Seleção italiana

A vitória do coletivo

Bonucci e Giaccherini, protagonistas do primeiro gol italiano na Euro (Getty)

Aconteceu. A Itália estreou com vitória sobre a favorita Bélgica, dando um passo importante no seu grupo. Não precisou de dribles desconcertantes, jogadas espetaculares, 800 passes certos e 20 finalizações. Bastou um plano de jogo bem estruturado e executado, sem espaço para desconfiança e desconcentração. O simples que os italianos fazem muito bem.

O resultado não diminui em nada as críticas que fizemos em relação à convocação e preparação para o torneio na França. Ainda contestamos e contestaremos isso, mas em campo o time cumpriu aquilo que Antonio Conte queria: jogo em equipe, com todos dispostos a se sacrificar, mesmo num período que deveriam estar de férias, curtindo o litoral e as ilhas do Belpaese. A aplicação foi fundamental para que os atletas seguissem a mentalidade proposta pelo treinador.

Contra a Bélgica, a Itália foi até mais defensiva que o que Conte prega. A Squadra Azzurra não teve vergonha de, na maior parte do jogo, ceder espaço no meio de campo e se fechar entre sua defesa e a intermediária, descendo em bloco muito estreito e compacto, balançando de um lado ao outro em sincronia, conforme os belgas passavam a bola sem objetividade.

Se tornou impossível encontrar Lukaku entre Barzagli, Bonucci e Chiellini ou Fellaini nos duelos contra De Rossi – assim como buscar o drible de Hazard e o passe de De Bruyne com a marcação dobrada dos alas e dos meio-campistas. O técnico Wilmots nunca foi um primor em leitura de jogo e em quatro anos jamais montou uma equipe verdadeiramente forte e unida, capaz de extrair a riqueza técnica da melhor geração do futebol belga. Dessa forma, sucumbiu frente ao coletivo italiano.

Buffon comemora com a torcida após o jogo (Reuters)

Apesar da retranca, a Nazionale também teve momentos mais agressivos, subindo esse mesmo bloco estreito e compacto para marcar alto e pressionar a pobre saída de bola adversária. No primeiro tempo, apenas os chutes de longe, em especial de Nainggolan, foram ameaças para Buffon. O goleiro viu Candreva e Pellè serem os principais destaques ofensivos, muito bem apoiados por Éder e Giaccherini. Sem Pirlo, Marchisio e Verratti, Bonucci assumiu o protagonismo para ditar e criar o jogo italiano – aliás, zagueiros modernos cada vez mais assumem a função de registas.

A Itália não se limitou a controlar o jogo apenas defendendo sua área e acabou assumindo a posse de bola para diminuir o ritmo alto que os belgas que atuam no futebol inglês tentavam imprimir – algo que não seria conveniente para o time mais velho da Euro. Foi justamente Bonucci, juntamente com seus companheiros de Juventus e De Rossi, que chefiou este movimento. Com os alas bem largos – a Azzurra, com a bola, atuava numa espécie de 3-3-4 – para abrir a defesa adversária e os mais centrais buscando desmarques, o quarteto buscava um passe direto para Pellè ou os baixinhos entre as linhas.

Exatamente assim saiu o primeiro gol, em jogada amplamente executada na Juventus de Conte. Alas largos para abrir a defesa, preocupação com o pivô de Pellè e eventual apoio de Éder mais recuado. Ao decorrer de toda esta movimentação, Giaccherini se desmarcava despercebido entre Ciman e Alderweireld para receber o lançamento de Bonucci em ótima condição e concluir para as redes.

O momento do primeiro gol: Bonucci lança, Giaccherini desmarca. Mas atenção nos alas e a preocupação com Pellè e Éder. Com o avanço de Parolo, há mais italianos que belgas à espera de um passe longo e o desequilíbrio é criado (Reprodução/BBC)

No segundo tempo, o time se deu a liberdade de tocar mais na bola e atacar com mais frequência, até mesmo buscando um erro belga, considerando a falta de atitude do time adversário em Lyon. Não aconteceu, apesar de ter feito Courtois trabalhar. Assim, a Azzurra acabou se preparando para a pressão que naturalmente iria sofrer no final.

E sofrer é algo a que a Itália está acostumada e nem mesmo o furdunço em uma bola cruzada na área ou a chance clara perdida por Lukaku na fase final do jogo abalaram a confiança do time. No apagar das luzes, Immobile ameaçou em um chute forte e no último lance do jogo o resultado foi definido: golaço de Pellè, que emendou voleio em passe de Candreva.

Contra Suécia (17, sexta) e Irlanda (22, quarta) a Itália terá a oportunidade de evoluir como time (ainda faltam algumas coisas) ou simplesmente administrar a vantagem e esperar a próxima fase. O jogo mais difícil do grupo foi vencido com louvor e a classificação está próxima.


Bélgica 0-2 Itália

Giaccherini (Bonucci) e Pellè (Candreva)

Bélgica (4-2-3-1): Courtois; Ciman (Carrasco 75′), Alderweireld, Vermaelen, Vertonghen; Nainggolan (Mertens 62′), Witsel; De Bruyne, Fellaini, Hazard; Lukaku (Origi 73′). Técnico: Marc Wilmots.

Itália (3-5-2): Buffon; Barzagli, Bonucci, Chiellini; Candreva, Parolo, De Rossi (Thiago Motta 78′), Giaccherini, Darmian (De Sciglio 59′); Pellè, Éder (Immobile 75′). Técnico: Antonio Conte.

Local: Estádio Parc Olympique Lyonnais, em Lyon, França

Árbitro: Mark Clattenburg (Inglaterra)

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2 comentários

  • Vai entender a Itália: 2006 campeã mundial, 2008, eliminada nas 4ª da euro, 2010 eliminada na 1ª fase do mundial, 2012 vice-campeã européia e 2014 eliminada na 1ª fase do mundial. Partidas ruins, convocações discutíveis, é uma gangorra maluca.
    Das 3 seleções do grupo, torço contra a Suécia. E a Irlanda atacando cara? Quem viu?

  • Apesar de ter contestado algumas ausências da lista final de Conte, gostei muito da azzurra que vi ontem. Uma defesa bem fechada (se bem que houve uns três momentos de falha), um meio campo que protegia bem a defesa (quando não estava com a bola) e armava Eder e pelle facilmente. E esses dois últimos que se movimentava muito, dificultando a defesa adversária. Além disso, Darmian e candreva excepcionais. Se continuar assim e melhorar ainda mais a muralha, podemos voltar a vencer como em 2006. Forza azzurra.

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