Serie A

Na dança das cadeiras dos técnicos na Itália, alguma coisa ficou fora da ordem

Os principais times da Itália contrataram novos treinadores para a temporada 2019-20. A hegemônica Juventus abriu mão do pragmatismo de Massimiliano Allegri e ousou acertando com o contracultural Maurizio Sarri. A Inter apostou em Antonio Conte para fazer o time voltar a competir nas cabeças, algo que Luciano Spalletti não conseguiu. Já Milan e Roma investiram em dois técnicos com ideias ofensivas, Marco Giampaolo e Paulo Fonseca, respectivamente, para os próximos anos.

O curioso é que três desses quatro comandantes recém-contratados têm passado ligado a clubes que são rivais de suas equipes atuais. Torcedor declarado do Napoli, Sarri criou fortes laços com o povo napolitano. Treinou o time partenopeo de 2015 a 2018 e protagonizou uma acirrada briga pelo scudetto de 2017-18 justamente contra o clube que agora defende. Sua ligação com a agremiação do sul da Itália é tamanha que deixou juventinos e napolitanos furiosos com a decisão de aceitar trabalhar na Juve.

“Treinar o Napoli foi o meu sonho desde que eu era criança. Nasci casualmente na capital da Campânia com dois pais toscanos, mas na minha ingenuidade sempre pensei que cada um de nós tivesse que torcer para a equipe da cidade em que nasceu. E assim, entre dezenas de florentinos, eu sempre me vi torcendo sozinho pelo Napoli.”
Maurizio Sarri

“Eu já disse e digo novamente: para nós, napolitanos, foi uma traição”, sentenciou durante a pré-temporada Lorenzo Insigne, meia-atacante e capitão do Napoli, sobre a ida de Sarri à Vecchia Signora. “E sempre será. Agora, temos que focar em nós mesmos e tentar vencê-lo. O scudetto é um sonho para todos nós e vamos tentar mais uma vez”, acrescentou.

O título da Serie A também é um objetivo da Inter, em médio prazo. Para que isso ocorra, a diretoria e os torcedores apostam, sobretudo, em Conte, ex-juventino com passagem brilhante, dentro e fora de campo, por Turim. Quando jogador, o ex-volante ganhou tudo o que disputou com a camisa bianconera na década de 1990 e ostentou a faixa de capitão da equipe por cinco anos, até entregá-la a Alessandro Del Piero. Depois, como técnico, ajudou a reerguer uma Juventus que havia caído para a Serie B por causa do envolvimento no escândalo Calciopoli.

Agora, Conte precisa quebrar a desconfiança dos torcedores interistas. E a melhor maneira de fazê-lo é recolocando a Inter na rota do estrelato. Filho de imigrantes italianos e torcedor declarado da Beneamata, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, acredita que Conte possa fazer a equipe de Milão competir com a Juve. “Eu nem conto mais os títulos italianos da Juve, estão dominando com méritos. Mas agora a Inter contratou Conte, o melhor que há, e quem sabe um juventino salve a Inter”, brincou o ítalo-suíço.

Os objetivos do rival citadino da Inter não são tão ambiciosos, a médio prazo, quanto os dos nerazzurri. Após mais uma temporada aquém do esperado, o Milan não pensou duas vezes ao abrir mão de Gennaro Gattuso. O homem escolhido como sucessor de Rino foi Giampaolo, que já esteve na pauta de contratações do clube em meados desta década. Adepto do futebol propositivo, ele terá à disposição um grupo recheado de jovens para fazer a equipe retornar às noites europeias da Liga dos Campeões.

Aprovado por boa parte da torcida milanista, o ex-treinador da Sampdoria era torcedor fanático da Inter na infância. “Quando criança, eu era torcedor da Inter. Meu pai também era um grande torcedor, como eu”, afirmou Giampaolo, ao Secolo XIX. “(…) O meu maior sonho era viver a atmosfera de San Siro, mas, infelizmente, nunca fui lá [como torcedor]. Todos os meus amigos torciam para a Juventus, e eles eram numerosos. Para defender as minhas cores, nós brigamos muitas vezes; eu me importava realmente”, completou o treinador, que garante ter deixado a paixão de lado “no início da minha carreira como jogador”.

Ancelotti interista?

Dos grandes elencos da Serie A, o Napoli foi o único clube que não mudou de comandante recentemente. Também pudera: o treinador dos azzurri é Carlo Ancelotti, um dos mais prestigiados da Europa. Carletto tem forte ligação com o Milan, time pelo qual conquistou inúmeros títulos como jogador e como técnico. Porém, antes de criar laços com os rossoneri – e, claro, com a Roma, onde jogou por muitos anos –, Ancelotti era torcedor da Inter. Em entrevista à Gazzetta dello Sport, em dezembro de 2018, ele contou uma anedota sobre sua infância interista.

“Meu primo, que tinha ido trabalhar em Milão, havia me trazido a camisa da Inter quando eu tinha seis anos. A primeira vez que eu vi a Inter foi em 1970. Eles vieram jogar em Mantova e o meu pai me levou, mas não encontramos ingresso. Ele disse ‘Vamos voltar para casa’ e eu ‘Mas que voltar para casa! Estamos aqui’. Fiquei na frente de um portão do estádio e comecei a chorar amargamente. Eu tinha 11 anos, e ao fim do primeiro tempo, um guarda me disse ‘Se você parar de chorar, eu te deixo entrar’. A Inter venceu aquela partida por 6 a 1, mas o primeiro tempo terminou 0 a 0. Eu vi todos os gols. Meu pai ficou me esperando lá fora”. Curiosamente, Don Carletto também chegou a fazer um amistoso com a camisa nerazzurra, mas a Roma fez uma proposta melhor e tirou o jovem do Parma.

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