Brasileiros no calcio

Existe brasileiro bem-sucedido na Juventus: Júlio César

Ver um brasileiro vestindo a camisa da Juventus é algo raro: somente 23 jogadores nascidos em nosso país atuaram pela Velha Senhora até hoje. Um dos melhores a terem passado por Turim foi o zagueiro Júlio César, que também foi o primeiro brasileiro da história do Borussia Dortmund. O paulista foi um daqueles atletas que raramente tinham seu espaço na mídia, mas conquistou o mundo atuando como um defensor de classe, que jogava de cabeça erguida, tinha qualidade o suficiente para iniciar as ações de seus times e também era capaz de intimidar qualquer atacante à sua frente.

Foi assim que despontou no Guarani, de Campinas, onde chegou à semifinal da Taça Libertadores da América de 1979 e foi vice-campeão brasileiro de 1986, a ponto de ser considerado uma das grandes promessas brasileiras e aposta de Telê Santana para o Mundial de 1986, disputado no México. Num dos times mais espetaculares do futebol, Júlio César teve Edinho como companheiro de zaga e foi eleito um dos melhores zagueiros da competição, mas será sempre lembrado pelo pênalti desperdiçado nas quartas de final, ante a França, que sacramentou a eliminação brasileira.

Após a competição, Júlio César foi vendido ao modesto Brest, da França, e custou uma bolada, em valores da época. O defensor iniciou sua trajetória europeia com grandes atuações, que lhe valeram o apelido de “Imperador”: logo em sua primeira temporada, foi peça-chave para que a equipe da Bretanha alcançasse uma comemorada sexta colocação no Campeonato Francês.

O sonho era alçar voos mais altos, na Itália ou Espanha, mas o destino o colocou no Montpellier, clube recém-promovido à elite nacional. Por lá, fez dupla de defesa com Laurent Blanc e, além de ter ajudado o time a fazer boas campanhas, conquistou uma Copa da França, em 1990. Pelas boas atuações, o brasileiro foi reconhecido com o prêmio de melhor jogador estrangeiro da liga francesa. No entanto, Júlio havia cansado do país. “A mentalidade do futebol francês me choca. Aqui as pessoas não vivem para o futebol”, declarou em uma entrevista à revista Placar, à época.

Júlio César acabou preterido da Copa do Mundo de 1990, mas ainda assim conseguiu arrumar uma transferência para um gigante do futebol mundial. O zagueiro chegou à Juventus numa das maiores negociações do mercado europeu da época – custou 850 milhões de liras – para entrar para a história juventina. Não à toa o elegemos como um dos melhores brasileiros da história bianconera.

Júlio César foi um dos pilares da defesa bianconera durante o início da década de 1990 (Arquivo/Juventus)

O jogador nascido em Bauru precisou adaptar seu estilo de jogo para, aos 27 anos, ser titular do time treinado por Luigi Maifredi e passou a atuar como líbero. Com boa técnica e força física, rapidamente ganhou seu espaço, demonstrando um incrível senso de posicionamento, e foi sempre titular nos quatro anos que ficou em Turim. Neste período, teve como companheiros de defesa jogadores como Massimo Carrera, Jürgen Kohler, Stefan Reuter, Luigi De Agostini, Moreno Torricelli e Sergio Porrini.

Maifredi foi demitido após uma temporada ruim e logo a Juventus apelou para o retorno de Giovanni Tratattoni, com o intuito de voltar a ser campeã italiana – o último título havia sido conquistado em 1986. No entanto, a equipe que hoje é senhora do futebol local não conseguiu superar um Milan estelar no período em que Júlio César atuou no Piemonte: o brasileiro ajudou a equipe em boas campanhas, mas o melhor resultado obtido na Serie A foi o vice-campeonato, alcançado em 1992 e 1994. A Juve também foi vice na Coppa Italia, em 1992.

Para os bianconeri e Júlio César a saída era lutar por títulos em competições internacionais. O único título do brasileiro no Piemonte veio com a conquista da Copa Uefa, em 1993, quando o time de Trapattoni derrotou o Borussia Dortmund por 3 a 0 na final. O time alemão, aliás, seria o destino do paulista ao fim de suas quatro temporadas pela Juve, equipe pela qual realizou 125 jogos e seis gols.

Júlio chegou ao Dortmund como o primeiro brasileiro da história do clube, mas teve grande dificuldade no início, afinal o clube vivia uma grande crise financeira e não vencia o campeonato alemão havia 30 anos. “Fui o primeiro brasileiro a jogar pelo Borussia e sou muito grato por isso. Quando cheguei, o clube passava por um momento delicado. Fazia muito tempo que não conquistava o título. Hoje, vendo o clube em um estágio bom, fico feliz por ter feito parte deste processo de evolução”, lembra o zagueiro.

De fato, com o brasileiro, o clube se reergueu e se tornou forte concorrente aos principais títulos do futebol mundial. Com Júlio César como capitão, a equipe aurinegra venceu dois campeonatos alemães, duas Copas da Alemanha e uma Supercopa local. O título de maior expressão certamente foi a Liga do Campeões da temporada 1996-97, justamente contra a Juventus – os dois clubes fizeram muitos jogos decisivos naqueles anos e Júlio teve a oportunidade de viver os dois lados da rivalidade. Naquele mesmo ano, o time venceria o Mundial Interclubes, contra o Cruzeiro, e o zagueiro gravaria de uma vez por todas seu nome na história da equipe alemã.

O zagueirão brasileiro passou quatro anos em Turim (Getty)

Mesmo sendo considerado um dos melhores zagueiros do mundo naqueles tempos, ele acabou ficando de fora da Copa do Mundo de 1994 – tinha 31 anos e poderia ter colaborado com o elenco de Carlos Alberto Parreira. O motivo foi uma polêmica com a CBF: Júlio César teve pertences roubados no hotel em que a seleção estava concentrada para a disputa da US Cup, nos Estados Unidos. A confederação não quis se responsabilizar pelo incidente e, considerando ter sido desrespeitado, o defensor então decidiu deixar a seleção nacional.

“Não joguei mais por causa disso mesmo. Tive um prejuízo muito grande com aquilo e não fui reparado. Vi que não tinha mais porque permanecer depois daquilo. Mas eu queria ter participado mais da seleção brasileira. Enfim, só lamento porque depois disso deixei de ser campeão mundial. Mas não me arrependo, fiz tudo muito consciente na época. E bola pra frente”, afirmou ao UOL.

Após quatro anos na Alemanha, Júlio César voltou ao Brasil para defender o Botafogo, numa rápida passagem de apenas seis meses, emprestado pelo Borussia. Retornou à Alemanha e, já numa fase final da carreira, foi negociado com o Panathinaikos, da Grécia, pelo qual fez míseros três jogos. Sem a mesma intensidade característica de seu início de carreira, ainda passou pelo Werder Bremen, antes de encerrar a carreira no Rio Branco de Americana, equipe paulista.

Depois de aposentado, o ex-jogador trabalhou como procurador esportivo, contando com sua grande experiência europeia, e durante alguns meses foi também treinador interino no Rio Branco, sem qualquer desejo de seguir carreira como técnico. Longe dos holofotes, ainda tem o reconhecimento dos clubes pelo qual passou, especialmente do Dortmund, sendo convidado para eventos e jogos do time aurinegro. Se tivesse vestido a camisa da Juve em tempos mais gloriosos talvez fosse lembrado com mais carinho pela torcida.

Júlio César da Silva
Nascimento: 8 de março de 1963, em Bauru, São Paulo
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Guarani (1979-86), Brest (1986-87), Montpellier (1987-90), Juventus (1990-94), Borussia Dortmund (1994-98 e 1998-99), Botafogo (1998), Panathinaikos (1999), Werder Bremen (1999-2000) e Rio Branco-SP (2001)
Títulos conquistados: Copa da França (1990), Copa Uefa (1993), Campeonato Alemão (1995 e 1996), Liga dos Campeões (1997), Mundial Interclubes (1997) e Supercopa da Alemanha (1997)
Seleção brasileira: 14 jogos e 1 gol

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4 comentários

  • Grande Júlio César o Imperador, jogou muito na Juve era um zagueiro seguro, de muita força física e firme. Tinha um aguçado tempo de bola era preciso nos desarmes. Zagueiraço.

  • No meio do futebol todos sabem quem furtou cerca de 20.000,00 dólares na fática excursão aos Estados Unidos, e por isso ninguem foi responsabilizado, sendo assim a carreira desse craque da zaga na seleção foi encerrada prematuramente.

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