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Walter Samuel, um dos melhores zagueiros que a Itália já viu

Força, posicionamento, técnica e grande habilidade no jogo aéreo são as características de um dos grandes zagueiros da história do futebol albiceleste e dos anos modernos da Serie A italiana. Walter Samuel teve uma carreira recheada de títulos e feitos que o colocam entre os melhores, por mais que ele não esteja entre os nomes mais badalados. A idolatria com a qual foi tratado, especialmente pelos torcedores da Inter, é um indicativo da sua importância.

Antes de se tornar um pétreo defensor de nível mundial, o argentino teve de superar alguns problemas familiares. Por problemas com seu pai biológico, ele adotava o sobrenome de sua mãe, Luján, e estreou no futebol conhecido com esta alcunha. Somente depois dos primeiros jogos pelo Newell’s Old Boys é que ele incorporou Samuel, sobrenome do padrasto, a seu registro.

Samuel jogou duas temporadas pelos leprosos e até ajudou o time a ficar na terceira posição em um dos turnos do Campeonato Argentino. Aos 19 anos, juntamente a Juan Román Riquelme, Esteban Cambiasso, Pablo Aimar e Diego Placente, o zagueiro fez parte da geração albiceleste que faturou o no Mundial Sub-20, disputado na Malásia. Após a conquista da taça, trocou Rosario por Buenos Aires e foi atuar pelo Boca Juniors.

A Roma foi a porta de entrada de Samuel no futebol italiano (Allsport)

Com a camisa de um dos mais tradicionais times portenhos, Samuel prontamente se tornou titular indiscutível da equipe, ganhando evidência. Considerado um grande talento, o defensor nascido na província de Córdoba fez mais de 100 partidas pelo Boca, ganhou dois turnos do campeonato local e uma Copa Libertadores. Em 1999, com apenas 21 anos, se tornou peça importante da Argentina e foi convocado para a Copa América.

Em 2000, quando já era considerado um dos maiores defensores em atividade na América do Sul, Samuel trocou os xeneizes pela Itália. Após o título da rival Lazio, a Roma do presidente Franco Sensi abriu a carteira para reforçar o elenco e pagou o equivalente a 20 milhões de euros para fazer do boquense sua segunda contratação mais cara na janela.

O zagueiro aterrissou em Trigoria juntamente a Gabriel Batistuta, Emerson, Abel Balbo e Jonathan Zebina para se encaixar perfeitamente no 3-4-1-2 de Fabio Capello. Jogando como líbero, foi figura central do elenco que deu o terceiro e último scudetto da história giallorossa.

O xerife argentino conquistou seis scudetti: um pela Roma e cinco pela Inter (Allsport)

Samuel atuou quatro anos pelo time da Cidade Eterna e, além do título nacional, ganhou uma Supercoppa Italiana, foi duas vezes vice-campeão da Serie A e uma vez segundo colocado na Coppa Italia. O grande nível das apresentações e a solidez como zagueiro lhe renderam o apelido de The Wall (O Muro) e a convocação para a Copa do Mundo de 2002, no qual a Argentina acabou sofrendo com um sorteio ingrato e caiu na fase de grupos.

Dois anos depois do fracasso no mundial asiático, a Roma acertou a transferência do defensor para o Real Madrid, que pagou 25 milhões de euros para torná-lo galáctico. Buscando desestimular a política de “Zidanes e Pavones”, Florentino Pérez investiu em um jogador cotado como um dos maiores zagueiros do mundo. Samuel, no entanto, não se adaptou à Liga e, apesar de ter atuado em 30 partidas do Campeonato Espanhol, não mostrou o mesmo nível que o consagrara em sua trajetória.

O argentino acabou retornando à Itália após o insucesso na Espanha e, por 16 milhões de euros, assinou contrato de quatro temporadas com a Inter, que dominou o final dos anos 2000 no país. Samuel passaria não apenas quatro, mas longos nove anos em Milão e teria a melhor fase da carreira, embora este período tenha sido marcado por lesões que não o atormentaram antes.

Depois de apenas um ano na Espanha, Samuel voltou à Itália para virar ídolo da Inter (AFP/Getty)

Fazer parte daquele elenco nerazzurro rendeu 14 taças ao zagueiro, que, na maior parte das conquistas, teve papel central – só ficou de fora do time por causa de duas graves lesões no joelho, inflamações no tendão de Aquiles ou por problemas musculares. A passagem de Samuel pela Inter também lhe garantiu a honra de jogador estrangeiro com mais scudetti conquistados (seis, ao lado de Dejan Stankovic) e a entrada no time dos 25 maiores vencedores do Italiano na história. The Wall também figura na seleta lista dos 10 jogadores que venceram Libertadores e Liga dos Campeões.

Em quase uma década de Beneamata, Samuel jogou quase sempre como zagueiro pela esquerda, em uma defesa a quatro – no 3-5-2 de Walter Mazzarri, já na fase final da carreira, voltou a atuar como líbero. O camisa 25 teve três marcantes companheiros durante os tempos em que viveu em Milão, cidade que lhe conquistou pela belíssima arquitetura: Iván Córdoba, Marco Materazzi e Lúcio.

O jogador nascido em Córdoba se firmou como titular absoluto já na primeira temporada, sob o comando de Roberto Mancini, e foi um dos pilares do renascimento da equipe. Neste período, além de alguns títulos, sofreu uma séria lesão no joelho em uma perseguição a Kaká, que o afastou dos campos por 11 meses, entre dezembro de 2007 e novembro de 2008. Recuperado, foi com José Mourinho que se tornou um símbolo nerazzurro.

Na Inter, Samuel e Lúcio formaram uma dupla quase intransponível foram fundamentais para a conquista da tríplice coroa (AFP/Getty)

Em 2009-10, Samuel teve a melhor temporada da carreira, seja em nível de atuações ou em conquista de títulos. A dupla de defesa interista, formada pelo argentino e o brasileiro Lúcio, foi muito exaltada na conquista da Champions, competição em que Mourinho montou autênticos ferrolhos contra Chelsea e Barcelona para colocar a cereja no bolo da Tríplice Coroa nerazzurra.

O português preferia uma linha defensiva bastante recuada, o que possibilitou aproveitar o melhor de Samuel. Muito físico, o argentino não perdia no corpo a corpo, era mestre em rebatidas e também em afastar a bola também em jogadas aéreas. Sem contar no perfeito senso de posicionamento, que limitava bastante a ação dos atacantes adversários. A atuação da defesa foi tão importante para o título quanto os gols de Diego Milito, Samuel Eto’o, a criação de jogadas de Wesley Sneijder, as arrancadas de Maicon e a liderança de Javier Zanetti, Esteban Cambiasso e Júlio César.

As atuações de Samuel tiveram em nível tão alto que ele foi eleito o melhor defensor do futebol italiano em 2010. O xerife também voltou a atuar pela Argentina, que não defendia desde 2006: foi convocado pelo técnico Diego Maradona para a Copa do Mundo mesmo sem fazer parte do grupo que disputou as Eliminatórias. Ele atuou duas vezes na competição e depois se aposentou da seleção.

Na reta final de sua passagem por Milão, o defensor conviveu com algumas graves contusões (AFP/Getty)

Na reta final da carreira, o camisa 25 só jogou de forma regular na Inter na temporada 2011-12. Antes disso, Samuel sofreu com mais uma séria lesão nos ligamentos cruzados do joelho, que o impediu de entrar em campo no Mundial de Clubes da Fifa e na final da Coppa Italia, torneios conquistados pela Inter em 2011. Até deixar o clube, em 2014, adicionou outro recorde a sua prateleira: é o maior vencedor da história dos dérbis de Milão. Conquistou 10 vitórias em onze jogos – perdeu apenas o último, na sua campanha de despedida.

Muito querido pela torcida da Inter, Samuel foi ovacionado em sua despedida, que aconteceu no mesmo dia que Zanetti, Cambiasso e Milito também deram adeus. Enquanto o capitão nerazzurro pendurou as chuteiras e virou dirigente, o xerife seguiu o destino dos outros dois argentinos e continuou em ação: no Basel, da Suíça, The Wall ainda levantou mais duas taças, até decretar sua aposentadoria, aos 38 anos. Em seguida, se tornou assistente da seleção de seu país e, em 2022, integrou a delegação tricampeã mundial, no Qatar.

Walter Adrián Samuel

Nascimento: 23 de março de 1978, em Laborde, Argentina
Posição: zagueiro
Clubes: Newell’s Old Boys (1996-97), Boca Juniors (1997-2000), Roma (2000-04), Real Madrid (2004-05), Inter (2005-14) e Basel (2014-16)
Títulos: Mundial Sub-20 (1997), Campeonato Argentino (1998, Apertura; e 1999, Clausura), Copa Libertadores (2000), Serie A (2001, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010), Supercopa Italiana (2001, 2005, 2006, 2008 e 2010), Coppa Italia (2006, 2010 e 2011), Liga dos Campeões (2010), Mundial de Clubes da Fifa (2010) e Campeonato Suíço (2015 e 2016)
Seleção argentina: 56 jogos e 5 gols

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