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Stefan Effenberg, um meteoro incandescente em Florença

Com bad boy no seu time já pode comemorar. Ou não? Um dos versos do famoso rap cantado por Romário e Edmundo em seus tempos de Flamengo não combina muito com a história da Fiorentina: no início dos anos 1990, um dos maiores gênios rebeldes do futebol passou por Florença e não deixou muitas saudades. Destaque da seleção da Alemanha à época, Stefan Effenberg chegou a ser rebaixado junto com a Viola.

Nascido em Hamburgo, Effenberg atuou nos juvenis do pequeno Victoria Hamburg, de sua cidade, e foi negociado com o Borussia Mönchengladbach quando tinha 18 anos, no período final da sua formação como profissional. Pelos Fohlen, se tornou titular indiscutível aos 20 anos, e com campanhas regulares na Bundesliga, logo chegou ao topo: foi contratado pelo Bayern Munique. Por causa de suas características em campo e por também ter deixado o Gladbach para fechar com os bávaros, Effenberg foi comparado a Lothar Matthäus, de quem era considerado herdeiro. Os dois tinham muita técnica, espírito de liderança e personalidade forte.

O meia central começou a ser convocado pela Alemanha no fim de seu primeiro ano em Munique. Foram duas temporadas de altos e baixos e 19 gols marcados pelos Roten, mas assim mesmo o jogador era presença constante nas listas do técnico Berti Vogts em sua Nationalmannschaft, vice-campeã europeia em 1992 e com Effenberg comandando o meio-campo. Depois da competição, caminhos inversos: Matthäus deixava a Inter e a Itália para retornar à Baviera, o aguerrido meia loiro viajava para a Bota, contratado pela Fiorentina.

Quando o presidente Mario Cecchi Gori acertou a ida do alemão para Florença já sabia que o “pacote Effenberg” incluía qualidade técnica e possibilidades de problemas extracampo. Futebolisticamente, o alemão era um jogador capaz e organizar o jogo como poucos e também chutava muito forte de fora da área. Além disso, era muito raçudo e nunca desistia das jogadas: não à toa recebeu o apelido de Der Tiger, ou “o Tigre”. Ao mesmo tempo, ele era falastrão, procurava brigas no gramado e fora dele, frequentava pubs e fazia piadas com adversários – antes de um jogo da Copa Uefa, pelo Bayern, disse que um jogador do adversário Cork City parecia o seu avô. Por causa de tudo isso, muitos chamavam Effenberg de “Paul Gascoigne alemão”.

O Tigre foi o dono do meio-campo viola por duas temporadas (imago/HJS)

Aos 24 anos, Der Tiger foi uma das principais contratações da Fiorentina para a temporada 1992-93. O alemão chegou ao Artemio Franchi juntamente com o meia-atacante Brian Laudrup, campeão europeu com a Dinamarca, e o atacante Francesco Baiano, destaque do ótimo Foggia de Zdenek Zeman. O trio se juntaria a Gabriel Batistuta e, em tese, seria um quarteto de respeito, digno para lutar na parte de cima da tabela – ainda mais porque a Viola tinha como técnico Luigi Radice, que já havia sido campeão nacional com o Torino.

O maior trabalho de Radice seria controlar os ânimos nos vestiários, já que havia muitos jogadores de personalidade forte no elenco, e ele estava conseguindo. Na primeira parte do campeonato a Fiorentina alternou ótimos resultados, como um 7 a 1 sobre o Ancona, um 4 a 0 na Sampdoria e um 2 a 0 contra a Juventus, e derrotas esquisitas, como um 7 a 3 sofrido em casa contra o Milan. Na 13ª rodada, os rossoneri, treinados por Fabio Capello, lideravam a Serie A com folga, e a Fiorentina dividia a vice-liderança com Inter e Torino. Effenberg jogava muito bem, marcava gols de fora da área, dava assistências e era o motorzinho da equipe. No entanto, tudo mudou a partir da 14ª jornada.

Naquela altura do campeonato, o time fazia campanha surpreendente – apesar de já se imaginar que a Fiorentina pudesse brigar por uma vaga em competições europeias. O desempenho era superior ao dos dois anos anteriores, mas após uma derrota para a Atalanta, Radice se desentendeu com o presidente Cecchi Gori e foi demitido.

A partir de então, a equipe viola cairia bruscamente de rendimento: o elenco, apegado a Radice, não se deu bem com o técnico Aldo Agroppi e, o time não melhorou nem mesmo depois da queda do treinador – a dupla de ídolos Luciano Chiariugi e Giancarlo Antognoni assumiu na 30ª rodada, depois que Effenberg liderou um movimento de protesto junto à diretoria. Nem mesmo as boas atuações de Der Tiger e Batistuta, e o fato de a equipe ter tido o quinto melhor ataque da temporada, com 53 gols marcados, ajudou: com apenas três vitórias em 21 rodadas, a Fiorentina despencou na tabela e acabou rebaixada, voltando à Serie B após 54 anos.

A Viola teve Batistuta, Effenberg e Brian Laudrup (foto) no mesmo time, mas acabou rebaixada (imago)

O Tigre não quis permanecer no Artemio Franchi após a queda, pois acreditava que poderia perder a sua posição como titular da Alemanha para a disputa da Copa de 1994. No entanto, a família Cecchi Gori fez com que Effenberg cumprisse o contrato e ele acabou ficando, juntamente a Batigol e Baiano – dos destaques do time, só Laudrup saiu, rumo ao Milan. Claudio Ranieri foi contratado como técnico e o trio continuou como destaque da Viola, desta vez ajudados pelos jovens Francesco Toldo, Anselmo Robbiati e Francesco Flachi, que ganharam oportunidades com o treinador.

Na segundona 1993-94, só deu Fiorentina, que fez valer seu amplo favoritismo, corrigiu os erros da temporada anterior e foi campeã com cinco pontos de vantagem. Effenberg, capitão da equipe, foi o vice-artilheiro da equipe, com sete gols – Batistuta fez 16 –, e continuou sendo convocado por Vogts para a seleção alemã, visto que era considerado um elemento precioso do plantel. Após vencer a Serie B, o meia viola embarcou para os Estados Unidos e foi titular em todos os jogos da fase de grupos no Mundial de 1994. Porém, após ser substituído na terceira partida, contra a Coreia do Sul, mostrou o dedo médio para o técnico Vogts e foi punido com o corte do grupo germânico.

De volta à Europa, Effenberg não permaneceu na Fiorentina para buscar a redenção na Serie A. Sua reação excessiva durante a campanha da Nationalmannschaft na Copa foi o estopim para a diretoria viola, que preferiu se desfazer do polêmico jogador. O Tigre concluiu sua passagem pela Itália com 56 jogos e 12 gols, e foi substituído pelo português Rui Costa.

Effenberg foi negociado com o Mönchengladbach, que decidiu repatriá-lo. Após quatro anos pelos borussianos, o meia retornou ao Bayern para, mais amadurecido, viver seus melhores momentos na carreira. Foram nove títulos conquistados em sua segunda passagem pela Baviera, incluindo três Bundesligas, um Mundial Interclubes e uma Liga dos Campeões – ele chegou a ser eleito o melhor jogador da Champions em 2001. No entanto, não deixou de receber cartões e se tornou o recordista no quesito no campeonato alemão.

No final da carreira, além de jogar pelo Wolfsburg e no Al-Arabi, deu várias entrevistas polêmicas, se envolveu em casos de adultério – deixou sua companheira e se envolveu com a então esposa do colega de clube Thomas Strunz, que viria a ser sua noiva depois –, foi multado por agressão em outra ocasião e, em sua autobiografia, criticou pesadamente alguns jogadores, incluindo Lothar Matthäus. Ou seja, continuou o bad boy de sempre, mas bem longe da pacata Florença.

Stefan Effenberg
Nascimento: 2 de agosto de 1968, em Hamburgo, Alemanha
Posição: meia
Clubes: Borussia Mönchengladbach (1986-90 e 1994-98), Bayern Munique (1990-92 e 1998-02), Fiorentina (1992-94), Wolfsburg (2002-03) e Al-Arabi (2003-04)
Títulos conquistados: Liga dos Campeões (2001), Mundial Interclubes (2001), Bundesliga (1999, 2000 e 2001), Copa da Alemanha (1995 e 2000), Copa da Liga Alemã (1998, 1999 e 2000), Supercopa da Alemanha (1990), US Cup (1993) e Serie B (1994)
Carreira como técnico: Padeborn (2015-16)
Seleção alemã: 35 jogos e 5 gols

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