Jogadores

Do 2 ao 11, Daniele Massaro usou todos os números na camisa

Na final da Copa do Mundo de 1994, Roberto Baggio entrou para a história como grande vilão. Mas, antes dele, Daniele Massaro também errara sua cobrança de pênalti, que parou nas mãos de Taffarel. O experiente jogador, então com 33 anos, chegava ali a seu último ato com a camisa azzurra, antes de sair correndo para os vestiários, abatido, com a imagem de um título que escapou por pouco. Massaro, no entanto, foi mais que isso.

A história do atacante com a camisa azul começara em 1982, quando ele era uma promessa recém-contratada pela Fiorentina. Antes (e depois) disso, Massaro teve uma trajetória curiosa: pode até parecer estranho, mas o 17º maior artilheiro do Milan começou sua carreira como um volante defensivo, mas com certa qualidade para sair jogando. Foram três temporadas pelo Monza, clube de sua cidade natal, todas na segunda divisão, de 1978 a 1981. O jogador sempre cumpriu bom papel, chamando a atenção da Fiorentina, que o levou a Florença para ser dono do meio-campo.

Ainda com 20 anos, Massaro despontou e assumiu rapidamente a titularidade no meio-campo, ao lado de Daniel Bertoni e Giancarlo Antognoni, em uma temporada que quase tirou o time toscano da fila de mais de 10 anos. A reta final da Serie A foi cheia de polêmicas a favor da Juventus, que conquistou o título somente na última rodada, por apenas um ponto. O troféu não veio, mas Massaro conquistou o prêmio de melhor jogador da Serie A, cravando uma vaga no time de Enzo Bearzot para a Copa de 1982. O tricampeonato mundial foi o primeiro título da carreira de Massaro, embora ele nem tenha entrado em campo na campanha.

O meia-atacante viveu cinco importantes anos no clube toscano, o suficiente para chegar a duas semifinais de Coppa Italia e manter o time brigando por posições na parte mais alta da tabela da Serie A. Mesmo sem marcar muitos gols, Massaro era um dos destaques do time e mostrou isso, quando, aos 25 anos, chegou ao auge de sua carreira e deu um salto na carreira. Negociado com o Milan, o jogador rapidamente se consolidou em meio a importantes nomes como Roberto Donadoni e Alberico Evani, mas acabou esquecido no selecionado nacional para a Copa de 1986.

Meia-atacante foi peça importante da Fiorentina, time em que foi colega de Sócrates (Quotidiano)

A chegada de Arrigo Sacchi fez com que o meia virasse lateral na campanha do scudetto, em 1987-88, mas Massaro não caiu nas graças do treinador e foi emprestado à Roma no ano posterior. Titular no clube capitolino, Massaro acabou retornando a Milanello e, por causa de lesões de Ruud Gullit e Marco van Basten, ganhou mais oportunidades: o reserva cresceu subitamente na carreira, fazendo sua temporada com mais gols até aquele momento (10 na Serie A) e sendo importante na conquista da Copa dos Campeões.

Ao longo de sua carreira, Massaro ficou conhecido por sua capacidade de improvisação e versatilidade. Na época em que ele era profissional os jogadores eram escalados com numeração de 1 a 11, com número de camisa geralmente relacionado ao posicionamento em campo. Curiosamente, o jogador – que atuou em todas as posições no meio-campo e no ataque, além da lateral direita – foi um verdadeiro curinga: utilizou todos eles, menos o 1.

Massaro foi peça quase fundamental na equipe que levantou duas Ligas dos Campeões e dois Mundiais de Clubes nos anos 1990, um vez que ele se tornou importante após a saída de Sacchi e chegada de Fabio Capello. Na goleada sobre o Barcelona, na final da Champions League de 1993-94, ele marcou dois gols na goleada de 4 a 0, coroando sua mais brilhante temporada – anotou 11 gols e também faturou o Campeonato Italiano. A capacidade de marcar gols importantes, que quase sempre valeram vitórias ao rossonero, lhe renderam os apelidos de Provvidenza (“providência”) e San Massaro. Não à toa, ao final de sua carreira, foi homenageado com seu nome no Hall da Fama do Milan.

Massaro comemora um dos gols na final da Champions, em 1994 (imago/Buzzi)

O jogador passou oito anos defendendo as cores milanistas, com dois títulos europeus e quatro títulos italianos que selaram a valorização de Massaro, recolocando-o novamente no radar da seleção italiana para a Copa de 1994 – a qual não defendia desde 1986. Antes preterido por Sacchi no Milan, o atacante foi chamado e se tornou uma espécie de 12º jogador da Squadra Azzurra durante a primeira fase, na qual até fez seu único gol pela seleção, diante do México. No mata-mata, assumiu a titularidade e teve a chance de fazer o gol da vitória na final, mas chutou em cima de Taffarel.

Após o Mundial, ainda disputou sua última temporada no clube rossonero, mas já aparentava entrar na reta final de sua carreira. Ao final, despediu-se de Milão para jogar no Shimizu S-Pulse, do Japão, clube pelo qual jogou durante dois anos. Em 1996, Massaro pendurou as chuteiras, mas não deixou a bola de lado e se arriscou no beach soccer. Atualmente, é comentarista de televisão, e aproveita o tempo livre praticando um de seus maiores hobbies: ele joga golfe, um vício que adquiriu nos tempos de Milan.

Natural de Monza, o ex-jogador também nutre uma paixão pela velocidade. A cada GP de Fórmula 1 na cidade, é fácil vê-lo acompanhando o ronco dos motores bem de perto. Massaro, inclusive, chegou a se arriscar no volante, participando de ralis e competições como Ferrari Challenge, Super Car Porsche e Fórmula 3000. Em 2016, ele também tentou carreira política no partido de Silvio Berlusconi, em Milão, mas não foi eleito.

Daniele Massaro
Nascimento: 13 de maio de 1961, em Monza, Itália
Posição: meia-atacante
Clubes como jogador: Monza (1979-81), Fiorentina (1981-86), Milan (1986-95), Roma (1988-89) e Shimizu S-Pulse (1995-96)
Títulos conquistados: Campeonato Italiano (1988, 1992, 1993 e 1994), Coppa Italia (1990), Supercoppa da Italia (1988 e 1992), Copa/Liga dos Campeões (1990 e 1994), Supercopa Uefa (1989, 1990 e 1994), Mundial Interclubes (1989 e 1990) e Copa do Mundo (1982)
Seleção italiana: 15 jogos e 1 gol

Compartilhe!

2 comentários

  • Gostava muito do estilo de jogo do Massaro. Tenho uma dúvida, qual a marca das chuteiras que ele usava? Sempre achei ela muito legal por parecer uma botinha que protegia o tornozelo.

Deixe um comentário para Adriano Rocha X