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Giuseppe Wilson, o grande líbero da história laziale

Líder em campo, amado e respeitado por companheiros e torcedores, Giuseppe Wilson é um dos grandes nomes da história laziale. Afinal, o líbero colocou seu nome no panteão de ídolos dos biancocelesti por ter sido o capitão da Lazio durante a conquista de seu primeiro scudetto, nos anos 1970. Em mais de uma década na capital, Pino cultivou uma carreira sólida, mas que terminou manchada por seu envolvimento no escândalo de manipulação de resultados do início da década de 1980.

Filho de um soldado inglês lotado na Itália e de uma napolitana, Wilson nasceu na Inglaterra, mas muito novo mudou-se para Nápoles, cidade em que deu os primeiros passos no futebol. Com apenas 17 anos, Pino debutou no modesto Cirio, da quarta divisão, clube criado após a II Guerra Mundial pela empresa alimentícia de mesmo nome. Embora profissional, a equipe contava com muitos jogadores que tinham o futebol como um complemento às suas profissões.

Em 1964, o Cirio se tornou Internapoli, após a compra do título esportivo da equipe por parte de empresários napolitanos. Wilson foi um dos jogadores contratados pela Cirio que continuaram no clube e acabou se destacando nos anos posteriores, militando ainda nas divisões inferiores. Pino chamou a atenção da Lazio e atuou por empréstimo ao clube romano durante um torneio amistoso, em 1966. Retornou ao sul da Bota para ajudar na conquista da Serie D, como capitão do time campano e, em 1969, se transferiu em definitivo à equipe capitolina. Outro jogador contratado junto ao Internapoli naquele mercado foi o seu grande amigo, Giorgio Chinaglia.

A chegada de Wilson foi discreta. Afinal, ele era um mero desconhecido no mundo do futebol italiano que aportava na capital em um momento não tão brilhante da história da Lazio: a equipe acabara de retornar à primeira divisão, depois de conquistar o título da Serie B, e buscava encorpar o elenco. Aos poucos, Pino foi se tornando uma referência técnica, inicialmente como lateral direito.

Wilson e Chinaglia, dois símbolos da Lazio, foram potencializados por Maestrelli (Publifoto/Lapresse)

Os primeiros anos em Roma foram difíceis, já que a Lazio não decolou e, em 1971, chegou até a ser rebaixada – nem mesmo a conquista da Copa dos Alpes atenuou a queda. A temporada 1971-72 foi um divisor de águas para os laziali, que renovaram sua equipe com poucos remanescentes das temporadas anteriores e, sob o comando do técnico Tommaso Maestrelli, buscavam se reerguer. Wilson foi um dos que ficaram e, além disso, recebeu a braçadeira de capitão.

O defensor foi um dos pilares da campanha do acesso da Lazio, que só não ficou com o título da Serie B por causa de um pontinho – a surpreendente Ternana acabou com a taça. De volta à elite, a Lazio se reforçou um pouco, mas manteve pilares como Wilson e Giancarlo Oddi na defesa, Franco Nanni no meio e, claro, Chinaglia no ataque e Maestrelli à beira do gramado. Em ascensão, a Pino foi uma das estrelas da campanha celeste, que culminou na terceira colocação da Serie A, com dois pontos a menos que a Juventus, campeã de 1973.

O pódio seria apenas o prenúncio do que viria na temporada seguinte, para a Lazio e para o próprio Wilson. Já atuando como líbero, Pino anotou seu primeiro gol como profissional – decisivo para uma vitória por 1 a 0 contra a Sampdoria, já no finalzinho da partida – e fez sua estreia na seleção da Itália. Mas nada disso se compara à emoção ao final do jogo contra o Foggia, quando a Lazio pode finalmente comemorar seu primeiro scudetto. Nas comemorações do título de 1974, Wilson se lançou em meio à torcida e precisou da ajuda dos policiais para sair de lá, tamanha a festa na capital. Pouco depois de levantar a taça, recebeu outra grande notícia, com a convocação para a Copa do Mundo de 1974, na qual atuou em dois jogos.

Na temporada seguinte, muita coisa mudou, a começar pelos problemas de saúde do técnico Tommaso Maestrelli, um dos grandes entusiastas de Wilson. Sem o mestre, afastado, o time perdeu o destaque progressivamente, embora repetir a façanha de 1973-74 fosse um sonho proibido para os celestes e seus torcedores. Entre 1974 e 1978, então, Pino liderou uma equipe sem grandes ambições, que alternou duas campanhas razoáveis com duas brigas contra o rebaixamento.

Sempre eficaz, Pino utilizou a braçadeira laziale durante oito temporadas, em diferentes momentos (Liverani)

Ao fim da temporada 1977-78, Wilson recebeu o convite de seu amigo Chinaglia para se juntar a ele no incipiente futebol dos Estados Unidos. O líbero, então, foi emprestado para o New York Cosmos, que competia pela North American Soccer League, a NASL, disputada durante o verão no hemisfério norte – ou seja, durante as férias do Campeonato Italiano. Wilson foi campeão do torneio e ainda foi escolhido como o melhor zagueiro da final, disputada nos últimos dias de agosto, entre o Cosmos e o Tampa Bay Rowdies.

Aos 35 anos, o líbero retornou à Lazio para encerrar a carreira. Após um ano regular em 1978-79, a temporada 1979-80 seria fatídica para Wilson e sua equipe. Entre tantas confusões ocorridas dentro e fora de campo, duas foram marcantes. Primeiro, em outubro de 1979, um incidente similar ao que causou a morte do jovem Kevin Espada, no jogo entre San José e Corinthians, na Bolívia, assombrou o dérbi da Cidade Eterna.

Antes da partida, um jovem torcedor de 17 anos da Roma disparou um sinalizador marítimo, que atravessou o gramado, atingiu e matou Vincenzo Paparelli, torcedor laziale. A arbitragem decidiu que a partida aconteceria assim mesmo e o capitão Wilson precisou intervir, para que a situação não degringolasse e mais gente acabasse ferida ou morta: Pino chamou a responsabilidade e foi acalmar a torcida celeste, que estava indignada pela sequência de fatos, mas acatou a decisão do árbitro. Em um estádio mudo, a partida acabou empatada em 1 a 1.

Além da tragédia no clássico, a temporada acabaria em drama pessoal para o defensor, que foi denunciado como um dos participantes do Totonero, esquema de apostas ilegais e manipulação de resultados. Segundo a procuradoria, Wilson foi um dos jogadores que convenceram um dono de restaurante e um comerciante de hortaliças a apostar em algumas partidas da Serie A que já teriam seus resultados previamente combinados. Como os jogos acabaram com placares diferentes do apostado, a parte lesada denunciou os jogadores, que acabaram virando réus no processo.

No fim da carreira, seguindo o exemplo de Chinaglia, Wilson atuou pelo New York Cosmos (AP)

Juntamente aos colegas Bruno Giordano, Lionello Manfredonia e Massimo Cacciatori, Wilson foi declarado culpado: condenado a três anos de suspensão do esporte, decidiu pôr fim à sua carreira após o veredito, que também rebaixou a Lazio para a segundona. De forma melancólica, se encerrava a trajetória profissional do jogador que mais vezes havia vestido a camisa da Lazio até aquele momento: Pino envergou o manto celeste por 394 partidas, número superado apenas nos anos 2000, por Giuseppe Favalli.

Wilson voltaria ao Olímpico em 2000, quando encontraria Favalli durante as comemorações do centenário da Lazio. A presença do zagueiro e de outros campeões de 1974 seriam um prenúncio do que viria meses depois, já que a Lazio faturaria seu segundo scudetto naquele ano.

Durante alguns anos, ex-zagueiro se dividiu entre as atividades de comentarista e de diretor do Cerveteri, time da sexta divisão do Belpaese. Em 2015, pouco após lançar sua autobiografia, recebeu o prêmio Sette Colli, dado aos grandes nomes da história da Lazio. Pino faleceu em 2022, depois do agravamento de uma infecção urinária, e teve seus restos mortais depositados no mausoléu Maestrelli, onde também foram enterrados o técnico do título de 1974 e o craque Chinaglia.

Atualizado em 14 de março de 2022.

Giuseppe Wilson
Nascimento: 27 de outubro de 1945, em Darlington, Inglaterra
Morte: 6 de março de 2022, em Roma, Itália
Posição: zagueiro
Carreira: Cirio (1962-64), Internapoli (1964-69), Lazio (1966-78 e 1978-80) e New York Cosmos (1978)
Títulos conquistados: Serie D (1967), Copa dos Alpes (1971), Serie A (1974) e NASL (1978)
Seleção italiana: 3 jogos

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