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A vida de Brian Laudrup: como o dinamarquês fracassou na Itália

A Dinamarca teve a sua melhor geração futebolística nos anos 1980 e 1990. Na época em que chamada Dinamáquina encantou o mundo, a Serie A italiana era o principal campeonato de clubes do globo, o que tornou natural que jogadores da seleção acabassem atuando no Belpaese. Os irmãos Laudrup, Michael e Brian, foram ícones daqueles tempos gloriosos e os principais dinamarqueses que passaram pela Itália.

Brian, nasceu cinco anos depois de Michael e acabou seguindo os passos do irmão e do pai, Finn Laudrup. Enquanto o primogênito nasceu na Dinamarca, o mais novo veio ao mundo em Viena, capital da Áustria, cidade em que seus pais moravam, já que Finn era atacante do Wiener SK. Quando a criança tinha apenas um ano, a família emigrou para o país nórdico.

Como toda a família Laudrup, Brian teve forte ligação com o Brøndby. Formado nas categorias de base do clube, ele deu seus primeiros passos como profissional quando seu irmão já era um pequeno astro. No distante ano de 1986, Michael já havia se transferido de seu país para a Itália – estava na Juventus, depois de passar dois anos emprestado à Lazio – e havia disputado uma Copa do Mundo com a seleção alvirrubra. Seguindo o exemplo do irmão, Brian começou a se destacar ainda antes dos 18 anos, alcançando a titularidade no Brøndby e espaço nas seleções de base do país.

O atacante foi bicampeão dinamarquês com a equipe da região metropolitana da capital Copenhagen, em 1987 e 1988, e marcou 13 gols em 52 partidas. Os números e as atuações fizeram com que Brian Laudrup recebesse as primeiras chances com o técnico Sepp Piontek na seleção da Dinamarca. O jogador estava na pré-lista de convocados para a Euro 1988, mas não foi à competição por conta de um problema que o acompanhou por toda a carreira: uma lesão. Neste caso, Brian fraturou a clavícula.

Em 1989, o meia-atacante deixou o futebol dinamarquês rumo ao Bayer Uerdingen, da Alemanha, em uma transferência conturbada – houve imbróglio em relação ao preço exato da multa, que foi resolvido somente um ano depois. Ao passo que o acordo era costurado nos bastidores, Laudrup atuava muito bem na Bundesliga: atuou nos 34 jogos da campanha da equipe da Renânia e marcou seis gols, que ajudaram a manter o time na elite. Aos 21 anos, subiu mais um degrau na carreira e fechou com o gigante Bayern Munique, campeão alemão ocidental naquele ano.

O momento de Laudrup era muito positivo. O meia-atacante foi eleito o melhor do seu país naquela temporada e foi a contratação mais cara do mercado alemão em 1990 – custou 6 milhões de marcos. Em dois anos na Baviera, porém, Brian viveu altos e baixos, inclusive em sua relação com o selecionado da Dinamarca: em sua primeira temporada pelos Roten, marcou nove gols em 33 jogos, mas a equipe não conseguiu o bicampeonato e ficou com o vice, logo atrás do Kaiserslautern. Em ótimo momento, porém, ele e o irmão não atuavam pela seleção, pois haviam abdicado das convocações por terem relação ruim com o técnico Richard Møller Nielsen.

Brian jogou bem na Fiorentina, mas não evitou rebaixamento da equipe (imago/HJS)

Seu segundo e último ano em Munique foi ainda mais atribulado. Laudrup rompeu o ligamento cruzado do joelho direito em agosto de 1991, no início da campanha, e logo depois entrou em atritos com a diretoria. O habilidoso jogador disparou contra Franz Beckenbauer e Karl-Heinz Rummenigge, lendas do clube e então empossados como diretores: disse que as críticas aos jovens do clube não ajudavam em nada em sua evolução como atletas. Fato é que o Bayern só terminou na 10ª posição da Bundesliga naquela temporada, em que Brian atuou somente na reta final.

Mesmo com tanta confusão, Brian Laudrup foi eleito Jogador Dinamarquês do Ano outra vez, ao fim de 1992, e foi o quinto colocado na eleição de Melhor do Mundo da Fifa e sexto na Bola de Ouro da France Football. O grande motivo para isso foi a sua volta à seleção dinamarquesa, que se sagraria campeã da Eurocopa: a Dinamáquina entrou no torneio graças à exclusão da Iugoslávia, que estava em guerra, e foi derrubando favoritos até chegar ao improvável título continental. O meia-atacante não marcou gols na competição, mas foi muito importante para a Dinamarca por sua habilidade, grande qualidade nos passe, pela velocidade pelas pontas do gramado e apoio aos colegas Henrik Larsen e Flemming Povlsen.

Após a Euro, Brian se transferiu por 8 bilhões de velhas liras para o futebol italiano, que tinha a melhor liga naquela época. Laudrup foi cedido pelo Bayern Munique para a Fiorentina juntamente ao colega Stefan Effenberg – com isso, a diretoria bávara se livrava de dois jogadores de personalidade forte e que não davam paz aos bastidores.

A dupla chegou ao Artemio Franchi juntamente com o atacante Francesco Baiano, destaque do ótimo Foggia de Zdenek Zeman, e se juntaria a Gabriel Batistuta e ao técnico Luigi Radice, que já havia sido campeão nacional com o Torino. As expectativas eram de que a Viola brigasse por uma posição na parte alta da tabela, o que aconteceu até a 14ª rodada: a equipe era vice-líder do torneio, mas após uma derrota para a Atalanta, Radice se desentendeu com o presidente Mario Cecchi Gori e foi demitido.

Dali em diante, o rendimento da Fiorentina despencou: foram somente três vitórias obtidas nas 21 rodadas subsequentes, que culminaram na queda dos toscanos para a Serie B depois de 54 anos. Os gigliati tiveram o quinto melhor ataque da temporada, com 53 gols marcados, e Laudrup contribuiu com cinco deles, mas não conseguiu ser decisivo. A não ser por um tento anotado em vitória por 2 a 0 contra a rival Juventus e outro em um empate fora de casa contra a Roma, o dinamarquês só balançou as redes diante de Ancona e Brescia, que também seriam tragados pelo buraco negro da segundona.

Com o rebaixamento, Laudrup não quis permanecer na Toscana e foi o único destaque dos violetas a deixar Florença. O dinamarquês foi emprestado ao Milan e adicionou outra decepção a sua passagem pelo Belpaese: os rossoneri venceram a Serie A e a Liga dos Campeões, mas o meia-atacante, então com 25 anos, foi muito pouco utilizado por Fabio Capello.

Laudrup vestiu a camisa do Milan por uma temporada (Offside/Getty)

No defensivo sistema do treinador (o Diavolo conquistou o Campeonato Italiano sofrendo 15 gols, mas marcando somente 36 em 34 partidas), Laudrup tinha pouco espaço, sobretudo por causa da limitação de número de estrangeiros imposta pela liga. O Milan tinha sete deles e Brian não estava entre os preferidos de Capello: ficou fora dos planos juntamente ao romeno Florin Raducioiu e ao holandês Marco van Basten (afastado por uma lesão crônica), enquanto Marcel Desailly, Zvonimir Boban, Dejan Savicevic e Jean-Pierre Papin atuavam mais. Ao todo, o dinamarquês fez 18 jogos e somente dois gols pela equipe da Lombardia.

Após o fim do contrato de empréstimo, Brian Laudrup não retornou à Fiorentina, que conquistara o título da Serie B. O meia-atacante, que já havia declarado sua intenção de deixar o futebol italiano, foi vendido para o Glasgow Rangers, clube em que se tornaria ídolo. Considerado um dos maiores estrangeiros a terem vestido a camisa do clube escocês, o dinamarquês conquistou um tricampeonato consecutivo da liga local e também duas copas nos quatro anos em que defendeu os Light Blues. Em 1995, o meia-atacante conquistou também a Copa das Confederações pela Dinamarca e disputou a Euro 1996.

No período em que defendeu o Gers, Brian foi eleito por duas vezes o melhor jogador do campeonato e o melhor de seu país – um recorde, pois nenhum dinamarquês teve a honra de faturar o prêmio quatro vezes. Não havia dúvidas, ele vivia o auge da carreira, ainda que fosse criticado por não render o máximo que se esperava dele. O caçula dos Laudrup ainda disputou a Copa do Mundo de 1998 e foi eleito para a seleção do torneio: o meia-atacante ajudou a conduzir a Dinamarca às quartas de final da competição, fase em que caiu diante do Brasil – inclusive, ele marcou um de seus dois gols e deu uma de suas três assistências no Mundial naquele alucinante 3 a 2 que classificou o escrete verde e amarelo. Seria sua última partida pela Dinamáquina, já que Brian preferiu encerrar sua participação no auge.

Depois do Mundial da França, Laudrup se transferiu para o Chelsea, mas ficou apenas seis meses em Stamford Bridge – tempo suficiente para levantar a Supercopa Uefa, partida em que vestiu a camisa dos Blues pela primeira vez. O dinamarquês voltaria a seu país para criar polêmica ao defender o København, maior rival do Brøndby (clube que o formou), mas não passou muito tempo por lá: muito vaiado pelas torcidas rivais, Brian alegou problemas familiares e foi jogar a temporada 1999-2000 pelo Ajax. Dois anos antes, seu irmão havia encerrado a carreira justamente pelos Godenzonen. Curiosamente, Brian teve o mesmo destino que Michael. Brilhou na Amsterdam Arena e marcou 15 gols em 38 partidas, mas as lesões (que o incomodaram por toda a carreira) o forçaram a deixar o futebol com somente 31 anos.

Depois de pendurar as chuteiras, Brian Laudrup continuou em pauta, pois era consenso que ele poderia ter sido um craque ainda maior, não fossem as lesões, a irregularidade e seu temperamento arredio – muitas vezes pouco focado nas partidas. O dinamarquês, porém, não estava nem aí: enquanto seu irmão, que teve mais sucesso no futebol, iniciou uma carreira como treinador, ele resolveu aproveitar mais a vida com sua esposa, Mette, e seus filhos, Nicolai e Rasmine. O ex-jogador voltou a entrar em evidência novamente em 2010, pois foi diagnosticado com um linfoma. Felizmente, ele se curou do câncer e hoje leva uma vida tranquila, como comentarista de uma TV de seu país e dono de uma escolinha para crianças carentes.

Brian Laudrup
Nascimento: 22 de fevereiro de 1969, em Viena, Áustria
Posição: meia-atacante
Clubes em que atuou: Brøndby (1986-89), Bayer Uerdingen (1989-90), Bayern Munique (1990-92), Fiorentina (1992-93), Milan (1993-94), Glasgow Rangers (1994-98), Chelsea (1998), København (1999) e Ajax (1999-2000)
Títulos: Liga dos Campeões (1994), Serie A (1994), Eurocopa (1992), Copa das Confederações (1995), Supercopa da Alemanha (1990), Campeonato Escocês (1995, 1996 e 1997), Copa da Escócia (1996), Copa da Liga Escocesa (1997), Supercopa Uefa (1998) e Campeonato Dinamarquês (1987 e 1988)
Seleção dinamarquesa: 82 jogos e 21 gols

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