Apesar de toda a rivalidade no confronto, o Derby della Madonnina, disputado entre Inter e Milan, tem um detalhe interessante” não é raro ver ex-jogadores de um time indo diretamente para o outro. Alguns deles foram Cristian Brocchi, Andrea Pirlo, Dario Simic, Clarence Seedorf, Christian Vieri e Giuseppe Favalli rumo ao Milan e Ümit Davala, Francesco Coco, Thomas Helveg e Guly para a Inter. No final da década de 1990, uma transferência peculiar foi a de Maurizio Ganz.
Aos 17 anos, ele era um atacante da Sampdoria que começava a dar seus primeiros passos na carreira profissional. Já esperava-se muito do friulano Maurizio Ganz, alçado aos profissionais do time por Vujadin Boskov. Dois anos e dez jogos depois, foi emprestado ao Monza e ao Parma, nos quais viveu um ótimo momento na Serie B. Transferido para o Brescia, manteve a boa fase e garantiu o título de artilheiro da segunda divisão na temporada 1991-92, com 19 gols.
Ganz afirmou-se em Bérgamo. Comprado pela Atalanta no verão de 1992, marcou 29 vezes em suas três temporadas pelos nerazzurri, o suficiente para tornar-se uma aposta importante de Massimo Moratti para sua Internazionale, em seu primeiro ano como presidente.
O atacante foi muito bem pelo time nerazzurro, marcando 13 gols em sua temporada de estreia e seus números estiveram longe de decepcionar. Ganz guardou mais 11 no ano seguinte pela Serie A, além de outros dez em copas europeias e três pela Coppa Italia.
Tudo mudou no decorrer da temporada 1997-98. Com a chegada de Ronaldo, vindo de uma temporada esplêndida no Barcelona, Ganz perdeu espaço. Gigi Simoni o preteriu, preferindo Marco Branca, Álvaro Recoba e Iván Zamorano para formar dupla com o fenômeno brasileiro.
Longe de estar feliz, Ganz se mandou para o Milan em dezembro de 1997 e se vingou muito bem, marcando um dos gols da goleada no dérbi histórico que o Diavolo venceu por 5 a 0. No ano seguinte, Ganz’n’Roses ainda venceria seu único scudetto, sob o comando de Alberto Zaccheroni.
Em Milão, já o chamavam de “El segna semper lu” – frase que, no dialeto milanês, significa “aquele que sempre marca gols”. O apelido teria seus motivos. Entre 1995 e 2000 anotou vários gols, muitos deles decisivos, mas surpreendia que um dos melhores atacantes italianos nunca chegasse à seleção – foi convocado por Arrigo Sacchi uma vez, mas não entrou em campo.
Ganz acabou provando como o mundo do futebol pode esquecer rapidamente. A Inter não fez questão de seu futebol para contar com suas estrelas internacionais. E o Milan faria o mesmo em janeiro de 2000. Com Oliver Bierhoff, Leonardo e Andriy Shevchenko titulares no tridente ofensivo, Ganz pediu e foi negociado com o Venezia. Um ano depois do título nacional, terminaria a temporada sendo rebaixado à Serie B.
A partir daí, a carreira de Ganz degringolou. Seu retorno à Atalanta não foi bem-sucedido, deixou a Fiorentina pela porta dos fundos e só pelo Ancona voltou a ter bons resultados, com a promoção para a Serie A em 2003. Ainda assim, o ano seguinte marcaria outro rebaixamento, seguido por passagens desastrosas em Modena, Lugano (segunda divisão suíça) e Pro Vercelli (quarta italiana). Um fim triste para aquele que passou metade da carreira com expectativas de chegar à seleção italiana, mas terminou sem tê-la conquistado.
Muito pelo contrário, aliás. O título mundial de seu currículo veio com a Padânia, seleção que defendeu na Copa do Mundo VIVA, um torneio entre times nacionais não reconhecidos pela Fifa. Ganz poderia ter alcançado mais na carreira. Mas para isso precisaria ter encontrado em Simoni (Inter) e Zaccheroni (Milan), além de Cesare Maldini e Dino Zoff, técnicos da Nazionale na época de seu auge, a mesma confiança dada por Boskov em seu início.
Maurizio Ganz
Nascimento: 13 de outubro de 1968, em Tolmezzo, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Sampdoria (1986-88), Monza (1988-89), Parma (1989-90), Brescia (1990-92), Atalanta (1992-95 e 2000-01), Inter (1995-97), Milan (1997-99), Venezia (1999-2000), Fiorentina (2001-02), Ancona (2002-04), Modena (2004-05), Lugano (2005-06) e Pro Vercelli (2006-07)
Títulos como jogador: Coppa Italia (1988), Serie B (1992) e Serie A (1999)
Clubes como treinador: Ascona (2014-16 e 2017-18), Bustese (2016-17), Taverne (2018-19) e Milan (2019-23; feminino)