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Stefano Tacconi, sucessor de Dino Zoff, ganhou oito títulos pela Juve

Um dos grandes goleiros da história da Juventus e do futebol italiano, Stefano Tacconi quase teve uma carreira simplória, digna da maioria do atletas que perambulam por divisões inferiores – quando não amadoras. No entanto, as boas campanhas no Avellino o credenciaram a ser o substituto de ninguém menos que Dino Zoff na Juventus e o colocaram em um seleto grupo de jogadores que entraram para a história dos bianconeri.

Sua carreira começou no Spoleto, time da cidade vizinha de Perúgia, sua terra natal. Tacconi ganhou espaço pela equipe biancorossa, que militava nas divisões inferiores do futebol italiano, e, ainda nas categorias de base, ganhou uma chance única ao se transferir para a Internazionale. Atuando pela equipe primavera, o goleiro até conseguiu certo destaque e foi campeão da Coppa Italia sub-20, mas não foi suficiente para conseguir uma vaga na equipe de cima. Dessa forma, apenas um ano depois de sair do Spoleto, foi cedido ao clube umbro por empréstimo, dessa vez para atuar na equipe principal.

Após atuar como titular pela equipe que o formou, na Serie D, Tacconi foi galgando degraus ano após ano. Foram três empréstimos em sequência, primeiro para clubes da Serie C; Pro Patria (no qual atuou apenas sete jogos devido a uma fratura no antebraço) e Livorno, onde se destacou numa das melhores defesas da terceira divisã. A sequência de jogo, porém, não foi suficiente para convencer os dirigentes interistas, que venderam o jovem arqueiro à Sambenedettese para a disputa da Serie B. Tacconi aproveitou muito bem a oportunidade – tanto que, para substitui-lo, o time marquesão acertou com a Inter o empréstimo de um jovem Walter Zenga – e enfim teve sua primeira oportunidade entre os principais times da Itália.

Seu destino foi o Avellino, um clube pequeno, mas que vinha de campanhas regulares na Serie A. Presente na primeira divisão desde 1978, o time da Campânia ficou no meio da tabela em seus dois primeiros anos no campeonato e mostrou um futebol interessante, com uma série de bons jogadores – muitos deles sem grife. Tacconi chegou como um dos reforços para a equipe treinada por Luís Vinício, ao lado do meia Beniamino Vignola e do atacante brasileiro Juary, e logo encontrou dificuldades.

Após despontar com o pequeno Avellino, Tacconi chegou à Juventus e se consolidou no clube (Getty)

O Avellino começou a Serie A com penalização de cinco pontos, por envolvimento de um jogador no escândalo Totonero. Na reta inicial do torneio, quando a equipe tentava somar seus primeiros pontos, um terremoto de 6,9 graus na escala Richter afetou o sul da Itália, e a região da cidade foi a mais afetada: mais de 280 mil pessoas ficaram desabrigadas, cerca de 9 mil se feriram e quase 3 mil morreram. Mesmo assim, as defesas de Tacconi ajudaram a equipe a superar todas as adversidades e se manter na elite.

Em três anos pelo clube da Irpinia, o goleiro despontou como um dos grandes talentos da década de 1980, a ponto de ser contratado pela Juventus com uma simples missão: substituir Dino Zoff, que encerrava sua carreira em 1983. Tacconi disputaria a posição com Luciano Bodini, reserva de Zoff nos últimos quatro anos.

Nem mesmo os dirigentes juventinos poderiam imaginar que a aquisição poderia dar tão certo. Aquele jovem sem qualquer experiência num grande clube vestiu a camisa de titular dos bianconeri ostentando completa segurança. “Nunca tive medo de jogar na Juventus, muito menos das comparações com Zoff. Eu sou Tacconi e tenho Zoff como um mestre”, disse o goleiro, no ato de sua chegada.

Dotado de um porte físico invejável e seguro entre as traves, Tacconi teve uma primeira temporada fantástica – na qual teve Zoff como seu preparador – e ajudou o time a ganhar a Serie A e a Recopa. Algo que não aconteceu na temporada seguinte, na qual alguns erros fizeram com que Giovanni Trapattoni desse a titularidade a Bodini. Tacconi se envolveu em polêmicas por não aceitar a reserva e teve meses amargando a perda da titularidade até se conformar com a situação. Isso fez com que ele amadurecesse enquanto atleta, mas sem nunca perder a forte personalidade.

Tacconi levantou oito títulos com a camisa da Velha Senhora (Getty)

Já no final da temporada, o goleiro recuperou a posição e fez parte da equipe que esteve presente na trágica final da Copa dos Campeões, contra o Liverpool, no estádio de Heysel, em Bruxelas. Tacconi fez um de seus melhores jogos com a camisa bianconera e conquistou o título, mas as 39 vítimas do desastre, que morreram prensadas contra o alambrado ou pisoteadas, deixaram a partida em segundo plano. “O sonho de 22 jogadores foi destruído por alguns desordeiros. As finais deveriam sempre ser jogadas com entusiasmo e alegria”, declarou o jogador em entrevista recente ao memorial da tragédia.

O goleiro umbro continuou como titular da equipe de Turim mesmo durante os anos de reformulação da Velha Senhora, que aconteceram com as saídas de Trapattoni, em 1986, e de Michel Platini e Gaetano Scirea, nos anos seguintes. Com os bianconeri, Tacconi venceu dois scudetti, uma Coppa Italia e também títulos internacionais, como a Copa dos Campeões, o Mundial Interclubes, a Copa, a Recopa e a Supercopa da Uefa. Com títulos em cinco torneios internacionais, é o arqueiro recordista em títulos reconhecidos pela entidade futebolística europeia.

Apesar de ser titular absoluto de um dos times mais importantes da Itália e da Europa e um dos melhores de sua geração, Tacconi teve poucas chances na seleção italiana. Foi somente em 1987 que ele ganhou sua primeira oportunidade pelos azzurri, mas realizou apenas sete partidas pela Nazionale – sem contar os jogos titular da seleção olímpica de 1988, quarta colocada nos Jogos de Seul e dirigida por Zoff.  No período, o juventino foi preterido pelos técnicos Enzo Bearzot e Azeglio Vicini, que confiavam mais em Giovanni Galli e Walter Zenga. Não obstante fosse reserva, Tacconi foi convocado para a Euro 1988 e a Copa do Mundo de 1990.

Reconhecido como um dos heróis da Juventus, Tacconi chegou a ser capitão da equipe na reta final de sua passagem de nove anos pelo clube. Em 1992, ele encerrou seu ciclo em Turim e foi jogar no Genoa, clube em que teve seus últimos desafios como profissional. Na Ligúria, chegou como grande esperança e foi titular sob o comando do técnico Franco Scoglio, mas acabou caindo em descrédito com a chegada de Giuseppe Marchioro ao clube. Já com 37 anos, rescindiu o contrato e se aposentou do futebol.

O último clube da carreira de Tacconi foi o Genoa (imago)

Em 2008, já com mais de 50 anos, retornou brevemente à ativa jogando o campeonato regional pelo Arquata e, mesmo com apenas um jogo, ajudou na promoção da equipe da sétima para a sexta divisão, algo inédito em sua história.

Após a aposentadoria, o ex-goleiro mudou completamente de vida. Teve uma participação sem grandes resultados na política e também integrou o elenco de alguns filmes sobre futebol e um reality show, mas demonstra o seu talento mesmo na cozinha. Ele não apenas administra seu restaurante em Reggio Emilia como também cozinha, já que é um chef diplomado. Para não deixar de vez o futebol de lado, Tacconi também trabalha de vez em quando como comentarista, opinando nas partidas do campeonato italiano.

Stefano Tacconi
Nascimento: 13 de maio de 1957, em Perúgia, Itália
Posição: goleiro
Times como jogador: Spoleto (1974-75), Inter (1975-76), Spoleto (1976-77), Pro Patria (1977-78), Livorno (1978-79). Sambenedettese (1979-80), Avellino (1980-83), Juventus (1983-92) e Genoa (1992-95)
Títulos conquistados: Serie A (1984 e 1986), Coppa Italia (1990), Copa dos Campeões (1985), Recopa Uefa (1984), Copa Uefa (1990), Supercopa da Europa (1984) e Mundial Interclubes (1985)
Seleção italiana: 7 jogos

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1 Comentário

  • Na terceira temporada pelo Genoa, Tacconi falhou mto mas Scoglio o bancou como titular, qdo o técnico foi demitido resolveu deixar o clube pois não concordava com a saída do técnico e amigo. Seu último jogo foi na derrota no derby contra a Sampdoria por 3×2.

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