O Leicester está muito perto de fazer história na Inglaterra: surpreendendo a todos, os Foxes lideram a Premier League e podem começar o mês de maio comemorando o título do campeonato mais rico (e um dos mais difíceis) do mundo. Claudio Ranieri, treinador da equipe, está sendo fundamental para o clube do centro da ilha e tem dado um toque italiano à excelente campanha do time de Jamie Vardy, Riyad Mahrez e companhia. O que pouca gente sabe é que, antes do técnico, o Leicester teve outro italiano em seus quadros: o craque Roberto Mancini já vestiu a camisa azul.
Mancio passou pelos Foxes há mais de 15 anos: foi na virada do milênio, entre 2000 e 2001, que ele assinou com o clube, aos 36 anos, tornando-se o primeiro (e até agora, único) italiano a atuar pelo Leicester. Àquele momento, o trequartista já havia vencido tudo na carreira, e brilhado por Bologna, Sampdoria e Lazio – nem tanto na seleção italiana.
O craque se destacou ao longo de 15 anos com a camisa doriana, com a qual atuou 566 vezes, fez 171 gols e conquistou sete títulos (incluindo um scudetto), sendo o grande destaque de uma geração que contou com Gianluca Vialli, Toninho Cerezo, Pietro Vierchowod, Attilio Lombardo, Gianluca Pagliuca e outros. O camisa 10 jesino também fez sucesso em uma Lazio endinheirada e cheia de estrelas, com a qual também foi campeão italiano. No entanto, chegou à Inglaterra em outro momento da carreira.
Ao final da temporada 1999-2000, o fantasista tinha anunciado sua aposentadoria em grande estilo, depois de faturar três troféus com a Lazio – Serie A, Coppa Italia e Supercopa Uefa –, mas prosseguiu no time romano. Mancio assumiu o posto de auxiliar de Sven-Göran Eriksson, técnico sueco que o comandou na Sampdoria e na Lazio, e com o qual desenvolveu grande afeição e respeito profissional. Apesar da sintonia, a dupla não engrenou pelo time celeste em 2000-01: Eriksson tinha proposta para dirigir a seleção inglesa e se demitiu após uma derrota contra o Napoli, no início de janeiro. Dias depois, Mancini voltava a ser jogador de futebol e seguiria o sueco rumo à Inglaterra.
Mancini assinou com o Leicester no dia 18 de janeiro, como indicação de Eriksson ao técnico Peter Taylor. A princípio se especulou que a Federação Inglesa de Futebol teria feito um acordo com o clube para que Robi assumisse um posto de olheiro de Eriksson, mas isso foi desmentido – apesar de o italiano ter realizado essa função de maneira informal e ter fornecido informações ao sueco enquanto aperfeiçoava seus conhecimentos para ser treinador.
Mancio fechou um contrato de seis meses com os Foxes. Em sua chegada, ele declarou que havia aberto mão de permanecer na Lazio como auxiliar de Dino Zoff e que também tinha recebido propostas de clubes italianos para continuar jogando, as quais recusou veementemente. Além do patrocínio de Eriksson, a chegada de Mancini a Leicester teve influência do amigo Vialli, ex-jogador e técnico do Chelsea, mas à época no comando do Watford. O carequinha era um entusiasta de sua transferência e havia falado bem dos Foxes para ele.
O Leicester vinha de um oitavo lugar na Premier League e do título da Copa da Liga Inglesa, mas não estava tendo atuações do mesmo nível em 2000-01. Mancini foi contratado para dar maior experiência ao time, que também estava tendo problemas no ataque – a expectativa era a de que o italiano passasse um pouco de sua técnica para os mais jovens. O italiano não jogava havia quase oito meses, mas mesmo assim ganhou a camisa 10 e já seria escalado como titular diante do Arsenal.
A passagem de Robi pela Inglaterra foi curtinha: durou apenas um mês. O craque realmente estreou contra os Gunners, e foi substituído no segundo tempo da partida, terminada em um empate por 0 a 0. Mancini entrou em campo pelo Leicester outras quatro vezes, três pelo Campeonato Inglês e uma pela FA Cup: foram duas vitórias, contra Chelsea e Aston Villa (este jogo, pela Copa) e duas derrotas, para Southampton e Everton. Mancini foi titular em quatro dos jogos, mas não marcou nenhum gol pela equipe, que concluiria a temporada na 13ª posição. Assim mesmo, ficou querido pela torcida.
Mancio decidiu deixar a Inglaterra porque já negociava sua volta para a Itália, desta vez para pendurar as chuteiras em definitivo. O craque rescindiu com os ingleses e aceitou o cargo de técnico da Fiorentina, que vivia crise financeira e demitia o turco Fatih Terim. Pelo clube violeta, Mancini conquistou a Coppa Italia – a primeira das quatro que já conquistou enquanto treinador – e iniciou uma trajetória vitoriosa, com passagens por Lazio, Inter, Manchester City e Galatasaray. Quando o Leicester levantar o troféu da Premier League, a torcida lembrará que, antes de Ranieri, outro italiano adotou a cidade, mesmo que por pouco tempo.