Jogadores Técnicos

O último scudetto do Torino veio das mãos de Luigi Radice

Nas décadas de 1950 e 1960, o bom jogador de defesa começou a ser definido como aquele que parava o atacante por bem ou por mal. A técnica ainda era necessária, mas intimidação e força tornavam-se atributos cada vez mais imprescindíveis. Nesse cenário, Luigi Radice nasceu para o futebol.

Ainda muito jovem, ingressou no vivaio do Milan, em 1953. Apesar da idade, demonstrava vigor e disposição de sobra. A comissão técnica rossonera percebeu que toda essa gana poderia ser útil para o time principal e o rapaz foi incorporado ao elenco profissional por ninguém menos que o lendário treinador húngaro Béla Guttmann. No primeiro time, a concorrência por uma vaga de titular com Cesare Maldini chegava a ser desleal e, desta forma, Radice participou de apenas uma partida na conquista do scudetto de 1957.

Para não ver um de seus promissores jogadores encostado, a diretoria milanesa o emprestou à Triestina e Padova, entre 1959 e 1961. Logo após o seu retorno, Radice esteve presente na maioria dos compromissos da equipe na conquista do título italiano em 1962 e fez parte do grupo italiano que foi à Copa do Mundo. Na temporada seguinte, fez parte da vitoriosa campanha da equipe na Copa dos Campeões, que culminou no título, sobre o Benfica. Jogou até 1965, quando sofreu grave lesão no joelho e se viu obrigado a parar com apenas 30 anos.

Nos anos 1970 e 1980, o dérbi de Turim ganhou belas nuances graças ao confronto tático entre Trapattoni e Radice (LaPresse)

Após quatro temporadas, iniciou sua carreira como técnico aos 34 anos. Seu primeiro clube foi o Monza, então na Serie C, no qual foi campeão da categoria. Demitido após uma campanha mediana na segundona, comandou o Treviso, que se saiu bem na terceirona e, em 1973 levou o Cesena para a elite, pela primeira vez na história do clube romanholo. Seu trabalho foi reconhecido e a Fiorentina solicitou sua competência. Passou apenas um ano em Florença e, sob o seu comando, a equipe ficou na sexta colocação da Serie A. Em 1975, teve uma passagem relâmpago pelo Cagliari e, logo após, chegou ao Torino.

Apesar de sua força na Itália, é inegável que apenas os mais otimistas torcedores granata sonhavam que a equipe possa chegar próximo ao apogeu que viveu na década de 1940. Acometido por uma tragédia de enorme infelicidade, o Toro nunca conseguiu se recuperar do golpe sofrido no dia 4 de maio de 1949, na tragédia de Superga. Mas, desde então experimentou algumas vezes o doce sabor da vitória. E o responsável pela maior delas foi Luigi Radice.

Como era de se esperar, a mentalidade do Radice técnico era similar a do jogador. Primeiro era necessário não levar um gol, para a partir de então poder atacar. Deslocou o zagueiro Roberto Salvadori para a lateral-esquerda com o intuito de dar ainda mais segurança à defesa e montou o miolo da retaguarda com Nello Santin e Roberto Mozzini. Todo o time marcava muito e sob pressão, em todas as zonas do campo. Tendo encaixado o ferrolho da equipe, Radice não tinha muito com o que se preocupar na parte ofensiva, já que a equipe contava com uma dupla infernal: Pulici e Graziani.

O campeonato pareceu um sonho. A equipe não chegava a dar show, mas mostrava uma eficiência espantosa. Em apenas três das trinta partidas da Serie A a equipe sofreu dois ou mais gols. Em casa, o time ficou invicto e teve espantoso aproveitamento de 97%: 14 vitórias e um empate. E, para a total felicidade dos tifosi, a equipe saiu vitoriosa nos dois clássicos contra a Juventus. Um título irretocável, indiscutível. Vinte e sete anos depois, o Torino era novamente o melhor time da Itália e Radice recebeu o prêmio Seminatore D’oro, como melhor treinador da temporada. Até hoje, é o único treinador a ter levado o Torino ao scudetto após a tragédia de Superga.

Radice também comandou a dupla de Milão (AIC Foto)

O herói da torcida granata permaneceu no clube até 1980 e, nas demais equipes comandadas, não logrou êxito. Em 1980, assumiu um Bologna penalizado após o escândalo Totonero e fez campanha acima da média para, em 1982, manchar seu currículo ao fazer parte da campanha que levou o Milan, ainda enfraquecido após o rebaixamento dois anos antes, por envolvimento no mesmo escândalo, de volta para a Serie B. Passou por Bari e Inter antes de retornar ao Torino em 1984, ficando na equipe até 1989. Logo no ano de reestreia, uma ótima campanha levou a equipe ao segundo lugar na Serie A, atrás da competente zebra Verona.

Em 1988, chegou à final da Copa Italia, onde foi superado nos pênaltis pela Sampdoria. Gigi participou de campanhas que levaram Torino e Bologna ao descenso, tendo um parêntese muito positivo com a Fiorentina. O time fazia campanha surpreendente e ocupava a vice-liderança, até que Radice se desentendeu com o presidente Vittorio Cecchi Gori e foi demitido – a equipe viola cairia bruscamente de rendimento e acabaria rebaixada. Em 1996, voltou ao Monza, clube em que havia iniciado sua carreira como técnico e subiu com a equipe para a Serie B. Um último e tímido raio de alegria na carreira de um guerreiro que, tanto como jogador quanto técnico, parece ter chegado ao sucesso antes da hora.

Luigi Radice
Nascimento: 15 de janeiro de 1935, em Cesano Maderno, Itália
Morte: 7 de dezembro de 2018, em Monza, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Milan (1953-59 e 1961-65), Triestina (1959-60) e Padova (1960-61)
Títulos como jogador: Serie A (1957, 1959 e 1962) e Copa dos Campeões (1963)
Clubes como treinador: Monza (1969-70 e 1996-98), Treviso (1970), Cesena (1972-73), Fiorentina (1973-74 e 1991-93), Cagliari (1975 e 1993), Torino (1975-80 e 1984-89), Bologna (1980-81 e 1990-91), Milan (1981-82), Bari (1982-83), Inter (1983-84), Roma (1989-90) e Genoa (1995-96)
Títulos: Serie C (1967) e Serie A (1976)
Seleção italiana: 5 jogos

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