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Omar Sívori, o Diego Maradona dos anos 1960

Na década de 1980, o argentino Diego Maradona se tornou o maior ídolo da história do Napoli. Ele formou o trio MaGiCa ao lado de Bruno Giordano e Careca. Mas existiu outro trio, também mágico. Três décadas antes, Omar Sívori era um dos suportes do tripé da Juventus. O ítalo-argentino ajudou o clube bianconero a conquistar três scudetti e três Coppa Italia, sempre com muita habilidade na perna esquerda, colocando bolas entre as pernas dos adversários e, não por menos, foi apelidado de “Maradona dos anos 1960”.

Sívori nasceu em San Nicolás de los Arroyos, em Buenos Aires. No início da década de 1940, o River Plate de Renato Cesarini teve um dos melhores times da história. Em pouco tempo o pequeno Omar já era fascinado pela “Máquina” e futebol. Ele começou nas categorias de base do time de Buenos Aires e estreou na equipe profissional aos 19 anos. O resultado da primeira temporada foram oito gols em 16 jogos e o primeiro título. Rapidamente se impôs como titular e ajudou o River Plate a conquistar o tricampeonato consecutivo, entre 1955 e 1957.

Na seleção argentina, Sívori ajudou na conquista da Copa América de 1957, no Peru. Um de seus melhores jogos na competição foi exatamente contra o Brasil, na final vencida por 3 a 0. O argentino tinha talento e atitude. Um de seus grandes admiradores foi Umberto Agnelli, então presidente da Juventus, que pagou 80 mil euros (em valores atuais) por El Cabezón. Enquanto o dinheiro foi usado para terminar a construção do Monumental de Núñez, estádio do River, na Itália houve controvérsias sobre a contratação daquele jogador.

Grande craque, Sívori era um dos poucos que podiam tentar rivalizar com Pelé na década de 1960 (Arquivo/Juventus)

Na chegada à Turim, Agnelli o recebeu com as seguintes palavras: “te esperava há dois anos”. Rapidamente Sívori respondeu: “e eu sonhava em jogar pela Juve há cinco”. Tanta empatia no ambiente interno não repercutia junto à torcida: alguns tifosi duvidavam daquele baixinho, troncudo e com pernas curtas, mas habilidosas, especialmente a esquerda – por causa dela, chegou a ser apelidado de El Gran Zurdo, ou “O Grande Canhoto”, em português. Em sua primeira exibição diante dos torcedores juventinos, ele deu quatro voltas no estádio fazendo embaixadinhas. A bola não caiu sequer uma vez. Foi o suficiente para torná-lo um ídolo instantâneo.

A primeira temporada também foi perfeita: título italiano e 31 gols na temporada (sendo 22 na Serie A). Este foi o cartão de visita do “Trio Magico”, formado por Sívori, Giampiero Boniperti e o gigante galês John Charles. Na segunda época, a esperteza do fantasista argentino continuou: veloz, com drible curto com a perna canhota à esquerda do ataque e que deixavam os adversários tontos. Porém, a Juventus levantou o scudetto somente na temporada seguinte (1959-60), quando El Cabezón foi artilheiro da Serie A. No ano seguinte, Sívori conquistou a Bola de Ouro como melhor jogador europeu (à época, ele já tinha dupla cidadania).

Sem Boniperti, o ítalo-argentino assumiu a braçadeira de capitão da Juve. Na Copa da Europa (atual Liga dos Campeões) de 1961-62, ele entrou para a história ao fazer o único gol bianconero na vitória sobre o Real Madrid. Até então, nenhuma equipe italiana havia derrotado os madrilenhos no Santiago Bernabéu. Sívori também detém, ao lado de Silvio Piola, o recorde de gols na Serie A ao marcar seis nos 9 a 1 sobre a Inter, em partida na qual os nerazzurri entraram em campo com a equipe primavera em sinal de protesto.

Em 1961, o craque recebeu a Bola de Ouro (Hurrà Juventus)

Como, à época, um jogador podia defender seleções de mais de um país, Sívori também chegou a atuar pela seleção italiana. Pela Nazionale, o canhoto somou nove partidas e oito gols, além de ter disputado a Copa do Mundo de 1962 representando a seleção italiana, que caiu na primeira fase. No seu regresso à Turim, já sem Charles, a Juventus perdeu qualidade e Sívori não voltou a conquistar um campeonato nacional. Afora a inteligência e os dribles sobrenaturais, o ítalo-argentino também ficou marcado pela indisciplina durante as oito épocas com o manto da Velha Senhora – foram 33 partidas de fora por suspensão.

Ele tinha um estilo próprio de jogo. E também de “se vestir”. Além de deixar a camisa por fora das calças, fato incomum para a época, ele não puxava os meiões como os outros jogadores, mas os deixava baixos. Segundo Boniperti, ele jogava com as meias no tornozelo, sem qualquer tipo de proteção, para mostrar que não tinha medo dos zagueiros. Era a maneira de Sívori provocar o adversário.

Quem entrou em seu caminho, uma vez, foi Dino Zoff: acidentalmente, o goleiro quebrou duas costelas de Sívori em uma partida contra o Mantova. O ítalo-argentino foi carregado no colo pelo então técnico Heriberto Herrera, com quem tinha relacionamento ruim. Zoff pediu desculpas, Sívori as aceitou, mas somente pela colisão. “Nunca vou te perdoar por ter saído de campo nos braços de Herrera por sua causa”, disse o atacante para o futuro companheiro de Napoli, time para o qual se transferiu em 1965.

Sívori e Boniperti formaram uma dupla praticamente imbatível e, com Charles, o Trio Mágico bianconero (Arquivo/Juventus FC)

Em Nápoles, Sívori formou dupla com Altafini, contratado junto ao Milan. Com Zoff no gol, o time quase venceu a Serie A em 1968, mas foi superada pelo Milan. O jogador realizou boas apresentações nestas duas primeiras épocas, mas, nas seguintes, praticamente se arrastava em campo devido às contínuas lesões nos joelhos. Ele encerrou a carreira no fim de dezembro de 1968, aos 33 anos, a seu modo: contundido e suspenso, após uma grande briga com o árbitro Fulvio Pieroni, que lhe rendeu um gancho de seis partidas.

Omar Sívori voltou para sua terra natal e foi técnico de clubes como River Plate e Estudiantes antes de assumir a seleção principal, mas sem sucesso. O ex-jogador conseguiu classificar a seleção albiceleste para a Copa de 1974, mas deixou o cargo antes do Mundial por divergências com a federação e por não ser a favor do regime peronista. Também comandou Racing e passou pelo Toronto Italia, do Canadá, antes de se aposentar.

Após colaborar como colunista do diário Clarín, de Buenos Aires, de 1993 a 1994, foi olheiro da Juventus entre 1994 e 2005, quando faleceu, vítima de câncer no pâncreas, em um 17 de fevereiro. “Nós perdemos um artista da bola. Ele permanecerá em nossas memórias como único, especial, correndo dos oponentes com as meias no tornozelo. Ele colocava a diversão em primeiro lugar, até mesmo do resultado”, disse Franco Carraro, ex-presidente da FIGC. Mas foi Antonio Juliano, antigo jogador do Napoli, que sintetizou Sívori em poucas palavras: “ele foi o Maradona dos anos 1960”.

Enrique Omar Sívori
Nascimento: 2 de outubro de 1935, em San Nicolás de los Arroyos, Argentina
Morte: 17 de fevereiro de 2005, em San Nicolás de los Arroyos, Argentina
Posição: atacante
Clubes como jogador: River Plate (1954-57), Juventus (1957-65) e Napoli (1965-68)
Títulos como jogador: Campeonato Argentino (1955, 1956 e 1957), Copa América (1957), Serie A (1958, 1960 e 1961), Coppa Italia (1959, 1960 e 1965) e Copa dos Alpes (1963 e 1966)
Carreira como treinador: Rosario Central (1969-70), Estudiantes de La Plata (1972), Argentina (1972-73), Racing Club (1979) e Toronto Italia (1983)
Títulos como treinador: Soccer League Canadense (1983) e NSL Cup (1983)
Seleção argentina: 19 jogos e 9 gols
Seleção italiana: 9 jogos e 8 gols

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