Serie A

Tenham calma, Gabigol vai jogar pela Inter

Gabriel implora para que a mídia brasileira pare de cobrar sua presença em campo pela Inter (AFP)

Uma partida da Inter com transmissão para o Brasil é sinônimo de uma coisa: pedidos por Gabigol em campo. Narradores, comentaristas e/ou ~amigos internautas~ questionam a qualidade do elenco da Beneamata e dizem que o ex-atacante do Santos tem espaço entre os titulares, a todo momento reclamam das substituições realizadas e acham inconcebível que ele esquente o banco nerazzurro – no último domingo, no clássico contra o Milan, houve quem levantasse a hipótese de haver preconceito com o atleta. O conselho do blog para quem não se conforma com a atual situação do jogador está no título do texto: tomem um chá de camomila e tenham paciência, pois Gabriel terá espaço.

Desconsiderando pontos de vista que beiram o pachequismo e o total desconhecimento de como funciona o futebol italiano, não é tão difícil entender porque Gabriel atuou por somente 16 minutos em uma partida oficial com a Inter – na reta final do jogo contra o Bologna, em setembro. Os motivos são diversos e passam por questões que precisam ser melhor trabalhadas no atacante e também pela própria precaução do clube para fazer com que o grande investimento feito para levá-lo à Itália tenha valido a pena. As agremiações do Belpaese são conservadoras neste sentido.

Para começar, Gabigol não é unanimidade nem mesmo aqui no Brasil, por causa de seu temperamento: o atacante é, por vezes, considerado imaturo, desligado e também nervoso com os adversários. Em parte, isto faz com que ele não seja “jogado aos leões” logo de cara. O diretor esportivo nerazzurro, Piero Ausilio, já afirmou que o brasileiro precisa entender primeiro os mecanismos do futebol na Velha Bota e que dosar a sua participação é uma forma de preservar o seu futebol. Neste estágio, é importante não queimar etapas.

Isso significa que a diretoria do clube crê que é interessante que Gabriel aprenda mais com os treinadores e os companheiros mais experientes. No momento, o brasileiro deve ficar focado principalmente em estudar como se comportam os adversários, evoluir em questões táticas e comportamentais, e dominar a língua e aspectos culturais do país. Enfim, tudo o que perpasse a adaptação de qualquer jogador a uma nova realidade futebolística e de vivência.

Um argumento plausível seria o de que grande parte desses elementos se aprendem em campo. Sim, de fato, a prática é importantíssima, pois não é possível ficar apenas na teoria. O problema é que a Inter vive um momento caótico, muito complicado nos bastidores e que compromete também as atuações da equipe. Em quase todo fim de semana, os nerazzurri tem entrado em campo pressionados, com a corda no pescoço. Este seria o melhor momento para lançar um jovem jogador, qualquer que seja? Tratar Gabriel como salvador da pátria é depositar falsas expectativas e um peso enorme sobre os ombros do brasileiro.

O caos na Inter – sobre o qual falamos aqui – vem de muito tempo e um de seus desdobramentos deste ano afetou Gabigol. A contratação do brasileiro foi finalizada quando Roberto Mancini ainda era o treinador da equipe e a troca por Frank De Boer, ainda na pré-temporada, fez com que o atacante de 20 anos ficasse no final da lista de preferências do holandês para o setor. Após a sua demissão ser consumada, Ronald De Boer deixou claro que Gabigol
não era um dos favoritos do seu irmão.

Com Pioli é diferente. O treinador chegou em Milão durante a data Fifa, época em que muitos jogadores não estavam presentes em La Pinetina, uma vez que haviam sido convocados para suas seleções. Gabriel, por sua vez, participou dos primeiros treinamentos e recebeu atenção especial do técnico, com o qual parece ter relação melhor. A comemoração dos dois após o gol que definiu o empate por 2 a 2 no Derby della Madonnina é um sinal de sintonia e também de que o jogador parece entender a sua função no elenco neste momento. A
tendência é que o campeão olímpico receba chances.

Ainda assim, a Beneamata tem muitas opções para o ataque: além do paulista, Icardi, Éder, Candreva, Perisic, Jovetic e Biabiany também brigam por posição, e mesmo Banega, Brozovic e João Mário podem atuar centralizados na segunda linha de meias do 4-2-3-1. Com tantos concorrentes, o normal seria que Gabriel recebesse oportunidades na Coppa Italia – cuja participação da Inter começa apenas em janeiro – ou na Liga Europa. No entanto, o brasileiro não foi inscrito na competição continental, uma vez que a equipe italiana cumpre punição por desrespeitar o Fair Play Financeiro da Uefa e, além de ter o elenco reduzido para 21 peças, não relacionou os mais caros contratados de 2016-17. Uma situação atípica, portanto. Tivesse sido adquirido sob outro contexto, Gabigol provavelmente já teria recebido mais minutos de jogo.

Se nas competições em que poderia atuar, ele não joga, por que a Inter não o deixou no Santos até dezembro ou o emprestou para outra equipe? Simples: tal qual o Milan fez com Thiago Silva, em 2009, a Inter preferiu levar Gabriel Barbosa para Milão mesmo antes de ele estar 100% apto para jogo – justamente para fazer a adaptação que mencionamos acima. Resta ainda lembrar que a temporada do brasileiro começou em janeiro e ele fez 40 jogos neste ano, boa parte deles na Olimpíada do Rio de Janeiro, quando seus companheiros treinavam e se preparavam para o início da Serie A. Treinadores e cartolas do clube já afirmaram que não ter realizado a pré-temporada faz com que Gabigol esteja com condicionamento físico inferior ao do restante do elenco. A expectativa é que ele esteja pronto em janeiro, quando a temporada do futebol brasileiro, a qual ele estava adaptado, estará começando.

Então, leitor fã de Gabigol, voltamos a dizer: fique tranquilo. Quem mais tem interesse que Gabriel jogue é a própria Inter, que desembolsou quase 30 milhões de euros para ter o seu futebol à disposição. Se o brasileiro não joga, acaba se desvalorizando, e além do prejuízo financeiro, a agremiação nerazzurra mancha sua reputação de negociadora mais uma vez – algo que a família Zhang, dona do clube há pouquíssimo, certamente não deseja, por questão de credibilidade com a torcida e com o próprio mercado. Algo que já é lembrado todas as vezes que Philippe Coutinho, pouco utilizado em Milão, tem uma atuação de gala com a camisa do Liverpool. Não é necessário relembrar aos interistas que paciência é fundamental e que ver Gabriel Barbosa estourar em outro clube está fora de cogitação para a turma de Appiano Gentile.

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