou a ganhar títulos.

Ao mesmo tempo, Vittorio Cecchi Gori mantinha sua vida de produtor cinematográfico – produziu clássicos como O Carteiro e o Poeta e A Vida é Bela – e de senador. A princípio, parecia ter poder político e econômico necessário para gerir a Fiorentina. No entanto, o clube entrou em uma crise enorme por causa dos gastos desenfreados e gestão fraudulenta do seu dono, que nem mesmo as vendas de Batistuta, Rui Costa e Toldo foram capazes de sanar. Cecchi Gori foi preso por duas vezes, condenado por falir tanto a Fiorentina, em 2002, quanto sua produtora, anos depois. Hoje, obviamente, é odiado na cidade.

A Fiorentina foi salva pelo seu prefeito, que garantiu a continuidade do título esportivo. Refundada, a Fiorentina virou Florentia Viola e recomeçou na Serie C2, quarta divisão, capitaneada pelo histórico capitão Di Livio, que ficou no clube mesmo com a queda. Após subir com folga para a Serie C1, a equipe violeta foi beneficiada por uma virada de mesa, em 2004.

O chamado Caso Catania, no qual os sicilianos, o Siena e o Venezia entraram com pedidos de punições aos adversários por causa de jogadores escalados de forma irregular (saiba mais aqui), fez com que a Serie B não tivesse clubes rebaixados naquela ocasião e fosse aumentada para 24 clubes. A virada de mesa foi feita para acontentar os times envolvidos no imbróglio, que durava muito mais tempo do que o devido, e a Fiorentina acabou se beneficiando. A equipe entrou diretamente na segundona por “mérito esportivo”, e ocupou o lugar do Cosenza que, vejam só a ironia, havia declarado falência. A FIGC preferiu dar a vaga à viola ao invés de dar a vaga a algum time que tivesse jogado os play-offs da C1 em 2002-03. Absurdo, a princípio?

Nosso colaborador, Thiago Zanetin, explica. “Apontar virada de mesa bancada pela Fiorentina é um erro recorrente. Todos os times que possuam condições financeiras – como a então Fiorentia Viola possuía – podem requerer a repescagem. Os ‘méritos esportivos’ são apenas parte da equação que define quais os clubes que podem subir – e, no caso, foram potencializados porque a antiga Florentia Viola havia readquirido a marca da Fiorentina, imobilizada desde a falência. O caso Catania não permitiu que clubes caíssem da B, mas não teve influência técnica na promoção da Viola”, diz.

O cenário, no entanto, era de muita confusão. A questão só foi resolvida com a temporada 2003-04 já em andamento: as divisões inferiores tiveram os jogos iniciais adiados, mas a Coppa Italia já acontecia. Diversos clubes que atuavam nas séries B e C se revoltaram pela alteração das fórmulas de disputa, ampliação do campeonato e consequente aumento no número de jogos e se retiraram da Coppa Italia em protesto.

A situação surreal ainda influenciou no acesso à Serie A. Naquela temporada, teria até seis vagas: cinco diretas e uma possível em uma partida de play-off contra o quarto pior time colocado da elite. O destino, irônico como sempre, colocou a Fiorentina na 6ª posição, e após o spareggio contra o Perugia, a equipe voltou à elite dois anos depois da queda. Ademais, resta lembrar que foi essa patacoada que fez a disputa da Serie A passar de 18 para 20 times. Hoje, depois que times sem expressão e que pouco acrescentaram ao futebol italiano chegaram à elite, luta-se para que ela volte a ter 18 equipes novamente.

Calaiò foi o símbolo do Napoli nos primeiros anos pós-falência (Spazio Napoli)

A lenta queda e a rápida ascensão do Napoli

No mesmo ano em que a Fiorentina voltava à elite, um Napoli combalido e já há três anos na Serie B falia pela primeira vez. Por motivos similares aos da viola: Corrado Ferlaino, seu histórico presidente, gastara muito em 30 anos – sem, no entanto, ter gestão fraudulenta associada a ele. Levara o clube às suas maiores glórias, com Maradona e Careca. Mas uma hora a festa acabou. Ferlaino saiu de cena em 1993, quando vendeu todas as suas ações no clube.

Pouco depois, voltou à presidência e assumiu o Napoli em crise, abarrotado de dívidas. Viu o time cair para a Serie B em 1997-98, e voltar à elite do futebol italiano dois anos depois. Para, no entanto, cair novamente em seguida. Conseguiu dois sócios, mas depois de uma série de polêmicas, recursos e contra-recursos, estes compraram as ações de Ferlaino, e assumiram o controle total da sociedade por um curto período de tempo. O Napoli não conseguiu pagar suas contas em 2004 e fechou as portas. Foi aí que Aurelio De Laurentiis, atual presidente azzurro, apareceu.

Buscando reestruturar o clube de baixo, o produtor de cinema (mais um) quitou parte das dívidas da gestão anterior e, se aproveitando da legislação menos rígida da época, pode inscrever a equipe na Serie C1 – teve apenas de trocar o nome oficial do time para Napoli Soccer, adquirindo o direito de voltar a utilizar o nome Società Sportiva Calcio Napoli apenas em 2006. A promessa era a de montar um time forte nos anos seguintes. De Laurentiis não viu os azzurri retornarem à segundona de imediato, mas cumpriu sua promessa. Em pouco mais de 10 anos à frente do clube campano, o transformou novamente em um dos maiores do país, levantando três títulos e participando de três Champions. O clube voltou a ser respeitado internacionalmente, vive o segundo melhor momento de sua história, teve e tem ídolos como Hamsík, Cavani, Lavezzi e Higuaín.

Hoje a torcida, uma das mais apaixonadas do país, volta a lotar o San Paolo, que chegou a ter públicos irrisórios em tempos de crise – e também públicos enormes mesmo na Serie C1, quando a esperança havia sido retomada. Depois de quase 15 anos de maré baixa e humilhação, os napolitanos sorriem.

Calisto Tanzi, dono da Parmalat e bênção e maldição de Parma (AP)

Trate sua torcida com amor e Parmalat?*
*Lembrou?

2004 foi um ano movimentado no quesito administrativo para equipes médias da Serie A. Naquela temporada, o Parma viu acontecer a sua primeira falência, mesmo tendo ficado a um ponto de conquistar a classificação para a Liga dos Campeões – garantiu, com a 5ª posição, vaga na Copa Uefa. A Parmalat, uma das maiores empresas de laticínios do mundo, afundou e levou o clube que patrocinava e comandava ao fundo do poço. A multinacional, assim como muitos dos proprietários que atravessaram períodos de ouro e de falência dos seus clubes (vide os casos que citamos acima), foi para o Parma, “croce e delizia”, como dizem os italianos. Ou, em bom português, ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição. Do céu ao inferno.

O Parma vencedor dos anos 1990 nunca teria existido sem a Parmalat. Nos tempos anteriores à empresa do magnata Calisto Tanzi, o clube nunca tinha sonhado com a Serie A – a melhor colocação em toda a sua história havia sido um 5º lugar na Serie B 1973-74 –, muito menos com a conquista de oito títulos; quatro de relevo nacional e quatro continentais. A Parmalat entrou no Parma no final dos anos 1980, inicialmente como patrocinadora e sócia minoritária, e levou ao clube técnicos ousados taticamente, como Zdenek Zeman e Arrigo Sacchi, parte importante da história recente do futebol italiano. Mas foi com Nevio Scala que a equipe chegou pela primeira vez à elite, e com o acesso, Tanzi adquiriu a totalidade do clube.

Nos anos da Parmalat, todos que acompanham o futebol da Itália sabem os grandes esquadrões formados com o dinheiro da multinacional (conheça mais aqui e aqui). A lista de craques é enorme, e tem gente do calibre de Buffon, Crespo, Cannavaro, Thuram, Verón, Asprilla, Brolin, Zola e Taffarel, só para citarmos alguns. Porém, os Tanzi eram craques mesmo é da corrupção. Hábeis em evasão de divisas, lavagem de dinheiro, superfaturamento e ocultamento de débitos. Negociações de jogadores tinham valores mentirosos, sobretaxados para que o dinheiro desviado voltasse para a conta dos Tanzi em paraísos fiscais.

O filho de Calisto Tanzi, Stefano, foi presidente do Parma e representante da família no Brasil, onde fez negócios com o Palmeiras e o Juventude. O alviverde paulista, que era patrocinado pela empresa à época do escândalo, também sofreu com a falência e teve investimentos reduzidos no final e após a parceria.

O escândalo da multinacional – considerado a maior bancarrota da história empresarial europeia – estourou em 2001, quando se soube que uma subsidiária na verdade não tinha quase 4 bilhões de euros em conta. O valor, no entanto, fazia parte da contabilidade da empresa. Pouco depois, foi descoberto que a dívida da Parmalat era, na verdade, de 13,2 bilhões de euros, oito vezes superior à especulada pelo mercado. Vale a pena ler esta reportagem da ISTOÉ Dinheiro para entender mais sobre o caos parmalatiano.

Com o passar dos anos, as investigações, a Parmalat perdeu grande parte do seu valor de mercado, a diretoria foi afastada, julgada e condenada – Calisto Tanzi foi detido pela primeira vez em 2003, e condenado em definitivo quase 10 anos depois. O Parma, claro, sentiu o baque, ainda que Cesare Prandelli tenha conseguido isolar os jogadores e levado o clube a altos voos.

Os ducali foram beneficiados pela Lei Marzano, que permitia que empresas em dificuldades financeiras continuassem em funcionamento, enquanto reestruturavam suas dívidas ou resolviam processos de falência. Com isso, o Parma acabou continuando na Serie A, mas administrado por um interventor enquanto buscava um novo comprador. Sem investimentos, o clube teve de vender jogadores importantes desde antes do crac definitivo da Parmalat (Buffon, Cannavaro, Crespo, Thuram, Verón, Sensini, Sükür, Taffarel), durante (Adriano, Mutu, Di Vaio, Nakata) e depois (Frey, Gilardino, Fábio Simplício e Bonera).

A primeira temporada pós-bancarrota foi cheia de altos e baixos, com o clube heroicamente chegando às semifinais da Copa Uefa, mas precisando de um jogo-desempate para salvar-se do rebaixamento – caiu o Bologna. Após anos de times tecnicamente muito ruins, o Parma passou para as mãos de Tommaso Ghirardi, em 2007, e se reestruturou brevemente. Caiu para a segundona em 2008, mas voltou mais forte. E, agora, vive a angústia de retornar à Serie B ou, pior, voltar às origens e jogar a amadora Eccellenza emiliana ou as séries D e C.

Após anos de sofrimento, Torino viu a dupla Cerci-Immobile levar o clube ao renascimento (La Stampa)

Clamor da torcida salvou o Torino do pior

Outro time tradicionalíssimo que faliu quase na mesma época foi o Torino, em 2005. Os sinais de falta de liquidez no clube foram notados durante todos os anos 1990, quando nem mesmo a venda de Lentini – o negócio mais caro do mundo à época – foi capaz de tirar o time do vermelho. Entre 1995 e 2005, o Toro foi um verdadeiro ioiô, e alternou bastante entre a primeira e a segunda divisão, um claro efeito da falta de dinheiro – o que piorou a partir de 2000, quando Francesco Cimminelli assumiu o clube.

Em 2003, após a enésima queda para a B, a torcida não aguentou mais: foi organizada uma marcha que reuniu cerca de 50 mil torcedores em Turim. A manifestação partiu das ruínas do histórico estádio Filadelfia, passou pelo memorial de Luigi Meroni, ex-craque do clube, morto aos 24 anos, e terminou na Basílica de Superga.

Em 2004-05, a agonia poderia ter dado lugar a um raro e curto momento de alegria: o Torino conseguiu o acesso para a Serie A – e conquistando o acesso em revanche sobre o Perugia, que anos antes havia eliminado o time grená no play-off de acesso. Porém, teve a licença negada pela FIGC por causa do enorme débito societário contraído nos últimos anos e por falta de garantias, não apresentadas por Cimminelli. Não se inscreveu nem na Serie A nem na Coppa Italia. Incrivelmente, dali para frente, o clube viveu uma pequena odisseia.

Um grupo de torcedores se reuniu, criou uma nova firma e, com apoio de uma empresa local, pode usufruir do Lodo Petrucci (saiba mais), um dispositivo criado pela FIGC para que clubes refundados não tivessem de recomeçar das divisões amadoras. Assim, o novo Torino foi aceito na Serie B, superando um longo processo burocrático, de um mês e meio – inicialmente, a proposta não foi aceita pela federação.

Já estava tudo certo para que Urbano Cairo, conhecido publisher lombardo e empresário do ramo editorial, assumisse o Torino. Uma entrevista coletiva chegou a ser marcada na mesma taverna em que o Toro fora fundado. Porém, um dos acionistas que ajudaram o Torino a pagar parte dos débitos, Luca Giovannone, apareceu com uma escritura que lhe garantia o controle acionário dos granata – 51%. E, prontamente, se recusou a vender o clube a Cairo.

Depois de uma longa negociação, que envolveu até o prefeito de Turim, Giovannone decidiu vender… e logo voltou atrás. Após a fúria da torcida grená, ele fugiu da cidade e se escondeu em um hotel, mas mesmo assim foi cercado por torcedores, tendo de deixar o local escoltado pela polícia. No fim das contas, já em cima da hora – a Serie B havia começado e o Torino teve jogos adiados pela questão –, ele cedeu à pressão e deixou o clube nas mãos de gente responsável. Urbano Cairo tornou-se presidente e viu o processo de falência e troca total de posse serem finalizados em novembro daquele ano. O Torino conquistou o acesso na mesma temporada, mas voltou a ser uma equipe ioiô.

Hoje, 10 anos depois, Cairo continua na presidência, e vê um cenário novo, com mais perspectivas. Seu time voltou a disputar uma competição continental e tem dinheiro em caixa. Até ameaçou voltar a vencer a grande rival, a Juventus, algo que não acontece desde 1995 e, hoje, parece novamente possível. A torcida, que chegou a contestá-lo bastante entre 2009 e 2013, hoje está em trégua.

Outras falências

O primeiro clube de peso a falir no futebol italiano foi o Verona. Em 1991, seis anos após conquistar o scudetto, más administrações levaram o clube a retornar à Serie B e a falir durante a campanha. No entanto, apesar da queda de poder econômico, o clube acabou garantindo o acesso à elite no mesmo ano. Os efeitos daquela falência só viriam a ser sentidos anos depois, quando a administração desastrosa de Giambattista Pastorello, entre 1998 e 2006, levou o combalido time à terceira divisão.

Depois foi a vez do Bologna, sete vezes campeão nacional. No meio dos anos 1990, depois da saída do presidente Gino Corioni (que comprou o Brescia) e de alguns sócios, a equipe (mesmo com jogadores de calibre disputando a Serie B) se perdeu e foi rebaixada para a terceirona. Cheia de dívidas que não poderia pagar, decretou falência, em 1993, e só foi salva pelos planos ambiciosos de Giuseppe Gazzoni Frascara, que levou o time de volta à elite e, entre outras coisas, levou Roberto Baggio à Emília-Romanha.

Gazzoni Frascara ficou até 2006, e depois o clube passou nas mãos de Renzo e Francesca Menarini, Sergio Porcedda e Massimo Zanetti, sempre com algumas dificuldades financeiras. No final de 2014, Joey Saputo, ítalo-canadense dono do Impact Montréal, adquiriu o clube, que agora tem planos de se restabelecer na Serie A.

Dos anos 1980 para cá, ainda podemos citar muitos clubes tradicionais e que deram contribuição para o esporte – seja pela disputa de bons campeonatos, seja pela força de sua torcida ou apresentação de novos talentos. Os casos mais recentes são o do Padova, clube que revelou Del Piero, atualmente na Serie D, e do Bari, que mostrou ao mundo o futebol de Cassano. Enquanto os padovanos terão uma longa estrada pela frente, os bareses deram show no ano passado.

Uma comovente campanha feita pela torcida do Bari conseguiu salvar o clube e mantê-lo na Serie B. O estádio San Nicola, um dos maiores da Itália, lotou diversas vezes em 2014 para pedir que o proprietário, Vincenzo Matarrese, declarasse o clube falido – sua família é historicamente ligada ao Bari, e comandava o clube desde 1977. Apenas com a declaração de falência com a temporada em curso seria possível manter o time na mesma divisão – é a mesma coisa que a torcida do Parma quer hoje, ao pressionar o mitômano e falsário Giampietro Manenti. Após a falência, o Bari é presidido pelo ex-árbitro Gianluca Paparesta.

Temos, também, alguns times importantes e que já chegaram a falir em processo de recuperação. Podemos citar os casos de Avellino, Perugia, Pescara, Ascoli, Alessandria e Foggia. Os três primeiros citados brigam forte por uma vaga na próxima Serie A, enquanto os três últimos tentam voltar à segundona. Brasileiros já brilharam por alguns desses times: Juary e Dirceu pelo Avellino, Júnior, Tita e Dunga pelo Pescara e Casagrande pelo Ascoli. Atualmente, um dos líderes do Perugia é Taddei.

Uma das derrocadas mais sentidas é a da tradicionalíssima Triestina, que não joga a Serie A desde 1957 – no entanto, esteve presente em todas as edições do campeonato até aquele momento. Hoje, após duas falências e de quase retornar à elite, o time que revelou o histórico técnico Nereo Rocco joga a Serie D. Destino similar tem o Mantova, equipe que faliu três vezes e pela qual passou Zoff. Sem falar no Casale, que já foi campeão italiano e desde 1947 não joga na Serie B e desde 1992 não chega nem a disputar a terceirona. O time da estrela solitária disputa um torneio regional, a Eccellenza do Piemonte.

Berlusconi, à esquerda de Liedholm e Galliani, transformou o Milan de quase falido em lenda (Corriere.it)

Foi quase…

Várias outras marcas de peso no futebol italiano e internacional quase deixaram de existir nas últimas décadas. A principal delas, certamente é a do Milan, que quase faliu nos anos 1980. Naquela década, o Diavolo vivia um dos piores momentos de sua história. O clube havia vencido apenas seis títulos nos últimos 15 anos (um scudetto, no fim dos anos 1970) e sido rebaixado em 1980, por participação no Totonero, e novamente em 1982, dessa vez por mau rendimento no campo.

Giuseppe “Giussy” Farina, antigo presidente do Lanerossi Vicenza, comprara o clube, pouco antes da queda, e levou o clube à derrocada financeira – como fizera no Vêneto; mas ao contrário do que houve com a equipe biancorossa, que teve sucesso nos campos, levou a torcida rossonera à loucura. Em 1986, quando a situação era periclitante, foi obrigado pelos outros sócios a vender o clube. O megaempresário Silvio Berlusconi apareceu, comprou o clube e o resto é história: encheu o time de craques e transformou uma equipe já campeã europeia e multicampeã nacional em uma máquina; no clube que mais troféus tem no mundo – saiba mais aqui e aqui.

A possibilidade de falência também foi grande para a dupla romana. O clube que mais perto ficou disso foi a Lazio. Depois que a Cirio, de Sergio Cragnotti, entrou no clube e investiu milhões de euros para comprar craques e conquistar sete títulos – o segundo scudetto da história celeste foi o maior deles –, a bolha estourou. A empresa do ramo alimentício, graças à gestão fraudulenta do seu dono – que também era o dono da Lazio –, faliu e quase levou os aquilotti junto. Cragnotti acabou condenado, destino diferente do time que comandou.

Por sorte, as vendas de alguns jogadores, como Vieri, Crespo, Nesta e Verón ajudaram a equilibrar as contas até a chegada de Claudio Lotito, atual presidente do clube. No entanto, no ano seguinte à compra do clube pelo seu atual proprietário, a Lazio escapou do rebaixamento por apenas três pontos. O campeonato de 2004-05 foi disputadíssimo: a diferença do sétimo colocado, Messina, para o penúltimo, Brescia, foi apenas de sete pontos – veja.

Em 2004-05, a Roma também quase caiu. Naquele campeonato nivelado por baixo, os giallorossi foram mal demais, e escaparam por causa de quatro pontinhos. Foi o auge do sofrimento pelo qual a equipe passou após o scudetto de 2001.

Nas mãos de Franco Sensi e sua família, a Roma passou por um longo período de investimentos limitados por causa do endividamento das empresas do clã. Nessa época, a equipe alternou resultados medíocres e o flerte com o rebaixamento com alguns vice-campeonatos. Após a cessão da maior parte das ações do clube a um consórcio bancário, em um processo que durou alguns anos, o grupo de investidores norte-americanos guiados por James Pallotta e Thomas Di Benedetto assumiu o comando da entidade, em 2011.

Hoje, a Roma está construindo um novo estádio, tem ambiciosos planos de marketing e investe com inteligência em jovens e jogadores de centros menos badalados no futebol. É um dos clubes com maior perspectiva de crescimento no futebol italiano e europeu.

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2 comentários

  • rapaz… que texto completo, assim como a parte 1.. impressionante. parabens pelo trabalho de pesquisa, ficou um trabalho digno de publicação em foruns enormes.

  • excelente matéria, aliás como sempre, da parte de vcs…seria realmente mto bom que outras ligas ligas fortes como a inglesa, alemã e espanhola tivesse uma tipo de cobertura e abordagem parecida com a de vcs…grande abraço de um leitor assiduo do quattrotratti…mesmo o futebol italiano passando por essa draga desgr@ç@d@… =)

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