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Patrick Kluivert perdeu no Milan os gols que fez com o Barça

Poucos atacantes tiveram uma trajetória tão goleadora quanto Patrick Kluivert na década de 1990 e no início dos anos 2000. O centroavante nascido em Amsterdam viveu seus grandes momentos com a camisa de seu país, a Holanda, e também defendendo Ajax e Barcelona. No entanto, o seu auge foi brevemente interrompido por um ano negativo no Milan.

Filho de um ex-jogador de futebol do Suriname e de mãe originária de Curaçao, Kluivert entrou na escolinha do Ajax aos sete anos e teve um começo de carreira meteórico. O menino que aprendeu a jogar futebol nas ruas de Amsterdam logo se tornou uma das joias da Geração de Ouro dos Godenzonen, juntamente a Edgar Davids, Clarence Seedorf, Edwin van der Sar e tantos outros: em sua estreia oficial, aos 18 anos, Kluivert mostrou que não estava para brincadeiras e fez o gol da vitória sobre o rival Feyenoord na Supercopa da Holanda. Dois meses depois já ganhava sua primeira convocação para a Oranje e, em 1996, faria uma ótima Eurocopa.

Dali em diante, o jovem jogador fez jus ao apelido que ganharia: Pantera. A determinação em balançar as redes fez de Kluivert um atacante completo, capaz de anotar 50 gols em 97 partidas pelo Ajax. Pela equipe de Louis van Gaal ele adquiriu fama internacional com o mais importante de todos os seus tentos: aos 40 minutos do segundo tempo da final da Liga dos Campeões de 1995, se tornou o jogador mais jovem a fazer gol em uma decisão do torneio. A ironia do destino? Tirou o título do Milan, seu futuro clube.

Em 1997, o Diavolo tinha uma decisão a fazer: Kluivert estava em fim de contrato e poderia assinar gratuitamente com qualquer clubes. Os rossoneri tinham começado conversas com o jogador, mas se preocupavam com seu temperamento. Ainda inexperiente, Kluivert era impulsivo e vivia cercado por polêmicas, o que limitava o seu potencial. Já havia sido indiciado por estupro (embora nada tenha se provado) e também tinha cumprido horas de serviço comunitário por ter cometido homicídio culposo, em um acidente automobilístico – estava dirigindo em alta velocidade.

Mesmo assim, o Milan levou em conta a parte técnica, que pesou muito. O Pantera tinha apenas 21 anos e já contava com um belíssimo currículo, com sete taças e protagonismo em todas as conquistas. Além disso, tinha qualidades raras de serem encontradas em qualquer parte do mundo: era destro, mas batia bem com a esquerda e também era um dos mais eficientes cabeceadores do seu tempo. Excepcional em balançar as redes com apenas um toque na bola, o holandês também era veloz, se posicionava muito bem e sabia criar espaços. Parecia um grande negócio, a aquisição perfeita para a Serie A… mas às vezes as aparências enganam.

Na Itália, Kluivert faturou apenas um troféu amistoso (Colorsport)

Kluivert chegou a Milão cercado de expectativas, pois era a principal aposta para reerguer um time que vinha de uma temporada decepcionante e perdera um referência como Franco Baresi, recém-aposentado. O novo camisa 9 foi a grande contratação de um Milan que também acertou naquela janela com Winston Bogarde (parceiro do Pantera no Ajax), Leonardo, Roberto Donadoni (de volta ao clube), Christian Ziege, Steinar Nilsen e André Cruz, além das promessas Ibrahim Ba, Dario Smoje e Andreas Andersson. Fabio Capello também retornava ao comando técnico dos rossoneri.

O ex-centroavante do Ajax faria dupla de ataque com George Weah e teria Dejan Savicevic, Zvonimir Boban, Leonardo, Ba e Donadoni como garçons. Já na pré-temporada a boa linha de frente deu a impressão de que renderia bem e Kluivert marcou um golaço na disputa do Troféu Luigi Berlusconi, contra a Juventus – o segundo da vitória por 3 a 1. Quando os jogos eram para valer, tudo mudou.

Mesmo reforçado e com Capello no comando, o Milan não engrenou e não venceu nenhum dos quatro primeiros jogos na Serie A. Kluivert marcou uma vez nessa sequência, diante da Udinese – de canela, em uma dividida com o goleiro Luigi Turci –, mas os rossoneri levaram a virada. Após desencantar em jogos oficiais, o Pantera viveu um jejum de seis partidas, mas anotou nas vitórias consecutivas contra Bari e Atalanta.

Apesar de ter tirado a urucubaca e ter feito bom jogo em Bérgamo, foi criticado pelas más atuações contra Inter e Juventus: afinal, havia sido contratado para decidir jogos grandes e fazer o Diavolo dar um salto de qualidade. Kluivert perdia gols a rodo – alguns incríveis, sem goleiro – e passava longos períodos em jejum Volta e meia acabava reaparecendo com algum golaço (como os dois contra o Vicenza) ou balançando as redes graças a seu oportunismo.

O roteiro não foi diferente em toda a temporada 1997-98, que foi muito negativa para o Milan. Os rossoneri ficaram somente com a 10ª posição na Serie A e protagonizaram vexames, como as derrotas por 5 a 0 para a Roma, 4 a 1 para a Juve e dois 3 a 0, sofridos diante de Bologna e Inter. Para compensar, o Diavolo foi vice-campeão da Coppa Italia, competição em que Kluivert foi importante: com três gols, o holandês foi o artilheiro da equipe, ao lado de Weah. O Pantera anotou alguns tentos decisivos na campanha, como os dois que levaram o time à final, contra o Parma. Foram os últimos com a camisa vermelha e preta.

Contra o Parma, o holandês viveu alguns dos seus poucos bons momentos com a camisa do Milan (AP)

Embora tenha passado longe de corresponder às expectativas no Milan – marcou nove gols em 33 partidas –, Kluivert ainda era membro importante da seleção da Holanda. E, como tal, foi convocado à Copa do Mundo de 1998: encantou na França, fez gols contra Argentina e Brasil e ajudou a Oranje a ser quarta colocada na competição. Depois disso, foi vendido por cerca de 9 milhões de libras esterlinas ao Barcelona, onde reencontraria van Gaal.

No Camp Nou, o Pantera se consolidou como um dos grandes atacantes de sua época, embora às vezes tenha sido criticado pela irregularidade. Venceu somente um Campeonato Espanhol pelos catalães, mas marcou 120 gols em 255 partidas, alcançando seu auge entre 1998 e 2002. Neste período, ainda representou a Holanda em alto nível e foi artilheiro da Euro 2000, com cinco gols.

Após deixar o Barcelona, em 2004, Kluivert entrou em pleno declínio. Ainda disputou uma Eurocopa com a Oranje (mas nem entrou em campo) e rodou por times importantes, como Newcastle, Valencia, PSV e Lille, mas sem exercer protagonismo.

O goleador se aposentou em 2008 e continuou ligado ao futebol, exercendo o papel de auxiliar técnico – inclusive, foi colaborador de van Gaal na Holanda terceira colocada na Copa de 2014. O Pantera também foi treinador de divisões de base e, por um ano, dirigiu a seleção de Curaçao, em um trabalho no qual levou a ilha a seu melhor resultado em Eliminatórias para o Mundial (caiu na terceira fase do qualificatório da Concacaf). Hoje, Kluivert tem o desafio de ser diretor de futebol do Paris Saint-Germain.

Patrick Stephan Kluivert
Nascimento: 1º de julho de 1976, em Amsterdam, Holanda
Posição: atacante
Clubes como jogador: Ajax (1994-97), Milan (1997-98), Barcelona (1998-2004), Newcastle (2004-05), Valencia (2005-06), PSV Eindhoven (2006-07) e Lille (2007-08)
Títulos como jogador: Liga dos Campeões (1995), Mundial Interclubes (1995), Supercopa Uefa (1995), Supercopa da Holanda (1994 e 1995), Eredivisie (1995, 1996 e 2008) e La Liga (1999)
Carreira como técnico: Curaçao (2015-16)
Seleção holandesa: 79 jogos e 40 gols

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