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Ídolo na Lazio, Tommaso Rocchi foi, por muito tempo, a careca mais brilhante de Roma

Todo grande time italiano tem pelo menos um jogador que virou ídolo mesmo sem constar no panteão de craques do futebol mundial. Na Lazio, um dos exemplos mais recentes é o do atacante Tommaso Rocchi, que foi dono da faixa de capitão biancoceleste, e um dos jogadores mais regulares na década passada pela equipe. Durante sua passagem pela capital, conseguiu ultrapassar os 100 gols marcados e se tornou o quarto maior artilheiro da história do clube.

Rocchi apareceu para o futebol italiano jogando pelo Empoli, o primeiro clube no qual conseguiu se firmar em âmbito nacional, já aos 24 anos. Três temporadas foram o suficiente para conquistar a torcida dos azzurri da Toscana e ganhar o estofo necessário para brilhar na Lazio. O ex-atacante continua ligado ao clube celeste: depois de passar rapidamente por Inter e Padova e se aventurar pelo futebol húngaro, Tommaso se aposentou em 2016 e deu início à sua carreira como treinador nas categorias de base laziali.

Nascido em Veneza, a terceira cidade italiana que mais recebe turistas, Rocchi deu seus primeiros passos no futebol nas categorias de base do clube local, o Venezia. No entanto, recusou um contrato de quatro temporadas proposto pelo então presidente Maurizio Zamparini para aceitar uma oferta da Juventus, aos 16 anos. “Não foi fácil ficar longe da família e amigos, era muito ruim voltar para casa só de dois em dois meses. Mas na minha mente tinha a ideia de me tornar um jogador de alto nível”, disse Rocchi em entrevista ao jornal Corriere dello Sport.

Na base da Velha Senhora, o atacante conquistou o scudetto Primavera e a Copa de Viareggio de 1994 e a Coppa Italia da categoria sub-19, em 1995. Rocchi foi promovido ao time principal na temporada 1995-96, mas não era fácil conseguir espaço em um elenco recheado de estrelas. O jovem disputava posição com Alessandro Del Piero Fabrizio Ravanelli e Gianluca Vialli, e em seu primeiro ano como profissional, fez parte do elenco campeão da Liga dos Campeões – no entanto, não fez nenhuma partida pelo time principal. Ao final desta temporada, a Juventus decidiu emprestá-lo a clubes menores para que tivesse mais minutos.

Antes de perder a cabeleira, Rocchi teve destaque com a camisa do Empoli (Getty)

Pela Pro Patria, Rocchi disputou a Serie C2 na temporada 1996-97 e teve mais tempo de jogo. Como titular da equipe lombarda anotou seis gols em suas 27 presenças na quarta divisão. Na temporada seguinte foi emprestado ao Fermana, onde ficou apenas três meses e disputou quatro partidas pela Serie C1. Na janela de outono da mesma temporada rumou para o Saronno e teve mais espaço: pela terceirona, conseguiu anotar 10 tentos e ajudou o time da província de Varese a escapar do rebaixamento.

Em 1998, Rocchi passou em definitivo para o Como. No tradicional clube da Lombardia, o atacante atuou como titular por duas temporadas na Serie C1 e voltou a chamar a atenção. Após 25 tentos em 69 partidas pelos comascos, no verão de 2000 recebeu a primeira oportunidade na Serie B italiana, competição que disputaria vestindo a segunda camisa biancoceleste da carreira: depois de passar pelo Saronno, jogaria pelo Treviso. Os vênetos ficaram com o 17º lugar e foram rebaixados na temporada 2000-01, a única na qual Rocchi esteve por lá. Apesar da péssima campanha, o atacante chamou a atenção do Empoli.

Aos 23 anos, Rocchi rumava para a Toscana e era apresentado pelo sétimo clube de sua carreira como profissional. O Empoli foi o primeiro time pelo qual ele conseguiu se firmar de fato. Em seu primeiro ano pelos azzurri, formou um trio de ataque letal ao lado de outros três jovens italianos: Francesco Tavano, Massimo Maccarone e Antonio Di Natale. Somou onze gols na Serie B e ajudou o Empoli a conquistar o acesso, terminando o campeonato à frente de equipes tradicionais, como Napoli, Bari, Sampdoria, Cagliari, Palermo e Genoa. Tommaso permaneceu mais duas temporadas no clube, disputando a Serie A como titular e fazendo gols importantes, que auxiliaram a equipe a garantir a permanência na elite em 2002-03.

Com a camisa azzurra e ainda com cabelo, conseguiu grandes feitos. Em janeiro de 2004 ele marcou o gol da vitória, nos acréscimos, contra a Inter, partida que terminou 1 a 0 e até hoje é a única vitória do Empoli em San Siro no histórico do confronto. Uma semana depois, marcou uma tripletta contra seu ex-clube, a Juventus, em uma partida épica que terminou empatada no Carlo Castellani. Além de tudo isso virou o xodó da torcida, a ponto de vencer o primeiro Leone d’Argento. O prêmio, de frequência anual, foi criado em 2003 e tem votação aberta para que o público de Empoli e região coroe o jogador que obteve maior destaque com a camisa do clube toscano.

Ainda com algum cabelo, Rocchi começou a construir sua trajetória de ídolo da Lazio através de momentos importantes, como gols em dérbis (AFP/Getty)

Em 2004, o Empoli acabou rebaixado. No entanto, do ponto de vista individual, Rocchi teve seu melhor ano no clube, marcando 11 gols. O nível de suas atuações em 2003-04 foi preponderante para que pudesse dar mais um salto na carreira, assinando com a Lazio – que investiu 4 milhões de euros para contratá-lo. Dessa forma, Tommy se despediu do Empoli com 118 partidas e 30 gols.

Quando Rocchi chegou, a Lazio passava por um momento de grande instabilidade. A equipe era a atual campeã da Coppa Italia, mas tinha acabado de afastar um sério risco de falência graças a Claudio Lotito, que adquiriu o clube junto a Sergio Cragnotti. Tommy foi um dos primeiros reforços da era Lotito e dela se tornou símbolo: defendeu a agremiação biancoceleste por nove temporadas, disputou Liga dos Campeões, conquistou títulos nacionais e chegou a ser convocado à seleção italiana. Nesse período, sem dúvidas viveu o auge da sua carreira.

Na primeira temporada na Cidade Eterna, Rocchi foi titular numa dupla de ataque com outro recém-chegado: Paolo Di Canio, que após 14 anos de peregrinação havia retornado à equipe biancoceleste. Apesar da companhia do ídolo da torcida, com quem até mesmo dividia quarto na concentração, Tommy é que foi o artilheiro laziale na campanha, com 17 gols. Um deles foi anotado na vitória por 3 a 1 no dérbi contra a Roma.

Em 2005-06, a chegada de Delio Rossi ao comando da Lazio fez com que Rocchi se tornasse o principal jogador do time. Aos poucos, o atacante ia se identificando com a torcida, no caminho certo para se tornar um ídolo. Embora fosse um segundo atacante, Tommy continuava a manter uma grande média de gols: foi de novo o artilheiro da temporada e repetiu a contagem de 17 gols, sendo importante para salvar o time do rebaixamento. Naquele ano, o Calciopoli eclodiu e Lazio foi penalizada com a perda de 30 pontos devido ao envolvimento de dirigentes no escândalo.

Na Lazio, além de gols contra a Roma, Rocchi conseguiu conquistar duas taças (AFP/Getty)

Ainda em 2006, Tommy recebeu sua primeira convocação para a seleção italiana. A Itália acabara de ser campeã do mundo sob comando de Marcello Lippi, mas o treinador optou por não seguir no comando da Nazionale e foi substituído por Roberto Donadoni, que convocou Rocchi para testá-lo no primeiro jogo pós-tetra – um amistoso contra a Croácia. Ainda sob o comando de Donadoni, o atacante representou o país contra Turquia e Ilhas Faroe.

Sem Tommasino, a Squadra Azzurra teve participação discreta na Euro 2008. O atacante da Lazio, porém, acabou por vestir a camisa italiana dois meses depois, do outro lado do mundo, nos Jogos Olímpicos de Pequim. Com quase 31 anos, foi o único jogador que não tinha idade olímpica a ser chamado por Pierluigi Casiraghi. Rocchi marcou um gol diante da Coreia do Sul, na fase de grupos, mas se lesionou no mesmo duelo e foi cortado. A seleção sub-23 caiu nas quartas de final diante da Bélgica, que construía sua geração dourada.

No período em que defendeu as cores laziali, Rocchi conquistou uma Coppa Italia, em 2009 – a quinta da história da Lazio. Embora tenha desperdiçado sua cobrança na decisão por pênaltis, contra a Sampdoria, a final foi especial para Tommy, que fazia sua 200ª partida pelo clube. Também foi a última vez em que o atacante vestia a camisa 18: a partir de 2009-10, usaria a 9.

A estreia com o número utilizado anteriormente por Silvio Piola, Giorgio Chinaglia e Bruno Giordano foi fantástica. A Lazio venceu a Supercopa Italiana contra a forte Internazionale de José Mourinho por 2 a 1, e o gol da vitória saiu dos seus pés: mais precisamente, um golaço por cobertura sobre o brasileiro Júlio César. Rocchi chegou a ser capitão por algumas temporadas, mas teve problemas com lesões o que o fizeram perder espaço entre os titulares. Mesmo assim, o veneziano alcançou a marca dos 100 gols na décima rodada da Serie A 2011-12 contra o Cagliari no Sant’Elia.

A última experiência de Tommasino nos grandes palcos foi pela Inter (AFP/Getty)

Sua trajetória em biancoceleste durou até janeiro de 2013, quando foi encerrada com 293 aparições e 105 gols – com três tentos a menos que Giordano, Rocchi é o quinto maior artilheiro da história da Lazio. Com pouco espaço na capital, Tommy se despediu dos aquilotti para assinar com a Inter, que precisava de uma alternativa para seu ataque. Dessa forma, fechou um contrato de seis meses que poderia ser prolongado.

Tommasino não encontrou uma Inter organizada. Ao contrário: foi reserva de um elenco que deixou os nerazzurri na nona posição, a pior do clube desde 1993-94. Rocchi entrou em campo 16 vezes pela equipe de Milão e marcou apenas três tentos, o que não garantiu sua renovação de contrato. Sem clube, foi de graça para o Padova, mas também teve passagem curta pelo Vêneto. Permaneceu nove meses disputando a Serie B e anotou cinco gols na temporada em que os biancoscudati faliram e tiveram que recomeçar da Serie D.

Terminada a sua história no futebol italiano, Tommy rumou para o futebol húngaro, onde jogaria mais duas temporadas antes de encerrar sua carreira. Devido aos problemas financeiros do Padova, foi a custo zero para o Haladás, clube em que lutou contra o rebaixamento da elite até a última rodada. No Tatabánya, da terceirona do país do Leste Europeu, Rocchi trabalharia ao lado de outros italianos, como o treinador Bruno Giordano.

No entanto, a passagem pelas divisões inferiores da Hungria foi péssima. O clube passava por problemas financeiros, mas Rocchi mal conseguiu jogar por conta de problemas físicos e passou a maior parte do tempo entre as arquibancadas e o banco de reservas. Depois de apenas seis partidas em uma temporada, o atacante decidiu pendurar as chuteiras com quase 39 anos, quando aceitou o convite da Lazio para ser treinador das categorias de base. Atualmente dirige o sub-14 e segue o mesmo caminho feito por Simone Inzaghi, que hoje é um dos treinadores de primeira linha do futebol italiano.

Tommaso Rocchi
Nascimento: 19 de setembro de 1977, em Veneza, Itália
Posição: atacante
Clubes: Juventus (1995-96), Pro Patria (1996-97), Fermana (1997), Saronno (1997-98), Como (1998-2000), Treviso (2000-01), Empoli (2001-04), Lazio (2004-13), Inter (2013), Padova (2013-14), Haladás (2014-15) e Tatabánya (2015-16)
Títulos: Liga dos Campeões (1996), Coppa Italia (2009) e Supercopa Italiana (2009)
Seleção italiana: 5 jogos e 1 gol

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