Quem o julga pelo futebol certamente esqueceu que ele ganhou tudo o que um atleta profissional poderia ganhar na Itália e na Europa. Massimo Oddo nunca foi um lateral espetacular, capaz de marcar época na Serie A, especialmente quando o comparamos com seu antecessor no Milan – ninguém menos que Cafu. No entanto, é inegável que o jogador italiano teve uma carreira cheia de títulos, como a do brasileiro.
Massimo estava predestinado a ser esportista. Nascido em uma família de atletas, ele é filho de Francesco Oddo, ex-jogador e treinador, e neto de Giovanni Oddo, campeão universitário de salto triplo. O jogador veio ao mundo em Pescara, na época em que seu pai militava pelo clube do Abruzzo, e começou sua vida como jogador nas categorias de base do Renato Curi, pequena equipe da região. Após ser campeão italiano sub-17, Massimo se transferiu para o Milan, em 1993. No entanto, ele não se juntaria às feras campeãs europeias e precisou de mais dois anos na equipe Primavera até subir ao time principal.
Apesar de ter concluído sua formação pelo Diavolo, Oddo sequer fez sua estreia com a camisa rossonera, o que só viria a acontecer apenas 12 anos depois. O jogador protagonizou uma verdadeira saga nas divisões inferiores e foi emprestado durante anos a times menores como Fiorenzuola, Prato, Lecco e Monza. Depois de se destacar em sua segunda pelo Monza e marcar quatro gols na Serie B – todos de falta, sua especialidade –, o lateral-direito foi comprado pelo Napoli, que também disputava o torneio.
Oddo fez 36 jogos pelo clube napolitano, com um gol marcado, e ajudou o time do sul da Bota a retornar à elite. Sua estreia na Serie A, porém, aconteceria graças a um rival dos partenopei: o Hellas Verona, que o contratou junto ao Napoli. Em 2000-01, Oddo fez 32 partidas pelos mastini, anotou quatro gols (todos de pênalti) e atingiu, aos 24 anos, os primeiros grandes momentos de sua carreira. O lateral-direito – que também podia ser improvisado como zagueiro central – ganhou notoriedade por sua força física, apoio potente, qualidade nos cruzamentos e nas bolas paradas, além de incontestável senso de liderança.

Oddo construir história importante na Lazio e chegou a ser capitão da equipe biancoceleste (Newpress/Getty)
Na temporada 2001-02, o Verona foi rebaixado, mas Oddo havia consolidado seu nome no rol dos mais promissores laterais do país, a ponto de chamar atenção da Lazio, clube pelo qual escreveria as mais bonitas páginas de sua história como atleta. Massimo atuou pelo clube da capital durante cinco temporadas, se tornando inclusive capitão da equipe. Na Cidade Eterna, ele também mostrou sua agilidade como lateral, mas sobretudo aprimorou sua potência física e a habilidade nas cobranças de falta, que logo o fizeram ganhar espaço na seleção italiana. Na primeira convocação azzurra após a Copa do Mundo de 2002, o nome do jogador de Pescara estava na lista de Giovanni Trapattoni.
Oddo fez parte de fases opostas da Lazio. Em um primeiro momento, chegou a ganhar títulos, como o da Coppa Italia de 2004, e disputou também a Liga dos Campeões; embora também tenha vivido alguns dramas com os biancocelesti – como a possibilidade de rebaixamento nas temporadas 2004-05, em campo, e 2005-06, com as sanções infligidas ao clube pelo envolvimento no Calciopoli. Ainda assim, foi vestindo a camisa laziale que se tornou um membro frequente da seleção italiana: fez parte dos elencos da Euro 2004 e da Copa do Mundo de 2006. Tetracampeão mundial com a Nazionale, o lateral entrou em campo no segundo tempo da partida contra a Ucrânia, nas quartas de final da competição.
Além de ter sido titular absoluto da Lazio, Massimo Oddo também se tornou capitão da equipe, após a saída de Fabio Liverani, em 2006. O lateral foi o símbolo do torcedor em campo e, não à toa, até hoje tem o carinho da Curva Nord. “A história não pode ser esquecida. Passei cinco anos na Lazio e fui capitão daquela equipe. Algo que vou levar para sempre”, disse. Em janeiro de 2007, a Lazio vivia delicada situação financeira e cedeu a uma oferta do Milan, que consistia em quase 8 milhões de euros mais o passe de Pasquale Foggia. Após 135 partidas e 17 gols com a camisa biancoceleste, Oddo voltava ao clube de Via Turati.
Em Milão, Oddo chegou para suprir carência de Cafu, lesionado. Embora tivesse seu futebol ora contestado pela torcida, rapidamente assumiu a titularidade e deu continuidade a uma história que começou anos antes. Atuou em 18 oportunidades em seus primeiros meses, sendo, inclusive, o titular na final da Champions League 2006-07, conquistada na revanche dos rossoneri sobre o Liverpool. Na temporada seguinte, já com o retorno de Cafu às atividades, manteve sua posição de titular durante boa parte da campanha milanista, participando de 32 jogos e faturando títulos importantes, como o da Supercopa Uefa e do Mundial Interclubes.
Em 2008, o jogador aceitou uma oferta do Bayern de Munique, clube ao qual foi emprestado por um ano e em que atuou ao lado do compatriota Luca Toni. A passagem pelo futebol alemão não foi tão frutífera para Oddo, que acabou perdendo espaço na Squadra Azzurra por causa da pouca utilização na Baviera – logo ele, que começara a gestão de Roberto Donadoni como dono da lateral direita da seleção italiana. Com a conclusão do contrato com os bávaros, retornou ao Milan e disputou mais duas temporadas, porém sem a mesma regularidade de outrora. Ainda assim, ganhou seu único scudetto, em 2011.
Reserva, Oddo fez apenas 21 jogos neste período e encerrou seu vínculo com os rossoneri na temporada 2011-12: ele tinha apenas mais um ano de contrato e foi cedido ao Lecce. No Via del Mare, o lateral-direito teve seus últimos momentos como atleta profissional e, embora os salentini tinham sido rebaixados, Oddo encerrou a carreira dignamente, aos 36 anos.
Depois de deixar os gramados, Massimo rapidamente estudou e, após ganhar seu certificado como técnico profissional, iniciou sua carreira como treinador na base do Genoa, em agosto de 2013. No ano seguinte, retornou a sua cidade natal ao fechar contrato para ser treinador da equipe Primavera (sub-20) do Pescara. Com a demissão de Marco Baroni, na penúltima rodada da Serie B 2014-15, Oddo assumiu a equipe principal dos delfini e assumiu um cargo que, outrora, pertencera a seu pai. Até hoje, Francesco e Massimo formam a única dupla de pais e filhos a terem dirigido o mesmo time na história do futebol italiano.
Oddo assumiu o Pescara com a tarefa de, nos jogos que restavam, tentar levar o time aos play-offs de acesso para a primeira divisão. Ele conseguiu classificar o time para os jogos eliminatórios e fez páreo duro com o Bologna na final dos confrontos, mas os felsinei conseguiram retornar à elite por causa de critérios de desempate. O desempenho da equipe sob o seu comando agradou e ele foi mantido no cargo, elevando o patamar do Pescara e alcançando um improvável, mas incontestável acesso à Serie A.
Embora seja amado em Pescara e tivesse a confiança da diretoria, Oddo teria de fazer um milagre para manter a equipe na elite, já que o elenco ficava muito atrás do necessário para obter a salvezza. Com isso, a passagem do treinador na elite não durou nem uma temporada e, devido aos maus resultados, Oddo entrou em acordo com a diretoria para rescindir seu contrato com os biancoazzurri. Seu trabalho acabará sendo lembrado também pelas lágrimas derramadas durante a goleada que os pescareses sofreram diante do Torino: como se não visse soluções para melhorar a equipe, Massimo chorou no banco de reservas.
Digamos que sua carreira com a prancheta também terá esta lembrança. Afinal, Oddo jamais emplacou um grande trabalho e ficou pulando de galho em galho, sem conseguir se firmar.
Massimo Oddo
Nascimento: 14 de junho de 1976, em Pescara, Itália
Posição: lateral-direito
Clubes como jogador: Renato Curi (1992-93), Milan (1993-95, 2007-08 e 2009-11), Fiorenzuola (1995-96), Prato (1996-97), Lecco (1997-98), Monza (1996 e 1998-99), Napoli (1999-2000), Verona (2000-02), Lazio (2002-07), Bayern de Munique (2008-09) e Lecce (2011-12)
Títulos como jogador: Coppa Italia (2004), Copa do Mundo (2006), Champions League (2007), Supercopa Uefa (2007), Mundial Interclubes (2007), Serie A (2011) e Supercopa Italiana (2011)
Clubes como treinador: Pescara (2015-17 e 2020), Udinese (2017-18), Crotone (2018), Perugia (2019-20 e 2020), Padova (2022 e 2024) e Spal (2023)
Seleção italiana: 34 jogos e 1 gol