Caio sempre foi um jogador diferenciado. Fora dos campos, cresceu dentro da classe média paulistana, frequentou os melhores colégios particulares da cidade e nunca passou nenhuma necessidade. Ainda jovem, falava inglês fluentemente e se arriscava no espanhol e no italiano, situação completamente distinta da esmagadora maioria dos jogadores de futebol brasileiro. Sua carreira, inclusive, começou com uma decisão no final da adolescência, quando deixou de lado o desejo de ingressar no curso de administração da Faap para se tornar profissional pelo São Paulo.
Como profissional, Caio estourou em 1994. Sob o comando de Telê Santana, brilhou comandando o ataque do Expressinho Tricolor, equipe formada por jovens da base são-paulina que, naquela época, disputava competições profissionais de menor expressão. Não tardou, então, para que o veloz atacante ganhasse os holofotes e fosse convocado para a Seleção Brasileira sub-20. E logo em suas primeiras aparições com a Amarelinha, foi eleito melhor jogador do Mundial da categoria, disputado em 1995 no Catar. Uma trajetória ascendente e que colocava Caio, com apenas dois anos de carreira, entre os principais nomes do futuro do futebol.
Para os mais novos, a velocidade com a qual a carreira de Caio avançou nos primeiros anos e o patamar atingido pelo jogador atuando pelo São Paulo podem lembrar uma história mais recente. Afinal, quando surgiu em 2001, oriundo da mesma classe média, o meia Kaká foi imediatamente comparado ao atual comentarista. Com o diferencial sendo apenas o destino dos dois ao deixar o Tricolor paulista. Enquanto Kaká saiu do Brasil para brilhar no Milan, Caio se tornou, após a premiação no Catar, objeto de desejo de Massimo Moratti, que havia adquirido a Inter.
O empresário italiano não poupou esforços para tirar do São Paulo a jovem revelação. Tinha fé que Caio seria a peça ideal para tirar a Inter de um jejum na Serie A que já durava desde 1989. E por aproximadamente 2,5 milhões de euros o atacante desembarcou em Milão com apenas 20 anos e status de estrela – foi apresentado no clube logo após as chegadas de Roberto Carlos e Javier Zanetti. Mas sua passagem pela Itália ficou longe de se igualar ao sucesso que obteve jogando no Brasil. Sem se adaptar, Caio passou a viver já naquela época o declínio de sua carreira.
Sua situação na Inter não foi nada cômoda. Após chegar ao clube com status de estrela e salvador da pátria, Caio não conseguiu lidar com a pressão sobrenatural para um jovem de apenas 20 anos, além de ter sido preterido logo de cara pelo então técnico Roy Hogdson, adepto de um jogo mais pesado e duro, que fugia totalmente às características do veloz atacante.
Longe da família e dos amigos e na reserva de Branca e Ganz, o jovem não rendia nos treinamentos e passou a despertar a desconfiança dos jornalistas que acompanhavam a equipe. A imprensa, então, passou a exercer ainda mais pressão sobre o jogador, que passava a lidar cada vez pior com a situação insustentável em Milão.
O problema só se agravava quando Caio era relacionado para as partidas da Inter. Nos únicos seis jogos que realizou com a camisa nerazzurra, o atacante não chegou nem próximo do jogador que havia explodido no Brasil. A paciência de uma torcida que via seus principais rivais brilharem em casa e na Europa, então, estourou em apenas uma temporada. Sem clima nenhum, o brasileiro foi emprestado para o Napoli a fim de que pudesse recuperar a paz e o bom futebol.
Mas a ida para o clube partenopeo foi apenas a primeira de muitas tentativas frustradas de Caio retomar sua carreira. Mesmo atuando em mais oportunidades do que nos tempos de Milão, o atacante não correspondia. Os gols nunca apareciam e, em todas as chances que tinha, mostrava o grave problema de não saber lidar com a titularidade ou com o fato de ser o centro das atenções.
Durante toda a temporada na qual atuou pelo Napoli, manteve-se como uma grande decepção para os italianos e só marcou uma vez, diante da Lazio, pelas quartas da Coppa Italia. Depois, nas semis, guardou sua cobrança na decisão por pênaltis contra a Inter – o seu time, porém, amargaria o vice, graças a uma derrota para o Vicenza. Apesar de não ter se dado tão bem pelos azzurri, que representou em apenas 24 partidas, Caio revelou que desenvolveu uma grande afeição pelos napolitanos. Algo que repete sempre que o assunto surge em mesas-redondas.
Os dois anos na Itália foram suficientes para que Caio desistisse do sonho europeu – apesar de, muito mais tarde, ter atuado pelo Rot-Weiss Oberhausen, nas divisões inferiores da Alemanha. Em 1997, voltou ao Brasil, mas nunca mais tornou a jogar bem. Evidenciou, ao terminar a carreira com apenas 31 anos, que talvez não tenha nascido para ser jogador de futebol, apesar de todo seu talento. Se retirou do esporte por afirmar que passava tempo demais longe da família. Confessou, posteriormente, que não devia ter aceitado o convite da Inter, pois ainda não estava preparado para assumir tamanha responsabilidade.
Existem as pessoas que afirmam que o atacante era mimado e por isso não deu certo como jogador. A afirmação, porém, é vaga. Atualmente comentarista da Rede Globo e do Sportv, o ex-jogador nunca negou que não se adaptou à carreira e aos desafios de ser astro em um dos maiores clubes do mundo. Teorias conspiratórias não faltarão, mas o fato é que Caio é uma espécie de Kaká que não deu certo. E se não soube ou não conseguiu aproveitar seu potencial como atleta, conseguiu mirar seu conhecimento futebolístico e uni-lo à boa formação acadêmica que teve para ser um dos comentaristas mais renomados do Brasil.
Caio Ribeiro Decoussau
Nascimento: 16 de agosto de 1975, em São Paulo (SP)
Posição: atacante
Clubes: São Paulo (1994-95), Inter (1995-96), Napoli (1996-97), Santos (1997 e 2000), Flamengo (1998-99 e 2002), Fluminense (2001), Grêmio (2003), Rot-Weiss Oberhausen (2004) e Botafogo (2004-05)
Títulos: Supercopa Libertadores (1993), Recopa Sul-Americana (1994), Copa Conmebol (1994), Torneio Rio-São Paulo (1997), Campeonato Carioca (1999) e Copa Mercosul (1999)
Seleção brasileira: 4 jogos e 3 gols
Olá, Leonardo.
Me lembro bem da passagem de Caio pela Inter e gostaria de completar o texto com algumas informações:
Logo que o brasileiro chegou à equipe, ouviu do corpo técnico que ele estava sendo contratado para a reserva. Os titulares seriam Ganz e Branca, enquanto Caio seria a opção.
Outra questão é que o então treinador, o inglês Roy Hodgson, usava e abusava do 'kick and rush' na montagem de suas equipes e, convenhamos, se tem algo que combine menos com o estilo do ex-atacante desconheço.
Não tinha como dar certo.
Abraços.
Odeio o Roy Hodgson, ele e o estilo de jogo dele são horríveis de se ver, dá muita raiva.
"para ser um dos comentaristas mais renomados do Brasil."
E um bom artigo vai por água abaixo.
Michel,
obrigado pelas informações, realmente são dois detalhes importantes que deixei passar. Obrigado e abraço!
Anônimo,
quando digo renomado, não digo que está entre os melhores, pois isso seria minha opinião. Apenas expresso que ele está entre os mais famosos do país atualmente, o que não é mentira, principalmente levando em conta que ele é o titular da TV Globo. Abraço!
E verdade Caio e um exper em comentar futebol sabe muito
Como atacante foi abaixo de medíocre. 104 gols na carreira. Em 13 anos de profissional.
Se o São Paulo não tivesse vendido ele pra Inter de Milão, o destino da carreira dele com certeza teria sido outro, vendê-lo precocemente não fez só mal ao próprio jogador como também fez mal a Inter, que pagou pra tê-lo no elenco.
Gente, acabei de saber no site do Globo Esporte que o Caio está com câncer (Linfoma de Hodgkin) vamos rezar e torcer pela recuperação dele pessoal.