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A Inter está livre das sanções do Fair Play Financeiro: e agora?

Em meio à luta por uma vaga na Liga dos Campeões, a Inter recebeu uma ótima notícia na última semana. Na verdade, ela já era esperada, mas enfim a Uefa anunciou que o clube nerazzurro foi um dos que conseguiram cumprir o termo de acordo do Fair Play Financeiro (FFP): o famigerado settlement agreement, firmado em maio de 2015. Fato comemorado pela diretoria, que afirmou ter sido resultado da “solidez e do crescimento do clube”, que reforçou sua situação financeira “com medidas totalmente adequadas às regras impostas”.

Com profundos problemas nas contas após a gestão de Massimo Moratti, a Inter foi praticamente forçada a participar do regime de adequação aos parâmetros determinados pelo FFP para poder voltar a participar das competições organizadas pelo Uefa. O fracasso no primeiro ano do acordo ainda provocou mais multas e punições, que obrigaram a equipe a ter limites de inscrição de jogadores, no número de relacionados e até nos valores gastos entre compras e vendas. Também levaram a uma maior rigidez na fiscalização dos balanços pela entidade.

Para a Inter, a melhor novidade em relação ao final do termo de acordo realmente é o fato de que o clube está desobrigado dos limites para inscrever e contratar jogadores. Contudo, isso pouco mudará as ações da diretoria, que seguirá as regras do FFP. Uma das principais determinações do programa é a de que um clube não pode registrar um negativo de 30 milhões de euros nos seus balanços no período de um triênio. Ou seja, se a Inter fechar 2018-19 no vermelho, a soma com os dois balanços seguintes não poderá superar esse limite.

Claro, a diretoria interista terá maior manobra no mercado e na gestão das suas contas, assim como seus sócios prometem maiores investimentos nos próximos anos. Porém, de qualquer forma, uma postura responsável para evitar balanços negativos continuará sendo uma das principais políticas financeiras da família Zhang – conduta compartilhada pelo CEO, Alessandro Antonello, e pelo diretor esportivo, Giuseppe Marotta. A cúpula nerazzurra destacou a continuidade em nota à imprensa: “o clube continuará a respeitar o regime de normal monitoramento do FFP e manterá a estratégia de gestão financeira desempenhada nos últimos anos”.

Não é surpresa, portanto, que a Inter continuará a estar atenta aos lucros nas vendas de jogadores. Uma conta simples, que prevê a entrada de capital com as saídas e inclui o valor bruto da transferência e seu valor de mercado no balanço do clube. A operação ainda computa os gastos com salários, renovações, bônus e o próprio valor investido na contratação do jogador. Uma tática bastante utilizada pelos grandes clubes para elevar a arrecadação na finalização dos seus balanços financeiros.

“Os parâmetros do Fair Play Financeiro são muito rígidos e os lucros resultam em um fator comum para todos os clubes de futebol e, por isso, nós também devemos seguir esse caminho. A Inter, porém, tem grandes ambições e, respeitando as regras, faremos os investimentos necessários para nos aproximarmos cada vez mais de objetivos mais importantes”, comentou Marotta. O cartola já estava acostumado com as práticas desde os tempos de Juventus, sendo um dos cabeças para a consolidação financeira dos bianconeri.

Como destacado pelo site Calcio e Finanza, referência na língua italiana quando o assunto é futebol e economia, a Inter fechou os balanços de 2016-17 e 2017-18 no zero – ou seja, sem prejuízos. Por isso, naturalmente o clube pode se permitir a ter um vermelho de 30 milhões de euros no balanço de 2018-19. A provável e custosa demissão de Luciano Spalletti e seu estafe deverá entrar nessa conta, mas a posição da diretoria é mais agressiva: já prevendo esse custo, irá procurar abater essas despesas com vendas de jogadores até o final de junho, período em que se encerra a vigência do ano fiscal.

Ao contrário dos últimos anos, isso não será algo obrigatório para evitar o vermelho, mas sim uma opção para ter maior margem de gastos em 2020 e 2021. Por isso, a venda de Mauro Icardi seria fundamental para as contas do clube, uma vez que o argentino tem valor quase nulo no balanço – por ter sido contratado a um baixo valor. Dessa forma, qualquer que seja o montante de sua possível transferência, este indicaria um lucro gigantesco para os nerazzurri. Não à toa, a cláusula rescisória de Icardi vale exatamente durante esse período – ainda que dificilmente os 110 milhões de euros serão atingidos hoje.

Agora com maior liberdade financeira, a Inter deverá estar mais atenta à forma como gasta. A demissão de Spalletti, por exemplo, só é custosa pela estranha decisão de ter renovado o contrato do treinador até 2021 sem a convicção de contar com ele durante esse tempo. Contratado inicialmente por um ano, o toscano sempre teve um projeto de curto prazo para colocar a equipe de volta na Liga dos Campeões, mas nunca tinha sido visto como o treinador ideal para liderar a equipe no próximo passo.

Por isso, Marotta e companhia deverão ter cuidado com o contrato de Antonio Conte, que provavelmente será o novo comandante técnico da equipe na nova fase do clube: a de consolidar seu crescimento e melhorar sua posição na Serie A. Via de regra, a classificação para a Liga dos Campeões deverá voltar a ser um hábito para os nerazzurri, para efeito em suas contas, e não apenas o objetivo do final da temporada. Por outro lado, o ex-treinador de Juventus e Chelsea se destacou por também ter trabalhos de períodos curtos. Um contrato muito longo pode ser um problema, do ponto de vista econômico.

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