Depois de demitir Vanderlei Luxemburgo, o Palmeiras não sossegou em busca de um treinador até “efetivar” Jorginho. Se Muricy Ramalho sempre foi a primeira opção, um boato vindo de sabe-se lá onde chamou atenção por sua singularidade: Alberto Zaccheroni. A especulação talvez esteja ligada às origens italianas do Palmeiras, mas abre as portas para um fato: Zaccheroni está sempre sem clube, é sempre uma hipótese e sempre está disponível.
Livorno, Bari, Palmeiras, os turcos do Trabzonspor, os espanhóis do Racing, um clube chinês, um outro japonês e um árabe: pelo jeito, todos querem Zaccheroni. Mas ele nunca é contratado. A paixão pelo filme Forrest Gump, certa vez revelada ao Corriere dello Sport, deve ter algum motivo. Zac tem três grandes feitos em sua carreira: a recuperação do alemão Oliver Bierhoff, a classificação inédita da Udinese para uma Copa da Uefa e um scudetto por um Milan que vinha de dois anos medíocres. E só.
Os desastres, por outro lado, não são poucos. Daquele que no ápice da carreira poderia ser tomado como o sucessor de Capello, dez anos depois de seu único título na carreira quase não há traços. Alberto Zaccheroni foi um técnico revolucionário e conseguiu sair da quinta divisão para a Liga dos Campeões com seu inseparável 3-4-3. Durante esse tempo, fez história colocando a Baracca Lugo na Serie C1, o Venezia na B e arquitetando um Cosenza que começou a B com nove pontos de penalização e quase foi promovido para a A.
Chamou a atenção da Udinese. No Friuli, Zac passou três anos no comando de um time de belíssimo futebol e resultados cada vez mais positivos. Em sua última temporada no Friuli, conseguiu uma terceira colocação com o tridente Poggi-Amoroso-Bierhoff que lhe pôs nos holofotes do futebol italiano. Era o homem certo para o Milan, que vinha de dois péssimos anos depois de uma década de triunfos. Apesar das críticas constantes de Berlusconi a seus métodos e estilo de jogo, logo em sua primeira temporada veio o surpreendente scudetto sobre Lazio e Fiorentina. O único título da carreira foi o divisor de águas.
Desde então, a carreira de Zaccheroni desandou. Berlusconi não perdia a oportunidade de cutucar o esquema com três defensores e a queda traumática na segunda fase de grupos da Liga dos Campeões 2000-01 para Deportivo La Coruña e Galatasaray serviu de motivo para sua demissão ao vivo ainda com a Serie A em curso. Meses depois, o treinador teve outra ótima oportunidade: substituir Dino Zoff no banco da Lazio. Mas a eliminação na primeira fase da Liga dos Campeões e a humilhante goleada sofrida para a Roma por 5 a 1 lhe garantiram a carta de demissão por Sergio Cragnotti.
Após mais de um ano desempregado, na temporada 2003-04 chegou na Inter com a missão de reerguer a Inter que naufragara com Héctor Cúper. No seu time de coração, começou com uma sequência entusiasmante de vitórias, mas depois colecionou eliminações: Liga dos Campeões, Copa da Uefa e Coppa Italia, além de uma modesta quarta colocação na Serie A. Outra demissão no currículo, desta vez por Massimo Moratti. E, pela segunda vez seguida, seria substituído por Roberto Mancini.
Só voltaria a treinar entre setembro de 2006 e fevereiro de 2007, quando comandou o Torino em seu centenário, mas acabou demitido pela falta de resultados depois de um bom começo. Nunca mais voltou a algum banco, muito pela presunção de sempre exigir um salário alto demais e recusar propostas de clubes médios, ao invés de seguir o exemplo de Trapattoni, que aceitou o desafio de comandar Fiorentina e Cagliari nos anos 90 depois de ter vencido tudo. E assim Alberto Zaccheroni caiu no esquecimento. E só o calciomercato é que consegue trazê-lo à tona.
Alberto Zaccheroni
Nascimento: 1 de abril de 1953, em Meldola
Clubes: Cesenatico (1983-85), Riccione (1985-87), Boca San Lazzaro (1987-88), Baraccia Lugo (1988-90), Venezia (1990-93), Bologna (1993-94), Cosenza (1994-95), Udinese (1995-98), Milan (1998-01), Lazio (2001-02), Inter (2003-04), Torino (2006-07)
Título: Campeonato Italiano (1999)