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Attilio Lombardo, campeão da Serie A por Lazio, Juve e Sampdoria

O careca bom de bola é uma fortíssima entidade do futebol – mais do passado do que do presente. Os maiores representantes dessa categoria ameaçada de extinção pelos implantes capilares e pela máquina zero são Zinédine Zidane e Andrés Iniesta – muitos devem lembrar do búlgaro Yordan Letchkov e do polonês Grzegorz Lato. No futebol italiano, seu maior expoente foi o meio-campista Attilio Lombardo, ídolo da Sampdoria.

Lombardo teve uma carreira de relevo, mas não está no rol dos maiores craques da Itália. Ainda assim, atingiu uma marca para poucos: é um dos seis únicos jogadores a terem conquistado o scudetto com três times diferentes, ao lado de Giovanni Ferrari, Filippo Cavalli, Sergio Gori, Aldo Serena e Pietro Fanna. Mas muita água rolou embaixo dessa ponte até que isso acontecesse.

O ex-meio-campista nasceu em uma cidadezinha da província de Caserta, nas cercanias de Nápoles, mas ainda menino se mudou para o norte, com destino a Zelo Buon Persico, na Lombardia. Foi em um time da região em que seus pais foram trabalhar como operários que ele começou sua carreira no esporte, em 1983: o pequeno Pergocrema, da Serie C2. Àquela época Attilio jogava como atacante, pois era muito veloz e finalizava bem.

Nos tempos de Cremonese, ainda com cabelos, Lombardo dialoga com o goleiro Rampulla (Ivano Frittoli)

Depois de duas temporadas, Lombardo subiu de degrau e, aos 20 anos, assinou com a Cremonese, recém-rebaixada para a Serie B. Na equipe grigiorossa, o jogador passou a atuar pela faixa direita do meio-campo por orientação do técnico Emiliano Mondonico e, por sua velocidade, jeitão e aparência, começou a ser chamado pelos colegas de Struzzo – avestruz, em italiano. Não é um apelido muito lisonjeiro, mas pegou.

Na nova posição, Struzzo começou a perder os cabelos na mesma proporção em que ia ganhando notoriedade: em quatro anos de segundona com a equipe de Cremona, Lombardo atuou 141 vezes e anotou 17 gols, ajudando a equipe a voltar à elite em 1989. Após o acesso, foi negociado com a Sampdoria, equipe recém-campeã da Coppa Italia e vice da Recopa Uefa. Em Gênova, receberia novo apelido: Popeye.

Na corte do técnico Vujadin Boskov, o meio-campista calvo ganhou lugar de destaque. Assumiu a titularidade em uma equipe fortíssima, com jogadores do calibre de Gianluca Pagliuca, Moreno Mannini, Pietro Vierchowod, Amedeo Carboni, Giuseppe Dossena, Toninho Cerezo, Srecko Katanec, Enrico Chiesa, Gianluca Vialli e Roberto Mancini.

Lombardo comemora no jogo contra o Lecce, que garantiu o scudetto doriano (Arquivo/Sampdoria)

Jogando como ala pela direita e formando dupla com Mannini, Lombardo se afirmou como um dos principais meio-campistas da Serie A. Tudo isso graças ao seu estilo Forrest Gump, a simplicidade e eficiência nos passes e o jeito incisivo de chegar à linha de fundo para dar assistências ou à área para marcar gols. Sempre muito regular, o avestruz era quase imparável.

Em seis temporadas com a camisa da Samp, Lombardo ajudou a equipe a levantar os maiores títulos de sua história: a Serie A e a Supercopa Italiana, em 1991, e a Recopa Uefa, em 1990, além de uma Coppa Italia, em 1994 – ele foi o artilheiro do torneio, com cinco gols –, e um vice-campeonato da Copa dos Campeões, em 1992. O início da carreira como atacante fez com que Popeye fizesse muitos gols pelos dorianos: foram 34 em 201 partidas.

Depois de fazer parte do momento mais glorioso dos blucerchiati e viver dois ciclos no Luigi Ferraris, sob as ordens de Boskov e Sven-Göran Eriksson, Attilio Lombardo se transferiu para a Juventus. O negócio custou 10,5 bilhões de velhas liras para a Velha Senhora, mas Struzzo não foi protagonista sob o comando de Lippi, embora fosse um dos melhores alas no momento: uma lesão grave na pré-temporada afetou sua tíbia e seu perônio, o mantendo afastado por vários meses.

As lesões acompanharam Lombardo em sua curta passagem pela capital do Piemonte (Arquivo/Juventus)

O meia não conseguiu ser tão decisivo como antes, mas ainda assim fez 51 jogos em dois anos em Turim e ganhou mais uma Serie A, a Liga dos Campeões (e mais um vice), o Mundial Interclubes e as supercopas da Europa e da Itália. Embora parecesse mais velho, Lombardo ainda tinha 31 anos e lenha para queimar: foi um dos que participaram da onda que levou vários jogadores do Belpaese à Inglaterra nos anos 1990 e assinou com o Crystal Palace.

O carequinha chegou a Londres por cerca de 1,6 milhão de libras esterlinas e assinou com o clube juntamente com o atacante Michele Padovano, colega na Juve. Popeye rapidamente ganhou importância e a titularidade no lado direito do meio-campo: fez 24 jogos e anotou cinco gols, mas o Crystal Palace tinha elenco fraco e problemas nos bastidores. O experiente jogador italiano até assumiu o comando técnico da equipe interinamente, por um mês e meio, mas as águias foram rebaixadas com direito à lanterna da Premier League.

Struzzo passou mais seis meses em Londres e marcou mais cinco gols pela equipe, mas deixou a segundona inglesa por algo melhor: em janeiro, acertou com a Lazio, concorrente pelo título da Serie A. Lombardo foi para Roma como um pedido de Eriksson, que o tinha treinado em Gênova, e logo assumiu a sua tradicional camisa 7.

Lombardo foi um dos italianos que passaram pela Premier League nos anos 1990 (imago/Colorsport)

Em dois anos e meio na Cidade Eterna, Popeye entrou pouco em campo, já que havia sido contratado mais para compor o elenco e dar experiência nos bastidores, mas ainda assim levantou várias taças. Primeiro, acabou tendo a frustração de ver o scudetto escapar pelos dedos em 1999, em uma arrancada impressionante do Milan.

No  entanto, a Lazio se redimiu conquistando a Recopa ainda naquele ano e, no seguinte, encheu a sala de troféus: Supercopa Uefa, Coppa Italia e Serie A – a que valeu o recorde do Struzzo. Lombardo ainda venceu uma Supercopa Italiana antes de deixar a capital e ir encerrar a carreira na Sampdoria, que estava na Serie B. Com 36 anos e 530 partidas oficiais, chegava ao fim a trajetória futebolística do meia careca.

Um dos poucos arrependimentos de Lombardo em sua carreira foi o fato de não ter deslanchado pela seleção italiana. O meia teve 19 convocações para a Squadra Azzurra e participou das eliminatórias para as Euros 1992 e 1996 e para as Copas do Mundo de 1994 e 1998. No entanto, nunca chegou a integrar o elenco que disputou essas competições.

Os últimos títulos da carreira do carequinha foram conquistados pela Lazio (imago)

O seu trabalho como técnico interino do Crystal Palace foi apenas o prelúdio da nova carreira de Lombardo. Logo que anunciou a sua retirada dos gramados o ex-jogador campano entrou no staff da Sampdoria para comandar os Allievi Nazionali – correspondente à categoria sub-16. Struzzo ocupou este cargo entre 2002 e 2005 e ainda treinou o sub-20 doriano e trabalhou como olheiro do clube.

Lombardo teve experiências como treinador no Chiasso, da Suíça, e por Castelnuovo, Legnano e Spezia, nas divisões inferiores da Itália, mas não vingou. O ex-meia, então, virou auxiliar de Mancini em Manchester City (clube em que também treinou as categorias de base) e Galatasaray, até que o atual treinador da Inter fosse demitido do clube turco. Após sete anos no exterior e uma experiência como vice de Roberto Di Matteo no Schalke 04, Struzzo volta a atuar profissionalmente no Belpaese: é o auxiliar de Sinisa Mihajlovic no Torino.

Attilio Lombardo
Nascimento: 6 de janeiro de 1966, em Santa Maria La Fossa, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Pergocrema (1983-85), Cremonese (1985-89), Sampdoria (1989-95 e 2001-02), Juventus (1995-97), Crystal Palace (1997-99) e Lazio (1999-2001)
Títulos: Serie A (1991, 1997 e 2000), Liga dos Campeões (1996), Mundial Interclubes (1996), Recopa Uefa (1990 e 1999), Supercopa Uefa (1996 e 1999), Supercopa Italiana (1991, 1995 e 2000) e Coppa Italia (1994 e 2000)
Carreira como técnico: Crystal Palace (interino, 1998), Chiasso (2006-07), Castelnuovo (2008), Legnano (2008-09) e Spezia (2009)
Seleção italiana: 18 jogos e 3 gols

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