Muita gente conhece Matthias Sammer como diretor esportivo do Bayern de Munique avassalador dos últimos anos. Ou lembra do alemão no Borussia Dortmund, clube pelo qual ganhou títulos como treinador e jogador. O que pouca gente sabe é que o volante, que ficou conhecido como “O Barão Vermelho”, teve uma curta passagem pelo futebol italiano, na Inter.
Sammer nasceu em Dresden, uma das principais cidades da Alemanha Oriental. Aos nove anos, o garoto deu seus primeiros passos no futebol nos juvenis do Dynamo Dresden, da sua cidade natal. Em 1985, ele foi lançado no time principal por seu pai, Klaus, que comandava os aurinegros. Em um dos mais importantes times da DDR, Sammer logo ganhou destaque à frente da defesa e, além de títulos nacionais no país comunista, começou a ser convocado para a seleção. Com a reunificação da Alemanha, foi contratado pelo Stuttgart, uma das equipes mais tradicionais do país – curiosamente, dois anos antes, o próprio VfB havia eliminado o Dynamo nas semifinais da Copa Uefa.
Logo no primeiro ano pelos Schwaben, Sammer marcou onze gols e ganhou suas primeiras convocações para a seleção alemã. Também fechou contrato com a Inter, por 9 bilhões de liras, mas só poderia se transferir uma temporada depois, como reforço da temporada 1992-93 – naquela época, os nerazzurri tinham três estrangeiros, limite permitido pela federação italiana. Assim, o Barão Vermelho continuou em Stuttgart e venceu a primeira Bundesliga pós-reunificação germânica pelo clube do Baden-Württemberg e foi vice-campeão europeu pela Alemanha antes de rumar para a Itália.
Um dos motivos que levaram Sammer à Inter foi a presença de seus colegas alemães, que lá jogavam. Nos anos 1980, a Beneamata havia se tornado o clube mais acolhedor para jogadores germânicos, como Karl-Heinz Rummenigge e Hansi Müller, além do trio formado por Lothar Matthäus, Andreas Brehme e Jürgen Klinsmann, que aportou no clube no fim da década e ganhou títulos. Os companheiros de Nationalmannschaft foram o obstáculo que impediu a chegada do Barão Vermelho em 1991, mas seriam eles (ao menos dois) que serviriam como primeiros pontos de referência para a adaptação do volante ao novo país.
Por um lado, o alemão, então com 25 anos, até achou bom não se mudar pouco depois de chegar a Stuttgart, pois ainda estava se adaptando ao estilo de vida capitalista. Por outro, ele acabou perdendo o bonde: em 1992, quando chegava a Appiano Gentile, o trio de compatriotas se transferia. Matthäus foi para o Bayern, Brehme para o Zaragoza e Klinsmann para o Monaco, e seus novos companheiros gringos seriam o russo Igor Shalimov, o uruguaio Rubén Sosa e o macedônio Darko Pancev – pois é, o limite de estrangeiros havia subido para quatro por equipe. O tiro saiu pela culatra e foi apenas o prelúdio de meses negativos vestindo nerazzurro.
O desencontro com o trio alemão diminuiu as possibilidades de rápida adaptação de Sammer à Serie A. Os colegas lhe ajudariam com o idioma, pois mesmo com um ano livre para poder aprender italiano, o jogador
chegou em seu novo país sem falar uma palavra do idioma. Em um mês, o volante já estava cansado da nova vida, então o técnico Osvaldo Bagnoli decidiu facilitar a vida para o terceiro mais caro reforço da temporada.
O treinador adiantou Sammer no campo, transformando-o em regista para aproveitar sua qualidade de passe e posicionamento. O canhoto, com ótima técnica, se adaptou perfeitamente à posição, e chegava ao ataque com maestria – uma de suas características era aparecer bem na área para concluir. Envergando a camisa 10, distribuía passes e lançamentos com elegância, e fazia um trio interessante, com Sosa e Shalimov. O problema é que ele subia demais ao ataque e deixava o meio-campo desguarnecido: Sammer, que começou no futebol como atacante, não queria se limitar ao papel de regista, queria ser trequartista. Apesar de Bagnoli ficar irritado pela desobediência tática, o Barão Vermelho rendia em campo: em 11 jogos no primeiro turno, marcou quatro gols – contra Juventus, Napoli, Pescara e Roma.
Apesar de jogar bem, a adaptação era difícil. Sammer chegava ao centro de treinamentos de La Pinetina, fazia o seu trabalho, se banhava e voltava direto para casa, sem interagir com o restante do elenco. Em janeiro, o volante implorou para o presidente da Inter, Ernesto Pellegrini, aceitar a proposta do Borussia Dortmund e deixá-lo voltar a seu país. E assim foi: pelo valor que foi contratado, o volante foi negociado. Naquela temporada, os nerazzurri seriam vice-campeões italianos, com uma pequena ajuda de Sammer.
Em Dortmund, Sammer virou líbero e se tornou ídolo da Muralha Amarela. Ganhou mais Bundesligas, uma Liga dos Campeões e até a Bola de Ouro, em 1996 – foi o primeiro defensor a ganhar o prêmio em 20 anos, depois de Franz Beckenbauer. O Barão Vermelho também saiu vitorioso com a seleção, na Eurocopa do mesmo ano, e três anos depois precisou se aposentar, por causa de uma crônica lesão no joelho.
Após pendurar as chuteiras, Sammer fez bons trabalhos como técnico do Borussia Dortmund (foi vice-campeão da Copa Uefa e ganhou uma Bundesliga) e do Stuttgart. Em 2006, virou diretor da Federação Alemã de Futebol e ajudou no processo de crescimento do esporte em alto nível no país. Entre 2012 e 2016, o Barão Vermelho trabalhou como diretor esportivo do Bayern, decidindo se aposentar após sofrer um pequeno acidente vascular cerebral – depois disso, desenvolveu atividades menos estressantes, como participações como comentarista e consultor do BvB. Pelos Roten, Matthias conquistou uma Tríplice Coroa em 2013, dois anos após o triplete interista. Pena, para a Beneamata, que o classudo alemão não estendeu a sua passagem pela Itália e ganhou títulos por lá.
Matthias Sammer
Nascimento: 5 de setembro de 1967, em Dresden, Alemanha Oriental
Posição: volante e líbero
Clubes como jogador: Dynamo Dresden (1985-90), Stuttgart (1990-92), Inter (1992-93) e Borussia Dortmund (1993-99)
Títulos como jogador: Campeonato da Alemanha Oriental (1989 e 1990), Copa da Alemanha Oriental (1990), Bundesliga (1992, 1995 e 1996), US Cup (1993), Supercopa da Alemanha (1995 e 1996), Eurocopa (1996) e Liga dos Campeões (1997)
Clubescomo treinador: Borussia Dortmund (2000-04) e Stuttgart (2004-05)
Títulos como treinador: Bundesliga (2002)
Seleção alemã-oriental: 23 jogos e 6 gols
Seleção alemã: 51 jogos e 8 gols