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Luis Suárez, o maestro da Grande Inter

Quando José Mourinho comandou com maestria a Inter ao seu terceiro título europeu, na última temporada, quebrou um jejum que já perdurava por mais de quatro décadas. E foi justamente com a ajuda dos pés de Luis Suárez, ou apenas Luisito, que os nerazzurri haviam conseguido sua última Liga dos Campeões. E aquele não era um time qualquer: para muitos, o meio-campista espanhol fez parte do maior time de toda a história do clube, aquele conhecido como a Grande Inter. Habilidoso e muito inteligente com a bola nos pés, o jogador brilhou nos gramados italianos depois de fazer fama em toda a Europa vestindo a camisa de outro gigante, o Barcelona. Não por acaso, é um dos atletas mais vitoriosos de seu tempo.

Nascido em La Coruña, Luisito começou a trilhar sua carreira no futebol no Deportivo. Ainda com 14 anos, foi incorporado às categorias de base do time, onde passou quatro anos amadurecendo. Tido como uma das maiores promessas da equipe da Galícia para a década de 1950, o jovem faria sua estreia como profissional com apenas 18 anos, enfrentando logo de cara o poderoso Barcelona.

Suárez chegou à Inter com pompa e se tornou um dos maiores ícones da história da agremiação (Arquivo/Inter)

A personalidade demonstrada logo de cara e contra um adversário poderoso rendeu frutos rápidos ao meio-campista. Sua inteligência dentro dos gramados o destacava dos demais jogadores e sua passagem pelo clube de La Coruña durou apenas um ano, tempo suficiente para que o próprio Barcelona, seu primeiro adversário profissional, o contratasse.

Jovem e com um grande potencial, Suárez chegou ao Barcelona com o status de promessa. Não tardou, porém, para que o jogador se destacasse e conseguisse uma vaga de titular em um time que contava com craques como Evaristo de Macedo, Laszló Kubala e Sándor Kocsis. A formação desse esquadrão seria coroada apenas quatro anos após a chegada de Luisito, que por ser o cérebro da equipe ganhou, na Catalunha, a alcunha de Arquitecto.

Luisito foi um dos maiores responsáveis pelo sucesso europeu da Inter (imago)

Com a responsabilidade de ditar o ritmo dos catalães, o jogador participou de duelos memoráveis contra o Real Madrid de Ferenc Puskás, que começava a fazer história com suas conquistas continentais. Se na Europa o domínio era blanco, à parte o bicampeonato barcelonista na Copa das Feiras, em 1958 e 1960, na Espanha os blaugranas se destacavam, sobretudo a partir de 1958, com a chegada do técnico Helenio Herrera. Dessa forma, o Barça conquistou o bicampeonato espanhol, em 1959 e 1960, e também uma Copa da Espanha, em 1959 – segunda de Suárez pelo clube, juntamente com a de 1957.

A grande sequência do Barcelona no fim da década de 1950 rendeu a Luisito a Bola de Ouro e o título de melhor jogador europeu do ano, algo que hoje se assemelharia à honraria de melhor jogador do mundo. Naquele momento, Suárez tinha 216 jogos e 122 gols pela equipe blaugrana e era cobiçado por meia Europa. Todo esse status despertou o interesse da Inter, que transformou, em 1961, Suárez no jogador mais caro da história até então.

Picchi e Suárez, dois dos líderes da Beneamata dos anos 1960 (Arquivo/Inter)

Para tirá-lo do Barça e cumprir o desejo de Herrera – desde 1960 no clube de Milão –, o presidente Angelo Moratti desembolsou nada menos do que 250 milhões de liras italianas, valor muito acima dos vistos na época em negociações futebolísticas. O investimento, porém, não demorou para mostrar ter valido a pena. Um dos preferidos de HH, o espanhol não demorou para ser essencial na equipe que ficaria conhecida em todo o mundo como a Grande Inter, que tinha Sandro Mazzola, Giacinto Facchetti, Tarcisio Burgnich, Mario Corso, Jair da Costa e Angelo Domenghini.

Naquela Inter, Luisito Suárez não jogava da mesma maneira que no Barcelona. Herrera transformou o antigo mezz’ala em regista e conseguiu grande sucesso: jogando atrás da linha de meias, El Arquitecto foi o primeiro regista de destaque do futebol italiano, sendo o responsável pela armação de jogadas daquele time, muitas vezes fazendo lançamentos de mais de cinquenta metros para que os pontas, Mazzola, Jair, Corso e Domenghini, chegassem aos gols.

O craque espanhol faturou sete títulos pela Inter (A3/Contrasto)

O domínio da Grande Inter começaria ainda na Itália, em 1963, quando a Inter garantiu o scudetto da temporada e, deste modo, vaga na Copa dos Campeões do ano seguinte. Na competição europeia, Luisito e a Inter continuaram a fazer história, garantindo o bicampeonato nos anos de 1964 e 1965 – anos nos quais os italianos garantiram também mais uma Serie A e outros dois Mundiais Interclubes.

Para finalizar a série de títulos que marcaria a equipe para sempre, ainda seria obtida mais uma Serie A, em 1966, fechando um dos ciclos mais vitoriosos já vistos no futebol italiano. Nos anos de Inter, Suárez não voltou a ser eleito melhor jogador da Europa, mas estava entre os melhores: ficou em segundo em 1961 também em 1964, “amargando” o terceiro posto no ano seguinte.

O espanhol ainda teve curta passagem pela Sampdoria (A3/Contrasto)

Ainda na fase da Grande Inter, Suárez cravou de vez seu nome na história do futebol mundial ao ser um dos principais nomes da Espanha na conquista da Eurocopa de 1964, disputada em solo espanhol. Mesmo sem marcar nenhum gol na competição – que, à época era disputada ao longo de anos e tinha fase final com menos times do que hoje – o meio-campista interista foi considerado o principal nome espanhol, destacando ainda mais seu nome mundialmente. Assim como aconteceu com a Inter, a Fúria também demoraria para reconquistar o torneio no qual Luisito foi destaque, só levantando o troféu novamente em 2008.

De volta à Inter, Suárez seguiu sua trilha na Itália com o status de ídolo nerazzurro e ficou no clube até 1970. Três anos antes, a derrota na final da Copa dos Campeões para o Celtic marcava o fim do ciclo nerazzurro, que culminou na saída de Herrera para a Roma em 1968 e na venda do clube, que passou das mãos de Moratti para Ivanoe Fraizzoli. Mesmo assim, Suárez permaneceu como bandeira do clube por outros dois anos, ao lado de Facchetti, Burgnich, Mazzola, Domenghini e Gianfranco Bedin, até se transferir para a Sampdoria, que costumava ocupar o meio da tabela naquela época.

Suárez, na Sampdoria encontra o amigo Mazzola, bandeira da Inter (Corriere della Sera)

Em Gênova, não voltou a ter o mesmo destaque de outrora, se retirando do futebol depois de apenas três temporadas, nenhuma marcada pela conquista de títulos. Sua inteligência dentro dos campos em toda a carreira, porém, lhe rendeu a chance de ser treinador. De maneira polêmica, começou justamente no Genoa, grande rival da Samp, treinando a Primavera. No ano seguinte, porém, voltou ao clube em que fora idolatrado, a Inter.

Em sua primeira passagem como treinador pelo clube, na temporada 1974-75, concluiu o campeonato apenas na nona posição. Treinando uma equipe que ainda tinha Mazzola e Faccheti, além de Roberto Boninsegna, mas que era recheada de jovens – entre os quais, apenas Ivano Bordon e Gabriele Oriali ganhariam destaque no clube –, reconheceu que não deveria ter aceitado o emprego naquele momento, em que ele também era inexperiente.

Suárez teve três passagens como técnico da Inter, além de ter sido diretor e olheiro do clube (Ansa)

Dirigiu ainda o Cagliari na Serie A, além de Spal e Como em divisões inferiores, antes de retornar à Espanha, para treinar o Deportivo La Coruña. Luisito Suárez treinou ainda a seleção espanhola sub-21, conquistando o Campeonato Europeu da categoria em 1986, seu único título como treinador. Depois, ainda passou pela seleção principal de seu país e a treinou na Copa de 1990, sem grandes resultados.

Sempre ligado à Inter, Suárez aceitou ser treinador interino por duas oportunidades, em 1992 e 1995 e trabalhou por muito tempo como diretor e olheiro no clube. O ex-jogador adotou Milão como casa e viria a falecer na cidade, em julho de 2023, aos 88 anos, ainda na qualidade de único espanhol nato a ter vencido uma Bola de Ouro.

Atualizado em 9 de julho de 2023.

Luis Suárez Miramontes
Nascimento: 2 de maio de 1935, em La Coruña, Espanha
Morte: 9 de julho de 2023, em Milão, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Deportivo La Coruña (1953-54), Barcelona (1954-61), Inter (1961-70) e Sampdoria (1970-73)
Títulos como jogador: Copa da Espanha (1957 e 1959), Copa das Feiras (1958 e 1960), La Liga (1959 e 1960), Serie A (1963, 1965 e 1966), Copa dos Campeões (1964 e 1965), Eurocopa (1964) e Mundial Interclubes (1964 e 1965)
Carreira como treinador: Inter (1974-75, 1992 e 1995), Cagliari (1975), Spal (1977), Como (1977-78), Deportivo La Coruña (1978-79), Espanha Sub-21 (1980-88), Espanha (1988-91) e Albacete (1994)
Títulos como treinador: Europeu Sub-21 (1986)
Seleção espanhola: 32 jogos e 14 gols

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