Serie A

O adeus aos “gêmeos tortos” do gol

Esta foi uma semana triste para os amantes da Serie A, especialmente para aqueles que acompanharam o campeonato com afinco nos últimos 15 anos. Dois dos maiores goleadores deste período, Antonio Di Natale e Luca Toni, ambos com quase 39 anos, confirmaram que irão pendurar as chuteiras assim que a temporada acabar. Cada um deles foi artilheiro do Campeonato Italiano em duas oportunidades e, juntos, os matadores balançaram as redes 355 vezes de 2001 até aqui. Um número impressionante.

Não deixa de ser curioso que Di Natale e Toni tenham feito o mesmo comunicado em um espaço de menos de sete dias. Logo dois jogadores com características e fatos que os aproximam e distanciam tanto um do outro. Um grandalhão, grosso e oportunista; outro baixinho, muito técnico e criativo. Goleadores, cada um à sua maneira, formam uma espécie de gêmeos do gol no estilo fraterno, como Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito no famoso blockbuster oitentista Twins.

Tanto o emiliano Toni quanto o napolitano Di Natale estrearam na Serie A meio tarde; o primeiro, aos 23 anos, e o segundo, aos 25. Os dois, porém, vieram de baixo: rodaram pelas divisões inferiores – até foram companheiros de time em 1996-97, início de carreira, no Empoli – e fizeram suas primeiras partidas pelo Campeonato Italiano com times de pequeno porte. Depois disso, enquanto o centroavante vestiu oito diferentes camisas na elite da Bota (sem contar a passagem pelo Bayern Munique) e fez 147 gols com estas tantas, o fantasista vestiu somente duas, com as quais fez 208 gols, e se tornou um ícone da Udinese – clube que defendeu por 12 anos. A semelhança fica por conta de os dois terem feito sucesso longe dos principais centros futebolísticos do país.

Cigano da bola, Toni foi artilheiro do Campeonato Alemão e do Italiano. Na Bota, só ele e Zlatan Ibrahimovic faturaram o prêmio com dois times diferentes; só o centroavante e Francesco Totti conseguiram ser Chuteira de Ouro na Europa por causa dos gols anotados na Serie A. O emiliano também é um dos oito únicos jogadores a superarem a marca de 30 gols em uma temporada e ficou marcado como o principal artilheiro da história do Verona na primeira divisão, com 50 tentos.

Di Natale tem o mesmo feito pela Udinese, equipe pela qual balançou as redes por 190 vezes apenas na Serie A. Pelos friulanos, Totò também é recordista geral de gols (226) e de partidas realizadas (445). Falando em recordes, o atacante é o sexto maior artilheiro da história da Serie A, com 208 tentos. Feito que ele conquistou com muito suor e muita persistência com o intuito de realizar o sonho de seu pai: superar o ídolo Roberto Baggio.

O carinho entre os “gêmeos”, mestres no que faziam em campo (Getty)

Pela seleção da Itália, os dois tiveram sorte diferente. O mais lógico até poderia ser imaginar que um jogador de talento mais refinado, como Di Natale, teria mais sucesso e longevidade com a camisa azzurra, mas não foi isso que aconteceu. Totò nunca brilhou com a Nazionale: participou de duas Euro e um Mundial, mas foi coadjuvante, nunca decisivo. Toni, por sua vez, marcou época a seu modo: foi o titular na campanha do tetracampeonato mundial em 2006, barrando Pippo Inzaghi, e depois não conseguiu repetir as mesmas atuações.

O grandalhão ressurgiu das cinzas, depois de ir mal com Roma, Genoa, Juventus e até com Al Nassr (Emirados Árabes Unidos). Toni foi artilheiro da Serie A em 2015, nove anos depois de ser o máximo goleador da Bota – ninguém conseguiu o feito em um espaço tão longo de tempo. Do outro lado, o baixinho nunca foi dado como morto: chegou a alcançar o feito de 10 temporadas na carreira superando a marca de 10 gols/ano. Só outros seis jogadores, que também fizeram história na Serie A tiveram número maior de temporadas tão prolíficas: Silvio Piola (16 vezes), Francesco Totti (13), Giuseppe Meazza (12), Amedeo Amadei (11), Roberto Baggio (11) e Carlo Reguzzoni (11). Isso mostra bem o quanto difícil é passar tantos anos em alto nível e quão importante Totò é para o futebol italiano.

A temporada 2014-15 marcou o último grande momento da dupla. A artilharia da Serie A foi de Toni e Di Natale superou Baggio na classificação histórica dos goleadores, além de ter chegado aos 10 anos com o dígito duplo em redes balançadas. Infelizmente, o ano seguinte dos craques, o da aposentadoria, não foi bom para nenhum deles, seja no plano individual seja no coletivo. Luca viu o Verona ser rebaixado e ficar com a lanterna da competição e pouco pode ajudar: os problemas físicos e a má relação com o técnico Luigi Delneri limitaram sua participação a apenas 22 jogos e cinco gols. O atacante já declarou que fará sua última partida neste domingo, contra a Juventus, diante da sua torcida, no estádio Marcantonio Bentegodi.

Totò, por sua vez, também lutou contra lesões e entrou em campo pela mesma quantidade de partidas, embora só tenha feito um gol. A Udinese ainda briga para não ser rebaixada e o capitão luta contra o tempo para tentar atuar na última rodada, em jogo que pode ser decisivo, contra o também desesperado Carpi.

Apesar de tudo, por mais que suas carreiras possam ficar marcadas pelo final não muito positivo, todos se lembrarão dos grandes momentos da dupla. Em 2014,  Toni e Di Natale se encontraram pela Serie A, durante um Verona-Udinese, e brincaram que, se eles, no outono de suas carreiras, estavam entre os principais goleadores do país, é porque havia algo de errado com os outros atacantes. Não, amigos, não era isso: vocês são (sim, ainda são) muito acima da média. E farão falta.

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