Time tradicional, mas de poucas glórias, o Verona surpreendeu o mundo ao conquistar o único scudetto de sua história em meados dos anos 1980. Os butei já haviam chegado a duas finais de Coppa Italia, em 1983 e 1984, e o ápice de sua história aconteceu em 1985, com o triunfo na Serie A. Foi o único scudetto de um clube vindo de uma cidade não-capital regional desde o nascimento do campeonato de pontos corridos em grupo único.
A façanha foi ainda maior porque a Serie A era, de longe, o campeonato mais forte do mundo na época, e os adversários eram nada mais nada menos que a Juventus de Paolo Rossi, Michel Platini, Antonio Cabrini e Gaetano Scirea; a Inter de Walter Zenga, Giuseppe Bergomi, Alessandro Altobelli e Karl-Heinz Rummenigge; o Milan de Pietro Paolo Virdis e Franco Baresi; a Roma de Paulo Roberto Falcão, Carlo Ancelotti e Roberto Pruzzo e o Napoli de Diego Maradona. Ainda haviam o Torino de Aldo Serena, a Fiorentina de Sócrates, a Udinese de Zico, a Atalanta de Roberto Donadoni e a Sampdoria de Roberto Mancini. Não é por acaso que quase todos os maiores jogadores da história do Verona jogaram no clube na década de 1980. Alguns, no entanto, passaram pelo Hellas antes e um pouco depois.
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A história do Verona também tem alguns brasileiros ocupando papel de destaque. O maior artilheiro do clube é o atacante Arnaldo Porta, que atuou em 17 anos no Hellas, entre 1913 e 1930, marcando 74 gols. Outros jogadores que merecem ser citados são o goleiro Rafael, que entrou em campo pelos butei em três diferentes divisões, sagrando-se o quarto jogador com mais partidas com a camisa do clube (314). Adaílton, ex-Juventude e Parma, também foi ídolo da torcida, e é o quarto maior goleador scaligero, com 52 tentos. Quem também jogou por lá por uma temporada foi o craque Dirceu, que jogou três Mundiais com a Seleção.
Para montar a lista, o Quattro Tratti levou em consideração a importância dos jogadores na história do clube; a qualidade técnica do atleta versus expectativa; sua identificação com a torcida e o dia a dia do time (mesmo após o fim da carreira); grau de participação nas conquistas; respaldo atingido através da equipe e prêmios individuais conquistados. Também foram computadas premiações pelas seleções nacionais. A partir disso, escolhemos 25 jogadores que marcaram a história da equipe e escrevemos breves biografias dos 10 primeiros. Antes, veja também a lista completa de brasileiros que já vestiram a camisa do clube vêneto.
Brasileiros da história do Verona
Adaílton, Anderson, Arnaldo Porta, Babú, Cláudio Winck, Diego Farias, Dirceu, Emanuele Del Vecchio, Emerson, Fernandinho, Gilberto, Gladstone, Gustavo Campanharo, João Pedro, Jorginho, Marquinho, Matuzalém, Nenê, Nícolas, Rafael, Rafael Marques, Raphael Martinho, Reinaldo, Rômulo, Samir, Sergio Clerici e William.
Top 25 Verona
11. Rafael; 12. Adaílton; 13. Gianfranco Zigoni; 14. Damiano Tommasi; 15. Domenico Volpati; 16. Thomas Berthold; 17. Dirceu; 18. Maurizio Iorio; 19. Filippo Inzaghi; 20. Domenico Penzo; 21. Sergio Sega; 22. Mauro Camoranesi; 23. Adrian Mutu; 24. Juanito Gómez; 25. Robert Prytz.
10º – Dragan Stojkovic
Posição: meia-atacante
Período no clube: 1991-92
Títulos conquistados: nenhum
Para começar, um nome polêmico. Stojkovic (ao centro, entre Florian Raducioiu e Robert Prytz) jogou apenas 21 vezes e marcou apenas dois gols com a camisa do Hellas, e justamente em uma temporada em que a equipe acabou rebaixada para a Serie B. No entanto, nenhum jogador que passou pela equipe veronesa foi tão talentoso quanto o sérvio.
Stojkovic brilhou no Estrela Vermelha e na Copa do Mundo de 1990, disputada na Itália, e entrou para a seleção do torneio devido à boa campanha da Iugoslávia. Foi adquirido pelo rico Olympique Marseille, mas nunca se destacou na França, muito por causa de uma séria lesão no joelho. Acabou emprestado para o Verona, onde tentaria, em uma equipe de menor expressão, mas no maior campeonato do mundo à época, recuperar seu futebol de muita técnica, dribles rápidos, visão de jogo e lançamentos e finalizações precisas. No ano em que viveu no Vêneto, Piksi sofreu com muitas lesões musculares e mostrou apenas lampejos, como um golaço de falta contra o Ascoli. No entanto, a má forma física fazia com que o Verona jogasse melhor sem ele. Uma pena, pois ele poderia ter sido ainda mais importante na história dos butei.
9º – Claudio Garella
Posição: goleiro
Período no clube: 1981-85
Títulos conquistados: Serie A (1985) e Serie B (1982)
“O importante é defender, não importa como”, disse Italo Allodi, diretor do Napoli, clube em que Garella também jogou. “Garella é o melhor goleiro do mundo. Sem as mãos, porém”, brincou Gianni Agnelli, mítico presidente da Juventus. As duas frases definem bem a carreira de Garella, goleiro conhecido por um estilo pouco usual, cheio de defesas com os pés, em cambalhotas ou carrinhos, alternando defesaças com falhas clamorosas. Foi desse jeito meio amalucado que o jogador, conhecido como Garellik, conquistou a torcida do Verona e fez parte do momento mais importante da história dos mastini.
Garella chegou ao Marcantonio Bentegodi em 1981, depois de rodar por Torino, Casale, Novara, Lazio e Sampdoria, e logo em seu primeiro ano conquistou a Serie B. Goleiro de físico robusto, mas com agilidade, ele se tornou uma peça fundamental do time de Osvaldo Bagnoli e, na campanha do scudetto gialloblù, sofreu apenas 19 gols em 30 jogos. Sua atuação mais marcante foi no primeiro turno, contra a Roma, quando parou o forte ataque dos romanos, campeões dois anos antes e vice-campeões europeus na temporada anterior. O 0 a 0 no Olímpico foi uma prova de que aquele Verona tinha muito mais para mostrar. Após o título, Garella se transferiu para o Napoli, onde também foi campeão nacional, e depois ainda atuou por Udinese e Avellino antes de se aposentar.
8º – Emiliano Mascetti
Posição: meia
Período no clube: 1967-73 e 1975-80
Títulos conquistados: nenhum
Desconhecido do grande público, Mascetti (à esquerda na foto) nasceu em Como, foi adotado por Verona e se tornou um dos mais célebres jogadores da história do clube. O Hellas havia jogado na primeira divisão italiana por vários anos antes de o campeonato ter sido adaptado à fórmula de pontos corridos, em 1929, mas depois disso só conseguiu participar uma vez, em 1957-58. Mascetti fez parte do grupo que colocou os butei de volta na elite e que os mantiveram por lá por um bom período, sendo precursor da geração que levantaria o caneco em 1985.
Nos onze anos em que atuou pelo Verona – entre as duas etapas, uma passagem de dois anos pelo Torino – o meia foi o principal jogador da equipe, comandando-a a campanhas regulares na elite, mas com dois rebaixamentos à Serie B. Mesmo assim, Mascetti se estabeleceu como recordista em número de partidas pelo clube na elite (282) e também em gols (37), sendo superado apenas por Luca Toni, quase quarenta anos depois. O meia também é o segundo em número de jogos pelo Hellas (328) e, com 46 gols, está entre os 10 maiores artilheiros do clube. Após se aposentar, em 1980, assumiu de imediato o cargo de diretor de futebol do Verona e foi o responsável por fazer contratações que levaram ao scudetto veronês. Ficou por oito anos à frente do departamento esportivo da equipe e depois foi para a Roma.
7º – Pietro Fanna
Posição: meia
Período no clube: 1982-85 e 1989-93
Títulos conquistados: Serie A (1985)
O carequinha Pierino Fanna não está só na história do Verona, mas da Serie A: é um dos seis únicos jogadores a terem conquistado o scudetto com três times diferentes. O friulano chegou ao time scaligero depois de cinco temporadas e três títulos como coadjuvante na Juventus, onde não conseguiu demonstrar todo seu potencial. Vestindo azul e amarelo, sim, ele explodiu, atuando aberto pela direita no meio-campo, setor essencial do esquema de Bagnoli. Foi assim que o Hellas chegou ao scudetto e em duas finais da Coppa Italia, em 1983 e 1984.
Por ali ele era um dos responsáveis por criar as jogadas do time, seja com passes açucarados, inversões de jogo perfeitas ou cruzamentos na medida. Muito rápido e ofensivo, Fanna também se movimentava bastante e os caminhos que escolhia em campo eram fundamentais para confundir os adversários e deixar companheiros livres para finalizar as ações. Assim, o carequinha conseguiu se tornar um dos melhores meias italianos dos anos 1980 sem a pressão de jogar em um grande time, e foi chamado à seleção diversas vezes entre 1983 e 1985. Após um período na Inter, Fanna voltou ao Verona e passou quatro anos no clube – dois na elite e dois na segundona – antes de se aposentar. Após pendurar as chuteiras, o ex-meia ainda cuidou das divisões de base veronesas e foi auxiliar na comissão técnica.
6º – Luca Toni
Posição: atacante
Período no clube: 2013-hoje
Títulos conquistados: nenhum
Quando Toni chegou ao Verona ele já tinha vencido praticamente tudo o que podia. Também era visto por muitos como já acabado para o futebol profissional. Porém, contrariando os céticos, o experiente bomber vive no Bentegodi uma das fases mais esplendorosas de sua longa carreira. Mesmo já sendo tetracampeão mundial com a Itália, campeão alemão pelo Bayern de Munique e artilheiro da Serie A e da Bundesliga, o emiliano se doou de coração para o Hellas, que voltava à elite após 11 anos de ausência.
Toni tinha 35 anos quando assinou com os mastini. Tinha feito sua primeira boa temporada em quatro anos, sendo um bom reserva na Fiorentina. Mas chegou ao Verona pegando a camisa 9 e levando a equipe, tida como provável rebaixada, a brigar por uma vaga na Liga Europa. Os 20 gols e a vice-artilharia do certame na primeira temporada já pareciam muito, mas Toni, com 37 anos, ampliou seu feito, marcando 22 em 2014-15 e sendo o maior goleador da Serie A, ao lado do interista Mauro Icardi. Capitão do time, Toni tem 47 tentos pelo clube na elite, sendo o maior artilheiro do clube em jogos do Campeonato Italiano. Com 50 gols ao todo, o ex-centroavante da seleção italiana ainda é o sexto no ranking geral de goleadores do Hellas.
5º – Hans-Peter Briegel
Posição: lateral esquerdo
Período no clube: 1984-86
Títulos conquistados: Serie A (1985)
Nascido na antiga Alemanha Ocidental, Briegel demorou a entrar no mundo do futebol. Praticante de diversas modalidades do atletismo e especialista no decatlo, ele deixou as pistas e teve sua primeira oportunidade como profissional aos 19 anos com o Kaiserslautern. Foram nove anos pelos Diabos Vermelhos até chegar ao Verona, já conhecido como um potente e técnico lateral ou ala, atuando sempre pela esquerda, ou até mesmo como volante. Com 29 anos, chegava com muita pompa, pois tinha sido titular da Alemanha Ocidental campeã europeia em 1980 e vice-campeã mundial em 1982. Foi a grande contratação do time, juntamente com Elkjaer Larsen.
Briegel passou apenas dois anos em Verona, mas marcou época, sendo um dos principais condutores dos butei ao título. Seus números no ano do scudetto foram incríveis, principalmente levando em conta que ele atuava como ala pela esquerda: ele foi o vice-artilheiro gialloblù, com 9 gols na Serie A (mais dois na Coppa Italia), mostrando muita habilidade, velocidade e um poder arrasador de aparecer na área adversária e marcargols de cabeça – geralmente fugindo da marcação, no segundo pau. O desempenho foi suficiente para lhe dar o prêmio de melhor jogador alemão ocidental em 1985. Em 1985-86 Briegel caiu de rendimento, juntamente com todo o time, mas não o suficiente para ser deixado de fora dessa lista.
4º – Antonio Di Gennaro
Posição: meia
Período no clube: 1981-88
Títulos conquistados: Serie A (1985) e Serie B (1982)
Considerado uma bandeira do clube, o meia Di Gennaro teve o maior destaque de sua carreira como jogador atuando no Bentegodi. Responsável por fazer a ligação entre o meio-campo e a dupla de atacantes do 3-5-2 de Bagnoli na era de ouro veronesa, Totò ganhou espaço na seleção italiana a partir do seu desempenho no Hellas e foi convocado para a disputa da Copa do Mundo, em 1986.
Bagnoli transformou a carreira de Di Gennaro. Antes, o jogador passara sem destaque por Fiorentina e Perugia, mas nos sete anos de Verona ganhou vigor. Atuando como regista, ele dava velocidade ao jogo de contra-ataque gialloblù, com poucos toques na bola, e ainda marcava seus gols: na temporada do scudetto foram quatro gols na Serie A e nove no total. Ao longo de sete anos no Vêneto, Di Gennaro fez 258 jogos com a camisa scaligera, ficando entre os 10 jogadores que mais atuaram pelo clube. Próximo da aposentadoria, o atleta deixou Verona em 1988, mas só porque a sociedade passava por problemas financeiros.
3º – Giuseppe Galderisi
Posição: atacante
Período no clube: 1983-86 e 1988-89
Títulos conquistados: Serie A (1985)
Sem muito espaço na Juventus, um jovem Galderisi recebeu chances no Verona. Percebendo o talento do jogador, que havia feito uma tripletta contra o Milan, o Hellas assegurou os serviços do atacante de apenas 20 anos. E ele não decepcionou: logo no primeiro ano, fez sete gols na campanha que colocou os scaligeri na 6ª posição da Serie A, mais três no vice da Coppa Italia e três na Copa Uefa – incluindo dois golaços por cobertura contra o Estrela Vermelha. Foi só o prelúdio para a consagração, que incluiu convocações para a Itália, incluindo para o Mundial de 1986.
No inesquecível ano do scudetto dos butei, Galderisi atingiu o ponto máximo na carreira, ainda com 22 anos. Atacante completo, de muita velocidade e habilidade, além de poder de finalização acima da média – e mesmo hábil no cabeceio, embora fosse baixinho –, Nanu foi o artilheiro da equipe, com 11 gols, muitos deles contra equipes fortes, como Napoli, Juventus, Fiorentina, Udinese e Sampdoria. Galderisi ainda ficou um ano em Verona, antes de continuar sua trajetória sem sucesso em Lazio e Milan e retornar ao Hellas, para ter passagem também apagada. Um ano de sonho e outros dois de boas atuações foram suficientes para colocar Galderisi entre os 10 maiores artilheiros do clube, com 45 gols, e também no coração dos torcedores veroneses.
2º – Roberto Tricella
Posição: líbero
Período no clube: 1979-87
Títulos conquistados: Serie A (1985) e Serie B (1982)
Histórico capitão do Verona, Tricella pode ser considerado o símbolo da ascensão do Verona. Em oito temporadas no clube ao qual chegou com 20 anos, depois de ter sido revelado pela Inter, o líbero viveu os melhores momentos da história scaligera. Venceu a Serie B, chegou a duas finais da copa nacional e ainda liderou o time rumo ao scudetto. Tudo isso sempre como titular indiscutível ao centro da zaga.
No sólido esquema de Bagnoli, era Tricella o responsável para iniciar a saída de bola. Protegido por Briegel e Domenico Volpati ele avançava com a bola no pé com muita qualidade, e costumava acionar Di Gennaro, que dava cabo do resto do trabalho. O zagueirão lombardo, que também chegou a jogar pela seleção e foi convocado para a Copa de 1986, era o principal nome da defesa menos vazada do campeonato em 1984-85, ano do título nacional. Ter deixado o clube em 1987 para substituir o mito Gaetano Scirea na Juventus mostra a qualidade que Tricella atingiu em seu auge.
Posição: atacante
Período no clube: 1984-88
Títulos conquistados: Serie A (1985)
O Cavalo Doido. Apelidado assim, Elkjaer foi um dos atacantes mais perigosos dos anos 1980 no futebol italiano. O atacante chegou ao Verona após boa passagem pelo Lokeren e boa Euro 1984 com a Dinamarca para ser o grande destaque na conquista do único scudetto na história do clube. Ele foi o terceiro artilheiro do time, atrás de Galderisi e Briegel, mas marcou alguns dos gols mais importantes da equipe. O segundo de seus gols pelos butei foi o mais antológico: na vitória sobre a Juventus, arrancou pela esquerda, fugiu de dois carrinhos, perdeu sua chuteira e, mesmo assim, marcou com o pé descalço – o que lhe valeu o apelido de “Cinderelo”. Elkjaer ainda marcou um em vitória contra a Roma; o gol do título, no empate contra a Atalanta; e o último gol gialloblù na temporada, frente ao Avellino.
Por suas atuações na temporada mais gloriosa da história do Hellas Verona, ficou em terceiro e segundo no prêmio Bola de Ouro (respectivamente, em 1984 e 1985), vencido por Platini. Após a temporada sensacional de estreia, Elkjaer continuou jogando com regularidade, embora o Verona não tenha mantido o mesmo nível – o melhor desempenho foi o 4º lugar em 1987. Quando ainda era
jogador dos mastini, Elkjaer fez parte da Dinamáquina na Copa de 1986, e marcou quatro gols, ficando entre os melhores jogadores do Mundial. Em 1988, o nórdico deixou o Bentegodi para voltar a seu país e se aposentar.
Que bom que o site voltou – fiquei bem feliz quando vim pesquisar algo sobre a JUVENTUS e dei de cara com o site renovado…forza ragazzi