Capitão do título mundial de 1998 e um dos mais importantes jogadores do futebol da França, Didier Deschamps foi um dos pilares de uma geração que entrou para a história. O volante, que não apenas marcava e também tinha uma qualidade fora de série com a bola, foi durante muito tempo, a tranquilidade para que Zinédine Zidane pudesse brilhar e se consagrar, tanto nos Bleus quanto na Juventus.
Deschamps, nascido em Bayonne, na parte basca do sul da França, chegou a praticar rugby na adolescência, mas deu seus primeiros passos no futebol na escolinha do Aviron Bayonnais. Aos 15 anos, foi notado por olheiros do Nantes, clube pelo qual se profissionalizou e atuou por quatro temporadas, ganhando destaque no futebol francês. Foram 111 jogos pelos canários.
O sucesso foi tal a ponto de o jogador ser convocado para a seleção francesa treinada por Michel Platini, e também acabar por ser contratado pelo poderoso Olympique Marseille, de Jean-Pierre Papin, Enzo Francescoli, Mozer e Jean Tigana. Mesmo atuando em poucas partidas, participou da campanha que deu o título francês da temporada 1989-90.
Na temporada seguinte foi emprestado ao Bordeaux, onde jogou com mais frequência, antes de retornar e quase ser negociado por Bernard Tapie com o Paris Saint-Germain, em uma troca por Jocelyn Angloma. Ele se opôs, preferiu ficar, e foi o capitão do mais importante título da equipe marselhesa, a Copa dos Campeões da Europa da temporada 1992-93 – o OM é o único time francês a ter vencido a competição. Deschamps ainda venceu outros três títulos franceses, mas um deles, o de 1992-93, foi revogado por fraude esportiva protagonizada pelo presidente Tapie. Em 1994, no fim do processo, o clube do sul da França acabou rebaixado para a segundona.
Naquela época, Deschamps já se mostrava um dos melhores na posição. Sem querer disputar a segunda divisão, transferiu-se para a Juventus, que não vencia a Serie A havia nove anos e iniciava a “Era Moggi” com a intenção de quebrar a hegemonia do Milan na Itália e na Europa. Se Luciano Moggi, ex-Napoli, chegou para tocar a administração do futebol do clube. Marcello Lippi chegou para o lugar de Giovanni Trappatoni e, junto dele, jogadores consagrados, como Deschamps. Nos primeiros meses em Turim, acabou tendo de operar o tendão de Aquiles, o que o afastou dos campos por quase metade da temporada. Atuou apenas em 14 oportunidades, mas que o consagraram como campeão italiano e da Coppa Italia, além de vice-campeão da Copa Uefa.
Sua capacidade defensiva e criatividade para atuar na frente ou no miolo da zaga o tornaram um jogador fundamental a partir da temporada seguinte. Com muita inteligência tática e sacrifício pelo time, se tornou um pilar da Juventus, e ao lado do português Paulo Sousa e de Antonio Conte, o francês formou o meio-campo campeão europeu, entrando rapidamente para a história dos bianconeri e chegando a ser eleito Jogador Francês do Ano, em 1996. Foram mais três anos com a camisa da Vecchia Signora, sempre com conquistas no currículo, como a Serie A, as Supercopas italiana e europeia, além do Mundial Interclubes, conquistado contra o River Plate. A forte Juventus daqueles anos ainda chegou a dois vices da Liga dos Campeões – foram três finais consecutivas para os bianconeri, e cinco finais europeias em seis anos para o volante francês.
Em 1998, Deschamps capitaneou a França no único título mundial da história dos Bleus. Mesmo com a Copa do Mundo recém-conquistada e com atuações de peso, Deschamps permaneceu na Itália para disputar sua última temporada com a Juventus. Talvez tenha sido um erro, pois aquele acabou sendo seu último ano em Turim. O francês passou a ter problemas com Lippi, que não o considerava mais titular, e quase chegou a ir às vias de fato com o técnico um dia antes de sua demissão, em fevereiro de 1999. Ao final da temporada, a única sem qualquer título conquistado em sua passagem pelo clube do Piemonte, manifestou o desejo de mudar de ares.
Deschamps acabou por aceitar uma proposta ousada e tentadora do Chelsea, à época apenas uma força mediana do futebol inglês, para ser um dos grandes reforços do clube para a disputa da Liga dos Campeões. Na companhia de compatriotas, como Franck Lebouf e o grande amigo Marcel Desailly, levou o clube mais italiano da Grã-Bretanha – eram sete jogadores, entre os quais os ídolos Gianfranco Zola, Gianluca Vialli, Carlo Cudicini e Roberto Di Matteo – ao título da Copa da Inglaterra e às quartas de final da competição europeia. O suficiente para ser lembrado até hoje.
Ao fim da temporada, Deschamps levantou mais um título: novamente como capitão da França, conquistou a Euro 2000, em final vencida na prorrogação contra a Itália. Em setembro daquele ano, se despediu da seleção. Mudança de vida também em termos de clubes: pela falta de adaptação ao futebol inglês, foi negociado junto ao Valencia, com o qual assinou contrato de três anos. No entanto, por causa de numerosas lesões, jogou apenas oito partidas naquela que foi sua última temporada como profissional.
Com apenas 32 anos, anunciou sua aposentadoria do futebol, mesmo tendo qualidade para jogar em alto nível por pelo menos mais três anos. O físico, porém, não acompanhava. Deschamps, apesar disso, seguiu no mundo do futebol.
Sem experiência alguma como técnico, assumiu imediatamente após pendurar as chuteiras o posto de treinador no Monaco. Os anos de vivência nos campos o fizeram um promissor treinador, capaz de levar os monegascos à final da Liga dos Campeões da temporada 2003-04. Após sair do clube do principado, passou um ano sabático antes de voltar à Turim com uma missão ingrata, a de levar o time de volta à primeira divisão, após um rebaixamento nos tribunais.
Deschamps cumpriu sua obrigação, conquistando o acesso a três rodadas do final da Serie B. Em sua passagem vitoriosa, lançou jogadores como Claudio Marchisio e Sebastian Giovinco, mas resolveu “pedir o boné” e deixar a Juve ao final da temporada, por causa de divergências com o diretor Alessio Secco – uma decisão de que se arrepende até hoje.
Sem receber oportunidades de trabalho, Deschamps ficou parado por dois anos, até ser escolhido para conduzir o Olympique Marseille. Foram três anos no clube azul e branco, no qual conquistou três títulos: uma Copa da Liga Francesa, a Supercopa do país e também a Ligue 1. O OM não vencia o título nacional havia 18 anos, quando o próprio Deschamps comandava o time dentro de campo.
Em sua passagem como técnico do Marseille, ele ganhou o título de treinador do ano na França e recebeu um convite para treinar o Liverpool. Acabou seguindo o coração e aceitou o desafio de reerguer a seleção francesa, esfacelada após as passagens de Raymond Domenech e Laurent Blanc.
No comando da França, Deschamps se tornou um dos mais prestigiosos técnicos do esporte, colocando em prática toda sua inteligência em ler as partidas, demonstrada em anos de gramado – apesar de ser alvo de críticas por trabalhar com excessivo pragmatismo. No comando da França, o ex-volante foi vice-campeão da Euro 2016 em casa, mas se reergueu para alcançar o topo do planeta em 2018 e entrar num grupo seleto: somente ele, Franz Beckenbauer e Mário Jorge Lobo Zagallo ganharam Copas como atletas e treinadores. Didier também faturou uma Liga das Nações, em 2021, e um vice mundial, em 2022.
Didier Claude Deschamps
Nascimento: 15 de outubro de 1968, em Bayonne, França
Posição: volante
Clubes como jogador: Nantes (1985-89), Marseille (1989-94), Bordeaux (1990-91), Juventus (1994-99), Chelsea (1999-2000) e Valencia (2000-01)
Títulos como jogador: Campeonato Francês (1990 e 1992), Liga dos Campeões (1993 e 1996), Serie A (1995, 1997 e 1998), Coppa Italia (1995), Supercopa Italiana (1995 e 1997), Mundial Interclubes (1996), Supercopa Uefa (1996), Copa do Mundo (1998), Copa Intertoto (1999), Copa da Inglaterra (2000) e Eurocopa (2000)
Carreira como treinador: Monaco (2001-05), Juventus (2006-07), Marseille (2009-12) e França (2012-24)
Títulos como treinador: Copa da Liga Francesa (2003, 2010, 2011, 2012), Serie B (2007), Campeonato Francês (2010), Supercopa da França (2010 e 2011), Copa do Mundo (2018) e Liga das Nações (2021)
Seleção francesa: 103 jogos e 4 gols
A final da Euro 2000 foi vencida com gol de ouro do Trezeguet, e não nos pênaltis.