Serie A

Roma vive dilema: demitir Eusebio Di Francesco ou dar chance para sua reinvenção?

Até que ponto os maus resultados dentro de campo podem ser considerados exclusivamente como culpa do treinador? Na Roma de 2018-19, torcedores e jornalistas têm se valido de um conjunto de motivos para atribuir a responsabilidade do momento negativo da Loba, oitava colocada na Serie A, ao técnico Eusebio Di Francesco. Desde o início da temporada, a equipe acumula perda de pontos para adversários de menor expressão, atuações ruins, erros no posicionamento de sua defesa e também tem sofrido com a falta de adaptação de reforços ao estilo de jogo da equipe, por exemplo.

As críticas se intensificaram a partir do último sábado (8). Pela 15ª rodada do campeonato nacional, a Roma vencia o Cagliari fora de casa por dois gols de vantagem (0-2) e voltava a triunfar como visitante depois de três jogos. Até que a romada aconteceu. Em 11 minutos, com Ionita e Sau, o time da Sardenha buscou o empate marcando aos 84 e aos 95 minutos, respectivamente. Quando o último gol aconteceu, os casteddu atuavam com dois jogadores a menos: Srna e Ceppitelli foram expulsos logo antes. Mesmo assim, a Roma não manteve a posse de bola e tanto Ionita (autor da assistência) quanto Sau (o seu finalizador) não foram perturbados por marcadores.

A cobertura dedicada por sites e jornais italianos à mais nova romada teve como objetivo tentar explicar o que determinou o resultado. Foram as substituições ruins? Durante o jogo, EDF trocou Kluivert por Luca Pellegrini (aos 75), Schick por Pastore (83) e Zaniolo por Juan Jesus (89) – apenas a última delas ocorreu após um dos gols dos mandantes. Novamente as falhas defensivas, em posicionamentos e decisões precipitadas? No fim, os discursos e alguns personagens, como Olsen e o próprio Di Francesco, coincidiam: para eles, não existiam palavras ou argumentos para definir o que ocorreu na Sardegna Arena. A “fúria” dos torcedores foi compartilhada pelo presidente James Pallotta, segundo relatos de quem estava no estádio.

EDF passou a correr riscos reais e está na corda bamba, sentindo o espectro da sombra de pelo menos três treinadores prontos para tomar seu cargo. Entre os nomes ventilados pela imprensa como possíveis substitutos, temos Paulo Sousa, ex-Fiorentina, e Vincenzo Montella (ex-Milan, Sampdoria, Catania, Fiorentina e Sevilla), que foi ídolo do clube como jogador e iniciou sua carreira como treinador na própria Roma, com status de interino, na parte final da temporada 2010-11. Além deles, um sonho proibido: Antonio Conte, tricampeão italiano pela Juventus e campeão inglês pelo Chelsea.

O profissional mais badalado da lista, claro, é o que demandaria uma operação mais complexa, seja do ponto de vista financeiro quanto estratégico: o apuliano tem outros pretendentes e só aceitaria retornar à Itália se pudesse comandar um projeto consistente, e por um alto salário. Por enquanto, porém, tudo não passa de especulação. A única decisão tomada por Pallotta até agora teve caráter disciplinar.

O semblante não é dos melhores: a batata de Di Francesco está assando (Elena Gatti)

No último domingo (9), a Roma anunciou através de nota oficial que o elenco e a comissão técnica teriam antecipado o regime de concentração, visando o último duelo da fase de grupos da Champions League, contra o Viktoria Plzen, nesta quarta-feira (12). Di Francesco recebeu respaldo da direção ao menos até o confronto na Chéquia, embora os romanos apenas cumpram tabela: os giallorossi já sabem que irão às oitavas com a segunda posição do Grupo G. O Plzen, porém, ainda disputa vaga na Liga Europa com o CSKA Moscou e deve agredir os italianos. Resistir e atrapalhar a vida dos pilseners será vital para que a aventura de EDF, iniciada em junho de 2017, não acabe ainda nesta semana.

Ainda que o confronto de quarta acabe bem para a Roma, a situação de DiFra não deve melhorar muito. O comandante pescarês apenas ganhará sobrevida no cargo e precisará, de imediato, provocar uma reviravolta em diversas frentes. Afinal, os problemas que colocam em xeque sua sequência na Cidade Eterna se acumularam como uma bola de neve. Para começar, a Roma somou três pontos em jogos contra Atalanta, Chievo, Bologna, Spal, Udinese e Cagliari, o que prejudicou seriamente o início da campanha: de 1994 até hoje, apenas a pontuação nas campanhas das temporadas 2004-05 e 2005-05 é inferior à atual. Nas ocasiões citadas, a Loba somou 20 pontos em 15 jogos – atualmente, tem 21.

O aspecto emocional (que inclui também a concentração) também preocupa – e não é algo oriundo da mística oriunda de romadas que perpassam a história recente capitolina. Quando a Roma de EDF sofre um gol, é quase certo que terá dificuldades em diminuir o ímpeto ofensivo do adversário. Ademais, sob o comando daquele que foi um dos integrantes do elenco que conquistou o terceiro scudetto giallorosso, em 2001, o poder de reação da equipe é quase nulo. Di Francesco comandou a Maggica em 71 jogos, até então. Seu time saiu atrás no placar em 24 e apenas em oito deles conseguiu evitar a derrota: perdeu 16, empatou cinco e virou apenas três. Na atual temporada, a Roma sofreu, em média um gol por partida: 60% aconteceram no segundo tempo e, de forma mais específica, 30% foram anotados no período dos 15 minutos finais e dos acréscimos.

Por fim, boa parte dos reforços contratados pelo badalado Monchi ainda não se encontrou em Trigoria. O mercado de verão teve 12 contratados, e apenas os jovens Daniel Fuzato (terceiro goleiro) e Bianda (zagueiro que ainda pode atuar na equipe Primavera) não foram utilizados – o que já era esperado, visto que eram contratações pensadas no longo prazo. Com exceções feitas a Olsen e a Zaniolo, recentemente incluído por DiFra em sua frequente rotação de peças, os demais ainda oscilam no time. Bons reforços, como N’Zonzi, Cristante e Kluivert demonstram dificuldades em se adaptar à proposta de jogo de EDF.

A esta altura parece claro que as saídas de Nainggolan e Strootman, líderes em campo e fora dele, tiveram impactos negativos no estilo de jogo do time. De Rossi, já veterano e às voltas com lesões, é o único remanescente e não pode dar conta do meio-campo romano. Monchi e Pallotta, respectivamente, negociaram e autorizaram as saídas e as chegadas das peças de reposição, mas não deixarão seus cargos por isso. Coube a DiFra tentar se adaptar à nova realidade, o que por enquanto não tem conseguido. Cada vez mais pressionado, terá de se reinventar como treinador, alterando o seu estilo de jogo e tentando encontrar alternativas para que suas principais peças rendam mais.

Peças que, aliás, andam em escassez. Entre os contratados, Pastore vive uma situação que acomete boa parte dos jogadores mais consolidados no plantel. Se por um lado marca golaços de letra, por outro não consegue sequência: é o único dos jogadores adquiridos na última janela que tem frequentado o departamento médico de Trigoria. Segundo levantamento realizado pelo próprio Di Francesco, 32 casos de lesões, de diferentes níveis, já foram registrados no CT em quase quatro meses de temporada. Fazio, Perotti, Manolas, De Rossi, Lorenzo Pellegrini, El Shaarawy, Karsdorp, Florenzi: todos desfalcaram a Roma em algum momento por problemas físicos. Um álibi perfeito para EDF.

Pallotta e Monchi: a dupla que definirá o destino do técnico da Roma (AP)

Nem tudo, porém, depõe contra Di Francesco. Além da sua história campeã com a Roma, o treinador mostrou que sabe transformar jovens jogadores em peças importantes – ao menos sob suas ordens. No Sassuolo, por exemplo, Berardi, Zaza e Sansone viveram as melhores fases de suas carreiras. Pellegrini, hoje na capital, também. O meia da seleção italiana continua a ser lapidado, tal qual Zaniolo, Ünder e Kluivert, e EDF ainda é um dos profissionais que conseguiram colher os frutos mais suculentos nesta seara.

Di Francesco ainda conta com grande respaldo por causa da última campanha na Champions League, na qual a Roma obteve inesperada classificação às semifinais, 34 anos depois de ter ido tão longe no torneio. O feito lhe rendeu a renovação do contrato até 2020, mas a histórica virada sobre o Barcelona, com reversão da derrota por 4 a 1 no Camp Nou graças a um triunfo por 3 a 0 no Olímpico, tem validade maior: deixará a imagem do treinador eternamente ligada ao clube giallorosso. A classificação às oitavas na atual edição foi menos esplendorosa, mas é importante colocar os pingos nos is: apenas com Luciano Spalletti, entre 2007 e 2009, a Roma havia avançado seguidamente ao mata-mata da LC – com o careca, aconteceu três vezes.

Neste século, em apenas seis temporadas a equipe teve mais de dois treinadores. A filosofia de mudança de comando durante a temporada não vinha sendo adotada pela diretoria da Roma, mas convém salientar que duas dessas demissões (um terço, portanto) foram efetuadas na gestão Pallotta: em 2013, Zdenek Zeman deu espaço ao auxiliar Aurelio Andreazzoli, que acabou efetivado, enquanto em 2016 Spalletti ocupou a cadeira deixada por Rudi Garcia.

Desde a saída de Fabio Capello, em 2004, a Roma tem se guiado por dois caminhos técnicos. Ou mira em apostas, como Luciano Spalletti (em sua primeira passagem, vinha da Udinese) Luis Enrique (Barcelona B), Rudi Garcia (Lille) e o próprio Di Francesco (Sassuolo); ou busca pela experiência da velha guarda. Casos de Claudio Ranieri, Zdenek Zeman e, em seu segundo trabalho, o mesmo Spalletti. Nenhum desses perfis parece viável para acabar com o atual momento da equipe.

Resta saber se DiFra terá mais tempo de mostrar que pode se tornar um gerenciador de problemas ou se alguém com currículo e peso mundial estaria disposto a tentar salvar a Roma e iniciar um projeto para 2019-20 em diante. A resposta perpassa a seguinte questão: em quanto tempo James Pallotta e seus sócios desejam recuperar os investimentos feitos de 2011, quando o grupo assumiu o controle acionário, até agora? Os indícios devem começar a surgir no próximo capítulo, após o término do duelo entre Viktoria Plzen e Roma, na Champions League.

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1 Comentário

  • O time é mais fraco que o do ano passado, mas Di Francesco não consegue dar consitência defensiva e insiste em colocar alguns jogadores como titulares bem questionáveis, a exemplo de Olsen e Karlsdrop.

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