No outono da presidência de Berlusconi, um Milan repleto de jovens volta a conquistar um título (LaPresse)
Cinco anos atrás Silvio Berlusconi começava a reduzir seus investimentos no Milan, logo depois da conquista da Supercopa Italiana. Era o prenúncio do processo que se desenrolaria nos anos seguintes e culminaria com a venda do clube para um grupo de investidores chineses. Desde o já distante ano de 2011, a equipe vinha sofrendo para encontrar um norte e parece que, finalmente, conseguiu: o título da própria Supercopa, sobre a Juventus, foi marcado pela participação decisiva de jovens jogadores. Um recomeço com tantas caras novas, justo no momento em que o octogenário Berlusconi deixa a cena.
Antes de se licenciar do comando rossonero, o Cavaliere conseguiu deixar uma herança positiva. O título da Supercopa Italiana e a boa campanha na Serie A não são acaso: Berlusconi finalmente deixou a herança que queria no Milan. Durante anos ele desejou construir uma equipe à semelhança daquela que fez história no fim dos anos 1980 e nos anos 1990, com muitos jogadores de qualidade formados em casa e, não sendo possível, ao menos um grande número de italianos.
Hoje, o time tem Donnarumma (17 anos), Locatelli (18), De Sciglio (24), Calabria (20) e Abate criados em Milanello; e Romagnoli (21), Paletta, Bonaventura, Bertolacci, Poli, Montolivo e Lapadula como jogadores italianos de importante participação. Entre os estrangeiros importantes, quase todos na mais tenra idade, como Suso, Niang e Pasalic. Sem falar em Montella, um dos mais promissores técnicos do Belpaese, à frente do projeto técnico. São os pilares para fazer o Milan grande de novo.
A defesaça de Donnarumma no pênalti cobrado por Dybala (Getty)
O jogo
O Milan teve problemas para chegar a
Doha, capital do Qatar, mas é a Juventus que não se dá bem na metrópole
do Oriente Médio – pela segunda vez, foi derrotada na Supercopa no palco
da decisão desta sexta. Dentro de campo, os rossoneri pareciam mais
confortáveis, a ponto de Donnarumma mostrar frieza e tranquilidade para driblar Sturaro na grande área. O “veterano de 17 anos” ainda fez um milagre minutos depois, mas Chiellini acabou com a brincadeira e fez o primeiro gol da final, em uma cobrança de escanteio. O Milan, porém, não se intimidou.
No primeiro tempo, um lance fortuito acabou sendo fundamental para o decorrer da partida. Alex Sandro era um dos melhores em campo, mas se lesionou e foi substituído por Evra. Suso vinha encontrando dificuldades com o brasileiro, pois ele subia bastante e o obrigava a não se concentrar somente no ataque – além disso, o ex-jogador do Santos estava marcando bem o espanhol. Sobre Evra, o meia rossonero teve plena liberdade e, em uma das oportunidades criadas, deu o passe para empatar o jogo: cruzou na cabeça de Bonaventura, que se antecipou a Lichtsteiner e só cutucou para as redes.
Na volta para o intervalo, o Milan foi superior à Juve. Logo nos primeiros minutos, acertou o travessão com uma cabeçada de Romagnoli e, por pouco, não virou com um carrinho de Bacca – o colombiano também obrigou Buffon a fazer uma defesa à queima-roupa. A entrada de Dybala no lugar de Pjanic chegou a equilibrar as ações, mas não resultou em gols para a Juventus. Para Allegri, o teste feito com o tridente formado por La Joya, Higuaín e Mandzukic, organizados em um 4-3-1-2, foi interessante. Dybala fica confortável como trequartista, pois tem muito talento para dar o último passe e também é um bom finalizador da entrada da área.
A igualdade no placar levou à prorrogação, que teve mais chances para a Juventus – a Velha Senhora preferia definir o título com a bola rolando, enquanto o Diavolo estava satisfeito com o desenrolar da partida. Se Bacca perdeu uma chance com o gol aberto, na primeira metade do tempo extra, a Juve teve um gol bem anulado de Evra e um “pênalti em movimento” perdido por Dybala: o argentino recebeu na altura da marca da cal, mas isolou.
Nas penalidades, foi justamente La Joya que desperdiçou a cobrança decisiva. Méritos totais para Donnarumma, no entanto: a estrela rossonera defendeu com a mão trocada e pode celebrar, como protagonista, o primeiro título da carreira. Um título que costuma valer pouco, mas que foi comemorado com fulgor, com o choro do menino Locatelli. Uma taça levantada por milanistas, totalmente identificados com as cores do clube, e que podem estar iniciando um novo período de glórias para o time vermelho e preto.
Juventus 1-1 Milan (3-4 nos pênaltis) Juventus: Buffon; Lichtsteiner, Rugani, Chiellini, Alex Sandro (Evra); Khedira, Marchisio, Sturaro (Lemina); Pjanic (Dybala); Mandzukic, Higuain. Técnico: Massimiliano Allegri.