Técnicos

Alberto Zaccheroni, ainda que tenha obtido feito invejável, foi uma promessa não cumprida

Depois de demitir Vanderlei Luxemburgo, em 2009, o Palmeiras não sossegou em busca de um treinador até “efetivar” Jorginho. Se Muricy Ramalho sempre foi a primeira opção, um boato vindo de sabe-se lá onde chamou atenção por sua singularidade: Alberto Zaccheroni. A especulação talvez tenha relação com as origens italianas do Palmeiras, mas abre as portas para um fato: Zac ficou conhecido por ficar quase sempre sem clube nos anos 2000, sempre sendo uma hipótese e sempre estando disponível. Ainda assim, conseguiu um feito daqueles mais tarde: se tornou um dos poucos capazes de dirigir os três gigantes da Velha Bota.

Livorno, Bari, Palmeiras, os turcos do Trabzonspor, os espanhóis do Racing, um clube chinês, um outro japonês e um árabe: pelo jeito, todos queriam Zaccheroni no fim dos anos 2000. Mas ele nunca foi contratado. A paixão pelo filme Forrest Gump, certa vez revelada ao Corriere dello Sport, deve ter algum motivo. Zac tinha três grandes feitos em sua carreira, àquela altura: a recuperação do alemão Oliver Bierhoff, a classificação inédita da Udinese para uma Copa Uefa e um scudetto por um Milan que vinha de dois anos medíocres. E só.

Os desastres, por outro lado, não são poucos. Daquele que no ápice da carreira poderia ser tomado como o sucessor de Fabio Capello, dez anos depois de seu único título na carreira quase não há traços. Alberto Zaccheroni foi um técnico revolucionário e conseguiu sair da quinta divisão para a Liga dos Campeões com seu inseparável 3-4-3. Durante esse tempo, fez história colocando o Baracca Lugo na Serie C1, o Venezia na B e arquitetando um Cosenza que começou a segundona com nove pontos de penalização e quase foi promovido para a elite. Em geral, com o Lugo e os vênetos, partindo do nível de número cinco da pirâmide, obteve três promoções seguidas – um recorde que só ele e Giuseppe Pillon têm.

Trajetória ascendente pela Udinese alavancou a carreira do técnico (imago)

Chamou a atenção da Udinese. No Friuli, Zac passou três anos no comando de um time de belíssimo futebol e resultados cada vez mais positivos. Em sua última temporada no Friuli, conseguiu uma terceira colocação com o tridente formado por Paolo Poggi, Amoroso e Bierhoff, que lhe pôs nos holofotes do futebol italiano. Era o homem certo para o Milan, que vinha de dois péssimos anos depois de uma década de triunfos. Apesar das críticas constantes de Berlusconi a seus métodos e estilo de jogo, logo em sua primeira temporada veio o surpreendente scudetto sobre Lazio e Fiorentina. O único título expressivo da carreira, até então, foi o divisor de águas.

Desde então, a carreira de Zaccheroni desandou. Berlusconi não perdia a oportunidade de cutucar o esquema com três defensores e a queda traumática na segunda fase de grupos da Liga dos Campeões 2000-01 para Deportivo La Coruña e Galatasaray serviu de motivo para sua demissão ao vivo ainda com a Serie A em curso. Meses depois, o treinador teve outra ótima oportunidade: substituir Dino Zoff no banco da Lazio. Mas a eliminação na primeira fase da Liga dos Campeões e a humilhante goleada sofrida para a Roma por 5 a 1 lhe garantiram a carta de demissão por Sergio Cragnotti.

Zac faturou um scudetto pelo Milan (imago)

Após mais de um ano desempregado, na temporada 2003-04 chegou na Inter com a missão de reerguer a Inter que naufragara com Héctor Cúper. No seu time de coração, começou com uma sequência entusiasmante de vitórias, mas depois colecionou eliminações: Liga dos Campeões, Copa Uefa e Coppa Italia, além de uma modesta quarta colocação na Serie A. Outra demissão no currículo, desta vez por Massimo Moratti. E, pela segunda vez seguida, seria substituído por Roberto Mancini.

Só voltaria a treinar entre setembro de 2006 e fevereiro de 2007, quando comandou o Torino em seu centenário, mas acabou demitido pela falta de resultados, depois de um bom começo. Foram quase três anos até voltar a algum banco, muito pela presunção de sempre exigir um salário alto demais e recusar propostas de clubes médios, ao invés de seguir o exemplo de Giovanni Trapattoni, que aceitou o desafio de comandar Fiorentina e Cagliari nos anos 1990 depois de ter vencido tudo. E assim Alberto Zaccheroni caiu no esquecimento. E só o calciomercato é que conseguia trazê-lo à tona.

Zaccheroni começou bem na Inter, mas acabou demitido (AFP/Getty)

Em janeiro de 2010, porém, uma surpresa. Seguindo o exemplo de Trap, Zac se tornou o terceiro técnico a dirigir os três gigantes da Itália – como já havia passado por Milan e Inter, faltava a Juventus. E a Velha Senhora, vivendo uma das maiores crises de sua história, decidiu lhe dar uma oportunidade no lugar do ídolo Ciro Ferrara. Antes dele e de Trapattoni, apenas o húngaro József Viola passara por tais clubes. O romanholo, entretanto, conseguiria algo único. Até hoje, só ele comandou os dois grandes de Milão e Turim.

A experiência de Zaccheroni na Juventus foi péssima. A equipe, ainda baqueada pelo Calciopoli, colecionou vexames: foi eliminada pelo Fulham nas oitavas de final da Liga Europa, após goleada por 4 a 1, e terminou a Serie A apenas na sétima posição; a sua pior desde 1999, excluindo, obviamente, o rebaixamento por envolvimento de diretores no escândalo de manipulação de resultados.

Ao chegar à Juventus, Zaccheroni obteve feito para poucos (Getty)

Apesar do péssimo desempenho no Piemonte, Zaccheroni teve a carreira alavancada novamente. Em agosto de 2010, foi anunciado como novo técnico do Japão e, à frente dos Samurais Azuis, fez um bom trabalho: estabeleceu o recorde de invencibilidade da seleção (20 partidas) e faturou tanto a Copa da Ásia quanto a Copa da Ásia Oriental. O italiano comandou os nipônicos na Copa das Confederações de 2013, ocasião em que enfrentou a Itália, perdendo por 4 a 3 em Recife, e no Mundial de 2014. Após 55 jogos, pediu o boné.

Zaccheroni seguiu na Ásia. Teve um trabalho curto no Beijing Guoan, da China, e depois foi escolhido para comandar a seleção dos Emirados Árabes Unidos. Sem o mesmo sucesso dos tempos de Japão, o máximo que conseguiu foi ser semifinalista da copa continental. Em seguida, passou a se dedicar a iniciativas sem fins lucrativos, ao ofício de comentarista e também foi membro do grupo de estudos da Fifa para o Mundial de 2022.

Atualizado em 2024.

Alberto Zaccheroni
Nascimento: 1 de abril de 1953, em Meldola, Itália
Clubes: Cesenatico (1983-85), Riccione (1985-87), Boca San Lazzaro (1987-88), Baraccia Lugo (1988-90), Venezia (1990-93), Bologna (1993-94), Cosenza (1994-95), Udinese (1995-98), Milan (1998-2001), Lazio (2001-02), Inter (2003-04), Torino (2006-07), Juventus (2010), Japão (2010-14), Beijing Guoan (2016) e Emirados Árabes Unidos (2017-19)
Títulos: Campeonato Interregionale (1987 e 1989), Serie A (1999), Copa da Ásia (2011) e Copa da Ásia Oriental (2013)

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