Antes de ser vítima da ira de Gennaro Gattuso no confronto entre Tottenham e Milan pela Liga dos Campeões, em 2011, Joe Jordan, então auxiliar técnico dos Spurs, fez parte de um momento difícil na história milanista. Longe de ser um centroavante técnico, o canhoto foi símbolo de um momento em que o time estava na segunda divisão e buscava recuperação, anos antes da chegada de Silvio Berlusconi à presidência.
Nascido na Escócia, Joe Jordan deixou a escola cedo para aprender a ser projetista. Porém, aos 15 anos ele ingressou no Blantyre Victoria, time da categoria júnior em seu país. Mas, a carreira nos juniores durou pouco, pois aos 17 anos ele se profissionalizou no Greenock Morton. Em 1970, ele se transferiu para a vizinha Inglaterra para defender por oito anos o forte Leeds United.
No começo de sua trajetória, a perda de dois dentes lhe rendeu um apelido que ficou para sempre. Em inglês, Jaws, remetendo ao título do filme “Tubarão”. Na Itália, se transformou Lo Squalo, com o mesmo significado no idioma italiano. No seu primeiro clube na Inglaterra, Joe Jordan venceu a Copa das Feiras, em 1971, a Copa da Inglaterra, em 1972, e o Campeonato Inglês de 1973-74, quando marcou sete vezes nos 25 jogos que disputou. Depois, acabou jogando a Copa do Mundo pela seleção escocesa.

Conhecido por sua dentição peculiar, Jordan foi um dos poucos que se salvaram no Diavolo do início dos anos 1980 (AP)
Em 1975, a sua equipe acabou derrotada pelo Bayern de Munique, na final da Liga dos Campeões, por 2 a 0. Três anos depois, o clube passou por declínio financeiro e se viu obrigado a negociar Jordan com o Manchester United, que pagou 350 mil libras pelo atacante, à época, um recorde em transferências entre clubes ingleses. Nos três anos que vestiu a camisa dos Red Devils, foi sempre titular e marcou 37 gols em mais de 100 partidas, embora o clube tenha vencido apenas uma Copa da Inglaterra neste período.
Ao fim de sua participação na equipe mancuniana, o escocês deixou a Grã-Bretanha para acertar com o Milan, embora fosse apenas a terceira opção dos rossoneri. Dada a impossibilidade de contratar Zico e o belga Jan Ceulemans, foi Jordan o escolhido pela diretoria do Milan, que buscava a recuperação logo após subir da Serie B – à qual tinha sido condenado por um escândalo de manipulação de resultados, em 1980.
Na primeira temporada vestindo rossonero, junto ao restante do time, teve desempenho bastante fraco, marcando apenas dois gols na Serie A. Na Copa Mitropa, competição continental já extinta e que era disputada pelos campeões da segunda divisão de Itália, Checoslováquia, Hungria e Iugoslávia, o Milan conseguiu destaque. Na partida mais importante da competição, contra os líderes Vítkovice, no San Siro. O 3 a 0 deu o título aos italianos e o terceiro gol foi anotado por Jordan de pênalti. O jovem capitão Baresi executaria a cobrança, mas a torcida pediu que o escocês batesse e ele marcou. Quatro dias depois, o Milan retornaria à Serie B.

Como grande parte dos atacantes britânicos da época, Jordan se destacava em jogadas aéreas (BT Sports Photography/Getty)
Na disputa da segunda divisão, Jordan, já inteiramente dedicado ao Milan, após sua aposentadoria da seleção escocesa, pela qual foi o único a marcar gols em três copas diferentes (1974, 1978 e 1982), foi fundamental. Em 30 partidas, Lo Squalo anotou dez gols e demonstrou muita raça, tendo sido, ao lado de Franco Baresi, Mauro Tassotti, Sergio Battistini e Aldo Serena, um dos principais jogadores da equipe que novamente conquistou a Serie B e retornou à elite. Por isso, foi incluído na lista dos 110 jogadores mais importantes da história do Diavolo.
Ao invés de seguir junto aos rossoneri, Jordan se transferiu para o Verona, com objetivo de fazer o trabalho sujo dentro da área e ser um constante incômodo aos defensores adversários. Na Copa Uefa, principal competição para os gialloblù na temporada 1983-84, a eliminação na segunda fase decepcionou. No campeonato italiano, apenas o oitavo lugar e um mau desempenho individual, que encerrou a carreira italiana de Jordan, que ficou de fora da surpreendente campanha scaligera no ano seguinte, quando surpreenderiam e conquistariam o título italiano.
Na reta final de sua carreira na Inglaterra, Jordan defendeu o Southampton por três temporadas até perder o posto de titular na equipe e sair. O escocês deixou os gramados após um ano no Bristol City, onde já passou a ser treinador. O seu melhor trabalho como comandante foi feito na Escócia, no Heart of Midlothian, onde chegou a ser vice-campeão nacional.

Jordan atuou pelo Milan nas séries A e B, rumando ao Verona depois de devolver os rossoneri à elite (imago)
Depois do bom trabalho, Jordan ainda teve uma experiência no Stoke City, mas se destacou mesmo como auxiliar técnico. Harry Redknapp o conheceu no Portsmouth, em 2004 e a parceria seguiu mesmo após Joe ter assumido como interino após a demissão do superior – o que ocorreu duas vezes.
A dupla ainda se reuniria no Tottenham, se ajudando nos momentos mais difíceis – como quando Gattuso segurou o escocês pelo pescoço – e funcionaria também no Queens Park Rangers. Depois, Redknapp tomou outro rumo (curiosamente, foi treinar a seleção da Jordânia) e Jordan seguiu no futebol inglês, tendo sido assistente do Middlesbrough e do Bournemouth.
Joe Jordan
Nascimento: 15 de dezembro de 1951, em Cleland, Escócia
Posição: Atacante
Clubes como jogador: Greenock Morton (1968-70), Leeds United (1970-78), Manchester United (1978-81), Milan (1981-83), Verona (1983-84), Southampton (1984-87) e Bristol City (1987-88)
Títulos como jogador: Copa das Feiras (1971), Copa da Inglaterra (1972), Campeonato Inglês (1974), Copa Mitropa (1982) e Serie B (1983)
Clubes como treinador: Bristol City (1988-90 e 1994-97), Heart of Midlothian (1990-93), Stoke City (1993-94) e Portsmouth (2005 e 2008)
Seleção escocesa: 52 partidas e 11 gols