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Eternas promessas: Gianluigi Lentini

Uma Liga dos Campeões, uma Supercopa Uefa, três Campeonatos Italianos, três Supercopas nacionais e uma Serie B. O currículo é de altíssimo nível, já o futebol… Bom, o futebol foi um dos mais vistosos do final da década de 1980 e do início da de 1990. No entanto, o declínio da carreira de Gianluigi Lentini foi tão meteórico quanto sua ascensão. Alguns não devem nem conhecer o sobrenome do ala ou ponta que já ostentou o topo da lista de jogador mais caro da história do futebol.

O início, o crescimento e a seleção
Lentini nasceu em 1969 na pequena cidade de Carmagnola, província de Turim. Desde jovem o garoto mostrava boa desenvoltura com a bola nos pés e a velocidade acima da média o puxou para a lateral do campo. Nas categorias de base do Torino, melhorou seu jeito de bater na bola e os cruzamentos perfeitos para dentro da área se tornaram sua principal característica. Com apenas 17 anos de idade, fez sua estreia pela equipe principal do Torino. Foram 11 participações na Serie A de 1986-87 e mais 11 na do ano seguinte, antes de sair emprestado para o Ancona, da Serie B.

Foi jogando a segunda divisão nacional que o garoto explodiu. Lentini se firmou como titular absoluto do time (jogou 37 das 38 partidas do campeonato), fez quatro gols e foi um dos maiores destaques da liga mesmo com a modesta 13ª colocação alcançada pelo Ancona. Nesse meio tempo, o Torino fez péssima campanha na elite e acabou rebaixado para a Serie B. Lentini, então, voltou para o Toro e jogou mais um ano na divisão inferior. Dessa vez, contudo, foi campeão. Foi o primeiro título da carreira do jovem de então 21 anos.

Nos anos seguintes, ele cresceu e apareceu. O Torino voltou à Serie A em grande forma e já no ano de seu retorno conquistou vaga para a antiga Copa Uefa. Nessa campanha, Lentini entrou em campo 34 vezes e marcou cinco gols. As boas apresentações renderam-lhe sua primeira convocação para a seleção italiana. A estreia aconteceu no dia 13 de fevereiro de 1991, no empate em 0 a 0 com a Bélgica.

Lentini (centro) festeja pelo Torino (imago)

A temporada seguinte foi ainda mais brilhante para Lentini e para o Torino: com grandes atuações do ala, os granata chegaram na final da Copa da Uefa, depois de eliminar o Real Madrid nas semifinais, e terminaram em terceiro lugar no Campeonato Italiano, atrás apenas de Juventus e Milan. Na Serie A, foi um dos artilheiros, com cinco gols. Ficou atrás apenas de Enzo Scifo, que fez nove, e do brasileiro Walter Casagrande, que marcou seis vezes. Lentini fez mais gols do que o outro atacante do time na época: ninguém mais, ninguém menos que Christian Vieri.

No torneio europeu, a equipe italiana só não se sagrou campeã por causa do critério de gols fora de casa. No duelo contra o Ajax, a primeira partida terminou 2 a 2 em Turim e a segunda em 0 a 0, na Holanda. Lentini, porém, já tinha exportado seu nome em nível continental e se tornado um dos grandes jogadores da época. Tanto que no mercado de verão seguinte, despertou o interesse de grandes times europeus e foi responsável por briga ferrenha entre Juventus e Milan para ver quem levaria seu passe.

Foi o Milan do recém-chegado Silvio Berlusconi que ganhou. O presidente megalomaníaco desembolsou cerca de 19 bilhões de liras italianas (algo em torno de 30 milhões de euros nos dias de hoje) e financiou a transferência mais cara que o futebol já vira. A quantia era tão fora dos padrões da época que o governo chegou a suspeitar de lavagem de dinheiro. Nunca nada foi provado. Fato é que Lentini encabeçou a lista de super transferências por mais quatro anos, quando Alan Shearer se transferiu do Blackburn para o Newcastle por quantia equivalente a 35 milhões de euros, mas por apenas mais um jogou o grande futebol que custou tão caro.

Ele já chegou com credenciais de titular e estreou no time de Fabio Capello ao lado de estrelas como Alessandro Costacurta, Franco Baresi, Demetrio Albertini, Frank Rijkaard, Roberto Donadoni e Marco van Basten. Ao final da temporada, somava 30 participações e sete gols na Serie A, o título nacional, o título da Supercopa Italiana e um vice-campeonato da Liga dos Campeões. A taça europeia ficou com o Olympique de Marseille.

O Milan tinha grande esperança em Lentini, mas um acidente mudou tudo (imago)

O acidente e a queda
No verão do mesmo ano, contudo, um acidente de carro transformou a vida do atleta. O jogador viajava de Turim para Piacenza durante as férias, quando o pneu do seu Porsche furou e o fez colidir a uma velocidade de quase 200 km/h. Lentini fraturou o crânio e ficou em estado de coma por mais de 24 horas. Só voltou aos gramados no final daquela temporada, mas nunca mais foi o mesmo. Adicionou a seu currículo ainda mais cinco títulos, sem, porém, participar efetivamente da campanha de nenhum deles. Até hoje o jogador tem mágoas com Capello, pelo fato de não ter permitido que jogasse na final da Liga dos Campeões contra o Ajax, em Viena, perdida pelos rossoneri. Segundo Lentini, em entrevista concedida à Mediaset, ele estava em forma e podia jogar.

Na temporada 1996-97, então, transferiu-se para a Atalanta por empréstimo. Sob o comando do técnico Emiliano Mondonico e ao lado de Filippo Inzaghi, Lentini apresentou lampejos do futebol de outrora e ajudou os nerazzurri a fazerem uma boa campanha. Assim, o ala despertou novamente o interesse do Torino, clube que o revelou. Os granata investiram cerca de 5 milhões de euros em seu retorno. Foram mais três anos vestindo as cores do Toro com alguma constância, mas sem muito brilho.

Em janeiro de 2001, prestes a completar 32 anos, Lentini passou para o Cosenza, que quase conseguiu ajudar à chegar a Serie A, em sua temporada de estreia. Dois anos mais tarde, o time passou por uma grande crise financeira que o fez ter que recomeçar da Serie D. Gianluigi, capitão do time e amado pela torcida, ficou e jogou pela equipe um ano ainda, antes de se transferir para o Canelli, para disputar apenas torneios regionais e receber modestos 2,5 mil euros mensais, ao lado do amigo Diego Fuser, ex-jogador de Milan, Lazio, Roma e outros grandes clubes, além da seleção.

Jogando em meio a jogadores amadores, o ala se deu bem mesmo com a idade avançada: em quatro anos marcou 49 gols e conseguiu uma mudança para a Saviglianese, para jogar a Promozione, que dá vagas na Serie D. Lá, foi artilheiro e permaneceu até 2009. Depois, com quase 42 anos de idade, passou a jogar a sexta divisão pela Nicese – ao lado, claro, do amigo Fuser. Lentini se aposentaria de fato em 2012, aos 43, após uma temporada pelo Carmagnola, de sua cidade natal.

Gianluigi Lentini
Nascimento: 27 de março de 1969, em Carmagnola, Itália
Posição: ala e ponta
Clubes que defendeu: Torino (1986-88, 1989-92 e 1997-2000), Ancona (1988-89), Milan (1992-96), Atalanta (1996-97), Cosenza (2001-04), Canelli (2004-08), Saviglianese (2008-09), Nicese (2009-11) e Carmagnola (2011-12)
Títulos: Serie A (1993, 1994 e 1996), Supercopa Italiana (1992, 1993 e 1994), Liga dos Campeões (1994), Supercopa Uefa (1994), Copa Mitropa (1991) e Serie B (1990)
Seleções de base que defendeu: Itália Sub-21
Seleção italiana: 13 jogos

Originalmente para o Olheiros.

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