Um dos jogadores mais carismáticos deste século, Obafemi Martins se transformou em Oba Oba primeiro para os interistas, por causa do narrador Roberto Scarpini, e depois para o mundo. O nigeriano talvez não tenha virado tudo o que prometia quando surgiu no setor juvenil da Inter no início dos anos 2000, mas certamente deixou sua marca no futebol europeu e ainda segue rodando o planeta, com uma sólida carreira nos Estados Unidos e agora na China. Martins também se tornou um símbolo do esporte da Nigéria, ao lado de Nwankwo Kanu e Jay-Jay Okocha.
Nascido em Lagos, Martins começou no futebol pelo Ebedei, clube modesto do interior da Nigéria e que depois formaria uma parceria com o dinamarquês Midtjylland para a formação de jogadores. A carreira na Europa começou por causa de Sunday Oliseh, que jogou na Reggiana em 1994-95 e depois passou por Köln, Ajax, Juventus e Borussia Dortmund.
O meia, membro da geração de ouro de 1996, influenciou a ida do jovem Obafemi ao clube emiliano, junto com Stephen Makinwa e outros garotos do Ebedei. Seu irmão, Oladipupo Martins, também começou por lá antes de se aposentar precocemente do futebol, por problemas cardíacos – em 2011, aos 28 anos, ele faleceu por causa de um infarto.
Bastou um ano na Emília-Romanha para Oba Oba chamar a atenção da Inter, que depois também levaria Isah Eliakwu, outro atacante que viajou na ponte Ebedei-Reggiana. Ainda com 17 anos, Martins chegou com destaque no time Primavera nerazzurro, que terminaria a temporada 2001-02 como campeão italiano da categoria e da tradicional Copa Viareggio. O nigeriano foi um dos jogadores-chave da campanha que tiveram destaque como profissionais – os outros foram Goran Pandev, Giovanni Pasquale, Alex Cordaz e Alessandro Potenza.
A chance no time principal veio meses depois, quando Martins foi promovido por Héctor Cúper graças aos problemas físicos dos atacantes interistas. Ainda aos 18 anos, o nigeriano se destacou na campanha dos nerazzurri, que foram até as semifinais da Liga dos Campeões em 2002-03. Obafemi marcou gol decisivo contra o Bayer Leverkusen nas oitavas e também deixou o dele no Derby della Madonnina, embora o time tenha sido eliminado em San Siro pelo Milan, por causa do gol “fora de casa” de Andriy Shevchenko.
Na temporada seguinte o atacante ganhou mais espaço, mas chegou ao auge mesmo em 2004-05, quando ganhou diversas oportunidades como titular ao lado de Adriano e marcou 22 gols. Foram 11 no campeonato, em que jogou 31 partidas, seis na Coppa Italia, competição de que participou decisivamente do título – o primeiro como profissional. Martins anotou mais cinco vezes na Liga dos Campeões e ajudou em mais uma boa campanha da Beneamata, que caiu nas quartas, novamente para o Milan.
No último ano em Milão, Obafemi perdeu o protagonismo com o crescimento de Julio Cruz, mas prosseguiu sendo relevante: marcou gols importantes para o segundo título da Coppa Italia e no final da temporada acabaria também comemorando o scudetto, conquistado no tribunal após os desdobramentos do Calciopoli. Nesse período o jogador também teve seu melhor desempenho pela seleção nigeriana, com a qual ficou com a terceira posição na Copa Africana de Nações, em 2006.
Em cinco anos pela Beneamata, Martins marcou 49 gols em 136 partidas e se tornou uma figura querida pelas comemorações acrobáticas e pela velocidade acima do normal, além dos gols contra os rivais Milan e Juventus. Com as chegadas de Zlatan Ibrahimovic e Hernán Crespo, foi oferecido a outros clubes e no final da janela de transferências acabou contratado pelo Newcastle, que pagou 16 milhões de euros para contar com seu futebol.
Com a difícil missão de substituir Alan Shearer, Martins teve bom impacto no primeiro ano, marcando 11 gols na Premier League e seis na Copa Uefa, porém a equipe teve três trocas de comando e acabou não tendo um resultado final satisfatório. Nesse período, Oba Oba passou a viver um drama na vida pessoal por causa da doença de sua mãe, que viria a falecer um ano depois.
O momento delicado lhe ocasionou diversos problemas no clube e na seleção. Em 2007, Martins perdeu um amistoso da Nigéria para visitá-la, enquanto no Newcastle teve sua preparação para a temporada 2008-09 prejudicada por ter faltado a boa parte dos treinamentos. Obafemi caiu consideravelmente de rendimento e viu o clube sendo rebaixamento para a segunda divisão. O atacante foi vendido ao Wolfsburg no verão de 2009, e viu sua carreira europeia degringolar graças a consecutivas lesões e atuações irregulares.
A carreira de Martins pela seleção nigeriana também jamais decolou e ele e seus colegas não conseguiram dar continuidade ao legado da geração anterior. Ainda assim, o atacante marcou um importante gol para garantir a presença do seu país na Copa do Mundo de 2010. Obafemi acabou participando de duas partidas na fraca campanha do time no Mundial da África do Sul, mas concluiu a competição sem estufar as redes. Inclusive, seu último gol pela Nigéria aconteceu justamente em 2010: depois, ficou cinco anos sem marcar, até se despedir, em 2015.
O fôlego do nigeriano parecia ter acabado. Após não obter sucesso na Alemanha, foi vendido para o Rubin Kazan e também não impressionou na Rússia. Emprestado ao Birmingham em janeiro de 2011, voltou para perto da família, que vivia na Inglaterra, mas teve poucas oportunidades no time de Alex McLeish, rebaixado na Premier League. Mesmo assim, Martins marcou o gol que deu o título da Copa da Liga Inglesa contra o Arsenal, o segundo na história do clube.
Depois de mais um ano apagado no Rubin Kazan, Obafemi saiu ao final do contrato para o Levante. Mesmo com o desempenho irregular na Espanha, marcou gol na estreia e outros importantes para a campanha segura do time da comunidade valenciana, terminando a temporada como seu artilheiro. Em março de 2013, deixou o clube e o futebol europeu.
Sempre carismático, Martins rapidamente conquistou o carinho dos fãs do novo clube, o Seattle Sounders. Sua contribuição em campo também era mais do que satisfatória: no segundo ano, o nigeriano estabeleceu o recorde de gols do clube numa única temporada, após balançar as redes 17 vezes. Dessa forma, o clube do noroeste ianque foi recompensado com o título de melhor campanha na temporada regular e a taça da US Open Cup. Em 2015, contudo, a equipe não conseguiu repetir o feito e o atacante se mudou para a China.
Martins se tornou um dos estrangeiros do Shanghai Shenhua ao lado de Demba Ba, Fredy Guarín e Gio Moreno. Em geral, o nigeriano era a segunda opção para o ataque atrás do centroavante senegalês, geralmente entrando no segundo tempo por causa das regras da Superliga Chinesa, que permite o máximo de três estrangeiros em campo por cada time. Ainda assim, contribuiu para a quarta posição da equipe no campeonato e a classificação para a fase preliminar da Liga dos Campeões asiática.
A troca de Demba Ba por Carlos Tevez derrubou o desempenho da equipe, que terminou o campeonato apenas na 11ª posição. Apesar disso, a equipe ganhou a copa organizada pela federação chinesa, em que Martins terminou como artilheiro, com seis gols em sete partidas – marcando, inclusive, dois nas finais contra o badalado Shanghai SIPG. Em 2018, Oba Oba finalmente seria o atacante principal do time, por causa da saída de Tevez e da chegada do meia-atacante Óscar Romero. Ele até começou com uma tripletta na primeira partida, mas acabou sofrendo uma lesão e não voltou mais a jogar.
Obafemi Akinwunmi Martins
Nascimento: 29 de outubro de 1984, em Lagos, Nigéria
Posição: atacante
Clubes: Reggiana (2000-01), Inter (2001-06), Newcastle (2006-09), Wolfsburg (2009-10), Rubin Kazan (2010, 2011-12), Birmingham (2011), Levante (2012-13), Seattle Sounders (2013-15) e Shanghai Shenhua (2016-atualmente)
Títulos: Campeonato Primavera (2001-02), Copa Viareggio (2002), Serie A (2006), Coppa Italia (2005, 2006), Supercoppa Italiana (2005), Copa Intertoto (2006), Copa da Liga Inglesa (2011), Supercopa da Rússia (2012), MLS Supporters’ Shield (2014), US Open Cup (2014) e Copa da China (2017)
Seleção nigeriana: 42 partidas e 18 gols
Lembro muito dele na Inter.Excelente matéria!!! Parabéns!!