Depois da tempestade vem a bonança. A vitória complicada sobre a Austrália, com direito a apito amigo para Totti colocar a Itália nas quartas de final, assustou o time de Lippi, mas também lhe deu forças. Forças para superar uma série de problemas nos bastidores, que não envolvem diretamente a seleção, mas que afetam os jogadores. Contra a Ucrânia de Shevchenko e Blokhin, a Squadra Azzurra não teve vida fácil e sofreu, porém Toni finalmente apareceu. Em branco nas quatro partidas anteriores, o atacante da Fiorentina marcou dois gols decisivos e mostrou um pouco do repertório que o levou à artilharia da Serie A, com 31 gols.
Em Hamburgo, com Nesta definitivamente fora do restante da Copa do Mundo, Lippi escalou Barzagli no lugar de Materazzi, expulso nas oitavas. Mas essa não foi a única mudança do treinador, que pela primeira vez utilizou o 4-4-2 na Alemanha, com formação semelhante à que venceu a República Checa. A diferença foi o esquema tático: na fase de grupos, o técnico optou pelo “árvore de Natal”, o 4-3-2-1.
A Ucrânia tinha Shevchenko como a grande estrela e todas as jogadas ofensivas focavam no ex-atacante do Milan, negociado com o Chelsea em maio. O time de Oleg Blokhin foi goleado na estreia pela Espanha, por 4 a 0, mas repetiu o placar a seu favor contra a Arábia Saudita e assegurou o segundo lugar com gol de pênalti do seu craque contra a Tunísia. Nas oitavas, superou o ferrolho suíço nos pênaltis, por 3 a 0, apesar de Sheva ter perdido o primeiro.
Os ucranianos empregaram marcação agressiva e individual, o que dificultou o jogo italiano, mas Camoranesi, Zambrotta e Totti superaram os adversários. Logo no início, o ítalo-argentino fez jogada individual e quase abriu o placar. Uma premonição do que aconteceria logo depois, quando Zambrotta tabelou com Totti e acertou belo chute de esquerda de fora da área. O experiente Shovkovskyi aceitou.
Na sequência, porém, a Ucrânia reagiu. Sviderskyi, zagueiro que perseguia Toni, foi amarelado aos 16 minutos e substituído aos 20 pelo atacante Vorobey, deixando a Husin a missão de marcar o centroavante da Fiorentina. Foi justamente no ataque, contudo, que o grandalhão Husin apareceu, exigindo grande defesa de Buffon, que ainda bateu a cabeça na trave. Em seguida, Kalynychenko teve chute parado por Zambrotta em cima da linha.
Mas como quem não faz, leva, Toni deu às caras e superou a marcação individual. Totti tabelou com Grosso em escanteio curto e levantou a bola na área: o bomber se antecipou e marcou ao seu jeito na pequena área – todo desengonçado, mas sempre oportunista.
Sempre nas bolas alçadas à área, a Ucrânia voltou a assustar com Husin no segundo pau, e dessa vez o defensor acabou acertando a trave. Em contra-ataque, Camoranesi respondeu com jogada individual e foi derrubado na área, mas a penalidade não foi marcada. No lance, o juventino acusou a pancada e teve que ser substituído.
Foi quando Lippi entrou em jogo: no lugar do camisa 16, Oddo, e no lugar do apagado Pirlo, Barone. Com a mudança, Zambrotta passou para a ponta esquerda, com Perrotta à direita e o laziale na lateral direita. Na primeira jogada de Zambrotta pela esquerda, menos de um minuto depois da substituição, saiu o terceiro: depois de tabela com Grosso, o juventino cruzou rasteiro para Toni matar o jogo, sempre na pequena área e desmarcado.
Ao final do jogo, homenagem dos juventinos à Gianluca Pessotto, internado após tentativa de suicídio. Seu antigo treinador, Lippi, dedicou a vitória ao ex-jogador da seleção italiana.
Nas semifinais, nada menos que os anfitriões pela frente: a Alemanha de Jürgen Klinsmann. A Nationalmannschaft está invicta na competição e conseguiu unir o país em torno de si e na busca pelo tetracampeonato. Por outro lado, os alemães nunca venceram a Itália em Copas do Mundo. Quem leva a melhor no maior clássico do futebol europeu?
Itália 3-0 Ucrânia
Itália: Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Barzagli, Grosso; Camoranesi (Oddo), Gattuso (Zaccardo), Pirlo (Barone), Perrotta; Totti; Toni. Técnico: Marcello Lippi.
Ucrânia: Shovkovskyi; Gusev, Rusol (Vashchuk), Sviderskyi (Vorobey), Nesmatschnyi; Shelayev, Tymoschuk, Husin, Kalynychenko; Shevchenko, Milevskiy (Byelik). Técnico: Oleg Blokhin.
Gols: Zambrotta (6) e Toni (59 e 69)
Melhor em campo Fifa: Gattuso
Cartões amarelos: Sviderskiy, Kalynychenko e Milevskiy
Árbitro: Frank De Bleeckere (Bélgica)
Local: Volksparkstadion, Hamburgo (Alemanha), em 30 de junho de 2006