Jogadores

Iván Córdoba foi um dos grandes zagueiros do futebol italiano nos anos 2000

O futebol da Colômbia é um dos mais fortes e tradicionais da América do Sul, mas seus jogadores demoraram a entrar no mercado italiano, que sempre abrigou muitos sul-americanos. Poucos tempo depois dos primeiros cafeteros, que chegaram à Serie A no início dos anos 1990, Iván Córdoba se estabeleceu como um dos melhores jogadores do campeonato em mais de uma década de serviços prestados à Inter.

Bem antes de se tornar um ícone do futebol colombiano e uma estrela do Campeonato Italiano, Córdoba teve infância e adolescência atribuladas, como tantos de seus compatriotas que viveram a Colômbia dos tempos do Cartel de Medellín e de suas rusgas com o Cartel de Cali, as FARC e o governo federal. Nascido em Rionegro, cidade vizinha ao quartel general de Pablo Escobar, Iván Ramiro deu seus primeiros passos no Deportivo Rionegro, clube que disputava a segunda divisão do país. O zagueiro rapidamente ganhou vaga como titular da equipe, com a qual disputou 42 partidas entre 1993 e 1995. Após disputar o Sul-Americano Sub-20 pela seleção cafetera, Córdoba conseguiu uma transferência para o Atlético Nacional.

A contratação de Córdoba pelo gigante verdolaga gerou alguma surpresa nos desavisados. Como aquele baixinho, de apenas 1,73m, poderia ser zagueiro? Simples: Iván compensava sua altura com uma impulsão impressionante, de cerca de 75 centímetros, além de bom senso de posicionamento, potência física e muita velocidade. Em pouco mais de dois anos (1996 a 1998) no clube do estádio Atanasio Girardot, o defensor de Rionegro não levantou nenhuma taça, mas se destacou o suficiente para receber as primeiras convocações para a seleção principal da Colômbia, com a qual estreou na Copa América, em 1997.

As boas atuações de Córdoba pelo Atlético Nacional e pela Colômbia chamaram a atenção do San Lorenzo, que decidiu investir no defensor de 21 anos. Na equipe de Boedo, o colombiano se tornou imperioso e mortal também em jogadas ofensivas: entre 1998 e 2000, anotou oito gols em 59 partidas com a camisa do Ciclón.

Contratado para rechear o elenco da Inter, Córdoba ganhou a titularidade e a camisa 2, anteriormente usada por Bergomi (Getty)

Pilar da defesa da equipe argentina, Córdoba começava a se tornar também uma coluna cafetera. Depois de ganhar experiência ao fazer parte do grupo colombiano que foi à Copa do Mundo, em 1998, o zagueiro foi titular na Copa América, no ano seguinte. No célebre jogo em que Martín Palermo desperdiçou três pênaltis pela Argentina, Iván chegou a cometer uma dessas faltas capitais que o adversário não aproveitou, mas também marcou um gol a partir da marca da cal. Foi o seu segundo tento com a seleção, meses depois do primeiro, guardado em um amistoso contra a Alemanha.

Em 2000, aos 23 anos, Córdoba já era reconhecido como um dos principais zagueiros do futebol sul-americano e era cobiçado por equipes europeias. Quem agiu primeiro foi a Inter, que pagou cerca de 16 milhões de euros para contratar o colombiano em janeiro daquele ano – Iván foi um dos reforços do mercado de inverno e foi apresentado juntamente ao romeno Adrian Mutu. Ao contrário do atacante, porém, o defensor se firmou em Milão e rapidamente se constituiu em uma peça fundamental para os nerazzurri.

Nos primeiros meses em Appiano Gentile, Córdoba fez parceria com Laurent Blanc na zaga interista e quase ganhou o primeiro título da carreira – amargou o vice da Coppa Italia, da qual a Lazio se sagrou campeã. As temporadas que se sucederam também foram de “quase” para o colombiano, que foi protagonista em boas campanhas, mas que acabou sem nenhuma taça pelos nerazzurri – pela Colômbia, sim, já que os cafeteros ficaram com o título da Copa América de 2001.

Em Milão, a história foi bem diferente. Até 2004-05, a Beneamata foi segunda colocada na Serie A (2003), perdeu a Supercoppa Italiana (2000) e também caiu nas semifinais da Liga dos Campeões (2003), da Copa Uefa (2002) e da Coppa Italia (2004) – sem falar na tétrica perda do scudetto na última rodada de 2001-02. A pressão nos bastidores era muito grande, mas Córdoba nunca foi questionado – pelo contrário, seu lugar no time era indiscutível. Em 2002, ele quase acabou sendo vendido para o Real Madrid, seguindo o mesmo destino de Ronaldo, mas preferiu permanecer em Milão.

O colombiano chegou à Inter num período complicado para a agremiação e ajudou a devolvê-la ao topo (New Press/Getty)

Nestes anos turbulentos, Córdoba teve Marco Materazzi como companheiro de defesa, mas a partir de 2004-05, um novo colega – titular em mais oportunidades do que Matrix –, deu mais solidez ao setor. Com Walter Samuel, Iván formou uma dupla sul-americana que se completava: os dois eram muito eficientes em recuperações e nas roubadas de bola, mas o colombiano frequentemente atuava na cobertura. Por ser veloz, Córdoba chegou a atuar como lateral direito (ou até esquerdo) quando Roberto Mancini optava por fechar a casinha. A versatilidade demonstrada pelo colombiano, que sempre manteve um nível regular em qualquer posição, foi um dos fatores que o fizeram honrar a camisa 2, anteriormente utilizada por Giuseppe Bergomi.

Em 2004-05, Iván Córdoba foi o responsável por levantar o primeiro troféu da Inter depois de sete anos de jejum. O colombiano era vice-capitão da equipe e, como Javier Zanetti estava representando a Argentina na Copa das Confederações, foi ele quem ergueu a taça da Coppa Italia, conquistada com muito esforço sobre a Juventus. A defesa nerazzurra teve uma atuação próxima à perfeição naquela ocasião e o gol de Juan Sebastián Verón decidiu o Derby d’Italia.

A regularidade do jogador colombiano o manteve como titular absoluto da Inter na primeira fase do ciclo vencedor nerazzurro, que acabou com o pentacampeonato italiano e ainda títulos da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes da Fifa. Sob o comando de Mancini, Córdoba exerceu papel de liderança do elenco e só perdeu a posição na equipe quando lesionou o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, diante do Liverpool, nas oitavas de final da Champions 2007-08.

Pouco antes de se lesionar, Córdoba tinha deixado a seleção colombiana, por causa de desentendimentos com o técnico Jorge Luis Pinto. O zagueiro se aposentou após a disputa de sua quarta Copa América, em 2007, que encerrava uma era em sua vida, já que ele também defendeu os cafeteros na Copa das Confederações de 2003 e nas Eliminatórias para o Mundial de 2002 e 2006. Iván chegou a retornar à seleção de seu país para algumas partidas em 2009 e 2010 e iria disputar a Copa América de 2011, mas uma nova cirurgia no joelho o impediu.

Considerado como um dos líderes do elenco da Inter, Córdoba chegou a capitanear a equipe em algumas ocasiões (AFP/Getty)

Na Inter, a chegada de José Mourinho limitou seu espaço no time titular – quando o português chegou, Córdoba já tinha 32 anos. O treinador, no entanto, não o excluiu da equipe e o fez participar de um revezamento com Materazzi e Cristian Chivu, mas mantendo sua importância nos vestiários. O defensor central foi um reserva bastante utilizado mesmo após a saída de Mou, mas precisou operar o joelho pela segunda vez, em 2011, e acabou quase descartado.

Em 2011-12, o colombiano faria sua última temporada pelo clube e cumpriria seu contrato até o último dia. Córdoba fez somente seis jogos na melancólica campanha interista, mas se despediu oficialmente em grande estilo: entrou em campo nos últimos minutos do dérbi contra o Milan, vencido por 4 a 2, para ser ovacionado pela torcida nerazzurra. Córdoba, que foi homenageado com uma placa comemorativa no mesmo dia, representou a Beneamata em 455 oportunidades e conquistou 15 títulos – é o atleta colombiano com mais glórias no futebol europeu.

Iván Córdoba nem descansou depois de sua aposentadoria. Exatamente dois meses depois de atuar contra o Milan, o colombiano foi anunciado como team manager da Inter e seria o responsável por administrar o elenco e ser o seu elo com a diretoria. O ex-xerife da defesa nerazzurra ocupou o cargo setembro de 2014, quando a gestão de Erick Thohir lhe ofereceu um cargo administrativo nas divisões de base, o que foi recusado pelo craque de Antioquia. Córdoba já obteve licenças para trabalhar como treinador de juniores e diretor de futebol e, atualmente, faz curso universitário de gestão esportiva em uma universidade de Milão.

Iván Ramiro Córdoba Sepúlveda
Nascimento: 11 de agosto de 1976, em Rionegro, Colômbia
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Deportivo Rionegro (1993-95), Atlético Nacional (1996-98), San Lorenzo (1998-2000) e Inter (2000-12)
Títulos conquistados: Liga dos Campeões (2010), Mundial de Clubes da Fifa (2010), Serie A (2006, 2007, 2008, 2009 e 2010), Coppa Italia (2005, 2006, 2010 e 2011), Supercopa Italiana (2005, 2006, 2008 e 2010) e Copa América (2001)
Seleção colombiana: 73 jogos e 5 gols

Compartilhe!

Deixe um comentário