Seleção italiana

De cabeça erguida

Italianos saem frustrados por derrota nos pênaltis, mas fizeram ótima Euro (EPA)

O objetivo já estava alcançado e com louvor. Chegar até as quartas de final da Euro era o mínimo que se esperava de uma Itália desfalcada de dois jogadores importantes, como Marchisio e Verratti, e sem tantas opções de qualidade técnica. Isso a Squadra Azzurra já tinha conseguido, sendo primeira colocada em seu grupo e fazendo duas das melhores atuações de uma equipe na competição, diante de Bélgica e Espanha. Portanto, passar pela Alemanha e ser semifinalista já seria lucro. Mas, por um triz, a seleção italiana ficou pelo caminho.

Para tentar parar uma das mais fortes seleções europeias, atual campeã mundial, Antonio Conte teria três desfalques a mais no meio-campo: Candreva e De Rossi, machucados, e Thiago Motta, suspenso, se juntaram aos dois supracitados, que nem foram para a disputa da competição na França. Com isso, o treinador precisou centralizar Parolo em seu 3-5-2, colocando Sturaro pelo lado direito e Giaccherini no esquerdo, com Florenzi e De Sciglio nas alas. Foi esse meio-campo que ajudou a neutralizar o meio-campo germânico, isolando Kroos.

A marcação pesada dos italianos, que já tinha impedido Busquets de ter espaço e opções de passe para sair jogando pela Espanha, nas oitavas, fez o mesmo com o meia do Real Madrid e também com Özil e Schweinsteiger. Apesar do bom trabalho defensivo, a Azzurra criava pouco através de seus meias e sentiu a falta de De Rossi neste quesito: Parolo não conseguiu acertar muitos passes incisivos para acionar os atacantes.

Alemanha e Itália, então, organizavam o jogo a partir de seus ótimos setores defensivos, formados por jogadores técnicos do calibre de Hummels, Boateng, Barzagli e Bonucci. Porém, a falta de espaços fez com que o primeiro chute a gol alemão só saísse aos 41 minutos. A grande chance dos italianos surgiu pouco depois, quando Bonucci lançou Giaccherini – em lance similar ao que originou gol contra a Bélgica – e Sturaro teve finalização desviada para escanteio.

Na volta do intervalo a Itália
diminuiu um pouco a demora com que se apresentava para as bolas paradas – até
para bater lateral a Azzurra perdia tempo. Nos minutos iniciais do segundo tempo a Alemanha teve a
melhor chance do jogo: Florenzi errou na saída de bola e a Nationalmannschaft aproveitou, com Müller. O chute do jogador do Bayern Munique ia tirando Buffon do lance, mas a cria da Roma se recuperou e, com uma pirueta, tirou o gol feito dos alemães, colocando para escanteio.

Florenzi…. pic.twitter.com/yZKLTQo14T

— Đαηтε (@Calabrese_Dante) 2 de julho de 2016

Na sequência, porém, saiu o gol do time que mais pressionava. Florenzi se atrapalhou ao afastar um chutão de Neuer e deu a posse de bola para a Alemanha. Gómez caiu pelo lado esquerdo e passou para Hector, que se infiltrava com liberdade – Sturaro não acompanhou a corrida – e só cruzou rasteiro para que Özil se antecipasse e desviasse para as redes. Um gol que surgiu de uma bola longa que acabou desmontando o muro azul e possibilitou uma das poucas linhas de passes na partida.

A Itália perdeu um pouco de foco assim que teve sua defesa vazada – era a primeira vez que a Alemanha ficava em vantagem sobre a Azzurra em uma partida de Eurocopa ou Mundial. Tanto é que, na sequência do gol, Gómez ficou sozinho frente a Buffon e ia tentando de calcanhar. Chiellini buscou o corte e jogou contra o próprio patrimônio, obrigando Buffon a fazer uma de suas mais belas defesas na carreira.

Na disputa de pênaltis entre gigantes, Neuer levou a melhor sobre Buffon (AFP)

Depois da defesaça de Buffon, a Nazionale acordou e teve boa chance com um chute de Pellè. Na sequência, já aos 32 do segundo tempo, Boateng saltou de forma desajeitada sobre Chiellini, tocou com o braço na bola e cometeu pênalti, bem assinalado por Viktor Kassai. Na cobrança, Bonucci bateu com muita categoria e venceu Neuer, na primeira vez que foi o encarregado de ir para a marca de cal com a camisa da seleção no tempo regulamentar – a outra oportunidade foi na Copa das Confederações de 2013, quando desperdiçou diante da Espanha depois da prorrogação.

A partida acabou indo para o tempo suplementar, situação que Alemanha e Itália viveram outras duas vezes, em Copa do Mundo. Em ambas, desfecho positivo para os italianos, em jogos históricos: 4 a 3 em 1970, na Batalha do Século, e 2 a 0 em 2006. Dessa vez, porém, os espíritos de Burgnich, Riva, Rivera, Grosso e Del Piero não apareceram em campo para ajudar a Azzurra, que, com o 1 a 1, se manteve invicta contra a Alemanha em partidas oficiais – são quatro vitórias e cinco empates. Porém, pela primeira vez, os germânicos eliminaram os rivais.

Na disputa de pênaltis entre Buffon e Neuer, dois dos maiores goleiros da história, melhor para o alemão. O capitão da Nationalmannschaft defendeu as cobranças de Bonucci e Darmian e viu Zaza e Pellè baterem para fora. Talvez, se o atacante do Southampton batesse com cavadinha, como costuma fazer, tivesse marcado – afinal, a Alemanha perdeu sua única disputa a partir da marca da cal quando Panenka, da Checoslováquia, criou este estilo de bater pênaltis, quarenta anos atrás, na final da Euro 1976. Pior mesmo foi Zaza, que entrou em campo nos últimos segundos só para cobrar a penalidade e isolou.

Por outro lado, Buffon defendeu uma cobrança e quase fez três defesas – Özil e Schweinsteger erraram o gol. O absurdo aproveitamento da Alemanha nos pênaltis não chegou a ser mantido (desde 1982 os alemães não desperdiçavam), mas o goleiro da Juventus teve azar. E, como vários dos italianos, chorou bastante após a eliminação. Mesmo com a cabeça erguida.

Zagueiro da Juventus já é um dos líderes da atual geração italiana (Reuters)

O futuro azzurro
Conte assumiu a Itália em baixa, após duas eliminações na fase de grupos da Copa do Mundo – mesmo que a seleção tenha sido vice-campeã europeia no período. Não fez grande trabalho nas Eliminatórias e nos amistosos, teve atritos com a federação e pediu para sair. Fez uma convocação bastante questionável da Nazionale para a Euro, mas se reergueu na competição continental.

O apuliano deixa a Azzurra em posição mais alta do que quando assumiu o cargo. Muito provavelmente, o novo técnico do Chelsea foi o grande comandante desta Eurocopa, por ter tirado o máximo de um grupo limitado, mas aguerrido e fiel. Quem mais conseguiria segurar a Alemanha com tantos desfalques e Parolo, Sturaro e Giaccherini no meio-campo?

Bem, Conte se foi e é um elemento do passado agora. Muitos dos convocados por ele também não devem continuar a atuar pela Azzurra por uma questão de idade: a média etária da Itália era a maior da Euro, superior aos 31 anos. Jogadores como Barzagli, Chiellini, De Rossi, Parolo, Giaccherini, Thiago Motta e Pellè podem até continuar a ser convocados, mas podem perder espaço com Gian Piero Ventura, substituto no cargo de comissário técnico da Nazionale.

Falamos antes de a competição começar que Conte deixaria cenário de terra arrasada para a Itália, independentemente do resultado alcançado na Euro. Afinal, a competição não estava sendo utilizada para preparar o elenco azzurro para a Copa de 2018. Se, por um lado, a Nazionale sai com moral alto, o grupo pode sofrer tantas modificações que o bom resultado atingido e a impressão positiva deixada na França mal poderão ser aproveitados por Ventura.

A grande lição deixada nesta Euro será um bom exemplo para Ventura utilizar em preleções de forma mais convincente. A atuação da Itália no torneio reafirma que trabalho duro e a aplicação tática podem ser mais importantes para um esporte coletivo do que o talento. Isso reforça alguns dos conceitos do treinador, que é da mesma escola de Conte e já conseguiu levar equipes medianas, como Bari e Torino, a resultados esportivos interessantes, ficando à frente de times com melhor elenco e mais capacitados tecnicamente.

As futuras convocações deverão ter em Buffon, Bonucci, Chiellini, Candreva, Marchisio, Verratti e Insigne suas grandes figuras e líderes. Estes remanescentes da Euro – somados a outras peças do grupo que poderão vir a ser chamadas – serão os encarregados de transmitir a vivência da Euro 2016 aos novos integrantes da Azzurra e ajudar o técnico a rapidamente montar um elenco competitivo e herdeiro, em caráter, do que foi à Euro.

Neste sentido, é bem provável que Bonucci ascenda mais ainda na hierarquia da seleção, uma vez que conhece Ventura há tempos e confia muito nele. Foi com ele que o zagueiro apareceu para o futebol, primeiro no Pisa e depois fazendo excelente Serie A pelo Bari. Se o camisa 19 jogou a Copa de 2010 foi por causa das exibições sob o comando do genovês.

Para a Euro, Conte preferiu dar uma de Dunga e privilegiar o comprometimento em favor do talento. Teve sucesso nisso – embora se questione que Jorginho poderia ter sido mais útil que Sturaro contra a Alemanha. Talento para o futuro, a Squadra Azzurra tem; falta ver se os próximos convocados terão tanta vontade de se doar para a equipe. Se os convocáveis do novo ciclo azzurro, como Rugani, Romagnoli, Jorginho, Saponara, Sansone, Berardi e Belotti tiverem o mesmo engajamento do time de 2016, o céu será azul e o sol brilhará para a Itália.

Alemanha 1-1 Itália (4-3 nos pênaltis)


Alemanha:
Neuer; Höwedes, Hummels, Boateng; Kimmich, Khedira (Schweinsteiger 15′), Kroos, Hector; Özil; Müller, Gómez (Draxler 71′). Técnico: Joachim Löw.

Itália: Buffon; Barzagli, Bonucci, Chiellini (Zaza 120′); Florenzi (Darmian 85′), Sturaro, Parolo, Giaccherini, De Sciglio; Éder (Insigne 107′), Pellè. Técnico: Antonio Conte.

Gols: Özil (19); Bonucci (pênalti, 77)

Pênaltis perdidos: Müller, Özil e Schweinsteiger; Zaza, Pellè, Bonucci e Darmian.
Local: Stade de Bordeaux, em Bordeaux (França)
Árbitro: Viktor Kassai (Hungria)

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3 comentários

  • Já pensou esse meio de campo da Itália numa semi, numa final, ou pior, campeão? Parolo, Sturaro, Giaccherini, pelamordedeus…!!! Impossível, fim de mundo!!!
    Pra quem como eu, viu e apreciou caras do calibre de Giannini, Baggio, Donadoni, Del Piero, Pirlo…
    Éder titular no lugar do Insigne, velho? Onde? Como? Florenzi, De Sciglio, não, não dava pra ir muito longe. E ainda tem o Pelle (com dois eles e acento, tá? kkkkkkkkkkkkkkkkk…)!!!
    Pro bem do futebol, chega, chega, tá de bom tamanho, segue Alemanha!

  • Se tivesse a oportunidade perguntaria ao Conte, por que colocou o Zaza ao invés do De Rossi que é mil vezes melhor para cobrar o penal.

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