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Enrico Chiesa foi um peregrino do futebol italiano: brilhou na elite e até na quarta divisão

Federico Chiesa é um dos nomes de maior destaque no futebol italiano no momento. O incisivo atacante, mesmo ainda jovem, é uma das referências técnicas da Fiorentina, e tem se destacado com gols e importante participação nas principais jogadas ofensivas da equipe. Um filme que a torcida viola já havia visto duas décadas atrás com Enrico, seu pai.

Enrico Chiesa foi um dos principais atacantes do futebol italiano entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000. O genovês defendeu a seleção na Euro 1996 e na Copa do Mundo de 1998, além de ter atuado em clubes como Sampdoria, Parma (no auge da Era Parmalat), Fiorentina e Lazio. Antes de brilhar pelo país, o atacante surgiu na minúscula Pontedecimo, equipe de bairro da capital da Ligúria. Aos 16 anos, já havia estreado pelos grenás e chamou a atenção da Samp.

Na Sampdoria, Chiesa concluiu sua formação como jogador e fez duas partidas como profissional, entre 1988 e 1989. No entanto, Enrico não fez parte do brilhante elenco blucerchiato que conseguiria o título italiano na temporada 1990-91, porém. Na época, o atacante jogava por empréstimo ao Teramo, na quarta divisão. Além de defender por um ano os biancorossi do Abruzzo, Chiesa foi emprestado em seguida ao Chieti, da terceirona.

As boas atuações nas divisões inferiores renderam a Chiesa o retorno aos blucerchiati na temporada 1992-93. O técnico Sven-Göran Eriksson decidiu aproveitar o jovem de 22 anos pelo fato de a equipe ter negociado Gianluca Vialli com a Juventus e o brasileiro Silas não ter emplacado. Chiesa, no entanto, não se firmou: revezou com Giovanni Invernizzi e marcou apenas um gol na equipe que tinha Roberto Mancini como destaque.

O primeiro momento de destaque de Chiesa na Serie A ocorreu com a Cremonese (Ivano Frittoli)

Dessa forma, foi emprestado novamente na temporada seguinte. Seu destino foi o Modena, que não fez uma boa Serie B e, com a penúltima posição, acabou rebaixado para a terceira divisão. Chiesa, no entanto, se destacou: fez 14 dos 29 tentos dos canarini e chamou a atenção da Cremonese, que conseguiu o empréstimo do atacante para a disputa da Serie A 1994-95.

Embora ainda jovem, Chiesa chegou com muita expectativa aos grigiorossi. O jogador de 23 anos demorou a se adequar ao estilo de jogo do técnico Luigi Simoni, mas desandou a balançar as redes depois de se ambientar em definitivo. Enrico anotou o seu primeiro gol apenas na 14ª rodada da Serie A, no último jogo de 1994, mas depois marcou mais 13, ajudando a equipe de Cremona a conseguir a manutenção na elite pela segunda temporada consecutiva. Seus 14 gols e o ótimo nível de suas atuações lhe serviram de trampolim para voos mais altos na elite italiana.

Enrico voltou à Samp para sua terceira passagem pelo clube que o formou. Dessa vez, chegou para assumir a titularidade ao lado de Mancini e colocou o time debaixo do braço. Chiesa mostrou como era um jogador completo: segundo atacante com muita movimentação e habilidade nos dois pés, marcava de todas as formas dentro da área, além de ser ótimo cobrador de faltas e pênaltis. Dessa forma, anotou incríveis 22 gols em 27 jogos na Serie A, ficando atrás apenas de Igor Protti e Giuseppe Signori, que fizeram 24. Entre seus feitos, destacam-se as triplettas contra Bari e Padova e as doppiettas diante de Juventus, Lazio, Inter e Milan.

O sucesso fez com que Chiesa fosse eleito como melhor jogador do campeonato pela conceituada revista Guerin Sportivo, em 1996. Descrito por Fabio Capello como uma mistura de Luigi Riva e Paolo Rossi, o atacante também foi reconhecido por Arrigo Sacchi, então técnico da seleção italiana, que o levou para a Eurocopa daquele ano. Enrico foi titular em duas partidas e marcou um gol contra a República Checa, mas não evitou a eliminação ainda na fase de grupos.

Ótimas prestações pela Samp levaram Chiesa à Euro 1996 (Allsport)

Após a competição na Inglaterra, o ambicioso Parma desembolsou cerca de 25 bilhões de velhas liras para contratar aquele que seria o companheiro de ataque de Hernán Crespo numa das maiores duplas ofensivas da Serie A da época. Na Emília-Romanha, Chiesa viveu os seus momentos mais relevantes como profissional.

Enrico ficou três anos no clube crociato e, logo de cara, conquistou o vice-campeonato italiano, em 1997. O alto nível demonstrado com a camisa parmense o manteve no radar da seleção e o levou à Copa do Mundo de 1998, convocado por Cesare Maldini. Chiesa disputou dois jogos na competição, mas nunca teve fartura de espaço na Squadra Azzurra, já que competia com gente como Alessandro Del Piero, Francesco Totti, Christian Vieri e Filippo Inzaghi.

Em 1998-99, Chiesa viveu seu último ano no Parma com a sua consagração. Afinal, conquistou a Copa Uefa contra o Olympique de Marseille e deixou a sua marca na final, vencida por 3 a 0: o último gol da campanha gialloblù foi dele. Além disso, o atacante foi o artilheiro do torneio, com oito gols em oito aparições. A taça foi uma das principais da história do clube e coroou uma geração que contava ainda com Gianluigi Buffon, Fabio Cannavaro, Lilian Thuram, Alain Boghossian, Juan Sebastián Verón e o já citado Crespo.

Embora tenha brilhado sob o comando de Carlo Ancelotti e Alberto Malesani, Chiesa teve saída conturbada. Atritos com o segundo treinador originaram a sua saída, lamentada pela torcida: à época, uma rede de televisão local chegou a receber mais de 260 ligações de torcedores furiosos pela venda do atacante para a Fiorentina. Com um retrospecto de 55 gols em 120 partidas, Enrico trocou Parma por Florença por um valor de cerca de 30 bilhões de liras. Patrocinado por Giovanni Trapattoni, se tornou parceiro de ataque de Gabriel Batistuta e Predrag Mijatovic.

Chiesa brilhou pelo Parma e fez até um gol na final da Copa Uefa, contra o Marseille (Allsport)

Apesar do estardalhaço pela contratação, Chiesa não se deu bem na primeira temporada na Toscana, que reservou à Fiorentina a sétima colocada na Serie A e a eliminação na segunda fase de grupos da Champions League. O atacante sofreu com lesões, que viriam a lhe perseguir pelo restante de sua carreira, decepcionando os torcedores: os números mostram 12 gols em 32 jogos, mas se esperava mais do genovês.

No ano seguinte, a saída de Batistuta gerou dúvidas no ambiente viola. Seria Chiesa capaz de suprir a lacuna deixada pelo maior artilheiro da equipe? Enrico respondeu com bom futebol. Marcou 27 gols em 39 jogos e foi vital para a conquista da Coppa Italia de 2001 – até hoje, o último título expressivo da Fiorentina. A campanha seguinte começou bem para o atacante, que tinha seis gols em oito jogos, mas uma séria lesão no joelho o fez ficar quase 12 meses afastado do futebol. A falência decretada pela equipe gigliata, que já havia caído em campo, tratou de encerrar sua passagem pelo time.

Seu novo destino seria a Lazio. Sob o comando de Roberto Mancini, seu ex-parceiro, o atacante teve uma temporada de readaptação ao futebol depois de operar os ligamentos do joelho. Como opção de banco laziale, Chiesa marcou sete gols em 29 jogos. A maioria deles, na Copa Uefa – competição em que a equipe celeste alcançou a semifinal.

Aos 33 anos, Chiesa foi contratado como o principal reforço do Siena, clube que faria sua estreia na elite italiana na temporada 2003-04. A decisão que, inicialmente gerou certo espanto, mostrou-se sagaz. O genovês deu muito mais do que experiência ao elenco e mostrou-se um jogador bastante versátil, fugindo um pouco das características que marcaram sua carreira. Com visão de jogo e criatividade, distribuiu passes de qualidade a seus companheiros, mas não deixou de marcar. Foram 10 na temporada, que colaboraram para a permanência do time bianconero na primeira divisão.

O atacante foi a grande estrela do Siena em seus primeiros anos na elite (LaPresse)

Essa história se repetiria por mais quatro temporadas, algo até então inimaginável para o torcedor da Robur. Devido aos cinco milagres consecutivos, a tifoseria nutre até hoje um carinho enorme pelo jogador. O próprio Enrico declarou inúmeras vezes a importância do Siena para sua carreira, afirmando que foi no clube toscano que conseguiu sentir-se jovem novamente, após as seguidas lesões.

Aos 37 anos e com uma carreira vitoriosa, o atacante não se importou em prolongar sua carreira jogando na quarta divisão, atuando pelo Figline, pequeno clube da região de Florença. Nesta mesma época, alguns torcedores da Cremonese fizeram um apelo para que o jogador voltasse à Lombardia, com o intuito de tirar o time da terceirona. Nada feito.

Enrico havia se fixado na Toscana e preferiu vestir a camisa do modesto time gialloblù, o qual defendeu por dois anos, retribuídos com a conquista da Supercopa da Liga da segunda divisão da Lega Pro e o inédito acesso à terceira categoria. Na última temporada da carreira, foi novamente vítima de uma séria lesão no joelho, que lhe afastou dos gramados por seis meses. Enrico, no entanto, retornou aos campos para a derradeira rodada da competição e se despediu do esporte.

Depois de se aposentar, Chiesa ainda se arriscou no cargo de treinador no próprio Figline, mas a falência da equipe abreviou a aventura. O ex-atacante também comandou equipes das categorias de base da Sampdoria por três anos, mas decidiu jogar tudo para o alto em 2015. Hoje, apenas acompanha de perto o sucesso dos filhos. Pois é, não é apenas Federico que bate um bolão, segundo Enrico. O papai coruja avisa: fiquem de olho em Lorenzo Chiesa, de apenas 14 anos.

Enrico Chiesa
Nascimento: 29 de dezembro de 1970, em Gênova, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Pontedecimo (1986-87), Sampdoria (1987-90, 1992-93 e 1995-96), Teramo (1990-91), Chieti (1991-92), Modena (1993-94), Cremonese (1994-95), Parma (1996-99), Fiorentina (1999-2002), Lazio (2002-03), Siena (2003-08) e Figline (2008-10)
Títulos conquistados: Copa Uefa (1999), Coppa Italia (1999 e 2001), Lega Pro Seconda Divisione (2009) e Supercopa da Seconda Divisione (2009)
Seleção italiana: 22 jogos e 7 gols

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1 Comentário

  • Um dos melhores atacantes italianos e do mundo na virada do milênio. Porém, foi subestimado demais na carreira. Acabou prejudicado pela concorrência fortíssima no ataque do Parma, com Crespo, Zola, Balbo, Stanic e Asprilla. Só em inevitavelmente acabar sendo comparado com Hernan Crespo, já prejudica bastante qualquer jogador. Se tivesse ido jogar em outro time com ataque menos forte, onde ele tivesse chance de ter sequência ser titular absoluto, teria sido mais valorizado. Inzaghi e Delvecchio, piores que ele, acabaram tendo mais chances na Azzurra porque entravam mais em campo.

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