Serie A

9ª rodada: alguma coisa está fora da ordem?

Imagine que você acabou de acordar após um coma de quase um ano e os médicos te liberaram para assistir futebol. Certamente você teria um sobressalto ao ver a Juventus em terceiro na Serie A e, ainda por cima, precisando fazer seis gols e de uma tripletta de Khedira para encobrir uma atuação defensiva bem distante da perfeição. Você já conhecia o Napoli de Sarri e sabia que o time produz muito ofensivamente. Mas que diabos aconteceu para os azzurri não marcarem nem mesmo um golzinho sobre a insegura Inter no San Paolo? É até aceitável ver a equipe do sul da Velha Bota na liderança, mas a Inter em segundo lugar? Mourinho voltou?

Tudo parece muito diferente – e a temporada 2017-18 realmente tem mostrado isso para quem a acompanha – e você até questiona sua sanidade, pensa que está vivendo um pesadelo. Aí vem outro susto, já que chega a constatação de que tudo é real: passando o olho na lista de resultados do fim de semana, há um tropeço do Milan. Para se situar, leia o resumo deste insólito final de semana do Campeonato Italiano.

Udinese 2-6 Juventus
Perica (Maxi López), Danilo (De Paul) | Samir (contra), Khedira (Cuadrado), Rugani (Dybala), Khedira (Rugani), Khedira, Pjanic (Alex Sandro)

Tops: Khedira e Cuadrado (Juventus) | Flops: Samir e Nuytinck (Udinese)

Em um dia de chuva, há poucas opções melhores que buscar um delivery. Cientes disso, as defesas de Udinese e Juventus entregaram bastante na noite gotejante do Friuli. De um lado, Rugani e Chiellini deram dois presentes para os adversários, mas perderam em número e qualidade de serviço para os defensores da equipe de Údine, especialistas em patacoadas. Com o alto número de gols na partida, a Velha Senhora assumiu o posto de melhor ataque da Serie A, enquanto Delneri e companhia se colocam como segunda pior defesa. Mais: após este jogo extremamente atípico para os seus padrões (mesmo com a menor eficácia da defesa nesta temporada), a Juve goleou e encostou nos líderes.

A Udinese saiu na frente depois que Rugani perdeu a bola para Maxi López e Chiellini bobeou na marcação a Perica. Samir retribuiu o favor com um gol contra incrível e Khedira logo virou para a Juve. No entanto, Mandzukic acabou expulso por reclamação e deixou a Juve com 10 – fato que Allegri agradeceria depois, já que impulsionou uma grande reação juventina. No segundo tempo, Danilo empatou, graças a outro erro de posicionamento de Chiellini. No entanto, a hexacampeã não sentiu o gol do capitão da Udinese. Ou melhor: tomou o acontecido como uma ofensa. Raivosa mesmo com um a menos, partiu para o massacre, consumado com a primeira tripletta da vida de Khedira e o auxílio de Higuaín, Cuadrado, Alex Sandro, Rugani e Pjanic. A fragilidade da Udinese ajudou muito, mas vale destacar que Dybala pouco apareceu. Justifica-se: a expulsão de Mandzukic obrigou Allegri a recuá-lo.

Napoli 0-0 Inter
Tops: Handanovic e Skriniar (Inter)| Flops: Mertens e Ghoulam (Napoli)

No duelo entre líder e vice-líder, ninguém saiu ganhando, mas a Inter levou a melhor. É verdade que o jejum de 20 anos sem vitórias dos nerazzurri no San Paolo continua de pé e que o Napoli segue com vantagem no retrospecto recente entre os dois. Porém, a proposta de Spalletti era travar o jogo e ceder o mínimo de espaço para a criação da equipe de Sarri. Isso foi feito e o ponto conquistado num campo tão complicado não só mantém a Beneamata na segunda posição como evita uma precoce fuga napolitana. De quebra, a Inter chegou a 11 jogos de invencibilidade (o que não acontecia desde 2010) e evitou que o Napoli pudesse quebrar seu recorde de 17 triunfos consecutivos na Serie A.

A Inter começou melhor, com posse de bola no campo adversário, mas ainda nos primeiros minutos o Napoli tomou as rédeas do jogo. Apesar disso, a equipe de Milão foi muito aplicada e teve uma atuação tática impecável, de poucos erros. O lado esquerdo azzurro, com Ghoulam e Insigne, teve o perigo limitado pelas ótimas partidas de D’Ambrosio e Candreva, auxiliados por Skriniar, enquanto Mertens sofreu para passar pelo eslovaco. No entanto, é impossível imaginar que o time treinado por Sarri não iria conseguir ameaçar o muro nerazzurro. Foi nessas ocasiões que Handanovic apareceu para garantir o empate: o esloveno teve cinco intervenções decisivas e saiu como o melhor da partida. A Inter também teve uma chance clara, mas Albiol cortou o chute de Vecino em cima da linha.

Torino 0-1 Roma
Kolarov

Tops: Nkoulou (Torino) e Kolarov (Roma) | Flops: Niang (Torino) e El Shaarawy (Roma)

Derrubar o mestre utilizando um dos dotes que aprendeu com ele pode até ser mal visto por alguns, mas é prova de respeito. Foi assim que Kolarov bateu sua maior inspiração, o técnico Mihajlovic – o sérvio até utiliza a camisa 11 em homenagem a seu ídolo. A melhor contratação da Roma para a temporada tem sido eficiente no apoio e na defesa, mas tem se destacado principalmente por seu poder de decisão e pelas cobranças de falta. Hoje, garantiu a vitória da Roma na difícil visita ao Olímpico Grande Torino com uma bela cobrança de canhota. O resultado aproxima os giallorossi dos líderes e mantém os grenás no meio da tabela.

Toro e Roma têm protagonizado partidas cheias de gols, mas dessa vez o confronto teve outro contorno. Com poucas ideias, a equipe romana esbarrou em uma marcação relativamente eficaz dos donos da casa. Por sua vez, o Torino buscava o contra-ataque, mas novamente a ausência de Belotti se fez sentir. Num dia em que Dzeko não teve uma oportunidade clara de marcar e em que Strootman perdeu um gol feito, só a bola parada salvou a Roma, aos 24 da segunda etapa. Com a vitória, a Roma igualou a Inter de 2006-07 e chegou a 11 triunfos em sequência como visitante – recorde do campeonato.

Milan 0-0 Genoa
Tops: Borini (Milan) e Miguel Veloso (Genoa) | Flops: Bonucci (Milan) e Galabinov (Genoa)

Este Milan não consegue sair da mediocridade. Nem mesmo contra um frágil Genoa, que costuma sofrer demais nas visitas aos rossoneri a San Siro, a equipe de Montella fez uma boa partida. A tola expulsão de Bonucci, aos 25 minutos do primeiro tempo, não pode servir como álibi para uma partida em que o time não mostrou organização e dependeu apenas do espírito de luta e da vontade de Borini, Suso e Bonaventura. A posição no meio da tabela é condizente com as prestações milanistas.

Quando os times jogavam em 11 contra 11, pouco aconteceu. A partida esquentou depois que Bonucci abriu o supercílio de Rosi com uma cotovelada e foi expulso pela primeira vez desde 2012 – um grande indicativo de sua falta de serenidade no momento. O capitão deve ficar de fora do jogo contra a Juventus, no final de semana (o gancho deve ser de três rodadas), e sem ele Montella testou uma linha de quatro defensores, com Borini improvisado na lateral direita. No meio-campo, Biglia e Kessié perderam o duelo para Miguel Veloso e Rigoni. Apesar disso, o time não sofreu defensivamente, mas muito pela fragilidade do Genoa e pela benevolência de Lapadula, que desperdiçou um contra-ataque no final da partida.

Lazio 3-0 Cagliari
Immobile (pênalti), Immobile (Marusic), Bastos (Luis Alberto)

Tops: Immobile e Lulic (Lazio) | Flops: Crosta e Dessena (Cagliari)

Alguém consegue parar Immobile? O atacante da seleção italiana já tem 13 gols na Serie A e é o maior artilheiro da Europa no momento. Decisivo, consegue dar pontos para a Lazio até mesmo quando a equipe não é brilhante, como diante do Cagliari na partida que encerrou a 9ª rodada. A vitória levou a equipe romana à terceira posição, com um ponto a menos que a Inter. Por sua vez, os sardos continuam na parte baixa da tabela.

Na estreia de Diego López, que substituiu Massimo Rastelli (primeiro técnico demitido no campeonato), o Cagliari foi a campo num 3-4-1-2 que pouco ofereceu. O gol de Immobile, logo no início, condicionou a atuação dos visitantes, já combalidos pela escalação do jovem Crosta: o terceiro goleiro, sem ritmo de jogo, acabou cometendo a penalidade. Impreciso, errou outras vezes, e só convidou a Lazio a desfrutar de sua inexperiência. Ainda no primeiro tempo, Immobile ampliou, enquanto Bastos definiu o resultado no início do segundo tempo. De resto, tranquila administração do resultado e foco na visita ao Bologna na quarta-feira.

Sampdoria 5-0 Crotone
Ferrari (Torreira), Quagliarella, Caprari (Zapata), Linetty (Praet), Kownacki

Tops: Caprari e Linetty (Sampdoria) | Flops: Cordaz e Ajeti (Crotone)

O equilíbrio define o histórico entre Sampdoria e Crotone: em nove jogos entre os times, três vitórias para cada lado e três empates. A Samp, no entanto, não quis nem saber disso e aproveitou o retrospecto negativo dos calabreses longe de casa para goleá-los na partida que abriu a rodada, no sábado. Foi o quarto triunfo doriano em quatro jogos em casa, tal qual na campanha do único scudetto do clube, conquistado em 1991. A equipe de Giampaolo é a 6ª colocada, com um jogo a menos, e é uma das sensações do campeonato.

A Samp começou a ganhar ainda no aquecimento. Pouco antes da partida, o Crotone perdeu seu principal jogador na temporada, o sueco Rohdén, e, com isso, poder de criação. Os tubarões precisariam disso já que, no terceiro minuto de jogo, já estavam atrás no placar: o zagueiro Ferrari, que se destacou pelo clube da Calábria, abriu o placar. Depois foi a vez de Quagliarella converter pênalti sofrido por Zapata e encerrar jejum de quatro jogos em branco para ampliar. Antes do fim do primeiro tempo, o atacante colombiano ainda serviu Caprari para o terceiro. A única tentativa dos visitantes veio com Budimir: após quase fazer contra, o atacante acertou o travessão. No segundo tempo a Samp transformou o controle em goleada, graças a Praet, Linetty, Kownacki e um erro do goleiro Cordaz.

Atalanta 1-0 Bologna
Cornelius (Freuler)

Tops: Cornelius (Atalanta) e Masina (Bologna) | Flops: Gosens (Atalanta) e González (Bologna)

Em uma das partidas mais disputadas do fim de semana, a Atalanta arrancou três preciosos pontos diante do sempre organizado Bologna de Donadoni. A equipe visitante faz seu melhor início de temporada desde 2001 e chegou perto de quebrar um tabu de 51 anos sem quatro vitórias consecutivas, mas os nerazzurri são praticamente insuperáveis em Bérgamo. A Atalanta perdeu apenas uma das últimas 16 partidas da Serie A disputadas no Atleti Azzurri d’Italia e não cai em casa diante do Bologna desde janeiro de 2009. Graças ao dinamarquês Cornelius, continua assim.

Sem Papu Gómez, que não jogou por causa de uma lesão no pé, a criação atalantina ficou a cargo de Ilicic, Cristante, Freuler e Spinazzola. Nenhum deles teve vida fácil, já que o Bologna conseguiu se defender muito bem – em especial, Masina venceu o duelo com Ilicic, impedindo-o de chegar à linha de fundo. O time da casa também marcava bem e os bolonheses nem conseguiram chutar em direção ao gol. O 0 a o agradaria Donadoni, mas Gasperini lançou Cornelius no início do segundo tempo e tentou a solução “torres gêmeas”, ao experimentá-lo ao lado de Petagna. Não deu certo. Após a saída do titular, Freuler conseguiu achar o dinamarquês, que marcou o gol da vitória. Cornelius ainda chegou perto de fazer o segundo, cavou a expulsão de González e serviu Caldara, que obrigou Mirante a excelente defesa. Decisivo.

Chievo 3-2 Verona
Inglese (Birsa), Inglese (pênalti), Pellissier (Cacciatore) | Verde, Pazzini (pênalti)

Tops: Inglese (Chievo) e Pazzini (Verona) | Flops: Pucciarelli (Chievo) e B. Zuculini (Verona)

No nono Derby della Scala disputado na Serie A, o Chievo garantiu um resultado que lhe deu a vantagem contra o Verona: agora são quatro vitórias para os clivensi, contra três dos butei e dois empates. O triunfo deixa a equipe treinada por Maran numa surpreendente sétima colocação na Serie A, enquanto Pecchia e companhia retornam para a zona do rebaixamento. As emoções do clássico começaram logo aos seis minutos, quando o Hellas abriu o placar. Após cruzamento de Cáceres, Sorrentino deu rebote e Verde aproveitou.

No entanto, o Verona tinha Bruno Zuculini, que destruiu a vantagem conquistada. Primeiro, cometeu falta próxima à entrada da área, perfeita para Birsa: o esloveno levantou na cabeça de Inglese, que empatou. O volante argentino ainda cometeu o pênalti que propiciaria a doppietta do centroavante do Chievo, aos 30, e seria expulso dez minutos depois. Mesmo com um a menos, os mastini se lançaram ao ataque em busca do empate e conseguiram, graças a uma penalidade convertida por Pazzini – o lance foi uma das cinco vezes em que o VAR entrou em ação no estádio Marcantonio Bentegodi. Do outro lado, porém, estava Pellissier. O veterano entrou no lugar do apagado Pucciarelli e, com oportunismo, completou um cruzamento de Cacciatore e decidiu a partida. Com o gol, o atacante de 38 anos se igualou a Toni: com três tentos, são os maiores artilheiros do clássico.

Benevento 0-3 Fiorentina
Benassi (Simeone), Babacar (Veretout), Théréau (pênalti)

Tops: Benassi e Babacar (Fiorentina) | Flops: Djimsiti e Armenteros (Benevento)

É oficial: o Benevento é a pior equipe das nove primeiras rodadas da história da Serie A. Os campanos só sofreram derrotas até o momento e superaram o Venezia de 1949-50 no quesito de pior início do certame. Para a torcida dos bruxos, só mesmo invocando um ritual pagão para tentar evitar o retorno para a segundona. O time é muito frágil, mal consegue competir com os adversários da parte de baixo da tabela e sofre demais contra os grandes. O técnico Baroni só não foi escorraçado ainda porque seu contrato prevê uma multa de 800 mil euros em caso de demissão.

A Fiorentina aproveitou a crise do Benevento e ganhou sem dificuldades no Ciro Vigorito. Após chute na trave de Biraghi, nos primeiros minutos, a equipe visitante abriu o placar graças a seu homem-chave: de volta à linha mais recuada de meias, Benassi tem a liberdade de aparecer no ataque de frente para o crime. Foi assim que ele aproveitou o trabalho de pivô de Simeone e fez 1 a 0. O ex-capitão do Torino dava equilíbrio no meio-campo junto a Veretout e, embora Cataldi quase tenha empatado com um tiro que explodiu no poste, a Fiorentina definiu o jogo após o intervalo. Babacar entrou no lugar de Simeone, que tinha dores musculares, e rapidamente ampliou a vantagem. Aos 20 da segunda etapa, o senegalês sofreu pênalti de Brignoli e permitiu que Théréau fechasse a conta, deixando a Fiorentina no meio da tabela.

Spal 0-1 Sassuolo
Politano

Tops: Gomis (Spal) e Politano (Sassuolo) | Flops: Vicari (Spal) e Cassata (Sassuolo)

O primeiro duelo entre Spal e Sassuolo na elite poderia tirar uma das equipes da zona de rebaixamento. Tirou: com a vitória conseguida com um gol no início, os neroverdi conseguiram respirar e empurraram os spallini para a penúltima colocação. Forte no estádio Paolo Mazza, a Spal não conseguiu aproveitar as dificuldades mostradas pelo adversário quando está longe de seus domínios e pouco ameaçou.

A partida acabou condicionada pelo gol prematuro. Logo aos 2 minutos, o bom zagueiro Vicari cometeu um erro bobo e permitiu que Politano lhe roubasse a bola e abrisse o placar. No restante do primeiro tempo, os biancazzurri não reagiram e o Sassuolo poderia ter ampliado, mas Berardi perdeu duas oportunidades. O canhoto ainda desperdiçou um pênalti na segunda etapa, cobrando mal e facilitando a defesa de Gomis. A Spal chegou a acertar a trave com Antenucci, mas foi só: nem mesmo a expulsão do estreante Cassata, no final, animou a equipe da casa.

*Os nomes entre parênteses após os autores dos gols se referem aos responsáveis pelas assistências

Seleção da rodada
Handanovic (Inter); D’Ambrosio (Inter), Skriniar (Inter), Albiol (Napoli), Kolarov (Roma); Cuadrado (Juventus), Khedira (Juventus), Linetty (Sampdoria), Caprari (Sampdoria); Immobile (Lazio), Inglese (Chievo). Técnico: Luciano Spalletti (Inter).

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